Por cá, vai um enorme entusiasmo, nas esquerdas e nos comentadores e analistas bem pensantes, quanto às propostas da Grécia de perdão da dívida, seja qual for a modalidade que assuma, como se sabe, de geometria variável a cada dia que passa. Entusiasmo tão orgasmático que até despreza ou esquece as consequências para os contribuintes portugueses, que teriam que suportar, de seu bolso, a participação nacional no financiamento europeu à Grécia.
Os mesmos profundos pensadores que criticaram e continuam a criticar, por mero exemplo, o alegado peso para os contribuintes do apoio imposto pelas autoridades europeias a Bancos portugueses, não por razões substanciais de solvabilidade, mas de mera regulamentação de rácios de solvabilidade, quando esses apoios, aliás já quase todos reembolsados, se materializaram em lucros relevantes para as finanças públicas, mercê do enorme diferencial entre as taxas cobradas e o custo do dinheiro para o Estado.
Enfim, bem pensantes, que normalmente acumulam com bem ignorantes e, sem saberem, nem sonharem, capazes de dar plena e adequada expressão à grega hypokrisia.
Tudo certo, pois.
21 comentários:
Aquilo que me ocorre dizer quanto a austeridade sem fim defendida pelo governo e apoiada pelos seus seguidores é que tal defesa reveste (transpondo aquela definição premiada na Universidade de Griffith) e é muito semelhante “à tentativa de sustentar a ideia de que é inteiramente possível pegar num pedaço de merda pelo lado limpo”.
Boa, vou já telefonar ao meu banco com essa frase. Acho que assim já consigo aliviar as contas de casa! Obrigado.
Estimado António,
Posso também ter, e tenho, as minhas dúvidas acerca do rato que
vai sair da montanha, mas não podemos deixar de reconhecer que negociações são feitas de avanços e recuos.
Desagrada-me muito a ideia de ter de pagar para os gregos. Aliás, se as estatísticas da ONU (PNUD), do FMI e da CIA, entre outras, estão correctas,o rendimento médio per capita grego, em termos de paridade de poder de compra, é agora equivalente ao português, apesar do trambolhão que eles deram (-25%) ter sido muito superior ao que demos nós (-6%).
Parece-me, no entanto, que não
ao devem subestimar-se as propostas que colocaram em cima da mesa: pagam a dívida consoante lhes permitir o crescimento económico. Pode ser de outro modo?
Alguém alguma vez pagou a outrem se não tiver com quê?
E, repara, aqui
http://www.jornaldenegocios.pt/economia/europa/detalhe/tsipras_em_bruxelas_estamos_no_bom_caminho_para_chegar_a_um_acordo_viavel.html
como já andam de mãos dadas.
Caro Rui Fonseca, entre aceitar chantagens do Syriza e força-los a fazer default, então, que façam default. Os países prejudicados já procurarão como reaver os seus créditos como toda a vida foi. O que os Gregos não podem esperar é efectivamente pregar o calote aos países que os ajudaram, não sofrer as consequencias e atar as mãos aos credores de forma a que estes não possam reaver os seus créditos seja pelos meios que for.
A história da Grécia ligar o pagamento duma parte da dívida ao crescimento económico até poderia estar muito bem se alguém acreditasse que com as políticas do Syriza o país poderia ter crescimento durante um período de tempo razoavel e dessa forma pagar o empréstimo. Como ninguém acredita nisso, paciencia, não directo. Há depois o resto da ideia que são as obrigações perpétuas no BCE com juros practicamente nada (ou menos que nada até se for contada a inflacção que não vai manter-se onde está pelo resto da vida) e ainda por cima o pagamento dos juros condicionado ao crescimento.
Ou seja. Querem ser caloteiros? Sejam! Mas assumem as consequencias.
Zuricher,
O que está em jogo não é tão simples como o seu comentário supõe.
Se, por acaso, a UE abandonasse a Grécia acredita que a Grécia ficaria irremediavelmente abandonada, entregue unicamente aos seus únicos meios?
De modo algum.
Putin espreita, e os EUA não estão a dormir na forma.
Pense nisto.
Rui, tenho perfeita noção da aproximação à Russia e já a incorporei no meu raciocínio. Esse argumento funciona para os dois lados. A aproximação à Russia já existe e para ter um submarino dentro da armada Europeia a defender os interesses da Russia então parece-me preferivel que a Grécia fique fora.
Em todo o caso vem assim tanto mal à Europa Ocidental de que a Grécia caia debaixo da influencia Russa que, diga-se, não tem propriamente dinheiro para dar aos Gregos neste momento?
Caro Rui:
Dizes que " não devem subestimar-se as propostas que colocaram em cima da mesa: pagam a dívida consoante lhes permitir o crescimento económico..."
Mas que políticas é que eles apresentaram que levem ao crescimento económico? Nenhumas, que as keynesianas só podem constituir agravamento da situsação.
As boas políticas é que levam ao crescimento da economia; pelo que tenho visto e ouvido, as políticas do Syriza levam é ao crescimento da dívida. E exigem, mesmo, esse crescimento.
Não ouvi uma palavra sobre produtividade, mas ouço muitas sobre gastos públicos; não ouvi uma palavra sobre diminuição da despesa, mas ouço muitas sobre a necessidade de a aumentar. Em resumo, só tenho ouvido exigência e mais exigência e nada em troca.
Por isso, e por enquanto, não podem nem sequer ter o benefício da dúvida.
Caro Zuricher:
De acordo com o meu amigo. Vestem a pele de cordeiro, falinhas mansas, mas, no fundo, chantagistas até ao tutano.
Caro T:
É de experimentar: talvez a Europa também pague...
Serve?
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=qhU5JEd-XRo
Caro Pinho Cardão,
Presumo que “as boas políticas que levam ao crescimento da economia” a que se refere, são as aplicadas pela Troyka nos países resgatados e pela generalidade dos governos europeus, isto é a política da austeridade sem fim. Contudo, ao que parece, “essas boas políticas” não têm resultado no crescimento económico que se esperava, bem pelo contrário, a Europa do euro está em deflação e as economias dos países do euro vêm tendo crescimentos raquíticos apesar dos astronómicos empréstimos a juros a 0,5% aos bancos europeus, não esqueçamos, em Dezembro de 2011 cerca de 530.000 milhões de euros e em Fevereiro de 2012 mais 489.000 milhões sem contar já com os empréstimos à banca europeia oferecidos pela FED e agora as novas políticas do BCE e de todas as reformas anti laborais e de cortes generalizados.
Na verdade, só por fé é que se poderá acreditar que são estas “boas políticas” que geram um crescimento económico satisfatório. E fé em suas crenças é coisa que não falta aos neoliberais.
Caro Pinho Cardão,
Toda a gente sabe que os bancos foram salvos e as pessoas não. Porque os depósitos das pessoas estavam a salvo o que eles quiseram foi salvar os bancos...
PS: Estas coisas foram ditas por professores de universidades públicas portuguesas. Alguns até se reclamam de professores de economia. Mais que chocar-me o facto dessas avantesmas dizerem coisas destas, choca-me o facto delas serem pagas por mim para ensinarem outros a dizer coisas destas...
Caro Tonibler:
É verdade que alguns professores disseram (e continuam a dizer...) coisas que se assemelham a isso. Eu só digo: desgraçados alunos, tristes universidades...
Fé e má educação.
Caro Carlos Sério:
Diz que presume que “as boas políticas que levam ao crescimento da economia” a que me referi "são as aplicadas pela Troyka...".
Pois presume mal. Mas que posso eu fazer?
Deixar de escrever no Blog é que eu não deixo. Sem censurar presunções.
Caro Pinho Cardão,
As minhas desculpas se me equivoquei. Contudo, o seu distanciamento, agora anunciado, face às políticas da Troyca deixa-me um pouco confuso. Gostaria de conhecer que “boas políticas” são essas que levam ao crescimento da economia e que nada têm a ver com as medidas impostas pela Troyka. Provavelmente até estamos mais próximos nesta matéria do que aquilo que os nossos escritos neste Blog fazem supor.
Sinceros cumprimentos
A "hypokrisia dos bem pensantes" é característica das Elites Portuguesas e dela se ufanam quando vomitam catedratices.
O Povo é sempre mais sábio nas suas humildes constatações: "Quem dá o que tem, a pedir vem"...
Caro Carlos Sério:
Hei-de escrever algo sobre isso
As boas políticas que levam ao crescimento económico são as que foram aplicadas pelo PS sob o comando de Sócrates. O país alcançou resultados maravilhosos, cresceu exponencialmente, reduziu imenso o défice, a dívida pública e a dívida externa e equilibrou a balança comercial, além de não ter existido dívida escondida. Os fornecedores dos hospitais, por exemplo, recebiam a tempo e horas. Por isto tudo os credores tinham imensa confiança e exigiam juros baixíssimos. Infelizmente a troika impôs-se a Portugal, já que nunca foi chamada.
Caro Pedro de Almeida:
Ora aí está! Aquilo foi crescimento a valer. Uma aposta no crescimento extraordinariamente bem sucedida. Não admira pois que os mesmos ou aparentados queiram repetir tal colossal façanha .
Não me façam rir. Sócrates foi o primeiro aplicar as medidas de austeridade impostas pela Alemanha - PEC I,II,III,IV,
a encerrar escolas e centros de saúde, a despedir funcionários públicos,... medidas a que Passos Coelho então se opunha ferozmente. O que dá novamente para rir ou não?
Sócrates começou com os PEC´S quando viu o barco a naufragar! Mas mesmo assim o barco naufragou mesmo. Era tarde demais.
Claro!
Claríssimo. Tão evidente que não precisa de demonstração . Basta olhar.
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