1. Todos esperamos que a recuperação económica chegue sem demora...os “green-shoots” de que se tem falado ajudaram a alimentar a expectativa de que ela possa chegar ainda antes do final do corrente ano – ou no próximo o mais tardar.
2. Convém ter no entanto presente que os sinais de melhoria que se vão notando sobretudo ao nível das expectativas dos inquiridos reflectem mais a travagem da tendência de (forte) queda nas variáveis económicas - consumo, investimento, exportações - do que propriamente o início de uma recuperação.
3. Se estabilizamos depois desta queda, o que vai seguir-se?
4. Cumpre citar aqui uma interessante opinião divulgada na edição do F. Times da última 6ª Feira (19), da autoria de Olivier Blanchard, Economista Chefe do FMI, intitulada “ What is needed for a lasting recovery”.
5. Para Blanchard existe neste momento um enorme risco de não se prestar a devida atenção aos desequilíbrios económicos globais que, não tendo sido os directos causadores da crise, estiveram subjacentes à mesma. A sua correcção constitui agora condição “sine qua non” de uma recuperação económica sustentada.
6. É verdade, diz Blanchard, que os consumidores americanos têm vindo a restringir suas despesas, cumprindo assim, pelo menos em parte, uma das condições do necessário ajustamento global...mas a outra componente, uma expansão da despesa por parte dos países excedentários permanece ainda na zona do desconhecido...
7. Os sinais de superação da crise que se começaram a notar-se na economia americana são fruto de um enorme estímulo orçamental – o défice do orçamento federal deve atingir 14% no exercício em curso – e, se não forem seguidos por uma recuperação sustentada das exportações e da procura interna, esses sinais podem esfumar-se depois de passado o efeito dos estímulos fiscais e financeiros do orçamento federal...
8. Mas o estímulo orçamental não pode ser prolongado por muito tempo sob risco de a dinâmica de expansão da dívida pública se mostrar insustentável, forçando uma forte subida das taxas de juro mais longas (já se assistiu a uma primeira correcção) e colocando em causa o próprio objectivo da recuperação...
9. Nem uma recuperação frágil nos USA nem uma insustentável trajectória de crescimento da sua dívida serão bons para o resto do Mundo, conclui Blanchard.
10. Uma recuperação sustentada nos USA, porque requer um abrandamento da procura interna nos USA – corrigindo os excessos de endividamento do sector privado, real e financeiro – supõe ao mesmo tempo uma expansão da procura em países como a China, Índia e países do Golfo, com os inevitáveis ajustamentos das taxas de câmbio.
11. Enquanto essa mudança de modelos de crescimento não for claramente assumida, arriscamo-nos a sofrer calafrios de tempos a tempos e a esperar anos e mais anos pela tão desejada recuperação...Recordam-se do "Sell in May and go away"?
3 comentários:
Os mercados vão cair, esta estabilização deve-se fundamentalmente ao triliões que se injectaram na economia.
Se me dêem-se triliões para injectar na economia eu tambem dava uma boa qualidade de vida durante um tempo a quem deles usufrui-se.
Por isso é que se devia deixar falir tudo e mais alguma coisa que não prestasse.
Esta crise vai criar 3 enormes problemas: desemprego de longo prazo, deflação em alguns sectores, e inflação na generalidade.
Os más linguas dizem que o Bernanke quer sair da crise criando uma espiral inflacciónaria, imprimindo dinheiro até ficar sem arvores no mundo.
Enfim, em suma, acho que ainda ver outra grande queda dos mercados, a começar em Setembro.
Visão dantesca, caro Daniel Geraldes, verdadeiramente dantesca aquela que nos apresenta...mas tem bons acompanhantes...Nouriel Roubini, por exemplo, aquele de quem os "sábios" sorriam desdenhosamente quando há mais de 2anos se atreveu a antever a crise que iria seguir-se a partir de Junho de 2008...
Aproveito para corrigir um "lapsus calami": no ponto 7, onde està "14%", deve ler-se "14% do PIB".
Partido pelos Animais - que animais meu caro? Carnívoros, Herbívoros, Outros?
Quais os princípios que informam a vossa causa?
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