(Fachada da catedral de San Jose da Costa Rica)
Ouvíramos dizer que se trata de uma das paragens mais
belas do mundo. Dominada por velhos relevos, vulcões adormecidos e alguns
ativos, pântanos, floresta densa, costas atlântica e do pacífico variadas. Tudo
num concentrado de país cujo território, tal como o dos seus vizinhos, assegura a
união entre as américas do norte e do sul. Medido em linha reta do seu ponto
mais a sul até ao ponto mais setentrional, não se chega aos 500 km. A largura do
território, do Caribe ao Pacífico, fica-se por 280 km. Costa Rica. O destino
escolhido para, durante duas semanas, ir à descoberta. Descontrair deste
ambiente sufocante, esperando por uns dias não ouvir ou falar de crise, da
falta de confiança, da ausência de esperança ou de futuro. Uma paragem para
observar que há sim vida, muita vida para lá dos orçamentos, dos mercados, das
troikas, dos FMI, dos resgates, das incompetências de políticos e dos exageros
dos mensageiros, dos analistas e das pitonisas que anunciam para
amanhã a desgraça maior, das eurobonds que sim e das eurobonds que não, dos coitadinhos iguais à Grécia e dos que veementemente negam sê-lo...
A vida que ali se conserva como preocupação prioritária da
política, conscientes – políticos e cidadãos - da importância de proteger as
riquezas da flora e da fauna, é, afinal, um património genético de importância
fundamental para a humanidade.
Um país que surpreende por alguns especificidades.
Beneficia de estabilidade política que favorece a relativa
estabilidade económica atual, ultrapassados os conturbados anos 80 do século passado em que 50% dos proveitos com as exportações não chegavam para pagar os encargos da dívida ao exterior. Situação que contrasta com a permanente instabilidade geológica resultante de enormes
forças tectónicas que se degladiam ali (mais do que um guia nos disse que se
espera a qualquer momento um terramoto devastador, prenunciado por estudiosos
japoneses, isto dito com desarmante á-vontade– não é por acaso que Pura Vida é a expressão mais trocada entre os Ticos).
A Costa Rica escolheu, após a independência concedida por Espanha em 1821, o sistema presidencialista. E é um dos Estados latino-americanos que elegeu para a presidência da república uma mulher (Laura Chinchila Miranda). O parlamento é constituído por uma única câmara e a população de pouco mais de 4 milhões de habitantes, é aí representada por menos de 50 deputados.
A Costa Rica escolheu, após a independência concedida por Espanha em 1821, o sistema presidencialista. E é um dos Estados latino-americanos que elegeu para a presidência da república uma mulher (Laura Chinchila Miranda). O parlamento é constituído por uma única câmara e a população de pouco mais de 4 milhões de habitantes, é aí representada por menos de 50 deputados.
Na sequência da Constituição de 1949 que determinou a
abolição do exército, a Costa Rica declarou a sua neutralidade. Explicaram-nos
que o dinheiro que o Estado não gasta a manter um exército que jamais
garantiria a segurança do país se se visse ameaçado, é investido em educação e
numa rede, que ouvimos elogiada, de cuidados de saúde.
A verdade é que a Costa Rica se orgulha do
índice de 96% de taxa de literacia, invejada pela maioria dos países
latino-americanos. E o que é certo é que pudemos constatar, que mesmo nos
pueblos mais exíguos ou remotos, lá existia a escola e uma organizada rede de
transportes escolares, mesmo na recôndita região de Tortuguero onde não há estradas
e a mobilidade se faz por barco nos imensos canais que retalham a floresta
densa.
Estes factos, salvaguardadas distâncias e
diferenças, trouxeram-nos à memória que em Portugal se aposta na concentração das
crianças e jovens em grandes estruturas e se extinguem as escolas comunitárias,
empobrecendo o interior e estimulando ainda mais o despovoamento. Mas também
nos fizeram sorrir quando no regresso nos demos conta dos salamaleques
dedicados pelo pessoal de bordo do avião a um garboso militar que nos pareceu o
ajudante de campo (ou coisa aparentada) de um não menos soberbo ministro da
defesa de um minúsculo país africano sem defesa possível...
7 comentários:
Excelente início, caro Ferreira de Almeida, para abrir o apetite, já tínhamos saudades suas e também de uma bela descrição de uma viagem a paragens longínquas, onde o nosso pequeno mundo, grande em preocupações, fica relegado para longe.Seja muito bem regressado, cá esperamos as próximas etapas na Costa Rica, já me tinham dito maravilhas desse paraíso ambiental.
José Mário, pois seja muito bem regressado. Já tínhamos dado pela sua ausência, bem justificada, as férias bem merecidas levaram-no a viajar até à Costa Rica, um país pequeno que pelo que tenho ouvido e lido e agora confirmado na sua crónica faz inveja a muitos países ditos "desenvolvidos".
Fiquei espantada com o nível de literacia, 96%. É parecido com o que temos por cá.
Caro Dr. José Mário, envio-lhe os meus votos de que esta, seja uma boa e proveitosa viagem.
Tudo o que nos relata, relativamente ao povo e ao governo Costa Riquenho, podemos considera-lo um exemplo, pois apesar de sermos um país europeu e membro pleno da UE, não temos um governo capaz de decisões tão coerentes e voltadas para o progresso, como esse onde se encontra.
Boa viagem!
Vá contando, vá contando, que eu vou lendo.
Li ontem um excelente artigo que revela que a Costa Rica
é a nação mais "desenvolvida" em termos de "Índice de Felicidade Planetária", à frente, mas muito, dos ditos países "desenvolvidos". O IFP é um excelente índice "ecológico". Afinal, de acordo com o seu texto, o meu amigo foi à procura da "felicidade" e foi para o sítio certo...
Boa estadia.
Mais um excelente texto de literatura de viagens em que também o meu amigo é exímio. Sabemos que a Costa Rica é um exemplo de país na conturbada América Latina. Em duas brilhantes pinceladas, já nos fez saber porquê. Cá esperamos as suas brilhantes descrições, pois o meu amigo tem o dever cívico e de serviço público de nos apresentar as suas crónicas das paisagens, usos e costumes, monumentos, cultura, ambiente da Costa Rica. Para nos enriquecer também.
Um sopro de ar fresco para animar esta manhã meia chuvosa, deste país meio doente.Obrigada!
Meus Amigos, agradeço a v. simpatia. Mas não elevem as expetativas pois como bem sabem se descontarem os exageros a que a amizade saudavelmente conduz, o cronista é fraco.
Meu caro Professor Massano Cardoso, assim é quanto ao indice. Pode ver-se, entre outras muitas referências a essa ranking (que alguns consideram bem mais denotativo que o PIB) por exemplo aqui - http://www.nydailynews.com/life-style/health/costa-rica-tops-happy-planet-index-u-s-ranked-dismal105th-place-large-ecological-footprint-article-1.1095831
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