1. Esta emblemática frase encontrei-a no editorial do conceituado jornal Público (que ainda leio com gosto, confesso) da edição de 21 do corrente, que foi dedicado ao cenário de execução orçamental que o editorial rotula de “cenário negro”.
2. Começo por dizer que a expressão “cenário negro” para classificar a execução orçamental do 1º trimestre de 2102 é excessiva pois resulta da comparação com os valores da mesma execução no 1º trimestre de 2011, valores estes que, como na altura aqui comentei, repetidamente, eram notavelmente irrealistas, estavam subavaliadíssimos em relação aos encargos com a dívida pública -, daí que, por exemplo os encargos da dívida registados neste 1º trimestre de 2012 sejam 212% dos registados no mesmo período de 2011.
3. Mas não é a execução orçamental de 2012, cujo resultado até agora, apesar de não corresponder ao “cenário negro” do Público, está longe de ser brilhante (tema para um próximo texto), o motivo principal deste Post.
4. Este texto é provocado pela crença admirável do autor do editorial num conceito mítico e misterioso de “economia a funcionar” - embora em lado nenhum do editorial se explique em que consiste esse funcionamento, que meios utilizar para por a economia a funcionar...tampouco se explica o pressuposto de que parte, de que a economia não está a funcionar...
5. Começo pois por perguntar: será que não está a funcionar uma economia cujas exportações crescem ao ritmo nominal de 13% (nos primeiros 2 meses do ano), quando os cenários macro pressupunham um crescimento de 7%, na melhor das hipóteses?
6. E o que pretende o autor do editorial significar com “economia a funcionar” – se não se pode empurrar o investimento privado, porventura mais investimento público, mais obras públicas provavelmente? Mas já vimos no que deu essa receita, vamos insistir na mesma tecla? E para além desse histórico negativo, onde está o dinheiro para prosseguir tal política se ninguém nos fia, pelo menos por agora?
7. Ou será que pretende, como eu pretendo de resto, que os impostos fossem mais baixos? Mas então terá de explicar como é que se consegue baixar os impostos nesta altura, mantendo o cumprimento dos objectivos do PAEF...
8. Pela minha parte até entendo que teria sido preferível, teria sido bem melhor, que as medidas de consolidação orçamental se tivessem limitado à redução da despesa e ao agravamento da tributação sobre o consumo – evitando o agravamento da tributação sobre o rendimento (sobretudo das empresas) e sobre a poupança. Foi um erro, que assinalei na devida altura, mas agora já não tem remédio...
9. Tal como este infeliz editorial, andam por aí uns arautos do crescimento a proclamar que se está a matar a economia: paradoxalmente, esses arautos estiveram calados durante o período em que paulatinamente (e estupidamente) se foram delapidando os recursos que agora tanta falta nos fazem...agora é que se lembram do crescimento?
10 comentários:
Não entendo, alguém os impede de trabalhar?
a esquerda quer om país de betãoº
munca falam de agricultura e pescas-
importamos 80% dos alimentos
Caro Tonibler,
Está a tocar num ponto a que estes entusiastas do crescimento são, duma forma geral, rudemente alérgicos: trabalhar (no sentido de produzir utilidades).
Eles são especialistas em produzir futilidades, vacuidades e sonoridades sem propósito útil...
Perguntar se alguém os impede de trabalhar, só pois por graça: não é preciso impedi-los de trabalhar, eles nem tampouco tentam!
caro Floribundus,
Não sei se querem um País de betão ou sem tostão...em País "quase" falido já conseguiram transformar este em que ainda vivemos!
Caro Tavares Moreira
1) Podia-se tentar saber onde estão os 5000 a 9000 milhões de Euros que os contribuintes Portugueses "são chamados a pagar no BPN.". Seriam estes chamados à ética da responsabilidade e à contribuição para o colectivo nacional.
2) Concordo com o seu ponto 8, com excepção da conformação ao erro. A responsabilidade não pode ser só política em boletim de voto de 4 em 4 anos. Muitos milhões são chamados ao erro de uma política infantil que não entende os desequilíbrios que está a criar com a denominada sobreausteridade para além da Troika. Nem mais pressão de gasto público, nem uma austeridade para além da Troika (o que nos separa caro Tavares Moreira é que há uma terceira via para além da que pugna por mais gasto público e a que pugna por um liberalismo não possível num país pobre como o nosso e com grandes camadas da população fragilizadas).
Um governo com visão, tinha percebido que mesmo nos impostos sobre o consumo se pode optar pela diferenciação. O aumento do IVA devia analisar sectores de modo a tentar manter em funcionamento uma economia privada (quase social que teria o mérito de não fazer baixar consumos essenciais que estrangulam o crescimento e antes criam uma espiral de recessão autosustentada) que não geraria mais encargos para o estado, antes pelo contrário.
3) Temo que esta política vá criar brevemente disrupção social, nomeadamente quando aumentar ainda mais o IMI e a lei das rendas entrar (aumenta-se o custo de produção porque a competitividade também é gerada no contexto). Não se pode sitiar as pessoas tirando-lhes alternativas de vida e há cada vez mais classe média sem saídas. Os resultados futuros dirão quem tem razão e a culpa como de costume cairá solteira. Estamos a anos luz dos Islandeses que exigem responsabilidade criminal aos responsáveis.
Caro Tonibler
1) Posso-lhe mandar uma lista de nomes de licenciados e mestres que estão prontos para trabalhar e ter melhores resultados por um décimo dos gestores de sucesso da nossa praça. Ainda por cima têm uma ética pessoal blindada e não mentem como muitos dos nossos políticos ou dos nossos gestores públicos vitalícios.
Alguns são especialistas em gestão financeira e corporativa e não fazem engenharia financeira para se manterem nos lugares enquanto vão aumentando o endividamento que lhes aumenta os lucros, que por sua vez lhes aumenta os prémios.
O que os impede de trabalhar? Possivelmente não terem cartão de partido!
Como não gosto de funcionar pela negativa que tal lançar um pacote de ideias, que a imaginação é fértil, para ajudar ao crescimento nacional.
1) Em vez de taxar o grande comércio, taxa que vai ser paga pelos consumidores, que tal mudá-la para a "obrigatoriedade" destas grandes superfícies consumirem produtos produzidos num raio de 50 KM? (medida da autoria do ... Ventura Leite).
Há tanto para se fazer, assim os ajude a "humildade" de ouvir que é o melhor dos frutos!
Caro PAS,
Só conheço uma forma de crescimento económico. Trabalho. Não há outro.
Podemos reclamar do BPN, em que se perdeu 900 mios de euros, mas também da CGD onde o contribuinte perdeu o dobro. Curiosamente, ninguém reclama da CGD não se percebe porquê e, ainda por cima, o BPN acabou e a CGD (ainda) não.
A verdade é que o estado português tem o toque de Sadim, tudo o que toca transforma-se em lixo. No entanto, é por isso que se reclama, vá-se lá perceber porquê...
A democracia não se passa de 4 em 4 anos. Recordo-lhe que neste preciso momento há que a esteja a fazer por si naquilo a que se chama de parlamento. Outro produto tóxico da república portuguesa em que, depois de eleitos, os representantes deixam de ter representados, mas é suposto haver alguém que a está a fazer por si.
Caro Tonibler
Ouviu-o com atenção como tudo oiço e agrado, e incorporei, de mente aberta e espírito tolerante, que é isso que me pode fazer melhor.
Sob a forma (fórmula)de crescimento económico concordo totalmente consigo.
Só o trabalho é criador, não a sua destruição (que é aquilo que assistimos hoje todos os dias).
Aliás uma das primeiras teorias que estudei foi a teoria do valor trabalho, num instituto que ainda não se tinha liberto de alguns fantasmas.
Dir-me-à, mas quer mais intervenção do estado? Não, quero é menos intervenção e isso passa por perceber que a fórmula usada não dá resultado.
Concordo consigo quando devemos ser exigentes e reclamar até com a CGD, mas não esqueço que não vale só a pena reclamar, é preciso actuar para evitar a continuação ad eternum dos mesmos erros.
Relativamente à democracia sou um céptico da democracia implantada que nos dão (como quase todos os Portugueses por motivos diferentes, é certo) de um soberania do povo incompleta e encarquilhada, cujos representantes não são do povo mas homens de mão dos partidos.
Estou com os jovens e não com os senadores desta república. Aos senadores falta visão e vontade de perceberem que o mundo muda e é preciso encontrar novas formas de representatividade. Sob pena do regime renovado que substituiu o ancien regime ser hoje o ancien regime do passado.
Quer um país melhor e em que nos sintamos representados? Altere-se o sistema para um regime referendário e consultivo das linhas essenciais que regem a vida do dia a dia dos Portugueses. E tudo isso hoje está à mão de um click. Haja imaginação!
De outro modo veremos o sistema e o regime cair de podre pela mão dos senadores e alguns plutocratas que nos trouxeram até aqui.
Caro Pedro de Almeida Sande,
Atrevo-me a dizer-lhe que no geral até não andaremos muito longe em matéria de avaliação das causa e efeitos da enorme crise que nos atingiu por efeito da vontade militante dos nossos dirigentes políticos à mistura com uma formidável dose de incompetência para formular a política económica!
As nossas diferenças estão mais na visão de um "fine tuning" na aplicação das medidas de combate a essa crise (tentando uma mistura de óptimas soluções), que o PAS considera possível, enquanto que eu, talvez por ter acompanhado de muito perto situações semelhantes a esta não considero possível ou realista tal "fine tuning".
E não considero possível porque tenho bem a noção do gigantismo desta tarefa e da incrível dificuldade em promove-la em tempo útil, pelo que entendo ser impensável exigir um programa sem mácula que realize os objectivos pretendidos com um mínimo de custos sociais!
Creio que só o Dr. MS ou o ex-candidato a PR, MA, ambos faltosos à sessão das comemorações do 25/IV, é que teriam génio e talento para conseguir realizar tão formidável desafio na governação do País e em tempo record!
E muita atenção, se não se importa, ao comentário do Tonibler sobre o tema BPN, porque não devemos ser deliberadamente ingénuos!
É absolutamente espantosa a quantidade de edifícios e investimentos absolutamente inuteis que há pelo País fora e que foram certamente todos justificados em nome do tal crescimento. Praias artificiais megalómanas, centros culturais e desportivos em lugares em que não há gente, e muitos muitos outros, grandes e pequenos, que nos deixam perplexos e cuja racionalidade económica ou mesmo social não resiste a um olhar apenas sensato.Por isso, falta talvez clamar pelo crescimento mas é preciso que se saiba o que é que tal significa...
Cara Suzana,
Não posso estar mais de acordo com a sua observação! Mas há imensa gente que continua convencida da vantagem em promover esse tipo de "crescimento" como muito bem sabe!
E até conseguem chamar investimento a esse tipo de despesas que não produzem qq vantagem, económica ou social...
A não ser para quem os realizou, e aqui entram vários tipos de beneficiários, tantas vezes impróprios...
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