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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Confrontando opiniões

Vitor Bento divulga no Observador um texto em que dá a sua perspetiva do percurso seguido pelas diferentes realidades económicas existentes no seio da União Europeia. Creio ser uma reflexão importante de quem não é suspeito de radicalismo ou de emitir infundadas opiniões. Um contributo, pois, para o confronto saudável de posições.
Para o debate, fica também o link para a opinião de Rui Ramos sobre o texto de Vitor Bento.

27 comentários:

João Pires da Cruz disse...

Eu li este texto há uns dias e aquilo que me chocou neste texto não foi a opinião do Vitor Bento nem de achar que ela não é a opinião válida, mas ser uma espécie de prova que daquele tipo de abordagem não vai sair nada de jeito, nunca. E até acho que ele é um excelente economista, mas o nosso mundo não pode arriscar ser influenciado por este tipo de "conhecimento". Justificando:

O texto é um excelente exemplo de argumentario falacioso. Por exemplo, começa logo a comparar medidas das derivadas da zona euro com os EUA ou a Europa fora do euro para dizer que poderia ter feito melhor. A falácia está nos referenciais. Porque não pegar no referencial China ou Coreia para dizer a mesma coisa dos EUA ou da Europa Não Euro. Porque não pegar no Belize ou na Costa Rica, que devem ter derivadas bem melhores que as destes países todos?

A segunda falácia, as medidas. Olhar para uma união monetária como a da UE que é uma união política de facto e dizer que a derivada não foi tão boa como a dos USA ou da Dinamarca não faz qualquer sentido. E não faz porque os USA fizeram essa união há mais de 200 anos e os outros há mais 500. Poderia ter feito melhor? NÃO. É mentira. Como a unificação Alemã, poderia ter a Alemanha feito melhor a sua unificação de forma a que os resultados do agregado fossem melhores que os dos USA?

Terceira falácia, aquela que é verdadeiramente grave no racional, a da causalidade. Para além de nunca ter conhecido um ajustamento recessivo, Vitor Bento não pode estabelecer de forma nenhuma uma causalidade entre o câmbio e os comportamentos recessivos. Esse argumento é facilmente desmontável porque eu posso dizer isso em qualquer escala a que esteja a fazer as mesmas medidas. Posso dizer que uma cidade se porta melhor face a outra ou uma família face à vizinha. A diferença entre aquilo que Vitor Bento diz e eu dizer isso face a uma cidade ou uma família é que ele pode encontrar a medida num site do INE para o país e não para a cidade ou a família. E o problema das famílias vizinhas é viverem com câmbios fixos???

Porque é que isto é chocante? Pela quantidade de pessoas que acham que isto pode servir de base aquilo a que chamam modelação normativa. Que sito possa servir de base para se efectuar "políticas". E não porque Vitor Bento seja do pior que para aí anda, mas porque é do melhor. E isto tudo é muito preocupante.

Carlos Sério disse...

Entre 2008 e 2014, O PIB de toda a zona euro caiu 1,5%, o desemprego aumentou 4 pontos percentuais e as contas externas (balança corrente e de capital) passaram de um ligeiro défice correspondente a 0,4% do PIB para um excedente de 2,7%.

O resultado alcançado, sendo objectivamente mau – a situação de 2014 é globalmente pior que a de 2008 – é, só por si, pouco informativo, não permitindo, por exemplo, inferir se é mau por inevitabilidade ou se poderia ter sido melhor e, se for este o caso, porque é que o não foi. Mas como a crise financeira internacional teve um alcance praticamente universal e o seu impacto foi praticamente simultâneo em todas as geografias, podemos buscar na comparação com os resultados de outros blocos, a informação que nos falta para melhor podermos ajuizar do que se passou na zona euro.

Nos EUA, o PIB de 2014 está 8,3% acima, e o desemprego só marginalmente (0,5 pontos percentuais) mais alto, do que se verificava em 2008, ao mesmo tempo que melhorou o défice externo em cerca de 2% do PIB. Quanto ao grupo de “membros da UE não euro” e durante o mesmo período, o seu PIB agregado subiu 4,8%, o desemprego aumentou 1,7 pontos percentuais e a conta externa melhorou o equivalente a 2,4% do PIB.

Desta comparação parece, pois, resultar claro que o mau desempenho da zona euro durante a crise não era inevitável; que esse desempenho poderia ter sido melhor; que se o não foi, tal não pode deixar decorrer da política económica seguida; e que, por conseguinte, tudo sugere que a política económica usada pela zona euro para responder à crise foi desadequada.

Juntando todos os dados, é razoável concluir-se que a zona euro dedicou mais de um terço da sua vida a um ajustamento desequilibrado, que empobreceu toda a zona. Os custos desse ajustamento recaíram quase exclusivamente sobre os países mais pobres, empobrecendo-os ainda mais e aumentando o seu desnível para com os mais ricos.
O problema tem sido, desde o início, identificado como um problema de finanças públicas e de dívida soberana, quando o não é. Há, de facto, problemas de finanças públicas e de dívidas excessivas, e que têm que ser resolvidos, mas não são estes que estão na origem da crise da zona euro, nem eram o seu principal problema, quando esta eclodiu. Pelo contrário, os problemas das finanças públicas agravaram-se profundamente em consequência da crise e da forma como esta tem sido tratada.

Pelo que centrar a abordagem da crise nas finanças públicas, como tem sido feito, nunca poderia conduzir a uma boa solução, como se tem visto, pelo impacto negativo que essa abordagem tem tido no crescimento económico. E porque não é a situação das finanças públicas que tem entravado o crescimento, é a insuficiência de procura (em boa parte causada por um excesso de austeridade sistémica) que entrava o crescimento e dificulta o ajustamento das finanças públicas.

Os países Excedentários (Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Finlândia), acabam por ficar a dispor de um excesso de competitividade que é subsidiado pelos sacrifícios dos Deficitários (Estónia, Irlanda, Grécia, Espanha, Chipre, Malta, Portugal, Eslovénia, Eslováquia), obrigados a um ajustamento unilateral. Esta forma de ajustamento tem, portanto, envolvido uma efectiva transferência de bem-estar social (incluindo emprego) dos Deficitários para os Excedentários.

E aqui reside a grande falha da argumentação moral que tem subjazido à condução do processo, pois que não são os Excedentários que têm estado a sustentar o bem estar dos Deficitários, mas o contrário.
Victor Bento

Anónimo disse...

Sem pormenorizar muito, a leitura que fiz do texto de Victor Bento é que é um óptimo argumento em favor da dissolução da moeda única. As poucas soluções que propõe são inaceitaveis para os países mais ricos. Pago para ver um Alemão, Finlandês, Holandês ou Luxemburguês a pagar os subsídios de desemprego de Portugueses e Gregos.

A comparação com os EUA é totalmente absurda. A própria divisão feita por Victor Bento entre países excedentários e deficitários demonstra o absurdo da comparação. Nos EUA essas comparações não fazem sentido. Na Europa fazem e precisamente por fazerem é que a comparação absurda.

Anónimo disse...

Sem pormenorizar muito, a leitura que fiz do texto de Victor Bento é que é um óptimo argumento em favor da dissolução da moeda única. As poucas soluções que propõe são inaceitaveis para os países mais ricos. Pago para ver um Alemão, Finlandês, Holandês ou Luxemburguês a pagar os subsídios de desemprego de Portugueses e Gregos.

A comparação com os EUA é totalmente absurda. A própria divisão feita por Victor Bento entre países excedentários e deficitários demonstra o absurdo da comparação. Nos EUA essas comparações não fazem sentido. Na Europa fazem e precisamente por fazerem é que a comparação absurda.

Carlos Sério disse...

É extraordinária a ligeireza com que se pretende atacar a competência e a qualidade intelectual de Victor Bento. Lançam-se para o ar afirmações sem qualquer análise digna que lhes dê justificação. Ataca-se Victor Bento por puro acto de fé, por crença cega nas virtudes dos ideais neoliberais.

António Pedro Pereira disse...

Carlos Sério:
Não sabe qual o material mais resistente que existe?
As ideias.
E se forem fanáticas ainda são mais resistentes.
Conseguem resistir à própria realidade, mesmo que esta as desminta.
Esta gente construiu durante anos uma narrativa que a realidade desmente, conforme Vítor Bento demonstra, logo é a realidade que está errada.
Só não se percebe é a razão por que a UE tem vindo a fazer o que foi dizendo que jamais faria, aos bochechos, através do BCE.
E agora vai alterar a política ortodoxa mais uma vez, dar hipóteses aos gregos (não sei se as aproveitarão ou não, para mim os países em crise também tem muitas responsabilidades na sua situação), só que precisa ir dizendo o contrário para iludir os eleitorados dos países do Norte.
Leia as 10 razões porque a Grécia não pode sair da UE, na opinião de Robert Gallo, responsável do Royal Bank of Scotland:
http://observador.pt/2015/02/11/grecia-fora-euro-analista-da-10-razoes-por-que-nao-vai-acontecer/

Diogo disse...

Deixo aqui o link do meu parecer acerca da opinião de Rui Ramos sobre o texto de Vítor Bento:

http://citadino.blogspot.pt/

Pinho Cardão disse...

Creio que se trata de uma muito boa e séria análise, mas não de um dogma. Outras visões diferentes são possíveis, mesmo a partir dos dados macroeconómicos escolhidos. O facto de o autor não apresentar conclusões, para que a discussão se centre na doença e não no remédio, esse facto, só por si, indicia que o autor admite que a doença não seja exactamente a que descreve, que o diagnóstico não possa ser o correcto, ou que as causas possam ser outras.
Além do mais, não existe uma política económica europeia, cada qual tem a sua; não há harmonização fiscal, cada qual toca como pode. E a própria política orçamental constante do Pacto é sucessivamente desvalorizada pelos incumpridores. De modo que fazer diagnósticos globais como se 27 indivíduos fossem um só e todos muito ciosos da sua independência, alguns até para pedinchar, parece-me algo de excessivo...
Sem prejuízo do mérito académico da abordagem.

Alexandre Burmester disse...

Vítor Bento fez um comentário heterodoxo à interminável crise do euro, mas a verdade é que se trata de um comentário certeiro.

Aos que criticam a sua análise por não se poder comparar a UE com os EUA - e, de facto, não se pode - a resposta é: e quem mandou a UE, do alto da sua enorme soberba, criar o euro?

Alexandre Burmester disse...

Caro Pinho Cardão,

Claro que não é um dogma. Dogma, a bem dizer, é o euro ;-).

Um abraço

António Pedro Pereira disse...

Sr. Dr. Pinho Cardão:
Disse: «De modo que fazer diagnósticos globais como se 27 indivíduos fossem um só e todos muito ciosos da sua independência, alguns até para pedinchar, parece-me algo de excessivo...»
Mas quanto à receita, aí já pode ser igual para todos, não é?

Alexandre Burmester disse...

Carlos Sério,

Desculpar-me-á, mas o chavão das "ideias neoliberais" começa a ficar um bocado estafado. A união monetária europeia nada tem de "neoliberal", é até difícil rotulá-lá, de tão atípica que é. Mas seria mais correcto descrevê-la como "dirigista" ou "centralista".

Alexandre Burmester disse...

Pinho Cardão,

«(...)não há harmonização fiscal, cada qual toca como pode»

Bem, aqui podemos usar a comparação com os EUA: por lá também não há "harmonização fiscal": os impostos variam de estado para estado. Não me parece que resida aí o problema.

Aliás, a "harmonização fiscal" nunca foi um objectivo da União Económica e Monetária; foi, sim, uma ninvenção francesa do tempo de Sarkhozy, cujo objectivo era eliminar a vantagem comparativa de países como a Irlanda.

« e todos muito ciosos da sua independência».

Bem, essa é uma característica normal dos estados soberanos por esse mundo fora. Mas na UE chegámos ao ponto em que o patriotismo é tratado desdenhosamnete por "soberanismo". É desagradável, especialmente quando vindo de cidadãos de países pequenos da União e não enriquece em nada o debate. Decerto que eles não gostariam de ser chamados de "germanófilos" em vez de "europeístas".

Mas, como José Pacheco Pereira referiu não vai muito tempo, "a Direita portuguesa já não é patriótica".

Carlos Sério disse...

Diga-me lá Alexandre Brumester se a União Europeia não se rege por estes princípios.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA CARTILHA ECONÓMICA NEOLIBERAL
- Mínima participação estatal nos ramos da economia de um país;
- Mínima intervenção do governo no mercado de trabalho;
-Previdência pública apenas para os miseráveis, os que “não deram certo”;
-Protecção social tratada como questão individual, como decisão pessoal de se prevenir;
- Direitos dos trabalhadores tratados como privilégios, fruto de populismo, e causa de desemprego e de ineficiência económica;
- Política de privatização de empresas estatais;
- Privatização dos serviços públicos, mesmo os considerados essenciais para a sociedade (água, luz, telefone, educação, saúde, previdência, etc.).
- Livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização;
- Abertura da economia para a entrada de multinacionais;
- Adopção de medidas contra o proteccionismo económico;
- Diminuição do tamanho do estado;
- Contra o controle de preços dos produtos e serviços por parte do estado, ou seja, a lei da oferta e procura é suficiente para regular os preços;
- Despolitização da política económica, fim da macroeconomia: políticas macroeconómicas apresentadas como técnicas rígidas, divididas apenas em “responsáveis” ou “populistas”;
-Enfraquecimento dos sindicatos;

Alexandre Burmester disse...

Começo por referir, Carlos Sério, que não fala com nenhum europeísta, como porventura já terá reparado, mas fala com um liberal (sem o sufixo "neo", cuja utiliade até hoje não entendi, a não ser como sarcasmo), que por acaso até está de acordo com muitos dos princípios que enumera - e que considero positios para a economia - mas isso é outra conversa.

Mas vejo aí inúmeros pontos que não constam de qualquer tratado europeu, como, por exemplo, as privatizações (ainda em 1981, por exemplo o governo francês PS/PCF procedeu a uma série de nacionalizações). O que a UE não permite, em nome da cocorrência, é que os estados financiem mpresas que actuam num mercado aberto, como é, por exemplo, o caso das companhias aéreas; se a previdência é pública, provada ou mista - e abstraindo sa sua adjectivação, é assunto que compete a cada estado, e não à UE; a livre circulação de capitais é hoje praticada em todo o Mundo, com a possível excepção de Coreia do Nort, Cuba e talvez os estados da Indochina; a "entrada de multinacionais" (pensei que o que nos preocuparia seria a sua saída, mas enfim) até na China ocorre; em termos de defesa do comércio livre e oposição ao proteccionismo conheço bem melhor que a UE, cuja Política Agrícola Comum, além de ser o oposto do liberalismo económico, é uma forma de proteccionismo; a "mínima participação estatal" é coisa que a UE não pratica, regurgitando constantemente directas e regulações prejudiciais à actividade económica.

Poderia continuar, mas deixe-me que lhe diga que, mesmo em alturas de domínio socialista na UE, nenhum dos seus princípios básicos de natureza económica foi revogado.

Alexandre Burmester disse...

Peço desculpa dos inúmeros "lapsus calami".

Carlos Sério disse...

Da natureza ideológica do neoliberalismo

"Esta uniformização politica não distingue os social-democratas dos democratas cristãos na Alemanha, nem os trabalhistas dos conservadores no Reino Unido, nem os populares dos socialistas em Espanha, nem os prodis dos berluskonis em Itália, nem os social-democratas dos socialistas em portugal. Todos usam o mesmo figurino político".

Este figurino é o chamado neoliberalismo. O seu fundamento ideológico reside em considerar o indivíduo como factor único e determinante no desenvolvimento das sociedades. O ser social não existe, é uma abstracção criada por esquerdistas e marxistas. Para tal doutrina, apenas o ser individual faz girar o mundo. O individualismo é erguido ao seu mais elevado expoente. A solidariedade, fraternidade, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência, são conceitos riscados da cartilha neoliberal. Os cidadãos são vistos só e apenas como consumidores. Para o neoliberalismo os direitos do consumidor são mais importantes do que as liberdades democráticas.
O neoliberalismo representa um retrocesso social e politico e corresponde a um mundo desprovido de valores éticos.
Atribui à participação do estado em políticas sociais a fonte de todos os males da situação económica, como o défice público, a fraca produtividade da economia, a inflação, a ineficiência dos serviços devido aos privilégios dos funcionários. Defende reformas na administração pública, fala em reengenharia do estado para criar um "estado mínimo", afirmando que sem essas reformas o país corre o risco de não ingressar na "nova ordem mundial". Contudo, ele apresenta-se como o paladino da democracia, da distribuição da riqueza e da redução das desigualdades sociais, embora promova activamente o contrário.

Alexandre Burmester disse...

Bem, meu caro, aquilo que me apresenta não é argumentação, mas apenas um texto panfletário. Direi apenas que é bastante bizarro apelidar de neoliberais estados que "engolem" tranquilamente cerca de 50% do rendimento nacional.

Alexandre Burmester disse...

Mas, já agora, e para não fugir ao tema que deu origem a esta nossa conversa: a união económica e monetária pode ser o que você quiser_ mas liberal é que ela não é.

Carlos Sério disse...

Caro Alexandre Burmester

“o chavão das "ideias neoliberais" começa a ficar um bocado estafado”

Tudo começou por aqui. O que escrevi teve apenas o intuito de procurar o significado do conceito neoliberal. Longe de mim tentar sequer alterar as suas convicções sobre o liberalismo e o neoliberalismo.
Assim não resisto a reproduzir mais dois textos “panfletários” sobre o assunto.

O NEOLIBERALISMO E A EDUCAÇÃO
Enquanto o liberalismo político clássico colocou a educação entre os direitos do homem e do cidadão, o neoliberalismo, promove uma regressão da esfera pública, na medida em que aborda a escola no âmbito do mercado esvaziando, assim, o conteúdo político da cidadania, substituindo-o pelos direitos do consumidor. É como consumidores que o neoliberalismo vê alunos e pais de alunos. A seguinte recomendação do banco mundial exprime esta visão: a redução da contribuição directa do estado no financiamento da educação. Parte do que actualmente é gratuito deveria tornar-se serviço pago pelos estudantes que, para tanto, receberiam empréstimos do estado ou bolsas.
Em vez do estado financiar directamente a educação, deveria dar bónus aos pais dos alunos, isto é, uma quantia de dinheiro suficiente para que eles, vistos como consumidores, matriculem seus filhos numa escola de seu agrado.
Como observamos, a novidade, se é que assim se pode chamar, do projecto neoliberal para a educação não é só a privatização. O aspecto central é a adequação da escola e da universidade pública e privada aos mecanismos de mercado, de modo que a escola funcione à semelhança do mercado.

O NEOLIBERALISMO E A SAÚDE
Na área da saúde, o neoliberalismo baseia-se na lógica economicista. Aproveitando-se da crítica à “falência dos sistemas públicos de saúde”, provocada fundamentalmente pela falta de recursos financeiros e pelo descompromisso dos governos com a saúde, interessados na consolidação do projecto neoliberal, asfixia-se cada vez o financiamento para o sector, numa deliberada acção governamental para destruí-los. Enquanto isso, propõe-se a privatização de hospitais e serviços públicos, submetendo a saúde à lógica de mercado. Aprofunda-se o processo de desmembramento do sector público, enfraquecendo e desrespeitando o controle social, através dos baixos e congelados salários demissões, fecho de leitos, falta de medicamentos e materiais, etc. do ponto de vista ideológico, argumentam para a opinião pública que a crise é determinada pelo corporativismo e ineficiência do estado e que, portanto, a saída se dará através da progressiva privatização, ficando o estado responsável, quando muito, pelas acções básicas de saúde e as medidas de saúde pública. O restante deverá ser assumido, pela proposta neoliberal, pelo sector privado e controlado não mais pela sociedade, mas sim pelas regras de mercado.


Anónimo disse...

Da sessão de corte e costura que Carlos Sério nos traz subscrevo a palavra "panfletários". Para o resto não tenho qualquer serventia cá por casa.

Alexandre Burmester disse...

Seja sério, Carlos! ;-)

Alexandre Burmester disse...

Aquilo que nos deu a ler, Carlos Sério, não passa de um manifesto socialiata-estatista-dirigista, ou, se calhar -até soa melhor - "neosocialista". Mais valia assumir-se pela positiva, ou seja, sair do armário. Eu ja disse claramente quais as minhas ideias. Por que não faz o mesmo? Mas não precisa de dar-se ao trabalho: obviamente que defende o contrário de tudo o que aqui vem debitando (no que está no seu pleníssimo direito, claro; só é pena não o dizer claramente), ou seja, com toda a solidariedade, fraternidade, abnegação, tolerância, benevolência e indulgência (os "neoliberais", substituto de "fascistas" e "reaccionários" no vocabulário da Esquerda Pós-Moderna, são, claro, om oposto de tudo isso): defende o proteccionismo, a propriedade estatal de empresas de uma série de áreas,os entraves à livre circulação de capitais, o estabelecimento de "multinacionais", um estado grande (à custa dos "ricos", claro), o controlo de preços de produtos e serviço, etc., tudo isto baseado na tradicional ignorância esquerdista em matéria económico-financeira, presumindo que pode haver coisas "gratuitas" (os outros que as paguem, claro)

Mas há aqui uma dificuldade: eu não coheço sociedade ou estado algum que funcione nos termos estritos por si descritos e que, portanto, mereça esse tenebroso epíteto de "neoliberal". Até pode haver quem defenda tudo o que - em muitos aspectos caricaturalmente - descreve, mas não devem, então, ter grande influência porque, repito, os estados ocidentais absorvem com grande descontracção cerca de 50% da riqueza nacional (nos EUA é menos). Deve ser para distribuir pelos "ricos".

Carlos Sério disse...

Caro Alexandre Burmester,
não se mostre tão irratadiço.

Tente procurar uma discussão elevada sobre as questões políticas e a não descambar para a vulgaridade.
Já agora devo dizer-lhe que acredito e me revejo nos princípios e fundamentos da social-democracia. Coisa que nada tem a ver com o PSD de Passos Coelho e seus fiéis apoiantes.




Carlos Sério disse...

A evolução da socialdemocracia a partir dos fins dos anos 50 foi nitidamente esta: a conciliação dos valores liberais fundamentais com um regime económico que rejeita o capitalismo liberal. Para que as liberdades sejam desenvolvidas e se dê satisfação à justiça social a social-democracia rejeitou, e bem, o capitalismo liberal e enveredou por outras formas económicas em que é mais importante uma política de preços de rendimentos, de salários, de justa distribuição de rendimentos, de participação dos trabalhadores nas empresas e nas próprias decisões conjunturais do que propriamente da propriedade dos meios de produção.

Numa social-democracia, o que é característico é o apoio dos trabalhadores industrializados: e esse apoio é tanto mais significativo quanto mais o país estiver industrializado. As sociais-democracias do norte da europa, por exemplo, nasceram com o apoio dos operários da indústria, mas também de agricultores, de pescadores e de pequenos comerciantes, tal como no nosso país. a nossa base social de apoio é tipicamente social-democrata. O nosso programa é um programa social democrático avançado, em relação, por exemplo, ao programa do s.p.d. alemão - e, portanto, isto afasta qualquer deturpação que se queira fazer no sentido de nos apresentar como partido liberal ou democrata-cristão, o que são puras especulações tendenciosas que não têm qualquer base.

É que a social-democracia, que defendemos, tem tradições antigas em portugal. Desde oliveira martins a antónio sérgio. É a via das reformas pacíficas, eficazes, a caminho duma sociedade livre igualitária e justa. Social-democracia que assegura sempre o respeito pleno das liberdades.

Francisco Sá Carneiro


Alexandre Burmester disse...

Pode crer que não estava irritado, e se tal lhe pareceu, peço desculpa.

Quanto a Sá Carneiro, que teve um importante papel na criação da democracia em Portugal, claro - acho até que a 25/4/74 muito mais portugueses o conheciam a ele do que a Mário Soares ou Álvaro Cunhal - era, basicamente um defensor da Doutrina Social da Igreja, à qual vestiu as roupagens da "social-democracia". O facto de ele defender essa ficção não me obriga a mim, claro.

Quanto a discussões elevadas, você é que citou aqui textos plenos de adjectivações pouco elevadas, e eu limitei-me a responder na mesma moeda.

Alexandre Burmester disse...

Mas voltando ao essencial deste post, para mim é evidente que o texto de Vítor Bento - insuspeito de radicalismos de Esquerda ou semelhantes devaneios - causou algum embaraço aos respeitáveis autores deste blogue.