O país está a ser varrido por uma onda de encerramentos. Abrem-se os jornais e lemos notícias do género: estado vai encerrar maternidades, estado vai encerrar serviços de atendimento ao público em vários centros de saúde, estado vai encerrar escolas, estado vai encerrar postos policiais ou da GNR, a par do tradicional e permanente encerramento de empresas. Há qualquer coisa que não bate bem. As populações cada vez mais envelhecidas começam a ficar extremamente preocupadas e bem querem protestar mas não conseguem convencer os responsáveis das suas necessidades. Contra-argumentam os zelosos governantes e decisores que as mudanças propostas são sempre para melhor, a fim de respeitarem as normas internacionais e para que os cidadãos tenham a possibilidade de usufruírem melhores e sofisticados recursos. Tudo feito sempre nessa filantrópica medida que é o bem-estar e a saúde das populações.
No caso do encerramento das maternidades, o argumento principal proposto é o facto dos respectivos hospitais não cumprirem os requisitos necessários que assegurem os nascimentos em boas condições clínicas. Até pode ser, mas não deixa de amputar as diversas comunidades de um serviço que apreciavam ficando condicionados às novas regras. Acresce a tudo isto a falta da produção nacional de crianças. Espero que não surja um dia destes uma epidemia de gravidezes obrigando à criação de maternidades de campanha!
O segundo ponto prende-se com as medidas a tomar na área do encerramento das urgências dos centros de saúde, passando a haver unidades de urgências básicas, estrategicamente localizadas e apetrechadas com o pessoal adequado e meios técnicos mais ou menos sofisticados. O argumento para o encerramento assenta na afirmação ministerial de que as urgências nos actuais centros de saúde darem uma “falsa sensação de segurança”. O facto de haver médicos nesses locais com o estetoscópio ao pescoço é enganador da segurança e bem-estar do doente! O senhor ministro pode pensar o que quiser mas fazer uma afirmação destas é um atentado às capacidades clínicas de qualquer profissional de saúde. É preciso ter em conta o que é que um cidadão pensa a propósito de uma emergência. O seu conceito é variável e flutuante. Muitos acorrem aos serviços de urgência angustiados pensando que estão a sofrer algo de muito grave. O médico é a pessoa mais qualificada para definir se é ou não. Às vezes, numa questão de minutos, o tal indivíduo com estetoscópio faz o milagre de transformar algo urgente numa perfeita e controlável banalidade, eliminando a angústia de muitos. Também tem a possibilidade de o vigiar e, caso seja necessário, enviá-lo para a instituição mais adequada. Sempre é melhor do que o tal famoso call center a ser implementado a fim de dar a resposta aos necessitados. Não sei em que medida é que este serviço garantirá mais segurança. O argumento de que hoje as distâncias são medidos com base no tempo e não na quilometragem pode ser apelativa e até aceite pelas comunidades mais jovens, mas extrapolar este conceito aos mais idosos parece-me não ser correcto, já que foram criados e educados a medirem as distâncias no espaço e não no tempo o que lhes provoca uma verdadeira angústia. Saber que a poucos metros ou a poucos quilómetros de distância se encontra “um médico com um estetoscópio ao pescoço” é suficientemente tranquilizador para dar confiança aos mais necessitados e idosos que pululam pelo país sobretudo no interior.
As perspectivas tecnocráticas e “altamente evoluídas” daqueles que vivem no conforto dos bons gabinetes e das grandes metrópoles não justificam o encerramento dos meios actuais. Se continuarem nesta senda de encerramentos, o melhor é encerrar o interior ou até mesmo o país…
1 comentário:
Pois é, meu caro Professor. Põe aqui o dedo na ferida. Parece que ninguém está verdadeiramente disposto a olhar pelo interior. Encerre-se e pronto!
Na minha santa terrinha - pequena cidade que não vale mais do que uns escassos milhares de eleitores - nem é necessário encerrar. As coisas fecham por si, caem de podre.
O senhor Ministro da Saúde, que se regozija pelo futuras aberturas dos imponentes hospitais de Cascais, Loures, Braga, Vila Franca de Xira, da Zona Oriental de Lisboa, foi a Lamego anunciar que o Hospital de substituição da VERGONHA que são as actuais instalações, afinal não vai ser construído! Afinal quem se interessa pela saúde dos 100 mil sul-durienses senão eles próprios? E que podem eles?
Um pequeno pormenor: o projecto do Hospital estava aprovado, o concurso para a construção tinha chegado ao fim, os terrenos foram adquiridos e as infra-estruturas estão em parte realizadas. Outro pequeno pormenor: até à investidura do senhor ministro nunca se colocaram problemas financeiros.
Valha às gentes de Lamego a OTA e o TGV. O que seria delas, sim, o que seria delas, sem a OTA e o TGV?
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