Ainda a propósito da “confissão” do Ministro das Finanças sobre o facto de, daqui a 10 anos, a Segurança Social deixar de ter dinheiro para pagar pensões e reformas, há duas questões para as quais não posso deixar de chamar a atenção:
1. Na edição de Sábado, Janeiro 14, 2006, do “Expresso”, há um comentário de outro membro do Governo (que obviamente não se quis identificar), a propósito destas declarações do Ministro das Finanças, que é uma autêntica pérola: “Entusiasmou-se, esqueceu-se de que estava na televisão e disse a verdade”. Lê-se, relê-se, e não se acredita! Mas então... não é suposto que os nossos governantes nos digam a verdade?! Ou devemos ficar definitivamente convencidos de que não devemos acreditar em nada do que dizem – e que só quando estão desatentos ou distraídos, e se esquecem de onde estão, como parece ter sido o caso, podemos acreditar neles?! Admirável é também este pormenor ter passado despercebido... pelos vistos a toda a gente!
2. Na mesma peça jornalística, o “extraordinário” Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva veio desdramatizar porque, afinal, no seu entender, o que vai acontecer, lá para 2015, é que o actual modelo de financiamento da Segurança Social entrará em défice, se nada for feito até lá. Ora, vamos lá ver: entrar em défice significa, neste caso, que deixa de haver capacidade para pagar todas as reformas e pensões. Certo? Certo. Logo, onde é que isto é diferente do que disse o Ministro das Finanças?! Estarei doido, ou o facto de não se poder pagar a totalidade das pensões e reformas a partir de 2015, mais coisa menos coisa, e se tudo se mantiver como hoje, é o que disse o Ministro das Finanças?! Então, porquê os “paninhos quentes” do Ministro Vieira da Silva?!
Para mim, é óbvio que o Ministro das Finanças está mais do que certo – e ainda bem que ele disse a verdade; e também é evidente que (oxalá estivesse enganado!), com este Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social – que está a fazer tudo para não admitir a verdade... –, só muito dificilmente a Segurança Social será objecto das alterações – impopulares, mas extremamente necessárias – que se impõem.
4 comentários:
Bom, por acaso eu também acho que o ministro das finanças disse a verdade. Mas espero que, ao menos, deixem as pessoas que ainda estão no activo, optar por descontar para outras coisas/outros modelos ou "whatever", em vez de estarem a descontar para a segurança social.
... já sei, "dream on".
Caro Miguel Fraquilho
1. Saberá tão bem ou melhor do que eu, que aquilo que o MF disse no programa Prós e Contras, só não está completamente certo, porque é imprevisível hoje sabermos como se comportará a economia portuguesa nos próximos 6 anos. A crescermos ao ritmo dos últimos 8 anos, infelizmente a previsão do ministro acerta em cheio, repito, se nada for feito.
2. O problema é demográfico, mas também económico. Demográfico porque cada vez ha mais pensionistas para menos contribuintes. Economico, porque quer com a entrada na CGA de aposentados aos 40 anos com pré-reformas por inteiro nos finais dos anos 90, quer com o fraco crescimento economico, a economia nao gera emprego.
3. O aumento do IVA de 19 para 21, medida que Vieira da Silva, apelida de salvadora é uma faca de dois gumes. Mais IVA representa menos consumo, menos vendas, menos lucros, menos IRC cobrado, mais desemprego, maiores subsidios pagos. Por falar nisso so ate Outubro deste ano, o fundo de desemprego pagou mais 7,9 % do que no homologo periodo de 2004. Sintomatico !
4. A solução que publicamente defendo, passa pelos dois pilares, publico e privado.
Antonio Duarte
Caro M Frasquilho,
Atente a este caso prático:
1 - O professor A do ensino básico, com 50 anos de idade, veio no passado mês de Dezembro reformado com uma pensão a rondar o 2500 euros.
2 - Este professor tem uma carreira contributiva de menos de 30 anos (+ tropa). Teve uma carreira contributiva (CGA) que totalizou, a preços actuais, qualquer coisa como 80.000 euros.
3 - Se por hipotese este Professor tiver uma esperança de vida de 80 anos, ele irá receber do sistema o equivalente a 1.050.000 euros (preços de hoje).
Interrogações:
1 - quem paga este descomunal desvio. Eu sei, nós os contribuintes. Mas que justiça social ...!
2 - Onde está o virtuosismo deste sistema. Onde está a tão propalada solideriedade.
Conclusão - Não é preciso o Ministro dizer ou deixar de dizer. É uma evidência, este sistema assenta em permissas insustentáveis. Pela maneira como funciona, faz-me lembrar aqueles celebres esquemas da "pirâmide" - quem vier atrás que feche a porta.
Cumprimentos,
Antonio Felizes
http://regioes.blogspot.com
É lamentável e reprovável que os ministros não digam a verdade, ou prefiram não a dizer.
Se é verdade o que disse o Ministro na televisão, será que aquele era o local adequado para fazer uma afirmação deste tipo?
Duvido.
E assim vai a nossa cidadania.
Sempre pensei que uma das funções dos políticos era a de tomar decisões com base em estudos que permitam planificar o futuro, nosso, e dos nossos filhos. Para isto, seria bom, pensava, que esses estudos fossem tornados públicos e que fossem tomadas medidas adequadas para prever a evolução, neste caso, do sistema de segurança social.
Ingenuidade minha.
Agora, que sou um pouco menos ingénuo, já prevejo: vai-se destruir o sistema de segurança social em nome duma possível falência que, afinal, ainda não foi admitida de forma clara e fundamentada.
Políticos...será que são bons cidadãos?
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