Há que tempos que vejo um anúncio “empregado/a precisa-se” colado na vitrina da papelaria do centro comercial onde costumo ir comprar o jornal todas as manhãs. De vez em quando o anúncio é retirado e surge uma cara nova atrás do balcão, a aprender o ofício, mas é sempre sol de pouca dura e lá volta a dona da loja a estar ali de plantão de manhã até à noite, alternando com uma empregada que ali se mantém há vários anos. Tenho ouvido as queixas da senhora, falando da dificuldade de arranjar um empregado que queira aprender e ficar, aquilo é uma roda viva de entra-e-sai, mesmo quando recorre ao centro de emprego.
Hoje vi que não estava o anúncio e lá encontrei outra cara nova ao balcão, desta vez uma jovem toda moderna, pouco mais de vinte anos, cabelos compridos e bem tratados, a roupa manifestamente desadequada porque podia ir dali direita à praia, mas enfim, fiquei a observá-la enquanto aguardava a minha vez para ser atendida porque a loja estava com bastantes clientes.
Eis senão quando a jovem recebe um recado da colega mais antiga, qualquer coisa sobre ir abrir os pacotes de revistas para arrumar nas prateleiras e a sua cara revelou logo uma nuvem muito negra. Virou-se brusca para a outra e disse, alto e bom som:
- Se é para carregar pesos, esquece, eu não ando na musculação, quem quiser que acarrete as caixas, arrumar posso arrumar mas alguém tem que trazer as caixas para aqui.
A outra ficou aflita a olhar à volta na esperança de não ter sido ouvida a resposta desabrida e sussurrou-lhe qualquer coisa que seria talvez a ameaça de que a patroa estaria a chegar e as coisas estavam por arrumar.
- Isso não é problema meu, disse a novata, até calha bem para ela perceber que eu não acarto pesos, se eu quisesse fazer esse esforço tinha ido trabalhar para as obras!
E continuou a atender os clientes, com gestos de mau humor, a resmungar para ela que “era só o que faltava…”
Suspeito que dentro de dias estará de novo o anúncio…e a estatística do desemprego subiu um número.
Hoje vi que não estava o anúncio e lá encontrei outra cara nova ao balcão, desta vez uma jovem toda moderna, pouco mais de vinte anos, cabelos compridos e bem tratados, a roupa manifestamente desadequada porque podia ir dali direita à praia, mas enfim, fiquei a observá-la enquanto aguardava a minha vez para ser atendida porque a loja estava com bastantes clientes.
Eis senão quando a jovem recebe um recado da colega mais antiga, qualquer coisa sobre ir abrir os pacotes de revistas para arrumar nas prateleiras e a sua cara revelou logo uma nuvem muito negra. Virou-se brusca para a outra e disse, alto e bom som:
- Se é para carregar pesos, esquece, eu não ando na musculação, quem quiser que acarrete as caixas, arrumar posso arrumar mas alguém tem que trazer as caixas para aqui.
A outra ficou aflita a olhar à volta na esperança de não ter sido ouvida a resposta desabrida e sussurrou-lhe qualquer coisa que seria talvez a ameaça de que a patroa estaria a chegar e as coisas estavam por arrumar.
- Isso não é problema meu, disse a novata, até calha bem para ela perceber que eu não acarto pesos, se eu quisesse fazer esse esforço tinha ido trabalhar para as obras!
E continuou a atender os clientes, com gestos de mau humor, a resmungar para ela que “era só o que faltava…”
Suspeito que dentro de dias estará de novo o anúncio…e a estatística do desemprego subiu um número.
14 comentários:
Estou quase certo que essa é daquelas que passa a vida no café a dizer que "os brasileiros roubam os empregos todos"...
E "se calhar" a empregada até tem razão ao recusar-se a fazer esforços excessivos com o transporte de cargas exageradas, que lhe podem proporcionar futuras lesões musculo-esqueléticas, e consequentemente teremos uma futura doente com mais encargos sociais para o Estado, no que respeita a despesas de saúde, dias perdidos com baixa e eventual pensão por doença profissional.
Hoje em dia procura-se que o trabalho humano seja substituído por máquinas e outros equipamentos que confiram segurança e proporcionam mais saúde nos locais de trabalho.
Neste caso, há uns carrinhos que podem ser usados para que a citada empregada não tenha que transportar MANUALMENTE os lotes de revistas.
Talvez a "patroa" careça de uma visita da inspecção de trabalho para aplicação de medidas de formação em segurança, higiene e saúde no trabalho.
doutro modo nunca mais saímos da ante-câmara do 3º mundo em que "insistimos" em viver...se interpretarmos esta recusa como um acto de preguiça ou whatever.
Mas isto sou eu que digo, porque considero que a Segurança Higiene e Saúde no Trabalho, é um vector de produtividade, desenvolvimento e sucesso das empresas numa Economia que queira ganhar o Futuro.
Cumprimentos,
Ja pensou que a dita empregada pode ser uma jovem Licenciada ou mesmo Mestrada que nao arranja trabalho na sua area?
Ou que se arranjar ganhara pouco mais que uma empregada de balcao, tendo que se sujeitar a horas extradordinarias nao remuneradas ou recibos verdes?
Adoptando essa perspectiva, e nao querendo desculpar a ma educacao, podera haver atenuantes...tendo em conta a realidade do mercado de trabalho actual
Ó tonibler não se quer disponibilizar para substituir esta empregada por um dia, na loja de revistas ?
Convinha !
Para depois "mandar bitaites", à vontade.
Outra coisa ...
tonibler, qd é q aparece no twitter ?
e a Dra. susana T. ? (I follow you)
e o dr. Pinho Cardão? (and you ...)
e o dr. J. M. FA ? (and you )
Sabiam que o Prof. SMC é um twitter-sucesso ?
I'm her follower ... and I like it ! :-)
o twitter é um pouco viciante, mas sabem-se "coisas" com rapidez. De todo o mundo.
:-)
Comentário aí para o funcionário do Ministério do Trabalho que quer mandar uma Inspecção à pobre loja para fulminar a patroa (patroa com aspas por que razão?): Não seria melhor instalar uma ponte rolante para o transporte das revistas? E a empresa tem médico de trabalho, tem? Vai-se a ver e não tem, malditos patrões exploradores. E como é que estamos de formação profissional? Esta patroa ignora com sobranceria o vector da produtividade e o carago, está amplamente demonstrado. Não quer ganhar o Futuro, coitada: é como eu.
brinque, brinque ... ó JMG, que com a sua irónica visão de SHT nunca mais saímos da cêpa torta.
Ou seja, o nosso "rectângulo" como uma continuada antecâmara de Terceiro Mundo.
Nem empresários, nem colaboradores.
disse.
Minha cara Pézinhos, tenho mesmo de pensar em juntar-me à comunidade twitter. A minha resistência tem que ver justamente com o que refere: é viciante. E eu já tenho tantos problemas de consciência com o tempo que invisto aqui...
Suzana
Ainda são muitos os casos, infelizmente, em que os trabalhadores de estabelecimentos comerciais não têm a mínima preparação e não reúnem condições para estar atrás de um balcão e estabelecer uma relação de atendimento ao público.
Uns porque não estão satisfeitos com o que estão a fazer, outros porque não são bem tratados pelo "patrão" ou outros porque não têm adequada formação manifestam atitudes para com os clientes de falta de profissionalismo que não são aceitáveis.
Na papelaria da Suzana, salvo seja, deve acontecer um pouco de tudo o que mencionei.
é mesmo isso, Caro Dr. JM Ferreira de Almeida, ... altamente viciante.
Mas creio que o Prof. Salvador M. Cardoso já percebeu qual é a dose certa.
De vez em quando !
os meus cumprimentos,
PS - então quando há inquérito na Comissão Parlamentar, tipo BPN, nem queira saber, .... chovem comentários em catadupa.
Faz ela muito bem, não quer vir a sofrer dos mesmos problemas de coluna da mãezinha, aproveitando bem o talento que tem na língua para dar respostas prontas, acaba com toda a certeza a bronzear-se à borda da piscina...
;)
Cara Pezinhos, caro Cidrais, caros todos, não sei se há carrinhos para transportar revistas (por acaso sei que há, já vi a própria patroa a puxá-lo pelo corredor logo de manhã, com a pilha de revistas atadas em molhos)nem sei se as condições de trabalho são excelentes. Mas o que sei é que se uma pessoa aceita um trabalho, seja lá por que motivo for, tem que o realizar com o maior empenho enquanto lá está, não pode vingar-se das suas insatisfações pessoais, no caso de ser licenciada, como aqui se admite, ou outras, no caso de ganhar pouco, logo que começa a trabalhar.Devo dizer que não aceito mesmo nada bem aquela atitude de quem é vítima de todos, como se o facto de ter tido que aceitar aquele emprego fosse um castigo que os desumanos clientes e patroa lhe pespegaram. Se fosse num serviço público ninguém aceitaria tais propósitos, e muito bem,e se aceitassem faziam muito mal.Um empregado que no primeiro ou segundo dia já está com estes ares de ofendido e violentado duvido muito que venha a ser um bom empregado onde quer que seja e, se for licenciado, mais razão teria para saber lidar com a sua insatisfação.Agora, vingar-se de quem o admitiu e de quem não tem que o aturar, acho demais.Além disso convém lembrar que é e sempre foi uma sorte os jovens conseguirem logo um emprego fantástico, de acordo com as habilitações, os sonhos e as necessidades, isso é mais um complexo de culpa com que a nossa geração se flagela sem nos lembrarmos das dificuldades que também tivémos que enfrentar.
cara suzana, ambos os meus pais sao licenciados. a opiniao deles e que em 1975-1980 uma licenciatura era uma garantia de emprego na area pretendida.
compare com a realidade actual sff.
se quer um exemplo concreto eu sou licenciado e mestre, e apos dois anos e meio de auto flagelacao em Portugal fui forcado a emigrar para encontrar uma carreira na minha area.
se ainda ai estivesse, das duas uma: ou trabalhava na minha area, a recibos verdes e com um tecto salarial de 1000 euros. ou ia trabalhar para uma papelaria e ganhava pouco mais que metade, com um decimo das chatices. em nenhuma das hipoteses teria a hipotese de construir uma vida condizente com as minhas qualificacoes, com os meus rendimentos ( nem que contasse com os rendimentos da minha parceira, que esta na mesma situacao ).
venha o diabo e escolha.
Nao precisaria no entanto da minha experiencia pessoal. fale sobre numeros com qualquer licenciado com menos de 30 anos e ouca.
Cara Pezinhos, quanto ao twitter, registo o seu simpático estímulo, mas por enquanto ainda não estou pronta para abrir mais uma nova frente de comunicação regular, porque dedico ao 4r todo o tempo disponível e só tenho pena de não ter o dobro ou o triplo do tempo para aqui vir conversar e também espreitar outros blogues.Mas se calhar acabo por não resistir :)
Em 12 de Outubro de 2006 publiquei no meu blogue um texto a que chamei “Para que não restassem dúvidas”, devidamente acompanhado de uma fotografia que tirei a uma montra de um conhecido restaurante do barlavento algarvio onde estava exposto um cartaz que dizia:
“Empregada precisa-se”
e, mais abaixo,
“para trabalhar”
Compreendi-te, como dizia o Vasco Santana
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