Caros amigos,
Depois de ter lido todos os comentários relativos ao meu texto anterior, cumpre-me ainda responder à questão que me foi colocada pel’ “O Reformista” e que o José Mario Ferreira d’Almeida também subscreve.
Ora, os dados mais recentes que consegui reunir apontam para que, em 2003, existissem cerca de 2.715 milhões de pensionistas, com uma pensão média de cerca de EUR 454. Nesse mesmo ano, o número de trabalhadores ascendia a 5.118 milhões e o salário médio ascendia a cerca de EUR 738. Verificava-se, assim, que em 2003, já nem sequer existiam dois trabalhadores para um pensionista (é 1.88 era o rácio, quando há dez anos, por exemplo, ultrapassava 2).
É verdade que o salário médio é ainda substancialmente superior à pensão média (62.6%), mas a tendência é para aumentar o número de pensionistas e para diminuir o número de empregados, e isto devido a dois efeitos: (i) a diminuição da taxa de natalidade; e (ii) o aumento do desemprego (creio que chegaremos a 8% em breve e de lá não sairemos tão cedo – e se sairmos é, infelizmente, para mais e não para menos, mas isso fica para um outro texto...).
Acresce que não vejo como os nosso salários poderão crescer muito num futuro mais-ou-menos longo, e isto nem decorre das restrições orçamentais (lá vem o défice e o PEC!). Não – tal decorre do facto de nos últimos dez anos, por exemplo, os nosso salários terem sido aumentados, em média, sistematicamente acima da nossa produtividade e, também, de os custos unitários de trabalho terem aumentado mais de 2 pontos percentuais acima da média da EUR-12, o que, evidentemente, deteriorou a nossa competitividade (e de que maneira, basta ver a perda de quota das nossas exportações...).
Isto, claro, para além de, no escalão dos salários mais elevados, Portugal ser já um país que se situa acima da média europeia (o que não acontece nos níveis médios e mais baixos), o que configura uma situação de desigualdade que se tem vindo a agravar.
Portanto, os salários não crescerão muito (não podem – não tem como, enquanto a produtividade não aumentar mais...), o número dos que trabalham, infelizmente terá igualmente tendência a não aumentar e, como ao nível dos pensionistas, o efeito será o contrário, mesmo que as pensões também não cresçam muito, há sempre o efeito quantidade, pelo que, basicamente, se nada fosse feito, o Ministro das Finanças teria toda a razão: lá para 2015, os problemas da Segurança Social seriam de facto, muito, muito graves.
E, portanto, espero (esperamos todos, aliás, acho eu...) é que as medidas necessárias, por mais impopulares que sejam, sejam, de facto tomadas.
5 comentários:
Caro Dr.Miguel Frasquilho
Agradeço-lhe a exposição clara.
Em relação ao aumento dos salários eu não falo no aumento do salário de cada pessoa mas sim do resultado da substituição de uma camada idosa ainda pouco diferenciadan que se vai reformando por outra jovem, mais diferncida e com expectativas de melhor salário (se bem, que a vida está díficil).
Confio que quando esta camada jovem estiver a caburar tenhamos o aumento de desenvolvimento e de produtividade.
Em relação à questão de Lmsp o problema é que ele se esqueceu de multiplicar por 1.88 uma vez que é esse o número de activos por pensionista.
258*1.88=485
485-454=31
Caros,
Comento aqui http://tonibler.blogspot.com/2006/01/falncia-da-segurana-social-e-as-ideias.html por ser grande demais. Não concordo com nada disto. A questão das reformas só se torna uma questão demográfica por má gestão.
Muito obrigado, Miguel, pelo texto esclarecedor.
Aqui vou eu rumo ao site do Tonibler a ver se aprendo umas coisas mais.
Caros Reformistas e LMSP,
O dinheiro que vai para a segurança social serve para quê? Para meter debaixo do colchão? Isto é que me está a fazer confusão, é o dinheiro que deve ser gerado com as contribuições e que pelos vistos não é, porque com essas contas que estão a fazer eu não preciso de SS para nada.
E para que serviu o esparrame de dinheiro que foi posto no fundo de capitalização no tempo do Pedroso?
LSMP,
Pois deve. Um coisa engraçada nos números em Portugal é que eles dão sempre certo.
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