Cá temos de novo a polémica do facilitismo das provas de matemática do Ensino Básico. A Sociedade Portuguesa de Matemática considera a prova demasiado elementar, enquanto que para Associação dos Professores de Matemática a prova está de acordo quer com as orientações curriculares. Quem é que tem razão?
Uma coisa é certa. Não há milagres na matemática, nem no ensino nem nas provas de aferição. No limite todos os alunos podem ter uma classificação positiva e em média estarem mal preparados, assim como é muito mau sinal uma elevada taxa de reprovação porque é também a evidência de que os alunos não aprenderam a matemática.
Na matemática, não está em causa decorar ou memorizar a matéria como acontece em muitas outras disciplinas. É, antes, uma questão de compreender e dominar a lógica do raciocínio matemático e é, também, uma questão de treino.
A matemática é hoje uma ferramenta fundamental na formação e preparação para a vida das crianças e jovens, independentemente das suas vocações e escolhas profissionais. A cada momento vivenciamos a matemática. Não a podemos dispensar.
Ao longo da vida nas mais diversas situações o raciocínio matemático revela-se muito útil na equação de soluções e na resolução de problemas. A falta de exigência ou preparação no seu ensino, que não tem que equivaler à dificuldade na sua aprendizagem como tantas vezes se quer fazer crer, não permite que os alunos integrem na sua estrutura mental o raciocínio lógico da matemática.
Não é com facilidades na transmissão do conhecimento que vamos melhorar as competências na matemática. É pena que a matemática continue a ser vista como um “papão”! O esforço deveria ser dirigido para os métodos de ensino e para o acompanhamento escolar. É neste campo, e desde tenra idade, que deve ser feito o investimento na matemática. Os resultados dos exames podem esconder falta de conhecimento, porque tudo depende da relação que se estabelece entre os graus de exigência estabelecidos no ensino ao longo do tempo escolar e no momento das provas de aferição. Este é o aspecto relevante que merece aturada discussão mas longe, necessariamente, da época de exames!
Uma coisa é certa. Não há milagres na matemática, nem no ensino nem nas provas de aferição. No limite todos os alunos podem ter uma classificação positiva e em média estarem mal preparados, assim como é muito mau sinal uma elevada taxa de reprovação porque é também a evidência de que os alunos não aprenderam a matemática.
Na matemática, não está em causa decorar ou memorizar a matéria como acontece em muitas outras disciplinas. É, antes, uma questão de compreender e dominar a lógica do raciocínio matemático e é, também, uma questão de treino.
A matemática é hoje uma ferramenta fundamental na formação e preparação para a vida das crianças e jovens, independentemente das suas vocações e escolhas profissionais. A cada momento vivenciamos a matemática. Não a podemos dispensar.
Ao longo da vida nas mais diversas situações o raciocínio matemático revela-se muito útil na equação de soluções e na resolução de problemas. A falta de exigência ou preparação no seu ensino, que não tem que equivaler à dificuldade na sua aprendizagem como tantas vezes se quer fazer crer, não permite que os alunos integrem na sua estrutura mental o raciocínio lógico da matemática.
Não é com facilidades na transmissão do conhecimento que vamos melhorar as competências na matemática. É pena que a matemática continue a ser vista como um “papão”! O esforço deveria ser dirigido para os métodos de ensino e para o acompanhamento escolar. É neste campo, e desde tenra idade, que deve ser feito o investimento na matemática. Os resultados dos exames podem esconder falta de conhecimento, porque tudo depende da relação que se estabelece entre os graus de exigência estabelecidos no ensino ao longo do tempo escolar e no momento das provas de aferição. Este é o aspecto relevante que merece aturada discussão mas longe, necessariamente, da época de exames!
19 comentários:
Estas duas posições demonstram claramente as duas visões de Escola que existem na nossa sociedade.
A APM representa o lobby dos “cientistas” e “especialistas” da educação que defende que o aluno deve aprender através da descoberta (teoria de Rousseau aplicada ao “ensino”), que a classe oprimida (alunos) deve ser protegida da classe opressora (professores) (teoria marxista-leninista aplicada ao “ensino”), as competências devem estar muuuuuuuuuuuuuuuuuuito acima dos conhecimentos (teoria pós-moderna) e que os exames devem ser muuuuuuuuuuuuuuuuuito fáceis para que a escola seja inclusiva (teoria socialista pós-moderna).
A SPM preocupa-se com os conhecimentos que os alunos obtêm na escola.
Agora resta saber aquilo que a maioria da população quer e aquilo que os políticos estão dispostos a oferecer: uma Escola com "e" grande, representada pela SPM ou uma escola com "e" pequeno, representada pela APM. No segundo caso, os votos de uma parte significativa da população estão assegurados, no segundo os votos estão ameaçados.
É, também, bom não esquecer que lutar contra lobbies não tem sido assunto que os nossos caros representantes na Assembleia da República e muito menos os nossos caros Ministros da Educação tenham levado a sério. Optaram sempre pelo mais fácil, não afrontar este poderoso lobby, preferindo adoptar as suas pedagogias românticas imbecilizando as nossas crianças e jovens que não podem optar pelos poucos colégios exigentes e disciplinadores.
No tempo da 2ª República quem não frequentava a Escola era excluído, hoje é excluído aquele que a frequenta.
Estranho país este que prefere afrontar quem executa as ordens ministeriais em vez de afrontar os lobbies que deles se alimenta...
Margarida, subscrevo o seu ponto de vista quanto à necessidade de um exigência na transmissão de conhecimentos no espaço da escola. É isso que deve ser sublinhado, a indispensabilidade da qualidade do ensino para desenvolver capacidades.
Estranho, no entanto, esta discussão circular e recorrente, que de resto se está a tornar doentia, sobre se as provas são muito dificeis ou muito fáceis. A avaliação dos alunos não é, volto a dizê-lo aqui (com a autoridade de alguém que ensinou durante quase 20 anos)um fim em si mesmo. E ai das políticas educativas que ponham o acento tónico nas avaliações! O que é importante, como bem assinala a Margarida, é uma política de educação que estimule a aprendizagem de conhecimentos úteis, que prepare para uma vida cada vez mais complexa, que desenvolva capacidades e competências.
É realmente muito negativo que as discussões se centrem na facilidade ou dificuldade dos exames e que daí resulte uma permanente desconfiança quanto à avaliação da qualidade do ensino. Hoje essa aferição vai muito além dos exames nacionais, implica comparações com outros países e outros sistemas, e é dessa comparabilidade, em séries que não são de um ano ou dois, que se poderão tirar conclusões mais firmes. Não sei se os exames foram fáceis ou difíceis mas custa-me a crer que o objectivo seja "falsificar" o retrato porque isso não traria vantagens para ninguém. O que importa é que não nos deixemos distrair por isso mas nos fixemos de facto em melhorar a exigência e a qualidade do ensino, o gosto pela matemática, pelo português, pelas históri,a pela aprendizagem e pelo conhecimento, é esse gosto que fica pela vida fora...
Os exames são, na realidade, dois actos de aferição de conhecimentos. ao nível "microscópico" do aluno e ao nível macroscópico do sistema e dos seus agentes.
Não concordo com a Suzana quando diz que "falsificar" o retrato não traz vantagens para ninguém. Claro que traz. O sistema e os seus agentes são mais bem avaliados com o facilitar. Boas notas permitem que semi-analfabetos continuem a leccionar um tema que ainda hoje é misterioso para eles. Porque não há fórmulas milagrosas, podemos dizer que um professor bom pode ter más turmas, mas dizer que todos os professores bons tiveram más turmas e por isso temos que facilitar no exame é, obviamente, uma mentira. O "segredo" de termos problemas com a matemática (e, na realidade, com todas as outras matérias) é que os professores são MAUS! Em média, no seu comportamento agregado, são maus. E se percebessem um pouco mais de matemática, eles próprios seriam os primeiros a reconhecer isso. Em média, bons professores geram bons alunos e maus professores geram maus alunos e contra isso, batatas!
Se os alunos são maus, "falsificar o retrato" significa dizer "ah, há bons e maus em todo o lado e blá,blá..." e, também, o que é que mais umas décadas de pobreza nos pode afectar...
Cara Margarida,
Nestas questões do ensino-aprendizagem, estamos todos sempre de acordo quanto à exigência de qualidade na transmissão de conhecimentos no espaço escola. Mas quando se avança na conversa da concretização disto, quanto a métodos, meios, políticas, direitos, deveres e responsabilidades de cada um dos intervenientes no processo (alunos, pais, professores,ministério, autarquias,cidadãos, ...) chegam imediatamente as divergências.
Até mesmo, ao que parece, ainda hoje, passados já 30 anos de democracia, quanto ao objectivo primeiro do ensino, que é o de garantir a incluão dos jovens na sociedade quando adultos.
Por isso, qualquer caminho que recorra a métodos que promovam exclusão não pode ser opção.
E o problema é que continuamos a ter como referência o sistema que nos formou, a nós os cinquentões, esquecendo-nos que esse sistema excluia quem não "acompanhava", está hoje, por isso, fora de questão. Claro que nós fomos os que se safaram. Mas os outros...
Com isto, a questão da avaliação tem que ser encarada hoje, claramente, nas suas duas perpectivas (que antes eram feitas num mesmo memento, como se de apenas uma se tratasse).
Em primeiro lugar há a avaliação para decidir quanto à progressão dos estudantes.
Em segundo lugar há a avaliação para aferir, com objectividade, os níveis de competências adquiridas, isto é, o nível de qualidade do próprio sistema de ensino.
E quanto à primeira, é perfeitamente admissível uma adaptação da "fasquia" mínima à qualidade geral que o sistema de ensino consegue garantir em cada momento.
Se não, que sentido faz, na sociedade de hoje, por exemplo, ter um sistema que forme com muito boa qualidade 50% dos seus estudantes e exclua os outros 50%, não lhe garantindo as condições mínimas de acesso ao mercado de trabalho? exportam-se para o terceiro mundo?
Por isso, temos que olhar para estas coisas com alguma sensatez e pragmatismo, e não encarar banalidades como soluções porque corremos o risco de seguir para caminos contrários aos que pretendemos.
E claro que é com muita perplexidade e tristeza que vejo sitematicamente a SPM fazer este tipo de afirmações de facilitismo desta forma leviana. Com que estudos? Não seria de esperar desta organização maior rigor científico? Que banalide! (e intriga?)
Pelos comentários aqui expressos desconfio que o próximo governo manterá tudo na mesma.
Enquanto noutras latitudes se discute como "back to the basics", em Portugal parece que continuaremos a discutir mais do mesmo.
Quando ainda se tenta dizer que ao aumento da exigência resulta exclusão social, temo pelo futuro do país.
Já alguma vez pensaram que quem não tem capacidade económica e/ou capacidade intelectual para colocar os seus filhos nos poucos colégios privados de qualidade corre o sério do risco de ter filhos com um certificado mas que não sabem ler nem escrever?
Não, não tenho cinquenta anos! Tenho 35!
Ouçam os empresários e os gestores de recursos humanos, ouçam o que eles têm para dizer. Se os ouvirem, repararão que muitos deles terão histórias que nos envergonham a todos. Porque o problema do país ter parado de crescer há quase 10 anos, deve-se ao facto do aluno médio (aquele que obtém o 9º e o 12º ano) não ser capaz de interpretar um texto um pouco mais complexo e muito menos escrever algo com o tamanho de uma folha A4 e ser-lhe praticamente impossível realizar cálculos mentais como 123,45/1000!
Quem não acredita, que pergunte! Com uma mão-de-obra assim, como podemos concorrer nos mercados externos? Ou até no nosso, quando surge concorrência?
A continuação do empobrecimento do país parece, por isso, um dado adquirido.
Quanto ao Tonibler, se seguir o seu raciocínio chego rapidamente à conclusão que a falência do Lehman Brothers se deveu aos seus funcionários e não aos seus gestores! Julgo que essa conversa não convenceu os accionistas do banco...
Meus Caros,
É grave que a SPM e a APM não estejam de acordo. Há certas coisas elementares como o ensino da matemática em que a falta de acordo simplesmente reflecte o atraso do país.
Idem para o ensino da língua.
É fundamental um "back to basics" no ensino e esse voltar ao básico é condição necessária para consensos alargados.
É também necessária a criação de elites no ensino e o acesso à elite deve ser condicionado por conhecimento científico (não mestrados e doutoramentos da treta) mas um exame a sério.
Cumprimentos,
Paulo
Fartinho,
Gestores? Quais gestores? Aqueles que são obrigados a viver com o quadro de pessoal que lhe impõem? Isso não é gestão, é velório.
Caro Tonibler,o grande choque sobre o nível de conhecimentos dos nossos alunos veio com os resultados do PISA e não com os resultados dos exames e aferições nacionais. É por isso que digo que "falsificar" não serve de nada,excepto para entreter uns quantos analistas que só olham para a notícia do dia e a esquecem no dia seguinte. Se para o ano os exames forem difícieis, é porque a política do ME falhou nesse ano lectivo, se forem fáceis, é porque foi fantástica... Quem é que acredita nisso?
Caro Tonibler,
Esta sua resposta é deveras curiosa e nada mais tenho a acrescentar...
Cara Suzana,
Associado ao interesse público da educação, esse é independente dos exames, concordamos, existem os interesses privados dos produtores dessa educação cuja renda depende dos exames. Desde um primeiro-ministro até ao professor. Um exame fácil não se destina ao aluno, destina-se como tudo no sistema de ensino português a alimentar interesses privados. 140 mil deles
Caros Fartinho da Silva e Paulo,
Bem hajam pelos vossos comentários, e pela coragem que demonstraram em os publicar contra ventos e marés.
O objectivo do Ensino é a criação de competências, mas a estas está subjacente a aquisição de conhecimentos, de conteúdos programáticos.
Quanto às prova de Matemática do 3º ciclo, apenas as questões dos grupos 10., 11. e 12. são difíceis, exactamente porque exigem competências.
“Quando ainda se tenta dizer que ao aumento da exigência resulta exclusão social, temo pelo futuro do país.”
E teme bem Fartinho, mas está a pregar aos peixinhos, como o padre António Vieira.
“É também necessária a criação de elites no ensino e o acesso à elite deve ser condicionado por conhecimento científico (não mestrados e doutoramentos da treta) mas um exame a sério.”
Que ingenuidade, Paulo, pensar que os nossos políticos estão interessados numa tal elite! Para eles, lá no fundo, a docência é um trabalho de operário, com rotinas de entrada e saída e objectivos de produção diária. Não é um trabalho intelectual de criação de conteúdos, que exige reflexão, e não se pode avaliar ao metro. Além de que pessoas com capacidade de reflexão são perigosas.
Em cada geração alguns têm de sobreviver, para passarem o testemunho à geração seguinte.
Para ambos desejo profundamente as maiores felicidades e muito ânimo para se manterem como docentes na escola pública.
Caro De profundis
Obrigada pela sua visita. São muito bem vindas e certeiras as suas considerações.
Penso que há um problema no acesso à página que embutiu no seu texto: "prova de Matemática do 3º ciclo". Não a consegui abrir.
Caro Deprofundis,
Agradeço o elogio. Tenho que lhe dizer que já fui professor do ensino secundário na "escola" pública, mas depois de me aperceber naquilo em que transformaram a "escola", os "professores", os "alunos" e os "encarregados de educação" decidi abandonar esse trabalho e actualmente tenho trabalhado num colégio privado onde o professor estuda e ensina, o aluno estuda e aprende e o encarregado de educação é responsável pela educação do seu filho. Simples e eficaz...
Para se perceber bem ao que se chegou no que ao facilitismo diz respeito, basta dizer que o Ministério da Educação proibiu os professores de fazerem reset às máquinas de calcular nos exames, ou seja proibiu os professores de evitarem que os alunos copiem!
Quem não acredita tal como eu não acreditei, basta lerem aqui a circular: http://sitio.dgidc.min-edu.pt/JNE/Documents/circulares/2009/Oficio_Circular_1743_09.pdf
Quem quiser perceber bem a dimensão do problema, basta consultar o fórum exames.org em que os alunos não discutem como podem cabular, mas sim como podem processar os professores que os apanharem...; reparem nesta pequena conversa: "Podes fazer o que te apetecer com a informação que tens no "software" da calculadora.
E se algum vigilante implicar contigo, estás à vontade para o processar."
Claro que segundo o Tonibler, a culpa destas circulares é dos... professores!
Nota: julgo que todos sabemos que as máquinas de calcular gráficas permitem a entrada de dados escritos na memória.
São professores que as produzem, Fartinho. E estes estão a facilitar algo que já está mal ANTES de chegar ao exame, senão não teriam necessidade de facilitar
Caro Tonibler,
São professores que produzem o quê? As circulares?
Não teriam necessidade de facilitar? Quer dizer que é necessário facilitar?
Sinceramente, não percebo.
Sim, no ministério quem trabalha lá são professores que fugiram.
Claro que é necessário facilitar. É muito mais fácil ajeitar uma pergunta num exame que trocar 140 mil funcionários.
Cara Dra. Corrêa de Aguiar
Agradeço a gentileza das suas palavras. E também a chamada de atenção relativamente ao link, que repito acreditando que aceita o tag a:
prova de Matemática do 3º ciclo
Caro Fartinho
Sensata a decisão de ter fugido do buraco negro da escola pública. Esta perdeu mais um Professor.
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