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domingo, 8 de janeiro de 2006

Sem fumo

Andei uns breves dias a passear por terras da novissima Espanha agora liberta, por força da lei, dos fumos do tabaco (sou uma ex-fumadora arrependida ou seja, pude sentir a contrariedade da supressão de cinzeiros e o tamanho dos letreiros à porta de restaurantes e hotéis...). Tenho que admitir que a ideia de acender um cigarro se foi atenuando de dia para dia, porque não costumo encher o carro de fumo e não tenho (ainda!) o hábito de fumar na rua. Mas dá nas vistas ver as esplanadas a abarrotar de gente apesar do frio intenso, uma nuvem suspeita a sair pelos intevalos das protecções de plástico montadas à volta dos passeios onde se instalam as mesas e cadeiras e o impressionante monte de beatas no chão ao fim do dia. Passou na rua um varredor, a empurrar o seu carrinho cheio de folhas, a vassoura na mão, o cigarro na boca, e um grupo de espanhóis à porta de um café diz-lhe a rir: - “Ei, Manolo, não sabes que é proibido fumar no local de trabalho?” O outro parou, muito sério, tirou o cigarro da boca e diz “E tu, vês-me a fumar?...” E lá seguiu o seu caminho.
Pode ser que a produtividade dos espanhóis aumente, com a abolição da sesta, e que a saúde pública e individual melhore significativamente com tão drásticas medidas, mas receio bem que os psicólogos venham a ter um aumento de mercado não desprezível porque a mudança é realmente radical...

13 comentários:

Orlando Braga disse...

Estive há 3 dias na Galiza. Em Lugo, no interior de um café onde gente fumava, questionei o proprietário. "É proibido em Espanha, mas aqui estamos na Galiza", disse-me. Constatei depois que na grande maioria dos cafés e bares em Lugo se fuma. Tudo treta.
Dentro de pouco tempo a coisa ainda esmorece mais. Coisas de Zapatero.

Massano Cardoso disse...

Ao fim de seis meses as coisas esmorecem e ao fim de uma ano são os próprios fumadores a agradecerem...

Massano Cardoso disse...

Quanto aos galegos, como não são muito diferentes dos portugueses, dão uma ideia do que irá acontecer qualquer em dia em Portugal... Mas os espanhóis continuam em frente e à frente!

Suzana Toscano disse...

caro Gustavo, não se trata de saber "quem está mal e quem está bem", é exactamente esse pretenso "julgamento" que torna este assunto tão polémico. Há umas pessoas que fumam e outras que não fumam, por opção, como diz, em qualquer dos casos. Que haja regras de mútuo respeito neste, como noutros hábitos, estou absolutamente de acordo. Mas contesto totalmente a vaga moralidade que agora aparece associada às medidas de saúde pessoal e colectiva...

Carlos Monteiro disse...

GRANDE SUZANA TOSCANO! CEM POR CENTO CONSIGO!

Ana M. disse...

Entendo que a proibição de fumar não se decreta para restringir a liberdade dos fumadores, mas, tão só, com a intenção de proteger os chamados fumadores passivos.
Quem quiser fumar deverá poder fazê-lo, desde que não incomode nem prejudique o próximo.
Eu, que já fumei, mesmo no tempo em que o fazia, considerava desagradável levar com as baforadas do próximo, enquanto estava sentada à mesa, a comer.
Fosse em casa ou no restaurante.
E, decididamente, inaceitável, encontrar um médico, de banco, com um cigarro na boca.
Ou um professor, puxando a sua fumaça, enquanto dava a aula.

Suzana Toscano disse...

Caro sininho, durante muitos anos, fumar não era só um hábito, era quase uma questão de gosto social, de elegância e, em muitos casos, de afirmação. No entanto, não me lembro, de todo, de ver um professor com cigarro nas aulas e era estritamente proibido fumar dentro do liceu. Como em geral as mulheres não fumavam, havia a educação de os homens perguntarem sempre, antes de fumar, se incomodava o fumo...Ou seja, para além da questão das despesas de saúde, que são indiscutíveis, uma grande parte do problema resulta da ausência quase total de regras de respeito pelo próximo, seja no fumo, seja na condução, seja em falar-se aos altos gritos ao telemóvel onde quer que seja...Vamos portanto assumir duas coisas-é um problema de controle de um produto que hoje se sabe ser mau para a saúde;e é um problema de falta de educação. Não é um problema moral ou de comportamento.

Carlos Monteiro disse...

Bem, cara Suzana, apesar de estar inamovível no meu apoio às suas opiniões sobre este assunto ;) gostaria só de relembrar-lhe que foi precisamente no liceu que toda a gente começou a fumar.

Mas por favor continue, que vai muito bem!

Suzana Toscano disse...

Isabel Prata, por esse caminho tinhamos que proibir quase tudo o que é passível de incomodar os outros...No prédio onde morei há 20 anos, nos EUA, o regulamento incluia a proibição de se cozinhar comidas exóticas com cheiro que pudesse passar da porta para fora, para não incomodar os vizinhos. Se grelhasse alguma coisa,o alarme desatava a tocar. E 80% do chão tinha que ter carpetes por causa do barulho para o andar de baixo. E o forro dos cortinados tinha que ser branco, para uniformeizar o visula exterior... Como vê, é possível ir muito longe, é só argumentar.Veja o caso do álcool, por exemplo, a mim não me fazia nenhuma diferença se proibissem as bebidas alcoólicas e se acabasse de vez com os desastres na estrada por causa disso (para não falar nos maus tratos domésticos e em mil e um problemas de saúde por causa do excesso). Mas a campanha é no sentido da moderação e da responsabilidade não é da abolição pura e simples. Acho muito bem que não se fume nos transportes, no cinema, nas lojas, mesmo em restaurantes que o queiram determinar ou nos locais de trabalho partilhados. Mas porque é que num hotel inteiro não há-de haver um espaço para fumar? Não, não acho que seja um problema de moralidade, não acho mesmo nada.

Suzana Toscano disse...

Caro cmonteiro, não quero por nada quebrar este momento tão raro de apoio seu =))), mas precisamente, o facto de ser proibido ainda tornava mais atraente fumar no liceu, era quase uma questão de afirmação pessoal. Também me lembro que era falta de respeito fumar à frente dos pais, que era grosseiro fumar na rua, etc,etc.

Carlos Monteiro disse...

É bem verdade o que diz!

E cara Suzana Toscano, se eu concordasse consigo mais vezes, o apoio que lhe daria seria menos entusiástico. Assim, estou de pé firme, e motivado, a seu lado!

E vá falando sobre este assunto que fala muito bem! Tão bem, tão bem, tão bem, que nem o nosso estimado Professor Massano Cardoso se atreve a contraria-la! Eu escrevi um texto sobre o assunto, mas a resposta do Professor foi esmagadora, apesar de ainda me ter endireitado um pouco. Mas já passou...

Já a Suzana, não dá hipóteses!

:-)

Suzana Toscano disse...

Ainda bem que o Prof.Massano Cardoso não me submeteu a essa dura prova, certamente também eu teria desistido de argumentar...

Suzana Toscano disse...

Isabel Prata, não interpretei mal as suas palavras mas fiquei mais segura depois da sua explicação. É capaz de ser uma questão de semântica, e aí fui eu que me exprimi mal, tem toda a razão. Não acho que educação, civismo e respeito sejam questões morais, são atitudes erradas, ou por ignorância ou por deficiente treino (entenda-se:educação) para estar atento aos interesses dos outros perante os quais os nossos devem ceder, mas não têm intencionalidade de fazer mal, de ofender ou confrontar princípios. Por isso acho grave que o discurso deslize de educativo a julgamnto moral. Eu posso conviver com um mal educado (enfim, tento corrigi-lo) mas não posso pactuar com um imoral, esse tenho que condenar no juízo que faço dele. Uma coisa é discordar ou criticar, outra é condenar. É importante? è, porque determina medidas muito diferentes e legitimidades também diferentes para as impedir.
Que medidas proponho? Bem, as que têm vindo a ser tomadas no que se refere ao esclarecimento quer dos males que o tabaco provoca à saúde do próprio, quer à dos outros (em graus diferentes), além de campanhas de educação colectiva para se respeitar o bem estar dos outros,sem radicalismos impositivos, o que não inclui só o tabaco...Mas há um espaço para a liberdade de cada um, isso também é respeito e aí é que a sua profissão é tão difícil, porque educar é reprimir mas com um sentido positivo(será a diferença entre "aderir a" e "submeter-se" a?), que aumenta a dimensão humana em vez de a diminuir na sua capacidade de agir. Uma coisa é eu não fumar ao pé de si porque sei que a incomoda e isso eu não quero fazer. Outra, muito diferente, é só não o fazer porque é proibido e condenado como uma malfeitoria.Por isso o seu aluno voltou logo a fumar na escola: foi reprimido e não educado (às vezes é preciso, num caso ou outro!). Enfim, estou a extremar, mas basicamente é isto.
Obrigada pela sua resposta, gostei muito. =)