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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Um passado muito penalizador do futuro...


Portugal tem estado a pagar caro a factura do défice de qualificações. São décadas de políticas mal sucedidas que comprometeram o desenvolvimento do País.
Segundo um relatório recente do Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional, Portugal registava em 2007 6,7 milhões de trabalhadores pouco qualificados, número este que representava 75% da população com mais de 15 anos. Na Europa o peso dos trabalhadores pouco qualificados representava 38% da mesma população.
Segundo o mesmo relatório Portugal vai evoluir para um rácio de 58% em 2020, valor que continuará a ser o mais elevado da Europa, que se prevê registe também uma melhoria, situando-se em 29%.
Este fosso que nos separa da Europa permite-nos perceber que temos que assumir a qualificação profissional como um desígnio nacional, porque a qualificação dos recursos humanos é fundamental para competirmos. Com baixas qualificações teremos dificuldades em gerar riqueza, como, aliás, o passado se encarregou de nos mostrar. Sem riqueza não há economia de bem estar.
É preciso, portanto, combater assertivamente o fenómeno do abandono escolar, melhorando o sistema de ensino e proporcionando apoios efectivos às famílias e jovens com dificuldades económicas e culturais, assegurando reais oportunidades de desenvolvimento e evitando que aquelas dificuldades sejam razão de desistência.
O investimento em capital humano é gratificante para uma sociedade e é um factor fundamental de desenvolvimento económico e de justiça social. Descobrir e desenvolver talentos e aptidões constitui um objectivo estratégico superior para o qual temos que olhar muito seriamente. Perdemos muito tempo, mas nunca é tarde para corrigir os erros e fazer melhor.

8 comentários:

Clara Carneiro disse...

Pois é Margarida, cá está o ensino, o apoio ás famílias, o abandono escolar...Portugal irá de TGV se não houver políticas de alerta prioritário no mundo da qualificação; oxalá ainda consigamos ir a tempo, como diz.

Anónimo disse...

Ahahahah, Clara. Fez-me lembrar uma coisa que ainda ontem disse num forum sobre transportes em que participo e relacionado precisamente com o TGV. É por coisas dessas, por desequilibrios graves deste género que Portugal tem e terá grandes dificuldades em desenvolver-se e que o TGV tem toda a utilidade do mundo. É que a linha tem dois sentidos. Tanto pode levar investimento para Lisboa como pode levar gente para ir e ficar em Madrid, delapidando ainda mais o capital humano da Républica.

Agora num tom mais sério, esta questão que a Margarida aqui nos trouxe é extremamente importante e um dos grandes obstáculos que Portugal tem para se desenvolver. Mas, e aqui vem uma pergunta, alguém está preocupado com isso? Alguém está disposto a pôr mãos à obra e trabalhar o necessário para percorrer o caminho que falta percorrer? Mesmo os jovens e menos jovens que têm poucas qualificações, estão dispostos ao trabalho, ao esforço, ao rigor e à exigencia que a formação de qualidade e excelência acarretam?

Bartolomeu disse...

Parece-me cara Drª Maragarida, que a maior diferença entre a formação profissional no nosso país e a dos outros paízes da União Europeia, reside na objectividade.
Em Portugal, aconselha-se a F.P. aos meninos (grandes) que não rendem na escola, e para quem por conseguinte, não se vislumbra futuro (um qualquer). Mas não se estabelecem critérios(como é habitual). Não ha qualquer cuidado em "apurar" as aptências, as áreas para as quais os meninos grandes se encontram mais vocacionados, ou até, mais motivados, ou ainda, mais identificados. Depois, não existe o cuidado de formar os meninos grandes para areas profissionais com carências de "material" humano. Depois o resultado é termos meninos grandes que "tiraram um curso" que não lhes proporciona nenhuma saída profissional e que, quando e se conseguem um emprego, raramente a formação que obtiveram se manifesta aproveitável.
Carregamos a mochila pesada do faz-de-conta, cara Drª. Margarida, mas, carregamo-la com alegria e prosápia, pois continuamos a olhar para o sucesso desses paízes e continuamos a achar que nós é que somos bons... munta bons.

Adriano Volframista disse...

Cara Dra Margarida Aguiar

Não se espante com o nosso atraso. Na década de 70 do século passados erámos o país mais atrasado da Europa, porque erámos o que tinhamos a maior taxa de analfabetismo. Trinta e cinco anos depois, percebemos que:
a) A democracia não significa que a riqueza seja um dado adquirido;
b) Que as infraestruturas não são as chaves para o desenvolvimento.
Chegámos ao limite possível da capacidade de desenvolvimento, deste patamar só com uma melhoria significativa do nosso nível escolar. Não detecto que se esteja a trabalhar para essa solução, antes pelo contrário, tudo indica, pelas condições existentes, que vamos manter o actual status quo.
Repare, existem um "monte" de PINS (aqueles projectos de interesse nacional) para todos os sectores, menos para a educação. Estamos dispostos a subsidiar fábricas de automóveis, mas é impensável darmos os mesmos montantes, para que uma fábrica estrangeira de licenciados se venha instalar entre nós.
Enquanto as "elites" não alterarem o modo de pensar vamos continuar onde estamos.
Tanto o Tibete, como os curdos, perderam, em seu momento, a possibilidade de alcançarem uma independência duradoura; realizaram, enquanto povos, entes colectivos, opções erradas. O mesmo sucede com Portugal, realizámos as opções erradas, pelos meus cálculos, só dentro de +/- 50 anos vamos voltar a ter uma oportunidade semelhante, até lá passaram-se duas gerações e já nos esqueçemos do que sucedeu hoje. Não lhe soa familiar esta análise?
Cumprimentos
joão

Félix Esménio disse...

Há muito tempo que a educação é um produto que não atrai os “consumidores” e não satisfaz o “mercado”. Revela-se pouco exigente, pouco inovadora e pouco flexível ou adaptável aos contextos e às pessoas. O problema da falta de qualificação dos portugueses tem séculos de fraca resiliência. Evidenciamos uma incapacidade sistémica de recuperação perante factores ou condições adversos. No confronto com os problemas são mais as vezes em que deles fugimos, olhamos para o lado e assobiamos para o ar, do que aquelas em que os enfrentamos. Existe de quando em vez alguma capacidade de improviso ou, mais frequentemente, de reacção. Porém, os mais corajosos e determinados normalmente emigram e deixam fluir a saudade. O amor platónico, à distância, torna-se menos doloroso do que a proximidade desesperada de quem ama sem ser correspondido. Nós, da pátria, esperamos tudo menos reconhecimento. Aprendemos a tudo relativizar, não por falta de sonho ou ambição, mas pela ausência de convicção ou determinação. Por isso, no desespero ou na ansiedade gritamos, reclamamos, mas, muito raramente, pomos mãos à obra e fazemos. Quando muito traficamos influências ou vibramos, enciumados, com o sucesso dos “Crisitianos Ronaldos”, bafejados por uma espécie de lotaria existencial.
A Escola pode e deve ser um espaço de trabalho, aberto à comunidade e às empresas, multi-serviços, multicultural e intergeracional, que estimule e motive os seus aprendentes. Deve oferecer diferentes produtos em função dos interesses e das necessidades dos “clientes”. O ensino unificado, até ao 9º ano, constitui um factor de desmotivação para muitos dos jovens estudantes, levando-os à desistência e ao insucesso. Agravado, em muitos casos, pela falta de qualidade pedagógica e científica dos professores. Sem prejuízo dos saberes mais reflexivos e abstractos, o ensino básico deve proporcionar contextos de aprendizagem mais práticos e orientados para o empreendedorismo, estimulando a iniciativa e o risco. As escolas devem ter oficinas, laboratórios, ateliês, …, espaços e tempos de atendimento mais personalizado dos alunos pelos professores. Os desempregados devem poder frequentar a Escola em horário laboral, contribuindo quer para o aumento das suas qualificações quer para a pacificação e transformação do ambiente escolar. Os professores devem, ao longo da sua carreira, ter experiências em contextos empresariais, saindo do casulo que os “protege” e entorpece.
O investimento na Escola, nos Centros de Formação e nos Centros ou Pólos Tecnológicos deveria ser a nossa opção estratégica de desenvolvimento. Estou certo de que com a riqueza gerada por este investimento logo teríamos condições para novas infra-estruturas de transportes. Mas não, os governantes preferem continuar a investir nas “coisas” do que nas pessoas. As “coisas” são mais visíveis e tangíveis do que as transformações endógenas dos cidadãos. Porém, o efeito multiplicador de cada pessoa que se qualifica, com qualidade, é infinitamente maior do que cada pedra que se assenta com o cimento efémero do progresso virtual. Não é um caminho fácil, mas é possível fazer mais e melhor! Assim haja lucidez e exigência dos governados.

Fartinho da Silva disse...

Enquanto o Estado considerar a Escola como um Centro de Entretenimento e Guarda de Crianças e Jovens, os professores como uma espécie de cruzamento genético entre um professor, um psicólogo, um sociólogo, um assistente social, um grande burocrata (muito grande mesmo), um pai, uma mãe e um amigo, os alunos como bonecos de porcelana e os pais como apenas aqueles que colocaram as crianças e os jovens no mundo, não vamos lá!

Enquanto não percebermos que a Escola e os professores têm que recentrar a sua missão naquilo que sabem fazer bem: ENSINAR, não vamos a lado nenhum...!

O que se passa nas escolas é demasiado grave para poder aqui expor numa caixa de comentários, no entanto tenho que pelo menos deixar aqui uma analogia. Imaginemos uma empresa que produz refrigerantes gerida como a Escola portuguesa, então seria algo assim:

1. Como necessita de produzir refrigerantes, cria uma unidade de produção;

2. Como necessita de frutas para produzir os refrigerantes, compra umas quintas e começa a produzir fruta;

3. Como necessita de fertilizantes para a produção de fruta, cria uma unidade de produção de fertilizantes;

4. Como necessita de estufas para poder produzir fruta mais refinada, cria uma unidade de produção de estufas;

5. Como necessita de embalar os refrigerantes, cria uma unidade de produção de embalagens;

6. Como necessita de etiquetar as embalagens, cria uma unidade de produção de etiquetas;

7. Como necessita de fazer marketing e publicidade, cria uma unidade de marketing e publicidade;

8. Como necessita de transportar os refrigerantes, cria uma unidade de transportes;

9. Como necessita de camiões, cria uma unidade de produção de camiões;

10. Como necessita de combustível para os camiões, cria uma unidade de produção de gasóleo;

11. Como necessita de pneus para os camiões, cria uma unidade de produção de pneus;

12. Como necessita de fazer a manutenção dos camiões, cria uma oficina de reparações de camiões;

13. etc., etc....

Claro que para ter todo este esquema a funcionar e tendo em mente trabalhar como faz o Ministério da Educação, coloca os engenheiros a fazer todo o trabalho de cada uma das unidades acima referidas...

Para se ter uma breve ideia do disparate deste modelo de gestão, basta perceber que esta empresa passado poucos anos teria as embalagens mais ineficientes a todos os níveis do mercado. Não teria qualquer hipótese de competir com as empresas especializadas neste produto. Mas vá alguém tentar explicar isto a quem efectivamente manda no Ministério da Educação, era imediatamente apelidado de neo-liberal ou até de herege...!

Bom, julgo que não é necessário afirmar que este modelo de gestão já existiu há muuuuuuuuuuuuuuuuuitos anos atrás e levou quase todas as empresas que teimosamente o mantiveram à falência...!

Julgo ainda que pouca gente se terá apercebido que as escolas são geridas desta forma porque Ministério é gerido desta forma e o Ministério obriga as escolas a serem geridas desta forma...!

No entanto, ainda tem alguma popularidade a ideia que a culpa deste sistema completamente idiota é dos... professores!

Suzana Toscano disse...

Margarida, é verdade que não saímos bem nestas "fotografias" de família europeia, mas também temos que reconhecer, como acima se comenta, o enorme progresso que fizémos nos últimos 30 anos, quer quanto ao analfabetismo, que agora é 0% entre os mais jovens, quer quanto ao acesso ao ensino superior, onde tivémos uma recuperação que não tem igual em nenhumpaís da Europa. o que se pode também perguntar é como é que esta nova geração (hoje com cerca de 40 anos, vá lá)que é a mais qualificada de sempre, foi aproveitada pelo tecido empresarial. Note-se que uma parte do abandono escolar resulta da pressão do emprego não qualificado e que uma grande parte dos licenciados foi contratada nas últimas décadas pelo Estado (professores, médicos, técnicos superiores e dirigentes), pela banca e seguros ou empresas públicas ou de serviços gerais. E, quando começou a subir o desemprego, os maiores números eram precisamente os dos jovens licenciados...Por isso creio que a questão não pode centrar-se na qualidade do ensino, embora esta mereça sempre grande crítica, não só cá como em Espanha e em França, por exemplo.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Clara
Sabe aquele ditado "Todos os caminhos vão dar a Roma?" Pois é o que acontece em Portugal. Muitos dos nossos problemas crónicos do desenvolvimento, não digo todos pois pode haver por aí alguma excepção, vão justamente dar à educação!
Caro Zuricher
É como refiro no meu texto, a educação, no sentido mais lato do termo, tento pode ser uma vantagem competitiva como pode ser um obstáculo. No nosso caso, e pese embora os progressos feitos que nunca é demais registar até como exemplo de que é preciso fazer mais e melhor, é um obstáculo real.
Seria excelente que alguém se lembrasse de traçar um "TGV" para a Qualificação, que permitisse uma ligação de alta velocidade aos níveis de qualificação da Europa. Levaria certamente mais tempo a construir que o TGV, mas seria com toda a certeza uma infra-estrutura de rendibilidade assegurada...
Caro Bartolomeu
Temos ouvido muito o discurso de que tomamos esta ou aquela decisão, avançamos para este ou aquele programa, porque o objectivo é sermos os melhores da Europa. Não fazemos a coisa por menos! A ambição com conta e medida é uma qualidade e, portanto, sermos ambiciosos só nos fica bem. É pena que em questões elementares não sejamos assim. E na educação é o que acaba por suceder. Como explicar, por exemplo, que as políticas públicas não tenham incentivado e promovido a formação de médicos, quando há muitos anos se sabia que face a evolução demográfica e tecnológica Portugal iria ter falta de médicos?
Caro joao
Já não me espanto! E tanto assim é que muitas vezes, a propósito de estatísticas, relatórios ou estudos sobre o "estado da arte" da qualificação dos nossos jovens e trabalhadores, dou comigo a escrever sobre o tema da educação. Muitas vezes, falando de outros assuntos vou, com muita facilidade, parar à educação! Porque será?
Infelizmente o título do meu texto é mesmo uma fatalidade: "Um passado muito penalizador do futuro...". E acrescentaria muito penalizador para a geração de novas "elites"!
Caro Félix Esménio
O povo derrama as suas amarguras no futebol. Assim se explicam os "Cristianos Ronaldos" desta vida! Verdadeiros escapes para muitos males...
Estou muito de acordo com o que diz, em particular apreciei o conceito de Escola que defende.
Se a Escola fosse um mundo à parte talvez fosse menos difícil corrigir os problemas. O problema é que a escola está inserida num contexto social, económico, cultural e político que explica muita coisa. Acabamos a falar na necessidade de recuperar os valores tradicionais do trabalho, do esforço, da disciplina, do rigor, da autoridade e da humildade. A educação é, simultaneamente, causa e efeito deste contexto. Um duplo problema para resolvermos!
Caro Fartinho da Silva
Sempre que leio as suas reflexões sobre a escola ou a educação tenho dificuldade em discordar. O que diz tem muita razão.
Transformar a actividade de educar numa fábrica de fazer salsichas, tipo linha de produção, só pode dar mau resultado!
Suzana
Sem duvida que fizemos enormes progressos, que há que os reconhecer e que nos devemos alegrar por esse facto. Mas não foram suficientes.
Factos são factos, não apenas porque de vez em quando aparecem umas "fotografias" para recordar, mas essencialmente porque condizem com as dificuldades sociais e económicas em que vivemos. Não temos que inventar a roda. Um dos problemas parece-me ser o facto de mudarmos muitas vezes de carro ou de substituirmos vezes demais os pneus. É que precisamos de um rumo no que diz respeito à educação... Sabemos a importância da qualificação dos recursos humanos no nível de desenvolvimento. Se os nossos parceiros europeus o fazem e conseguem porque temos que ser diferentes?