Vovô! Sim. Toma. O quê? Este desenho. Muito obrigado, és uma bela menina. É para tu escreveres uma história. Pode ser? Escreves uma historiazinha para mim?
Um pedido, inusitado, da minha neta de oito anos. Habitualmente costuma ser ao contrário. Primeiro escreve-se, depois é que se ilustra, mas a minha neta inverteu a ordem, e eu respeito. Espero que seja do seu agrado e que continue pela vida fora a interessar-se pela arte, pela escrita, pela cultura, porque só assim conseguirá saborear com satisfação a sua existência.
Era muito pequenina. Um dia começou a movimentar o seu corpo de forma estranha. Sentia-se leve, como se não tivesse peso, flutuando ao sabor do vento, e um calor agradável, como se o sol tivesse despertado dentro de si, aquecia-lhe algo que só mais tarde soube que era a sua alma. Aprendeu que estava a dançar. Gostou tanto que quis ser bailarina. Mas não tinha a saia adequada para poder voltear nos bicos dos pés, de abraços abertos com vontade de agarrar o mundo à sua volta. Quem gostava dos volteios, daquela alegria, da leveza de um corpo animado por uma alma quase feliz, era o sol. Todos os dias, o sol, quando despertava, sorria preguiçosamente lançando raios matinais de uma cor que seduzia os olhinhos da menina. Era esta a cor que eu queria para a minha saia de ballet, dizia para si a menina. A mãe conseguiu-lhe arranjar um tecido velho cheio de rendinhas, suave, baço, solto, mas descorado pelo tempo. Não tinha posses para mais. Foi numa velha arca que encontrou o resto de um vestido. Não sabe a quem terá pertencido. A uma bailarina?
A menina começou a vestir a saia feita do velho tecido, branco, talvez tivesse sido prateado, mas agora estava baço e amarelado. O que ela queria era uma saia nova, brilhante, da cor dos raios de sol quando este acorda ainda meio dorminhoco. O seu desejo era tão grande que passou a sonhar com a sua bela saia, brilhante como os raios de sol de uma manhã de primavera. Que alegria. Uma alegria que só ocorria durante o sono. De dia, tinha de se contentar com o que tinha. Muitas pessoas começaram a ouvir que havia uma estranha bailarina que dançava para o sol. Todos queriam vê-la, mas não sabiam onde procurar.
Um dia, estava a menina a dançar de manhã, quando o sol, que gostava imenso de a ver assim que acordava, lhe disse: - Sabes, esta noite não dormi fiquei acordado dentro do teu sonho. Eu sei o que tu queres. A menina não percebeu bem o que é que o sol queria dizer, quando, subitamente, raios avermelhados se projetaram sobre si e a sua saia ficou brilhante, muito brilhante e da cor do sol quando acorda. Ficou tão feliz que dançou, dançou como nunca tinha dançado e o sol ficou muito feliz por a ver dançar daquela maneira. As pessoas olharam para o sol e viram que do dourado do sol saíam raios diferentes, belos, róseos, que incidiam num determinado ponto da floresta. Dirigiram-se para lá e ficaram deslumbrados com tão belo espetáculo. Uma menina de olhos negros e cabelos de ouro, que vestia uma saia feita de raios do sol, alaranjados, róseos, avermelhados, dançava como se fosse feita de vento. Um grande Ah! de espanto libertou-se daquelas gargantas ecoando pelo mundo. Convenceram-se de que era a menina que lançava ao sol raios de felicidade. Afinal, pensaram, o sol também precisa de se alimentar dos raios de felicidade de uma menina que adora dançar, porque a dança é a manifestação de alegria de uma alma feliz. Desde então, sempre que de manhãzinha se levantam para ir trabalhar, e veem os raios róseos no céu, sabem que é a menina, que dança alegremente na floresta, a enviá-los ao seu amigo, o dorminhoco do sol.
O sol precisa, ao acordar, de alegria para que possa por sua vez nos alegrar durante o dia.
Dança, dança com alegria, o sol agradece e nós também.
6 comentários:
Até eu gostei da estória!
Que sorte esta menina ter como vovô, um grande contador de estórias.
Bonito desenho e... mágico, porque deu origem a um conto prodigioso.
A avaliar pelos pormenores artísticos representados no desenho; as luzes dos projectores de diferentes cores; a posição dos braços e dos pés, a expressão do rosto, denunciam os dotes artísticos dessa menina.
Se me fosse dada hipotese de comentar o desenho com ela, teria uma questão para lhe colocar: o que representam aquelas 3 figuras minúsculas, ao canto?
;)
Parabéns à artista e ao contador de contos!
As pessoas que foram ver a bailarina a dançar.
Ainda bem que gostaram, Bartolomeu e Catarina. Vou dizer à Mariana. Vai ficar contente.
Caro Prof, diga-lhe por favor que adorei o seu desenho!
Lapso imperdoável. O meu primeiro pensamento foi esse mesmo. : )
Dois grandes artistas, o avô e a neta...Parabéns a ambos e um beijinho à neta. E um abraço ao avô.
Eu também gostei muito dos dois, o desenho e a história, essa menina tem a quem sair :)
Enviar um comentário