Quando estou na faculdade gosto de ligar o rádio para ouvir notícias ou música. Agora, com o computador, descobri que posso utilizá-lo como um rádio ou socorrer de muitas e interessantes playlists. Às vezes prefiro o silêncio, outras não. É uma questão de estado de espírito.
Li, numa revista científica, um interessante artigo sobre o uso do rádio, das conversas de laboratório, do convívio e da análise dos acontecimentos mundanos e científicos. Uma verdadeira interação social e científica bastante profícua em todos os aspetos. O jovem autor passa em seguida a fazer a análise das modificações ocorridas entretanto com o uso do iPod. A partir desse momento, deixou-se, praticamente, de falar uns com os outros, de partilhar as dúvidas, as alegrias, as tristezas e as incertezas. Alguns chegam ao cúmulo de usar os auscultadores, mesmo desligados, só para não serem incomodados. Argumenta o autor que tal postura pode originar alguns inconvenientes na própria aprendizagem e divulgação científica. Partilho desta posição, já que muito do saber se transmite desta maneira, informal e ocasional. Contra-argumentam os opositores de que não, porque o uso dos podcasts científicos são bem-vindos e muito úteis. Não lhes deixo de reconhecer a sua utilidade, porque também os utilizo. Breves e muito ricos em informação. De qualquer forma, mesmo que o iPod seja utilizado para ouvir música ou para aprender, começa a haver modificação a nível da tal interação social e científica nos laboratórios. Não me compete afirmar se o seu uso torna-nos em melhores ou piores cientistas, mas, de qualquer forma está a provocar modificações comportamentais.
Sexta-feira à tarde, quente como o diabo gosta, fui a pé até casa, por causa da necessidade de fazer exercício, o tal que me esqueci de praticar durante décadas. Na sequência da leitura, aproveitei o percurso para verificar se os jovens, com quem me ia cruzando, usavam ou não os tais aparelhos. Já tinha refletido sobre esta matéria, nomeadamente quando sou obrigado a ler notícias do género: “jovem apanhada por um comboio, não deu conta por causa dos auriculares”! Trata-se de um tipo de notícia que parece querer entrar como rotina no nosso dia-a-dia. Ao combinar a leitura do “Do not disturb” (assim se intitulava o artigo que li na revista científica) e das notícias de morte por causa dos “tampões” musicais auditivos, pus-me a observar os jovens. Fiquei alarmado. Foram tantos, ou melhor, tantas, ao ponto de ficar mesmo incomodado. Não porque não tenham direito a fruir da música ou de qualquer assunto técnico-científico, mas pelo risco que correm de ser atropelados. Sim, porque o uso dos auscultadores condiciona fortemente a segurança. Como prova, verifiquei que, entretanto, uma jovem de calções pretos, barriga à mostra, com um minúsculo top da mesma cor, garrafa de água numa das mãos e respetivo iPod, subia a correr a Rua dos Combatentes. Eram cerca das seis da tarde. O calor fazia-se sentir. A rapariga podia ter esperado pelo fresquinho, mas não, vermelha que nem um pimentão, em perfeito contraste com o preto do “biquíni”, não se apercebeu, no cruzamento, da aproximação de um carro, o qual alertou-a ruidosamente, aquando da sua meteórica passagem. Olhei e fiquei com a plena sensação de que nem ouviu a forte buzinadela e lá foi na sua corrida citadina.
Não encolhi os ombros nem os neurónios que já escaldavam, mas pensei: - Que raio de sociedade é esta que regulamenta tudo e mais qualquer coisa e não faz nada em relação a este fenómeno? Espero que não comece a ser alvo de comentários dos habituais que veem nestas preocupações mais um atentado contra a “liberdade”. Claro que cada um faz o que entender. Mas se alguém atropelar um cidadão nestas circunstâncias é certo e sabido que vai ter problemas, passar um mau bocado, e mesmo que não tenha culpa fica sempre uma cicatriz na consciência.
É proibido o uso de telemóveis durante a condução, por motivos óbvios, mas quanto ao uso do iPod deveria haver algo equivalente ou que, pelo menos, disciplinasse o seu uso ao cruzar, por exemplo, as estradas ou locais de risco de atropelamento por manifesta falta de atenção. Qualquer iniciativa que permita reduzir o risco de acidente é bem-vinda, e sempre mais útil do que aquela tentativa falhada de legislação sobre “uso dos piercings” para preservar a saúde! Entretanto, o melhor é buzinar o mais “alto”, e com mais frequência, sempre que nos apercebamos de que estamos a aproximar de um utilizador de iPod, que, nalguns casos, é até muito fácil de diagnosticar, como foi a de uma jovem bem recheada que se bamboleava toda à minha frente em função do ritmo e dos decibéis que ia engolindo através dos canais auditivos. Curioso! Vi alguns cegos na paragem dos autocarros e outros a caminhar com as suas características bengalas, mas nenhum tinha auscultadores. Cegos, mas não surdos...
Li, numa revista científica, um interessante artigo sobre o uso do rádio, das conversas de laboratório, do convívio e da análise dos acontecimentos mundanos e científicos. Uma verdadeira interação social e científica bastante profícua em todos os aspetos. O jovem autor passa em seguida a fazer a análise das modificações ocorridas entretanto com o uso do iPod. A partir desse momento, deixou-se, praticamente, de falar uns com os outros, de partilhar as dúvidas, as alegrias, as tristezas e as incertezas. Alguns chegam ao cúmulo de usar os auscultadores, mesmo desligados, só para não serem incomodados. Argumenta o autor que tal postura pode originar alguns inconvenientes na própria aprendizagem e divulgação científica. Partilho desta posição, já que muito do saber se transmite desta maneira, informal e ocasional. Contra-argumentam os opositores de que não, porque o uso dos podcasts científicos são bem-vindos e muito úteis. Não lhes deixo de reconhecer a sua utilidade, porque também os utilizo. Breves e muito ricos em informação. De qualquer forma, mesmo que o iPod seja utilizado para ouvir música ou para aprender, começa a haver modificação a nível da tal interação social e científica nos laboratórios. Não me compete afirmar se o seu uso torna-nos em melhores ou piores cientistas, mas, de qualquer forma está a provocar modificações comportamentais.
Sexta-feira à tarde, quente como o diabo gosta, fui a pé até casa, por causa da necessidade de fazer exercício, o tal que me esqueci de praticar durante décadas. Na sequência da leitura, aproveitei o percurso para verificar se os jovens, com quem me ia cruzando, usavam ou não os tais aparelhos. Já tinha refletido sobre esta matéria, nomeadamente quando sou obrigado a ler notícias do género: “jovem apanhada por um comboio, não deu conta por causa dos auriculares”! Trata-se de um tipo de notícia que parece querer entrar como rotina no nosso dia-a-dia. Ao combinar a leitura do “Do not disturb” (assim se intitulava o artigo que li na revista científica) e das notícias de morte por causa dos “tampões” musicais auditivos, pus-me a observar os jovens. Fiquei alarmado. Foram tantos, ou melhor, tantas, ao ponto de ficar mesmo incomodado. Não porque não tenham direito a fruir da música ou de qualquer assunto técnico-científico, mas pelo risco que correm de ser atropelados. Sim, porque o uso dos auscultadores condiciona fortemente a segurança. Como prova, verifiquei que, entretanto, uma jovem de calções pretos, barriga à mostra, com um minúsculo top da mesma cor, garrafa de água numa das mãos e respetivo iPod, subia a correr a Rua dos Combatentes. Eram cerca das seis da tarde. O calor fazia-se sentir. A rapariga podia ter esperado pelo fresquinho, mas não, vermelha que nem um pimentão, em perfeito contraste com o preto do “biquíni”, não se apercebeu, no cruzamento, da aproximação de um carro, o qual alertou-a ruidosamente, aquando da sua meteórica passagem. Olhei e fiquei com a plena sensação de que nem ouviu a forte buzinadela e lá foi na sua corrida citadina.
Não encolhi os ombros nem os neurónios que já escaldavam, mas pensei: - Que raio de sociedade é esta que regulamenta tudo e mais qualquer coisa e não faz nada em relação a este fenómeno? Espero que não comece a ser alvo de comentários dos habituais que veem nestas preocupações mais um atentado contra a “liberdade”. Claro que cada um faz o que entender. Mas se alguém atropelar um cidadão nestas circunstâncias é certo e sabido que vai ter problemas, passar um mau bocado, e mesmo que não tenha culpa fica sempre uma cicatriz na consciência.
É proibido o uso de telemóveis durante a condução, por motivos óbvios, mas quanto ao uso do iPod deveria haver algo equivalente ou que, pelo menos, disciplinasse o seu uso ao cruzar, por exemplo, as estradas ou locais de risco de atropelamento por manifesta falta de atenção. Qualquer iniciativa que permita reduzir o risco de acidente é bem-vinda, e sempre mais útil do que aquela tentativa falhada de legislação sobre “uso dos piercings” para preservar a saúde! Entretanto, o melhor é buzinar o mais “alto”, e com mais frequência, sempre que nos apercebamos de que estamos a aproximar de um utilizador de iPod, que, nalguns casos, é até muito fácil de diagnosticar, como foi a de uma jovem bem recheada que se bamboleava toda à minha frente em função do ritmo e dos decibéis que ia engolindo através dos canais auditivos. Curioso! Vi alguns cegos na paragem dos autocarros e outros a caminhar com as suas características bengalas, mas nenhum tinha auscultadores. Cegos, mas não surdos...
1 comentário:
“...Curioso! Vi alguns cegos na paragem dos autocarros e outros a caminhar com as suas características bengalas, mas nenhum tinha auscultadores. Cegos, mas não surdos...”
Este é mais um daqueles textos que dá gosto ler. Acho louvável que a partir da observação deste comportamento já considerado por muitos de nós quase corriqueiro, o caro Professor Massano Cardoso venha alertar para os perigos reais que tal comportamento encerra. Concordo que alguma coisa é necessário fazer por quem de direito. Aqui já foi feito!
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