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quinta-feira, 2 de agosto de 2012
PRODUTIV IDADE
Existem dois temas que nos últimos anos têm provocado polémica e atenção redobrada sobre a produtividade: um é o da sua relação com a competitividade o outro com os salários e as políticas laborais.
A produtividade é uma medida que relaciona a forma como combinam factores de produção, especialmente capital e trabalho, com o produto obtido. Mas em economias de mercado, o que se torna relevante é a combinatória dos preços (e da respectiva moeda em que são expressos) desses factores, não necessariamente as quantidades.
Nas últimas três décadas assistiu-se, especialmente nos Estados Unidos, a uma tendência nova: se até então a evolução dos salários tinha acompanhado os ganhos de produtividade, desde a década de 80 que o excepcional aumento da produtividade não foi acompanhado pelo aumento dos salários, tendo remunerado mais e melhor o factor capital.
Na Europa, nomeadamente na última década, essa tendência não se verificou. Enquanto os países da Europa do Norte, especialmente a Alemanha, teve acréscimos de produtividade claramente superiores aos aumentos dos salários, em países como a Grécia, Espanha, Portugal e a Irlanda, a evolução dos salários foi bem mais acentuada que os ganhos de produtividade. Porquê? Porque nestes países os ganhos salariais alinharam-se muito mais pela inflação do que pela produtividade. Consequência: a manter-se estável a relação cambial, estes países perderam capacidade competitiva no mercado global, enquanto a Alemanha a ganhou.
A ideia de ganhar competitividade externa pelo aumento artificial da produtividade do trabalho mediante uma compressão dos custos salariais, não sendo peregrina, é de efeito reduzido no médio e longo prazo. Mas é mais fácil fazê-lo do que tentar comprimir a remuneração do factor capital: dispondo de maior mobilidade à escala global, quando limitado o factor capital tende a procurar ambientes mais favoráveis e o investimento fica pelas ruas da amargura. Não vejo muitas alternativas para se sair a curto prazo deste imbróglio, mas há uma que convém não esquecer, como lembrou muito bem o Tavares Moreira num recente post: a relação cambial euro-dollar.
A recente quebra do euro nos mercados internacionais tem dois efeitos: as mercadorias europeias tornam-se mais baratas e, portanto, mais competitivas, mas também os salários dos trabalhadores europeus. Porém, tornam-se mais caras as importações o que quer dizer matérias primas mais caras, bens de consumo mais caros. Se este cenário poderá configurar uma saída possível para a crise da zona euro, o risco de inflação irá crescer. Venha o diabo e escolha!
Sugestão de leitura sobre os problemas da produtividade na Europa, este artigo.
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2 comentários:
Para início de discussão, gostaria de pedir a quem souber, o favor de me explicar, como se consegue elevar a produtividade de um país sem recursos, ao nível de um país tecnológicamente evoluído, com regras definidas e justas de contratação e de políticas salariais, com garantia de escoamento de produção e acima de tudo, com mão-de-obra especializada para dar e vender?
Depois, gostaria também que alguém me esclarecessem; sendo possível conseguir essa elevação de produtividade, o que faria com ela o país que conseguiu a elevação?
Caro David Justino,
O risco de inflação numa economia em que a produção está muito abaixo do potencial e com um mercado de trabalho bastante deprimido, é por ora muito reduzido.
Daí que os benefícios para as exportações de uma correcção do valor externo do Euro possam ser elevados e por um período considerável.
Mas é óbvio que a Irlanda irá beneficiar bastante mais do que nós, por ter uma economia muito mais aberta (exportações de bens e serviços excedem 100% do PIB, no nosso caso pouco excederão 1/3)e tb porque os mercados não Euro de destino das suas exportações são bem mais importantes.
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