Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 3 de abril de 2012

M.

A sociedade ocidental, e agora também a do oriente, têm vindo a confrontar-se com várias epidemias. Nada de novo, cada época, cada era, apresentam formas próprias de adoecer e de morrer. Uma marca indelével das sociedades.
Fala-se muito da diabetes, uma pandemia lenta e altamente mortífera a que está associada frequentemente a obesidade. Esta, então, é altamente preocupante, e os portugueses, quer sejam novos ou menos novos, "sofrem" imenso. Somos e seremos cada vez mais obesos.
Nos últimos tempos a epidemia da obesidade tornou-se um grave problema. A explicação para este fenómeno está demasiado simplificada para o meu gosto. Uma pessoa engorda? Então é porque acumula energia. Ou come em excesso ou então não gasta energia. Como somos cada vez mais lambões e mais preguiçosos, por motivos sociais ou simples prazer de não mexer o corpo, o balanço, na perpetiva do raciocínio dos economistas, é muito simples, o excesso de energia é transformada em gordura. A partir daqui começam a nascer soluções, comer menos e gastar mais energia obrigando o corpo a exercitar-se. Hum! Nunca me convenceu completamente. Não é que não haja alguma lógica neste raciocínio, mas é demasiado primário. Outros fatores têm sido invocados. Um deles tem a ver com as nossas bactérias. Transportamos mais bactérias do que células que fazem parte da nossa identidade biológica. Aquelas contam-se por triliões, mais de cem triliões! Nem sei o que é que isso quer dizer. Mas o grande problema de hoje tem a ver com as diferentes espécies de bactérias que nos colonizam. Sabe-se que são muito diferentes das que habitavam antigamente os corpos dos humanos. E esta diferença pode estar na origem de graves problemas de saúde, nomeadamente, a obesidade. O uso de antimicrobianos, sobretudo nas primeiras fases da nossa existência, provoca alterações ecológicas bacterianas suscetíveis de facilitar a absorção e a acumulação de gordura. Experiências animais têm vindo a confirmar este fenómeno. Deste modo, o uso de antimicrobianos pode originar este desequilíbrio, mas não são só os antibióticos, também os desinfectantes, incluindo as substâncias cloradas.
Outro aspeto interessante tem a ver com a contaminação bacteriana primária da criança quando nasce. Se nascer por via natural "sofre" uma contaminação saudável a partir da mãe, mas se nascer por cesariana as coisas são diferentes e as primeira bactérias não são as da progenitora. Não esquecer que, durante o parto, devido à compressão do feto, são expulsas fezes da mãe. Como o número de cesarianas está a aumentar, muitas vezes por razões de conforto, mais do que propriamente devido a justificações médicas, é fácil de compreender o alcance das consequências. Importa, pois, começar a desenhar uma política adequada neste sentido, o que não significa que se deixe de utilizar antibióticos ou desinfectantes, obviamente, mas há necessidade de certa parcimónia no uso destas substâncias.
Já agora, para finalizar, houve um comentador, (SGLS), a propósito de uma nota da Margarida sobre o chocolate, que disse o seguinte:
"Meus Senhores, o mundo é comandado pelos interesses económicos e nisso os americanos são especialistas, naturalmente assessorados por "cabeças" pouco, muito pouco, escrupulosas. Se um dia tiverem necessidade de se ver livres dos seus imensos depósitos de trampa, logo aparecerá um "estudo" de um famoso cientista afirmando que comer M.... é do melhor que há para a saúde e, curiosamente, vai vender-se, não tenhamos dúvidas.
É o MUNDO em que vivemos..."
Pois bem, caro SGLS, os americanos ainda não tiveram essa necessidade, mas há quem equacione a substituição da atual flora bacteriana pela do "antigamente", ou então ir à África profunda e recolher a respetiva M. como sendo a flora mais equilibrada para substituir a da sociedade ocidental desequilibrada pelos fatores que enunciei e que podem provocar graves problemas de saúde, nomeadamente a obesidade, para não falar de outras.
Aqui está uma boa e interessantíssima área de negócio. É pena que a M. portuguesa não seja de qualidade, porque se fosse, então, seria uma verdadeira mina, porque M. é coisa que não falta neste país.
Só espero que o ministro da economia não leia este texto...

4 comentários:

Suzana Toscano disse...

hoje em dia todos os cuidados são poucos :)

Catarina disse...

Ahahah!
Caro Prof... nem a M portuguesa é de qualidade! Chiça! A capacidade de produção de Portugal anda mesmo pelas ruas da amargura... Não admira que eu não tivesse encontrado Portugal no World Happiness Report que lista os países mais felizes do mundo! : )
O ministro da economia deve estar muito ocupado com os preparativos da viagem até Toronto. : )

jotaC disse...

A partilha do conhecimento e do saber, tem sido desde sempre apanágio dos melhores. Obrigado caro Prof. Massano Cardoso!

Tonibler disse...

Bem, deitar fora a explicação "simplista" do balanço energético e trocá-la pela falta de agentes simbióticos (diz-se assim?) traz mais questões quanto ao funcionamento do corpo todo e não só da energia. É dizer que olhar para o corpo humano como uma entidade biológica é simplista. O que é muito mais interessante.....