1. “Austeridade excessiva pode prejudicar terrivelmente a democracia”, é, entre as muitas centenas de frases bonitas que se publicaram nestes últimos dias, proferidas por notabilidades políticas da nossa praça, a que mais me prendeu a atenção.
2. Esta frase é da autoria de um ex-Presidente da República, que presidiu à República entre 1996 e 2005, e que protagonizou algumas das etapas mais gloriosas no sentido da transformação do País num modelo de gestão financeira...
3. Não deixa de ser curioso constatar que uma pessoa, que - apesar de crítico por vezes áspero de algumas das suas posições -tenho na conta de lúcida e inteligente, só agora se tenha apercebido de que a Austeridade pode ser (terrivelmente) perniciosa para a democracia...
4. ...e não tenha compreendido, ao longo dos anos a fio em que andamos a “trabalhar” arduamente para chegar a este modelo de Austeridade, que muito mais pernicioso para a democracia do que a Austeridade é criar as condições que a tornam, a final, uma ocorrência inevitável...
5. Pessoa profundamente conhecedora do processo de negociação do Programa de Austeridade com a Troika, em Maio de 2011, com quem me encontrei na semana passada, contou-me que, caso o Programa não tivesse sido acordado “à força” nessa altura (contrariando a vontade do então 1º Ministro, que se encontrava no auge do estado de negação da realidade), não iria haver dinheiro para pagar aos funcionários públicos no final desse mês...
6. Estou convicto de que, se tal tivesse acontecido como era vontade (inconsciente, é certo) do então 1º Ministro, a história de toda esta Austeridade que estamos a viver teria sido escrita doutra forma...e talvez o ex-Presidente da República que estou a citar se tivesse lembrado, bem mais cedo do que só agora, que a Austeridade pode prejudicar terrivelmente a democracia...
7. Mas em Portugal já nos habituamos a que sejam proclamados como grandes profetas os que nos sabem "alertar" contra os efeitos de acontecimentos cujas causas desconheceram...os outros (muito menos) que souberam a tempo alertar contra as causas, foram invariavelmente ignorados ou, pior ainda, alvo de sevícias incontáveis...
13 comentários:
E eu que estava a dar o benefício da dúvida ao governo.
Tirar do contexto de um artigo publicado no DN a frase respeitante à austeridade, que, quando excessiva, pode matar, é um exercício pouco apropriado.
Sabe bem o Dr. Tavares Moreira que não tenho procuração do dr. Mário Soares para o defender e por certo que este não teria dificuldade em conseguir pessoas mais capazes para o fazer.
Mas o que é curioso é que o Dr. Tavares Moreira lança um manto de silêncio sobre as responsabilidades da crise do actual Presidente da República.
Assistimos à maior indignação dos portugueses face às bárbaras arremetidas deste bando de loucos que "governa" o País!
Um bando digno de figurar na clique bolchevique/estalinista que dirigiu a Rússia Soviética dos anos 20! Assistimos à expropriação da maior parte do povo português num verdadeiro assalto aos bolsos e à fazenda dos cidadãos com a total complacência do Sr. Presidente da Repúblca! Será que ainda não foi atingido "o limite dos sacrifícios" de que este Presidente falava no tempo do sr. Pinto de Sousa?
E o Dr. Tavares Moreira nada tem a dizer sobre a passividade deste Presidente da República?
Nem lhe oferece tema de análise o "alegado" favorecimento ilícito da empresa do dr. Passos Coelho (a Tecnoforma) por mor desse inimitável ministro Relvas?
Dr. Tavares Moreira: convido-o a descer à realidade actual do País e a centrar a sua análise no borgeseano empobrecimento de Portugal!!!
O FMI já percebeu!.
Caro jotaC,
Não é verdade que o FMI tenha percebido. A Lagarde, agora que a França está ao barulho, acha que deve haver mais tempo. Mas não é ela que está a pagar, por isso está à vontade. Quem não está à vontade sou eu que estou a pagar a festa.
Ora, caro Tavares Moreira, esse ex-presidente da república afinal era um moderado. Afinal só disse que havia vida para lá do défice a uma ministra das finanças que há semanas se disponibilizou a ser o símbolo da contestação à austeridade ao ponto de dizer que deitaria abaixo o orçamento de estado. Pelos vistos, esse ex-presidente estaria longe de ser um protagonista, foi quanto muito um jogral.
Quanto à democracia e à austeridade, nisso ele tem razão. Quando as medidas de austeridade votadas pelo povo soberano vão ao Grande Conselho da Inutilidade Nobiliárquica para serem explicados e aprovados, não vá a austeridade afectar algum conceito mais crítico para a nação como a equidade na derivada, diria que a democracia já foi ao ar há meses. Isto para não falar na constituição, que já deve ser usada no palácio para efeitos higiénicos há uns 6 anos, para compensar os cortes nas reformas que tanta falta fazem. E afinal, a vida era tão feliz no palácio quando os gastos eram à fartazana...
Quanto à memória, isso deve vir com o cargo. Já reparou que o ministro das finanças que trafulhou as contas públicas em dezenas milhares de milhões de euros nunca foi chamado ao Grande Conselho da Inutilidade Nobiliárquica para explicar o "fenómeno"??? Aparentemente, também o actual presidente da república acha que só precisa de explicação aquilo que pode ser uma solução, porque quer a fraude contabilística, quer os gastos à bruta nunca mereceram da parte dele qualquer reparo.
Mas afinal em que ficamos? " Há vida para além do Deficit ou, para além do Deficit apenas resta a Austeridade? Se o Eng. Guterres e o inenarrável sr. Pinto de Sousa são os responsáveis mais próximos pelas medidas de Austeridade em vigor - ainda não tão excessivas como podiam, e podem, vir a ser caso não tenhamos juízo - ou seja, são os seus progenitores, o autor da frase em apreço merece ser convidado para seu padrinho.
E, o que não é menos grave e currosivo, os progenitores e padrinhos da "quase bancarrota" em que vivemos, deixaram-nos um país viciado em crédito e completamente dependente das benesses da manjedoura orçamental (Aqui).
Como pregava Padre António Vieira:
(...) " para que os ladrões e os reis se salvem, ensinai com vosso exemplo, e inspirai com vossa graça a todos os reis, que, não elegendo, nem dissimulando, nem consentindo, nem aumentando ladrões, de tal maneira impidam os furtos futuros, e façam restituir os passados, que em lugar de os ladrões os levarem consigo, como levam, ao inferno, levem eles consigo os ladrões ao Paraíso, como vós fizestes hoje: Hodie mecum eris in Paradiso". ..
Caro Fartíssimo,
Erro total...não é ao Dr. M. Soares que me refiro, essa história de Portugal ultra-contemporâneo anda pelas ruas da amargura, pelos vistos, talvez seja de "rehearse a little"...
Quanto às suas restantes observações e recomendações, anoto a sua proverbial boa-disposição e o agudíssimo espírito crítico que tanta falta nos fazem
Caro Tonibler,
Esta a tornar-se demasiadamente frequente entrarmos em rota de colisão nestas matérias...creio que estamos a precisar urgentemente de um almoço para acertarmos agulhas - e quiçà tb para afinarmos a nossa estartégia de protecção contra essa artilharia fiscal que se prepara para nos destruir os bolsos.
Vou falar com o Pinho Cardão para esse efeito!
Caro Álvaro,
Ai esse português, ai esse português!
Caro Tavares Moreira,
deste lado, aprovado por unanimidade e aclamação! (como sou só eu... posso sempre dizer isso)
Seja, Dr. Tavares Moreira.
Mas Soares disse o mesmo por palavras semelhantes!
Cumprimentos
Fartíssimo
Caro Tavares Moreira
Um regime que, 38 anos nos levou por três vezes à bancarrota e, nesse mesmo período não surgiu uma tentativa de o derrubar, passou todos os testes de qualidade e, como dizia um certo anuncio, veio para ficar.
Por isso, a asserção que cita não faz sentido, independentemente do autor da mesma.
Jà sobre o autor da frase, recordo que era o oficial de quarto na altura em que entrámos para o euro; para um povo que se diz com tradição marítima acho que não é necessário perorações suplementares.
Cumprimentos
joão
O défice orçamental para 2012 não será de 4,5% do PIB como estava previsto, mas somará um valor muito superior (o défice apurado pelo INE no primeiro semestre foi de 7,9%). É para tapar este buraco no défice de 2012 que o governo vai aplicar este "enorme" aumento de impostos. Ora, a responsabilidade do aumento do défice de 2012 é de exclusiva responsabilidade do governo. Porque adoptou medidas recessivas, "para além da troika", como o aumento do IVA na restauração e outras, que levaram a uma forte retracção no consumo que originou uma diminuição das receitas, mais gastos sociais e assim, o aumento do défice verificado.
A fanfarronada de Passos Coelho, vangloriando-se de ser mais troikista do que a troika, adoptando medidas recessivas para além das exigências da troika, vai ficar muito cara ao país e é responsável por este anunciado aumento de impostos e pelo desastre económico e social que ele arrastará consigo.
Por este incomportável aumento da carga fiscal, satisfazendo ou não as exigências da troika, nunca poderá ser co-responsabilizado o PS. A culpa é do governo porque adoptou medidas para além da troika.O partido socialista tem assim grandes argumentos para encetar um forte e justificado discurso de oposição. António Costa já o compreendeu, como demonstra bem o seu discurso do 5 de Outubro.
Caro Tonibler,
Vamos então à logística: proponho a Taberna, no El Corte Ingles, muito frequentada por assumidos adversários do agravamento da tributação, nos quais me incluo.
Quanto à data vou falar com o nosso emérito Postador P. Cardão para ver se lhe propomos uma que seja conveniente!
Caro Fartíssimo,
O Dr. M. Soares, que prezo pessoalmente, não disse nada de parecido nem nada de razoável quando aborda estas matérias (pelo menos nos últimos 12 meses).
Tem-se limitado a ligar a ignição de um "lança-chamas" que deve ter lá por casa mas que, como aqui referi há tempos, está carecido de reparação profunda pois dispara em todas as direcções e não consegue atingir nenhum alvo!
Caro João Jardine,
Inteiramente de acordo com o seu bem humorado comentário que, em poucas palavras, diz quase tudo o que vale a pena ser dito sobre o tema...
Carlos Sério,
O Senhor deve ser a única pessoa que ainda se recorda dos discursos do 5 de Outubro de 2012...que pachorra!
Mesmo no epicentro do risco sistémico? Por mim está fechado. É só marcar a data.
Exactamente ou quase caro Tonibler, edifício sede do ex-BPN é mesmo ao lado! E, não muito longe, temos os estádios de Alvalade e da Escuridão (tb conhecido por da Luz)...
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