Uma sala de espera de um consultório pode ser um laboratório social. Hoje ao final da tarde na sala de espera de um consultório médico estavam muitas pessoas a aguardar a sua vez. Queixavam-se de mais de uma hora de espera em relação à hora marcada para serem atendidas. É um cenário muito comum no nosso país. Há ainda muito médico que faz uma espécie de overbooking de consultas, obrigando as pessoas a longas esperas. Uma prática inaceitável, mas que os doentes aceitam por necessidade.
O ambiente estava bastante tenso. Talvez que a crise esteja a deixar as pessoas com os nervos à flor da pele, esteja a despertar nas pessoas a necessidade do cumprimento, do rigor. Os doentes pagam uma fortuna por uma consulta médica e são obrigados a gastar o seu tempo com um tempo que não é o seu. Sujeitam-se. Em matéria de pontualidade somos um péssimo exemplo. Conheço excepções, médicos que são pontuais, tão pontuais que quando um doente chega para lá da hora marcada só poderá ser atendido no final.
Uma senhora dos seus quarenta anos acompanhada por uma miúda pequena estava indignada com a espera que já ia longa, para a qual o pessoal administrativo não apresentava uma justificação convincente. Dizia ela, mas quem me paga toda esta demora? Deveria estar a trabalhar, a produzir, afirmava ela, também tenho responsabilidades, e a minha filha já deveria estar em casa a fazer os trabalhos da escola. A que título se marca uma hora, quando quem marca já sabe que não é para cumprir? Não era a primeira vez que a senhora era confrontada com esta desconsideração. Mas desta vez, os ânimos gritaram mais alto. Estava a ouvir a conversa e a sorrir baixinho. Será que a crise vai ajudar a acabar com estes maus hábitos de trabalho e deformações de funcionamento da sociedade…
O ambiente estava bastante tenso. Talvez que a crise esteja a deixar as pessoas com os nervos à flor da pele, esteja a despertar nas pessoas a necessidade do cumprimento, do rigor. Os doentes pagam uma fortuna por uma consulta médica e são obrigados a gastar o seu tempo com um tempo que não é o seu. Sujeitam-se. Em matéria de pontualidade somos um péssimo exemplo. Conheço excepções, médicos que são pontuais, tão pontuais que quando um doente chega para lá da hora marcada só poderá ser atendido no final.
Uma senhora dos seus quarenta anos acompanhada por uma miúda pequena estava indignada com a espera que já ia longa, para a qual o pessoal administrativo não apresentava uma justificação convincente. Dizia ela, mas quem me paga toda esta demora? Deveria estar a trabalhar, a produzir, afirmava ela, também tenho responsabilidades, e a minha filha já deveria estar em casa a fazer os trabalhos da escola. A que título se marca uma hora, quando quem marca já sabe que não é para cumprir? Não era a primeira vez que a senhora era confrontada com esta desconsideração. Mas desta vez, os ânimos gritaram mais alto. Estava a ouvir a conversa e a sorrir baixinho. Será que a crise vai ajudar a acabar com estes maus hábitos de trabalho e deformações de funcionamento da sociedade…
14 comentários:
É um mau hábito, sem dúvida, a ideia de que quem precisa sujeita-se ainda está muito entranhada, não custava nada respeitarem as pessoas e dar um telefonema a avisar para irem mais tarde. Felizmente, há já muitos médicos que têm cuidado com as marcações, ou a atenção de mandar avisar em caso de demora, mas já me aconteceu ir a uma clínica privada e esperar várias horas para depois não ter a consulta. As pessoas acumulavam-se, protestavam mas a senhora do balcão só dizia que se quisessem marcavam para outro dia, daí a vários meses, claro, mas era o que podia fazer. Mudou o turno do balcão e informações, nada.Só ao fim de mais de duas horas sem ninguém ser atendido é que vieram dizer que o médico tinha tido que fazer uma operação de urgência ao princípio da tarde e já não conseguiria voltar para as consultas marcadas a partir das duas horas, altura em que foi chamado...
Ontem, dia 18, passei 3 horas e um quarto, no Hospital dos Lusíedas, acompanhando a minha mãe numa consulta de oftalmologia, préviamente marcada. Quando fomos atendidos, a médica pediu imensa desculpa pela demora, causada pela incidência de "casos difíceis" por conseguinte mais demorados que o habitual. Compreendi a justificação, sem deixar de lhe referir que desde ha algum tempo que preferia aquele hospital, porque me pareceu de início ter encontrado ali uma boa organização dos serviços, para além da forma atenciosa como os doentes eram atendidos, mas que, nas últimas consultas que acompanhei a minha mãe, ou por coincidência ou não, se tinham verificado atrasos no atendimento.
Bom, a coisa ficou por ali, e a minha mãe foi consultada com toda a simpatia e atenção.
No entanto, um médico de clínica geral que consultava sempre que alguem do agregado famíliar precisava, tinha por habito, começar a consulta com atraso de pelo menos uma hora. A minha mulher, mais complacente, aguentava sem "estrilhos" eu é começava a achar um péssimo indício de respeito pelo doente-pagante-sem-qualquer-acordo. E quando me dirigia à recepcionista, a senhora desfaziasse em desculpas, porque o Senhor Doutor tinha tido um impedimento, bla, bla, bla, e que tinha telefonado a pedir imensa desculpa e bla, bla, bla.
Quando um dia fui eu o doente, dei-lhe 15 minutos de tolerância, passado aquele tempo, levantei-me, passei pela recepcionista e disse-lhe; tenha uma boa tarde minha Senhora e dê os meus cumprimentos ao Senhor Doutor.
Olhou para mim com os olhos muito abertos e um tanto aflita perguntou-me s e ía sair.
Vou sim, respondi-lhe, já passam 15 minutos da hora marcada, vou procurar outro médico que seja pontual.
Levantou-se e veio atrás de mim; que esperassa mais uns minutos, que o Sr. Dr. estáva mesmo a chegar... que tinha tido um caso no hospital, e o bla, bla, bla para o qual devia estar instruída.
Respondi-lhe que já devia ter chegado, que desistia da consulta.
Quando voltei ao mesmo médico, com um filho, perguntei logo à recepcionista que se as consultas estavam atrasadas.
Respondeu-me que não senhor, que tinha só um doente à minha frente e a seguir o Sr. Dr. atendia-me.
Quando entrei, ou porque o Senhor já estava avisado, ou porque tem boa memória, teve a fraca ideia de me admoestar pelo comportamento anterior.
Foi o bom e o bonito... deixei-o expor a retórica toda da vida de um médico e dos horários, etc, etc, sem abrir o bico, a minha mulher, quando viu que não respondia e o médico não se calava, começou a ficar nervosa, calculou logo que iría saír dali borrasca da forte, e assim foi. Quando o Senhor terminou a retórica, foi a minha vez, e creia, cara Drª Margarida, as minhas razões eram muito mais fundamentadas.
Mas no final cimentámos a amizade, ele concordou com as minhas razões, eu condescendi um pouco com algumas que ele apresentou e no fim, acabámos a consulta a trocar ideias sobre política.
Caro Bartolomeu
O problema de muitos médicos é que querem meter o Rossio na Bestega ou seja querem trabalhar no SNS que lhes dá a formação e o emprego, com a prática privada que lhes dá o complemento de ordenado.
O problema a maioria das vezes é que não é fácil tornear a ubiquidade. É que muitas das horas das consultas privadas eram horas de prática de centro ou hospitalar.
Vá-se lá perceber porque os médicos do SNS calam-se bem ao riso cínico dos funcionários hospitalares que se dando ares de donos do SNS lhes conhecem os vícios.
E viva "o excesso" de médicos em portugal!
Tenho de deixar uma breve nota sobre o serviço de saúde publico Ingles, por mim verificado ao longo de anos.
O telefone eh o instrumento adequado: o atendimento eh rapido, ha uma troca de impressoes sobre sintomas e eh marcada a consulta para o próprio dia. O tempo máximo de espera nunca passou os cinco minutos. A receita eh electrónica, podendo ser adquirido o medicamento em qualquer farmácia, na dose ali explicitamente recomendada, bastando para tal a identificação. E ate já presenciei uma troca de impressões ( telefónica) entre o farmacêutico e o médico, por ter surgido uma duvida sobre
a prescricao. Notável eh o sistema de acompanhamento de gravidas, o cuidado com a parturiente e os meios (instalacoes, humanos, técnicos e tecnológicos) utilizados no parto e posterior acompanhamento de bebes, em casa, feito por pessoal especializado (designado midwife). E, por lá, ainda se queixam...
Acredito que sim, caro (c) que essa seja uma causa. Do ponto de vista do doente-cliente, o atraso no cumprimento do horário da consulta, fica a dever-se a uma enorme falta de respeito e até, a uma certa petulância que alguns profissionais, não são capazes de controlar.
Ontem, num debate já não sei em que canal da televisão, estava um médico a falar precisamente do facto de poder haver imensas poupanças se usassemos mais as potencialidades electrónicas, com video conferências, com o treino de profissionais para fazer ecografias (ou outros exames, aproveitando o equpamento instalado) e depois os exames serem mandados por mail para médicos que fariam o diagnóstico, etc. O problema é que as pessoas estão habituadas a que sejam os médicos a fazer tudo ali mesmo à vista, e depois não há dinheiro que chegue, nem médicos, nem equipamentos.
Cara Dra. Margarida Aguiar:
Está a nascer uma nova atitude! Ainda há dias, numa consulta na clínica de belém fui atempadamente avisado do tempo previsível de espera, o que não resolvendo o problema, mostra o algum respeito pelo cidadão.
A crise está a abanar a cabeça de muita gente! Hoje tive conhecimento de uma farmácia, aqui perto, a praticar descontos em todos os produtos (medicamentos e diversos) de 15%, em contraponto a uma outra que já praticava 10%. Nada mau para minimizar a crise, eu agradeço mas também me questiono sobre qual será a percentagem de lucro das farmácias?
O facto é que as clínicas são tão vítimas como nós e o princípio de quem precisa aguenta vem de outro que é "não podemos ter médicos a mais", que ainda outro dia se discutia aqui.
Em conversa há uns meses com o responsável de planeamento de um hospital privado ele dizia-me que médico é o pior tipo de meretriz (não era bem esta palavra...). Desde telefonarem na véspera a perguntar quantas consultas tinha para o dia seguinte, entender que não eram as suficientes para se deslocar e dizer "desmarque"; a ter um congresso qualquer, não avisar ninguém e desaparecer uma semana; a embirrar que a sala está quente e mandar desmarcar tudo com a sala de espera a ferver; a marcar com doentes de outras proveniências e atende-los primeiro que aqueles que foram marcados pelos serviços do hospital até coisas verdadeiramente escabrosas, contaram-me de tudo.
Os hospitais deveriam assumir de vez aquilo que são, infraestruturas para os médicos trabalharem. Quem está está, quem não está, estivesse. E para isso precisamos de ter médicos no desemprego.
Amigo Tonibler,
Para ser franco confrange-me pensar em médicos no desemprego, e muito mais ainda sobreviverem a fazer biscates como serventes. Bem sei que outros licenciados estão sujeitos ás oscilações do mercado, mas, no caso dos médicos, sou a favor de planeamento.
JotaC
Afinal somos a favor da igualdade ou do "uns são mais iguais que outros?"
A não falta de médicos baixaria os custos do SNS, melhoraria o acesso à saúde em geral, aumentaria a concorrência e a eficiência na profissão, permitiria em caso de excesso que muitos outros países pudessem melhorar o acesso à saúde das suas populações e não permitiria que algum médico andasse a espiolhar os vestiários das enfermeiras (se calhar este senhor candidatou-se a medicina com 19 valores).
Caro P.A.S.,
Desde sempre tenho pugnado pela igualdade de oportunidades, já quanto às outras igualdades há muito que deixei de ser idealista.
Claro que não sou a favor da míngua de médicos! Sou a favor do número "certo" para que tudo (oferta e procura) funcione em equilibrio,coisa que não se verifica agora.
Cumprimentos
Caro JotaC,
o número certo varia no espaço e no tempo. E qual é o número certo de médicos, contamos com a senhoras que têm maluqueiras ou é só de perna partida para cima?
Economia é troca de trabalho, uns dias eu tenho o trabalho que serve aos outros outros dias tenho que procurar outra coisa. Não há número certo para nada. Nada, seja médico, seja operador de callcenter.
Caros Comentadores
Vivemos num país em que, embora se registem alguns progressos, o que contam são os números e os euros, as pessoas continuam a contar pouco. Tem tudo que ver com a gestão ou falta dela e com a ética ou falta dela no exercício das profissões. Voltamos sempre ao problema central do nosso grande atraso em termos de desenvolvimento, incluindo o desenvolvimento humano, a educação. Em crise ou sem ser em crise as dificuldades de progressão são enormes porque nos falta o pilar fundamental da educação, não apenas na sua componente técnica, mas tão ou mais importante, na sua vertente da formação dos princípios e valores.
Caro Tonibler,
Não concordo consigo, neste caso sou pragmático...
Quando eu precisar de "desentupir" as veias, não vou querer certamente um canalizador.
:)
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