Depois de uma tarde de trabalho, presidir à assembleia municipal, regressei a casa meio cansado, mas satisfeito. A sessão foi animada, politicamente um pouco quente, o que me agradou sobremaneira, mas com correção.
Olho para as portas da minha casa e vejo-as enfeitadas com ramos de giestas, maias. Não foi por nada, pensei logo na minha vizinha, a Maria, pessoa simples, mais nova do que eu, e que sabe cultivar a cultura popular como ninguém. Uma surpresa que me agradou imenso e que me fez recordar outras vésperas do primeiro de maio, quando ia cortar giestas com o resto da miudagem, assim que saíamos das aulas, para depois as distribuir pelos vizinhos, enfeitando as ruas com aquele doce amarelo. Uma festa. Verdadeiros pedaços de sol pendurados nas ombreiras das portas, nas janelas, nos vasos, nas varandas a alegrarem a vida da comunidade, esconjurando os maus espíritos e afastando a fome. Quem não tivesse maias à entrada das casas corria o risco de vir a sofrer fome, como se já não sofresse da dita. Ouvia as explicações dos mais velhos sobre o significado da colocação das giestas, mas não lhes dava grande importância, o que eu gostava era de as ver penduradas e saber que afastava a fome.
Uma festa pagã que se arrasta desde a noite dos tempos, anunciando a fertilização das terras e o papel do sol, culto celta mais ou menos cristianizado, a preceder a festa da Santa Cruz e as romarias que ainda hoje se fazem em sua honra, em locais onde em tempos se prestava culto ao sol. Recordo-me de que nesta época o sol começava a ter um calor diferente e permitia, com a sua luz de cor das maias, brincar até mais tarde.
Hoje, houve alguém que se lembrou de mim, uma mulher analfabeta que vive, ainda, ao ritmo da natureza.
Ao entrar em casa, perguntei, foi a Maria que colocou as maias à porta, não foi? Riu-se, claro, quem mais poderia ser, fê-lo para nos proteger dos maus espíritos e para que a abundância entre e não nos falte nada. Um desejo sentido, não tenho dúvida, uma generosidade sem limites, materializada em belos ramos de giestas amarelas. Doce paganismo a merecer a melhor das atenções. Ainda há gente a acreditar nestes rituais, sinal de que têm esperança em esconjurar tragédias e evitar que a fome entre nas casas.
À falta de melhor, fui “cortar” este ramo virtual de maias. Agora, mimetizando o meu comportamento juvenil, gostaria de o colocar nas portas de todos os “vizinhos” que vêm a este espaço.
Se me permitem, aceitem-no com votos de um belo primeiro de maio, e que a abundância e a alegria enchem as vossas casas.
3 comentários:
Sou vizinha... e não sou... mas vou receber com muito agrado parte do ramo das giestas que profundamente agradeço. Desconhecia o significado das mesmas... agora já conheço.
Abraço
Uma coisa, podem os "vizinhos" ter como garantida; neste espaço, nunca terão fome de boa leitura e de amizade, dois excelentes e nutritivos alimentos para o espírito. Pois os laboriosos escrivães de cá, joeiram magistralmente o trigo de onde fazem a farinha com que cozem os pães que servem aos fieis.
Quanto à tradição garantir que o ramo de giesta à porta, garantirá a abastança, não será um truque? Ou seja, uma forma alegre e colorida de levar o pessoal a sair das suas casas e ir ao campo?
Uma forma de desentorpeçer as pernas do longo Inverno e de sentir o apelo da terra, convidando aos trabalhos rurais.
E não tenhamos dúvida; «quem semeia, sempre colhe».
;))
Já cá estão na minha porta, caro Massano, com a vantagem de que esse ramo "virtual" não murcha :) Obrigada pelo raminho de giestas, posso retribuir-lhe com uma rosa do meu jardim? è que apanhei as primeiras, aqui vai a amarela, para condizer com as giestas!
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