Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 17 de abril de 2012

Mais um?

Perguntei hoje a um jovem grego em quem é que ele vai votar nas próximas eleições gregas, em Maio. Encolheu os ombros, muito desanimado, e disse que não fazia ideia, mas que também não era importante porque considera as eleições uma farsa, o que quer que seja que eles digam e prometam não fará qualquer diferença. Abrimos os jornais e procuramos interessar-nos pelas eleições em França, o candidato mais à direita diz que vai mudar a política de imigração, talvez mesmo fechar as fronteiras, o mais à esquerda faz promessas delirantes, tenta tudo por tudo para iludir por momentos as pessoas, mas é claro que não poderá mudar nada de substancial. Em Espanha, o recém eleito Rajoy vê a sua popularidade descer vertiginosamente, à medida que tem que dar o dito por não dito e fazer malabarismos incríveis para o justificar. A orgulhosa Europa revê a toda a pressa o seu sistema de segurança social, o seu modelo de Estado, as suas avançadas leis laborais, os seus pergaminhos democráticos, os seus sonhos de união, em paz, harmonia e desenvolvimento, e fazem-se apostas sobre qual será o próximo país a merecer as atenções especiais dos “mercados”. Entretanto, não percebo porquê, já ninguém fala do famigerado sub prime, o que aconteceu aos produtos tóxicos, aos CDS e outros que tais, a que Warren Buffet chamou “armas de destruição maciça” foi-se a bolha imobiliária nos EUA? Entretanto, Lagarde elogia com contida esperança os progressos na economia dos Estados Unidas e avisa que o pequeníssimo alívio na crise europeia se deveu à actuação do BCE mas que em breve a crise irá voltar, e com redobrada força. Por cá, depois de muita discussão sobre a importância de mais um pacto europeu milagroso e definitivo, já há quem fale num novo imposto, muito apropriadamente chamado de (mais um?) “one shot", talvez porque se estão a acabar as munições.

21 comentários:

Anónimo disse...

Cara Suzana, nos Estados Unidos, com os pragmatismo e capacidade de reinvenção que caracterizam aquela sociedade, já ultrapassaram a questão do sub-prime e a economia Americana começa a descolar e a crescer como normal. Na Europa as questões são diferentes. É que os Europeus ficaram demasiado habituados a um generoso estado social mas nunca se preocuparam com quem o pagaria. A velha Europa está agora a descobrir que isto de viver fiado tem validade muito limitada no tempo.

Aproximam-se tempos de grande mudança para a Europa e que não serão muito diferentes das décadas de 20 e 30 do século XX.

Bartolomeu disse...

Cara Drª. Suzana, penso que o rapaz Grego com quem conversou, concluiu o óbvio; No actual contexto politico-económico, é práticamente "igual ao litro" seja quem for, ou que partido for que ganhe eleições.
O poder do dinheiro, controla os estados e os seus governos. Não conhecemos nenhum país do considerado "mundo civilizado" que não se ache sujeito a uma dívida soberana, por conseguinte, as acções e decisões que os governos desses países venham a tomar nunca dependem exclusivamente da vontade dos governos e dos cidadãos dos países, mas sim de uma tendência global capitalista.
Assim sendo, a tão sonhada e desejada união dos estados, com vista à obtenção de um ambiente de paz, estabilidade e progresso, revela-se no seu contrário, porque se partiu do princípio que para atingir esse progresso, seria necessário injectar capital. Esqueceram-se que estava criado o BCE e que esse capital não poderia vir das mãos de usurários, porque eles hipotecariam os estados e por conseguinte, acorrentariam os governos.
Agora, talvez a única solução, seja manter a unidade europeia no que respeita à defesa dos territórios mas, voltar à independência económica e financeira. Assim, "matam-se dois coelhos de uma só cajadada", enfraquecem-se os "mercados", porque deixam de ter as garantias dada pela união e os governos ganham autonomia para poderem impôr as medidas mais adequadas, tornando-se também mais responsáveis pelas mesmas.

jotaC disse...

"Mais um?"

Tantos e tão variados que que não há vocábulo português que aguente com eles!...

Fica-me a dúvida se MC está a falar de shot/tiro de arma, ou se de shot golf/ tiro de bola…

Mas sabe sempre bem ouvir mentes brilhantes quando, depois de tudo, nos vêm falar do que já sabiamos...

Pedro disse...

Mas claro está...em Portugal, ninguem fala do "Mais Um"......em Portugal continua a falar-se do "Mesmo".

Quase diria que todo o texto do seu posto, se resume para um grande maioria de iluminados, numa só palavra : Socrates.

Pena é que o senhor já tá em Paris, e por cá em vez de se perceber o que a Suzana descreve, continua-se a olhar sempre para "O mesmo" !!!

Rui Fonseca disse...

"...já ninguém fala do famigerado sub prime, o que aconteceu aos produtos tóxicos, aos CDS e outros que tais, a que Warren Buffet chamou “armas de destruição maciça” foi-se a bolha imobiliária nos EUA?"

A explicação, penso eu, reside no facto de os EUA conseguirem mobilizar recursos capazes de espevitarem a resiliência (um termo que eles usam muito) da sua economia através da utilização de mecanismos de política financeira que estão cerceados na União Europeia.

O grego, como o português, o espanhol, o italiano, até o francês, estão desiludidos com a democracia, porque, depois de anos de vivência numa economia de fantasia, vendida pelos bancos, são agora obrigados a confrontar-se com uma realidade amarga.

"Foi-se a bolha imobiliária nos EUA"? Rebentou e esvaziou-se rapidamente. E porquê? Porque nos EUA os "mortgages" (as hipotecas, dos prédios adquiridos com empréstimos bancários) não são reforçadas com garantias pessoais. O que é que isto significa? Que quando o valor de mercado dos prédios cai abaixo do valor em dívida, os tomadores dos empréstimos entregam as casas aos bancos e vão à procura de outras, para comprar ou arrendar.

Em Portugal divulgou-se muito a ideia que "não houve bolha imobiliária" ou "houve, mas foi pequena". Nada mais errado. Houve mas leva mais tempo a esvaziar-se.

O que aconteceu, e continua a acontecer, é que as pessoas, amrradas pelos bancos às garantias pessoais prestadas, que podem determinar a penhora de salários, pensões, quase tudo excepto a cama, suponho,aguentam a situação até ao intolerável. Quando este chega, ficam sem casa e com várias penhoras às costas.

Por que é que, por exemplo, as acções do BCP estão ao preço nem sei de quê? (o que é que hoje se compra com dez cêntimos?)
Pelas imparidades por revelar no balanço, muitas delas por crédito imobiliário.Por essa e por outras razões vai precisar de ser "recapitalizado" com empréstimos intermediados pelo Estado português que, por outro lado, recorreu alegremente (os governos de então e os bancos)
a empréstimos impagáveis.

Na altura foi vendida a ideia que
o endividamento externo era um conceito sem significado no âmbito de uma união monetária. Ainda há dias o Economist publucou um gráfico muito elucidativo das consequências dramáticas desta ilusão que, sobretudo, nos arrastou a nós para este buraco de onde não sairemos sem uma redução significativa da dívida e dos juros. Por mais que este governo afiance o contrário.

Mas este é apenas um aspecto da questão. Não vou alongar-me mais para não abusar da vossa paciência.

Conto anotar hoje mais alguma coisa acerca do tema no meu caderno de apontamentos.

jotaC disse...

Caro Rui Foneseca,
Não abusa nada da paciência (falo por mim), é um prazer ler o que escreve sobre estas matérias (!); registei principalmente aquela parte em que explica o modo de funcionamento dos empréstimos para a compra de casa nos EUA, não sabia que era assim que as coisas funcionavam! por cá é aquilo que muito bem observa está tudo amarrado...

Pinho Cardão disse...

Não há dúvidas (há para muitos, mas esses são capazes de negar as coisas mais óbvias e evidentes...)quanto à superioridade do modelo económico americano, baseado na livre iniciativa, ancorado em leis de concorrência fortes e sem contemplações para as empresas prevaricadoras e num sistema de justiça rápido e eficaz. Na Europa, excepto na Alemanha, Holanda, e alguns outros poucos países, é tudo ao contrário: cheios de complexos para com a economia de mercado, os governos não actuam quando devem (não impõem uma concorrência eficaz) e actuam quando não devem (protecção de empresas parasitas).
Por outro lado, na Europa e em Portugal culpa-se o capital e os Bancos por tudo e por todo o mal. Mas os Bancos só vão até aonde os deixam ir. E quem os deixou ir foram os Governos. Estes foram os culpados. Por exemplo, culpam-se os Bancos por dar crédito à habitação. Mas não foram os governos que promoveram esses créditos, os partidos que exaltaram essa política, até pela subsidiação das taxas de empréstimos. E não foi um coro de protestos dos partidos quando essa subsidiação acabou?
Culpam-se agora os Bancos por dar crédito ao país. Mas não foram os governos de Sócrates que mendigaram crédito junto dos Bancos, pedindo-lhes que não deixassem desertos os leilões?
A desculpar quem é culpado e a culpar quem o não é não iremos longe. Por isso, estamos como estamos. Critica-se agora os Bancos por recorrerem à linha de recapitalização. Mas não é o Estado um enorme devedor, quer directamente, quer através das empresas públicas insolventes? E tem alguma lógica o Estado apresentar-se como capitalista para "salvar" os Bancos, quando não lhes paga o que deve?
Enfim, vivemos de slogans. E quanto mais slogans, mais miséria.
Os EUA crescem, a China cresce, o Brasil cresce, a índia cresce, a Alemanha e a Holanda crescem,a maioria dos países europeus crescem, só Portugal definha. Grande economia a nossa para ser escolhida pelos especuladores!...
Mas há quem acredite e fuja de analisar as causas específicas. Foram os Bancos que obrigaram os governos de Sócrates a aumentarem a dívida pública para o dobro, ao ponto de não termos dinheiro para nem sequer pagar os juros?

Tonibler disse...

Caro Rui Fonseca,

faltava talvez o detalhe que um banco nos Estados Unidos com igual nível de imparidades não precisaria de se capitalizar porque isso é uma estupidez sem qualquer objectivo prático, nos USA ou cá. De resto, concordo com tudo.

Pinho Cardão disse...

Faltou um ponto de interrogação na frase seguinte do meu comentário anterior, que deve ser lida desta maneira: "Mas não foram os governos que promoveram esses créditos, os partidos que exaltaram essa política, até pela subsidiação das taxas de empréstimos?"

Tonibler disse...

Caro Pinho Cardão,

Infelizmente os portugueses gostam de criticar quem faz o seu trabalho porque admiram que vive sem fazer nenhum. Os bancos por emprestarem, o jornais por noticiarem, os ladrões por roubarem, os polícias por reprimirem, as empresas por ganharem dinheiro, etc... O médico que decide é o criminoso, o bom era o que estava no café a fazer-se às enfermeiras.

No fundo admiram e gostavam de ser aquele emplastro que está sentado num cadeirão de Sub-director-regional-adjunto-do-secretário-nacional-do-ministério-responsável-pelas-actividades-de-calcetaria-marítima-e-similares que, por não fazer a ponta, acaba por ser o verdadeiro responsável. Mas os portugueses acham que ele é que deve ser o protegido, não quem faz aquilo que é suposto fazer.

E isto acredito que não mude. Nunca.

Pinho Cardão disse...

É bem verdade, caro Tonibler. Somos um país de pequenos e médios que não suporta quem ousa ser um pouquito maior, por muito pouco que seja.

Bartolomeu disse...

Talvez fosse como o Tonibler diz, antes de existirem comentadores políticos em cada canal da televisão portuguesa.

Tonibler disse...

Caro Bartolomeu,

Por acaso não me sabe indicar qual a profissão de qualquer um dos 2453 comentadores políticos que as televisões nos metem na box, não?(*) (ia dizer em casa, mas como mudo de canal assim que o tipo vai abrir a boca, já posso dizer que só chega à box)



(*) E não vale dizer "politólogo", que isso é uma profissão como "aquecedor de sofá"...

jotaC disse...

:))))

jotaC disse...

“António Saraiva considera que a falta de sustentabilidade do sistema da Segurança Social pode ser "bomba-relógio".
O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) defendeu hoje um "sistema dual" de contribuições para a segurança social, desde que esteja salvaguardada a sustentabilidade do sistema, sob pena de se criar "uma bomba relógio que ninguém deseja".(…)”

Só se me oferece dizer que tudo isto é no mínimo aterrador, põe-nos à beira de um ataque de nervos...

Bartolomeu disse...

Meu Amigo Tonibler... podemos ter maus políticos no nosso país, mas temos dez milhões de excelentes comentadores e opinionmackers.

Tonibler disse...

Pois, mas dos 10 milhoes pode retirar 2.8 milhoes que contribuem para a segurança social. Porque desses 2.8 milhões, nenhum comenta na televisão...

Bartolomeu disse...

ahahahah!
Se a "coisa" se resumisse às contribuições... ainda se poderia creditar em opiniões isentas...

Ilustre Mandatário do Réu disse...

Os comentadores das tvs são maus mas eles é que encaixam uns cobres e nós aqui na conversa...

Pinho Cardão disse...

Ora aí está, caro Mandatário. E a alguns ainda somos nós que pagamos. E a muitos desde há mais de vinte ou 30 anos a esta parte.

Suzana Toscano disse...

Não sei, não, por mim já não acredito em milagres, aqui ou nos EUA, duvido mesmo muito que tenha sido assim tão simples a solução para a bolha, quando os bancos estavam todos à beira do colapso, do mesmo modo que o tão falado "contágio" que não iria acontecer afinal deixou de ser contágio para passar a ser um mal próprio da Europa e, em particular, dos países do sul(salvo a Irlanda, que desapareceu das conversas do mundo).Receio que o caro zuricher tenha razão, de argumento em argumento, à procura de razões tão fugidias quanto os humores dos mercados, tudo começa a parecer-se demasiado com tempos terríveis, a que Ingmar Bergman chamou de "o ovo da serpente".