1.Muitos responsáveis políticos e comentadores económicos têm sustentado nos últimos dias a necessidade de crescimento económico, a par ou mesmo antes da austeridade orçamental, através das mágicas “medidas adequadas” .
2.Eles não negam a necessidade da austeridade orçamental mas entendem que sem crescimento, pelo menos ao mesmo tempo que austeridade, esta última não faz sentido: é pois indispensável “tomar medidas” (quais nunca se sabe)que "promovam o crescimento...
3.Estamos assim a viver um tipo de ilusão semelhante à implícita na famosa declaração do Presidente Sampaio, em Abril/2003, “há mais vida para além do Orçamento” - e que haveria de nos atirar, 2 anos depois, para a mais louca correria atrás do crescimento, acumulando asneira atrás de asneira até à tragédia em que estamos hoje mergulhados...entre o final de 2007 e de 2010, a dívida pública aumentou apenas em 25% do PIB!
4.Só que essa ilusão assume agora uma gravidade muito maior pela razão de que nos encontramos em situação de insolvência, sem meios de financiamento...e como é possível fazer crescer a actividade económica sem meios de financiamento, alguém me pode explicar?
5.Querem obrigar os nossos credores a continuar a emprestar-nos dinheiro, contra a sua vontade e, para cúmulo, em condições definidas por nós?
6.Acresce que para voltarmos a ter financiamento, precisamos em 1º lugar de restituir capacidade creditícia ao Estado, sem essa condição não vale a pena ter ilusões pois os próprios bancos residentes não terão financiamento, nunca mais teremos financiamento para a economia...
7.Importa atentar que em 2011 e em 2012 as Necessidades de Financiamento Brutas do Estado (NFBE) serão satisfeitas em 57% e 61,5%, respectivamente, pelos empréstimos FMI/EU...
8.Fácil é perceber que sem esses empréstimos o Estado entrará em ruptura total da tesouraria, ficando impossibilitado, entre muitas outras desgraças, de pagar os salários dos funcionários públicos e de fazer transferências para a SS e para o SNS...
9.E, como sabemos, a libertação desses fundos não é automática, depende do resultado de avaliações trimestrais efectuadas pela Troika sobre o grau de cumprimento dos objectivos do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF)...
10.Se e enquanto as avaliações do PAEF forem positivas, o dinheiro será libertado e isso será ao mesmo tempo um sinal para os mercados de que as coisas estarão no bom caminho, veja-se o caso da Irlanda...
11.Mas se em dado momento as avaliações deixarem de ser positivas, teremos um grande problema, arriscando entrar num tipo de “Calvário Grego”, com necessidade de adopção de medidas de austeridade adicionais, e as tenebrosas dificuldades desse processo...
12.Num tal cenário,o acesso às fontes de financiamento será indefinidamente adiado e a nossa economia não terá outro caminho que não seja a contracção permanente por mais "medidas adequadas" que se tentem...
13.Afiguram-se verdadeiramente patéticos estes apelos ao crescimento que estamos ouvindo!
11 comentários:
Caro Tavares Moreira,
Parece-me que os apelos à "equidade fiscal", resultado de uma súbita e rara lembrança da existência de um texto constitucional que serve para que os direitos adquiridos se sobreponham aos direitos fundamentais a pedido dos detentores de cargos públicos, se enquadra perfeitamente nos patéticos apelos.
Juízo e avaliação correctíssima da situação.
O ajuste da nossa economia é em baixa. Achar que vamos crescer é pura ilusão. Pelo menos antes de cairmos para a nossa realidade, antes.
http://notaslivres.blogspot.com/2011/08/o-mundo-desenvolvido-tera-um-futuro.html
Meu caro Tavares Moreira, leio o seu post e assalta-me a dúvida de sempre: a inversão do ciclo depende mesmo da recuperação da capacidade creditícia do Estado? Porquê do Estado? Estamos a pressupor que vai continuar a ser o Estado a financiar a economia?
Caro Tonibler,
Sobre o episódio - relevante, não escondo - que novamente refere, o meu comentário está feito, "the mind boggles"!
Caro Gonçalo,
Registo, com apreço, sua adesão a este tão simples tese!
Caro F. Almeida,
Não, nem por sombras se espera - e menos ainda se deseja - que seja o Estado a financiar a economia...
O que aocntece é que, estando os bancos sobrecarregados com créditos sobre o Estado, directa e indirectamente, enquanto não se tornar claro que o Estado recupera a sua solvabilidade, a sua solvência, os bancos não têm qq crédito no exterior...
Pois se o Estado por "azar" viesse a falhar, os bancos seriam inevitavelmente arrstados, a menos que alguém lhes deitasse a mão (o Fundo Europeu de Estabilização, por hipótese)...
"Austeridade", "Crescimento", as novas vacas sagradas de uma novilíngua lusitana (e europeia).
Austeridade, utilizada como substituto de 'pobreza'.
Crescimento, como termo de efeito psicológico (errado, por irreal).
As estórias que os PEC já davam.
Como se não estivéssemos condenados a empobrecer, condenados pela demografia, pela economia, pela política.
Esperto, esperto, foi o tuga que tendo descoberto que o País estava de tanga, emigrou para Bruxelas.
Outro, foi para Paris.
Caro Tavares Moreira, e como é que o Estado recupera a sua solvabilidade a cortar "temporariamente" os salários e pensões se o tal crescimento económico não existir?
CAra Suzana,
As pessoas têm que vender o seu trabalho a outro cliente. Interno ou externo. E um estado com zero despesa é sempre viável.
Cara Suzana,
Se não cortar nos salários, terá de cortar noutro Item qq para reduzir um nível de despesa que é quase unanimemente considerado incomportável...
Não podemos é andar sempre a clamar que o Estado gasta demais e, quando chega a altura de reduzir essa despesa começar a clamar "aqui d'el Rei" que isto não é justo...
O Estado está falidíssimo, tem que reduzir a despesa, sem isso nunca mais conseguirá resolver o problema financeiro...quanto ao crescimento não se preocupe que ele aparece desde que seja possível disciplinar as despesas do Estado e começar a reduzir os impostos...
Pelo caminho que vínhamos trilhando é que nunca mais...
Caro BMonteiro,
E ainda outro foi para Guimarães...
Caro Tavares Moreira,ao cortar nos salários dos que trabalham no sector público nos termos propostos está-se a desqualificar profundamente um vasto sector da vida económica. Sector esse que era ainda há dias considerado "fulcral" para que o resto da economia pudesse expandir-se. A competitividade de um País mede-se também pela sua capacidade de atrair investimento externo e,nesse sentido, há anos que instituições internacionais fazem relatórios de comparação de vários vectores. A saúde, a educação, o sistema de justiça, o quadro fiscal, a segurança, são comparados em rankings que servem de guia para os investidores, como as notações das famosas agências de notação. Em Portugal, goste-se ou não, esses serviços são prestados pelo Estado, (e, a meu ver, serão sempre, não se vê que a iniciativa privada avance para esses sectores sem o habitual "apoio" do Estado, tantas vezes ruinoso, como estamos a ver)o que significa que, por esta via estamos simplesmente a reduzir a nossa competitividade, em vez de a aumentar. Além disso, em tempos de grandes dificuldades financeiras, como se viu em 2008, todos se voltam para o Estado, aumenta o recurso aos hospitais públicos, as famílias mudam as crianças para as escolas públicas, o acesso à Universidade dependerá cada vez mais de apoios de bolsas, cantinas e residências, tudo pedido ao Estado.Os cidadãos que hoje aplaudem com tanto vigor o fim da "iniquidade!!!!"não se inibem de reclamar mais e mais serviços ao Estado e contam, como sempre contaram, que sejam os serviços públicos, de um momento para o outro, a suprir as carências que os privados vão deixando. Será imperativo e não há alternativa? Pois sim, admito, mas que não se fale em "poupança", como se a contabilização dos salários como "despesa" não tivesse, como se verá, um brutal efeito na descida de Portugal nos rankings da competitividade.Para não falar da qualidade de vida interna, mas já nem falo disso.
Cara Suzana,
Admitindo que os seus respeitáveis argumentos além de respeitáveis são tb objectivos, seria indispensável encontrar solução alternativa para reduzir o défice do Estado (global) de mais de € 10 mil milhões em 2011 para cerca de € 7,5 mil milhões em 2012 sem mexer nos salários da função pública...
Onde realizar poupanças que compensem, sem desfazamento temporal, o proposto corte salarial?
Eu, sinceramente, não sei responder...
E sabe que caso não consigamos atingir essa meta, em termos satisfatórios, poderemos, no limite, ficar sem dinheiro para pagar salários e outros compromissos básicos do Estado?
Eu estou convencido que uma das razões para a deterioração da qualidade de muitos serviços prestados pelo Estado - com especial relevo para a justiça - foi o execsso de dinheiro com que foram contemplados anos a fio e que permitiu instalar um clima de facilidades e de "não te rales"...mas isto já é uma opinião minha, ainda não sujeita a verificação objectiva...
Se esses serviços não podem ser prestados com a mesma qualidade custando menos - porque é menos que podemos pagar - então não nos resta outra solução senão despedir todos.
Por outras palavras, esses serviços tẽm que ser prestados com igual qualidade por menos dinheiro porque essas pessoas são tão portuguesas como nós e se tivessem essa qualidade toda não tínhamos défice. Não querem, têm boa solução, entregam a cartinha porque temos mais 40 mil a quererem entrar.
Um posto de trabalho na função pública vale o dobro do que vale no sector privado. Corta-se 15% e já há medos de que os serviços se cortem??? É começar a despedir à grande!...
Enviar um comentário