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sábado, 16 de junho de 2012

À descoberta da terra dos Ticos


(Fachada da catedral de San Jose da Costa Rica)

Ouvíramos dizer que se trata de uma das paragens mais belas do mundo. Dominada por velhos relevos, vulcões adormecidos e alguns ativos, pântanos, floresta densa, costas atlântica e do pacífico variadas. Tudo num concentrado de país cujo território, tal como o dos seus vizinhos, assegura a união entre as américas do norte e do sul. Medido em linha reta do seu ponto mais a sul até ao ponto mais setentrional, não se chega aos 500 km. A largura do território, do Caribe ao Pacífico, fica-se por 280 km. Costa Rica. O destino escolhido para, durante duas semanas, ir à descoberta. Descontrair deste ambiente sufocante, esperando por uns dias não ouvir ou falar de crise, da falta de confiança, da ausência de esperança ou de futuro. Uma paragem para observar que há sim vida, muita vida para lá dos orçamentos, dos mercados, das troikas, dos FMI, dos resgates, das incompetências de políticos e dos exageros dos mensageiros, dos analistas e das pitonisas que anunciam para amanhã a desgraça maior, das eurobonds que sim e das eurobonds que não, dos coitadinhos iguais à Grécia e dos que veementemente negam sê-lo... 
A vida que ali se conserva como preocupação prioritária da política, conscientes – políticos e cidadãos - da importância de proteger as riquezas da flora e da fauna, é, afinal, um património genético de importância fundamental para a humanidade.
Um país que surpreende por alguns especificidades. Beneficia de estabilidade política que favorece a relativa estabilidade económica atual,  ultrapassados os conturbados anos 80 do século passado em que 50% dos proveitos com as exportações não chegavam para pagar os encargos da dívida ao exterior. Situação que contrasta com a permanente instabilidade geológica resultante de enormes forças tectónicas que se degladiam ali (mais do que um guia nos disse que se espera a qualquer momento um terramoto devastador, prenunciado por estudiosos japoneses, isto dito com desarmante á-vontade– não é por acaso que Pura Vida é a expressão mais trocada entre os Ticos). 
A Costa Rica escolheu, após a independência concedida por Espanha em 1821, o sistema presidencialista. E é um dos Estados latino-americanos que elegeu para a presidência da república uma mulher (Laura Chinchila Miranda). O parlamento é constituído por uma única câmara e a população de pouco mais de 4 milhões de habitantes, é aí representada por menos de 50 deputados.
Na sequência da Constituição de 1949 que determinou a abolição do exército, a Costa Rica declarou a sua neutralidade. Explicaram-nos que o dinheiro que o Estado não gasta a manter um exército que jamais garantiria a segurança do país se se visse ameaçado, é investido em educação e numa rede, que ouvimos elogiada, de cuidados de saúde.  
A verdade é que a Costa Rica se orgulha do índice de 96% de taxa de literacia, invejada pela maioria dos países latino-americanos. E o que é certo é que pudemos constatar, que mesmo nos pueblos mais exíguos ou remotos, lá existia a escola e uma organizada rede de transportes escolares, mesmo na recôndita região de Tortuguero onde não há estradas e a mobilidade se faz por barco nos imensos canais que retalham a floresta densa.

Estes factos, salvaguardadas distâncias e diferenças, trouxeram-nos à memória que em Portugal se aposta na concentração das crianças e jovens em grandes estruturas e se extinguem as escolas comunitárias, empobrecendo o interior e estimulando ainda mais o despovoamento. Mas também nos fizeram sorrir quando no regresso nos demos conta dos salamaleques dedicados pelo pessoal de bordo do avião a um garboso militar que nos pareceu o ajudante de campo (ou coisa aparentada) de um não menos soberbo ministro da defesa de um minúsculo país africano sem defesa possível...

7 comentários:

Suzana Toscano disse...

Excelente início, caro Ferreira de Almeida, para abrir o apetite, já tínhamos saudades suas e também de uma bela descrição de uma viagem a paragens longínquas, onde o nosso pequeno mundo, grande em preocupações, fica relegado para longe.Seja muito bem regressado, cá esperamos as próximas etapas na Costa Rica, já me tinham dito maravilhas desse paraíso ambiental.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

José Mário, pois seja muito bem regressado. Já tínhamos dado pela sua ausência, bem justificada, as férias bem merecidas levaram-no a viajar até à Costa Rica, um país pequeno que pelo que tenho ouvido e lido e agora confirmado na sua crónica faz inveja a muitos países ditos "desenvolvidos".
Fiquei espantada com o nível de literacia, 96%. É parecido com o que temos por cá.

Bartolomeu disse...

Caro Dr. José Mário, envio-lhe os meus votos de que esta, seja uma boa e proveitosa viagem.
Tudo o que nos relata, relativamente ao povo e ao governo Costa Riquenho, podemos considera-lo um exemplo, pois apesar de sermos um país europeu e membro pleno da UE, não temos um governo capaz de decisões tão coerentes e voltadas para o progresso, como esse onde se encontra.
Boa viagem!

Massano Cardoso disse...

Vá contando, vá contando, que eu vou lendo.
Li ontem um excelente artigo que revela que a Costa Rica
é a nação mais "desenvolvida" em termos de "Índice de Felicidade Planetária", à frente, mas muito, dos ditos países "desenvolvidos". O IFP é um excelente índice "ecológico". Afinal, de acordo com o seu texto, o meu amigo foi à procura da "felicidade" e foi para o sítio certo...
Boa estadia.

Pinho Cardão disse...

Mais um excelente texto de literatura de viagens em que também o meu amigo é exímio. Sabemos que a Costa Rica é um exemplo de país na conturbada América Latina. Em duas brilhantes pinceladas, já nos fez saber porquê. Cá esperamos as suas brilhantes descrições, pois o meu amigo tem o dever cívico e de serviço público de nos apresentar as suas crónicas das paisagens, usos e costumes, monumentos, cultura, ambiente da Costa Rica. Para nos enriquecer também.

MM disse...

Um sopro de ar fresco para animar esta manhã meia chuvosa, deste país meio doente.Obrigada!

Anónimo disse...

Meus Amigos, agradeço a v. simpatia. Mas não elevem as expetativas pois como bem sabem se descontarem os exageros a que a amizade saudavelmente conduz, o cronista é fraco.
Meu caro Professor Massano Cardoso, assim é quanto ao indice. Pode ver-se, entre outras muitas referências a essa ranking (que alguns consideram bem mais denotativo que o PIB) por exemplo aqui - http://www.nydailynews.com/life-style/health/costa-rica-tops-happy-planet-index-u-s-ranked-dismal105th-place-large-ecological-footprint-article-1.1095831