Porque será
que hoje não se leu e não se ouviu falar do Dia Internacional do Idoso em
Portugal? É a crise? Mas qual? Penso que é o espelho de uma crise bem mais
profunda, que está a montante da crise financeira e económica. Qual crise da
Troika! É uma crise de miopia social. Estamos focados na energia e na frescura da juventude, na pressão da novidade e da inovação como se o futuro
fugisse. As pessoas idosas são olhadas como um incómodo, um peso pesado.
Ignoramo-las, não queremos nem sentimos a necessidade de as valorizar enquanto estão válidas ou de as acarinhar e tratar
perante a doença e a solidão. Mas não faltará muito tempo para sermos forçados a repensar esta mentalidade. Já o deveríamos estar a fazer, mas deixamos sempre para segundo
plano o que não traz lucros imediatos. Temos dificuldade em semear para mais tarde colher, tem sido
assim em muitos outros campos de intervenção. Numa sociedade envelhecida como é
a nossa as pessoas idosas são necessárias, seja porque podem ser o motor de novas
actividades económicas capazes de gerar riqueza (é o caso do turismo sénior),
seja porque não haverá jovens em número suficiente para constituir a população
activa que precisamos.
Enfim, festejamos
tanta coisa supérflua com dias nacionais disto e daquilo…
6 comentários:
Margarida, se me permitir a honestidade, isso trata-se de querer lutar contra dogmas sociais e biológicos - admito, até, que nem menciono tal com desdém, simplesmente destaco o óbvio.
Faz-me pensar na parábola: "O pai, a manta e a broa" (http://www.escolovar.org/pai_historias_populares1.htm); e atenção que não nego a lição mas trata-se no fundo de uma luta moral contra o inato egoísmo.
Pedir ao jovens para prestarem atenção às gerações seniores é como tenta incutir valores morais e sociais a um adolescente.
A questão, caro C.e C.,não é "pedir aos jovens que prestem atenção às gerações seniores" a questão não é individual mas colectiva, é uma cultura que sempre tivemos e que hoje é contrariada por muitos discursos oficiais e por muitas opiniões publicadas, como se fosse preciso "eliminar" os velhos para que sobrevivam os novos e essa ideia fosse sequer de equacionar.Se houvesse essa cultura colectiva muitas dessas teses seriam totalmente desconsideradas e inaceitáveis, o que não acontece, infelizmente.
Caro C.e.C
Tenho uma visão um pouco diferente. A crise em que estamos mergulhados não é apenas dos números, é, também, de atitudes e comportamentos. Ora, o que devemos fazer para alterar atitudes? Incutir valores morais e sociais aos adolescentes é uma obrigação das gerações mais velhas. Não colocaria esta necessidade no campo da luta contra dogmas. Acha o Caro C. e. C que não deve ser uma preocupação ou não é possível?Ou que a sociedade está muito bem assim como está e, portanto, é um não problema?
http://www.bsgi.org.br/quemsomos/cidadania_e_sustentabilidade/
Percebo a que se refere, Suzana, mas continua a soar-me algo utópico.
Basta olharmos para nós próprios, e os que nos rodeiam, e compreender que essa é uma questão que teria de partir do individuo para assim se tornar intrínseco ao colectivo.
É essa fase de mudança para o conjunto que me faz ter sérias dúvidas...
Digamos que há, de certa forma, uma ideia moral e social para com gerações mais idosas, mas haverá motivação real que crie acção?
Tem toda a razão, Margarida. É de facto uma altura 'interessante' para se observarem comportamentos mutantes.
Respondendo às suas pertinentes perguntas:
Penso que não é possível, mesmo que se trate de um problema.
Como mencionei no meu primeiro post é algo inato; de tal forma que se poderia incluir ou interpretar como um comportamento antropológico.
Pedimos muito de nós próprios e acabamos vergados pelo peso de valores morais e do que romanticamente interpretamos como o correcto. O problema é quando essas exigências colidem com a nossa natureza egocêntrica.
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