Na mesa ao lado, um casal acabara
de se sentar e de pedir dois cafés. Subitamente ela levanta-se para chamar alguém
que tinha acabado de entrar na cafetaria. Há muito que não se viam, mas
cumprimentaram-se como amigas de sempre, o tempo não tinha feito distâncias.
Sentaram-se os três à conversa.
Elas tinham sido colegas numa empresa logo após a licenciatura. Falaram
rapidamente sobre esse passado.
M – O que é feito de ti, L ?
L – Olha, estou no skype.
M – Mas agora trabalhas nessas tecnologias? Mas que mudança tão grande, não te fazia engenheira.
L – Sim, estou especializada em skype. Já vais perceber. É a forma que tenho de estar com o meu marido e os meus filhos. Lembras-te do Adelino? Trabalha em Bruxelas, não consegue regressar, aqui não há hipótese. Isto está péssimo. A nossa filha mais velha fez economia, foi fazer uma especialização nos EUA, casou e por lá ficou, tem duas miúdas pequenas. O meu filho do meio acabou o curso de farmácia há mais de um ano, cá não encontrou nada de jeito, ainda trabalhou no marketing de uma cosmética mas pagavam mal e estava a desactualizar-se, aceitou um emprego numa empresa farmacêutica na Alemanha, vieram cá fazer o recrutamento, foi-se embora antes do Verão. Está contente. A nossa outra filha está em Itália a fazer um mestrado em turismo. Não quer regressar porque sabe que aqui não tem oportunidades. Como é boa aluna e muito comunicativa, gosta do que faz, já recebeu algumas ofertas. Vai fazer um estágio no próximo ano, se tudo correr bem, no México. Entretanto arranjou um namorado, um rapaz italiano.
P – E tu estás a trabalhar?
L - Tenho uns trabalhos, mas nada fixo. Nem posso, porque passei a ter que viajar mais vezes, tenho casa em várias partes do mundo. Se não fosse o skype, estão a ver como estávamos todos.
M – E tens a possibilidade de juntar a família?
L - Muito de vez em quando, vamos rodando, mas é complicado. Mantemos a casa em Lisboa, será sempre a nossa casa. Faz-me pena que os meus filhos não constituam família em Portugal, entristece-me ver que já não podemos ser uma família normal. Bem sei que está acontecer com muitos de nós, mas não contava com uma coisa assim. Mas é melhor para os filhos, sempre estão a construir algum futuro. E vocês e os filhos?... E a conversa lá continuou, a M e o P também tinham novidades.
Qual é a família que neste momento não tem imigrantes – em especial os filhos - ou não tem situações de desemprego. Este passou a ser o padrão normal. Incluindo os skypes. O que era normal transformou-se, a normalidade passou a ser outra. As famílias "globalizadas" começam a fazer parte de uma nova normalidade. Será que esta globalização das famílias é positiva? O que podemos esperar desta nova normalidade? É boa para quem, para quê? É boa para a felicidade das famílias, é boa para o futuro do nosso país?
M – O que é feito de ti, L ?
L – Olha, estou no skype.
M – Mas agora trabalhas nessas tecnologias? Mas que mudança tão grande, não te fazia engenheira.
L – Sim, estou especializada em skype. Já vais perceber. É a forma que tenho de estar com o meu marido e os meus filhos. Lembras-te do Adelino? Trabalha em Bruxelas, não consegue regressar, aqui não há hipótese. Isto está péssimo. A nossa filha mais velha fez economia, foi fazer uma especialização nos EUA, casou e por lá ficou, tem duas miúdas pequenas. O meu filho do meio acabou o curso de farmácia há mais de um ano, cá não encontrou nada de jeito, ainda trabalhou no marketing de uma cosmética mas pagavam mal e estava a desactualizar-se, aceitou um emprego numa empresa farmacêutica na Alemanha, vieram cá fazer o recrutamento, foi-se embora antes do Verão. Está contente. A nossa outra filha está em Itália a fazer um mestrado em turismo. Não quer regressar porque sabe que aqui não tem oportunidades. Como é boa aluna e muito comunicativa, gosta do que faz, já recebeu algumas ofertas. Vai fazer um estágio no próximo ano, se tudo correr bem, no México. Entretanto arranjou um namorado, um rapaz italiano.
P – E tu estás a trabalhar?
L - Tenho uns trabalhos, mas nada fixo. Nem posso, porque passei a ter que viajar mais vezes, tenho casa em várias partes do mundo. Se não fosse o skype, estão a ver como estávamos todos.
M – E tens a possibilidade de juntar a família?
L - Muito de vez em quando, vamos rodando, mas é complicado. Mantemos a casa em Lisboa, será sempre a nossa casa. Faz-me pena que os meus filhos não constituam família em Portugal, entristece-me ver que já não podemos ser uma família normal. Bem sei que está acontecer com muitos de nós, mas não contava com uma coisa assim. Mas é melhor para os filhos, sempre estão a construir algum futuro. E vocês e os filhos?... E a conversa lá continuou, a M e o P também tinham novidades.
Qual é a família que neste momento não tem imigrantes – em especial os filhos - ou não tem situações de desemprego. Este passou a ser o padrão normal. Incluindo os skypes. O que era normal transformou-se, a normalidade passou a ser outra. As famílias "globalizadas" começam a fazer parte de uma nova normalidade. Será que esta globalização das famílias é positiva? O que podemos esperar desta nova normalidade? É boa para quem, para quê? É boa para a felicidade das famílias, é boa para o futuro do nosso país?
11 comentários:
Olá caea Drª Margarida. Então, por aqui?
;)
Das várias "coisas" quefiz nesta tarde chuvosa, procurando ocupar o tempo da melhor forma, uma delas foi reler um livro que me foi oferecido ha já algum tempo, pelo meu estimado Amigo Salvador Massano Cardoso, intitulado, Raminho de alecrim.
De entre os vários textos que o compõem, num deles, por sinal, a propósito de pobreza, idades, saúde, dignidade humana e memórias, o Meu Amigo Salvador, a dado passo, cita Schopnhauer «o mundo é um inferno e os homens são, por um lado, as suas almas atormentadas, e por outro, diabos à solta».
Mas são as almas que se atormentam, não com a finalidade de se tornar diabos, mas pela necessidade de liberdade. Porque só sentindo a liberdade, as almas, conseguem criar, conseguem gerar e depois crescer.
;)
Oh minha senhora:
Então você and a coscuvilhar as conversas das "mesas ao lado" e depois vem aqui relatar tim-tim-por tim-tim o que os outros disseram? Tenha cuidado: quem escuta de si ouve...
Que falta de nível!
Falta de nível - e já agora de inteligência pois não percebeu a mensagem do post - é chegar aqui com o intuito único de provocar.
Mas que fazer? É o risco que se corre quando se tem a porta aberta. Não é o primeiro que por aqui entra a dizer disparates. Não será o último.
Oh meu caro: Percebi muito bem a mensagem do post, não se preocupe com isso. Percebi também que a autora não hesita em relatar conversas que ouviu na mesa do lado...
Você, pelos vistos, está mais preocupado com a "mensagem" que com a boa educação. Também percebi isso muito bem...
Se o paulo tivesse realmente percebido o sentido deste post, não se teria referido à autora, nos termos que escolheu.
E não teria por diversas razões, ou motivos, um deles, porque a Drª Margarida já se achava sentada a uma mesa, quando os outros clientes chegaram e se sentaram na mesa ao lado, outro motivo será o de se ter limitado a escutar o que diziam. A isto não se pode chamar bisbilhotice, mas sim, e únicamente, capacidade auditiva.
Como a conversa relatada, versa um tema actual, preocupante e transversal a toda a sociedade, é minha opinião que devemos agradecer à autora tê.lo referido através deste texto, tendo o quidado de usar as boas técnicas de escrita, iniciando com uma introdução que nos elucida precisamente do facto de estar num local público e de ter sido testemunha ocasional da conversa que relata, concluindo, apresentando a sua opinião pessoal.
Se apesar de tudo, o Paulo continua a achar a autora bisbilhoteira e, sem nível; deixe que lhe coloque uma questão: O Paulo sabe ler?
De saber ler a interpretar vai uma longa, longuíssima distância.
E ainda maior a distância a dominar figuras de estilo.
Em pior situação fica quem mal é capaz de soletrar.
Um abraço amigo e solidário à Drª Margarida
Normal? Se fosse normal Portugal teria também imigrantes alemães, ingleses ou franceses. Ora, o fluxo é apenas num sentido. A classe média dos países periféricos são obrigados a imigrar para poderem sobreviver à onda de empobrecimento que varre os países periféricos da Europa. A mão de obra especializada dos países periféricos tornou-se o exército de reserva de mão de obra barata dos países do centro, como diria o camarada Karl Marx. Isto não tem a ver com a globalização, mas das relações de dominação estratégicas entre o centro e a periferia.
Este post constitui uma forma muito tosca de justificar o argumento injustificável e inqualificável do Dr. PPC.
Há dias ouvi um casal de namorados (assim me pareceu) numa discussão tal que me incomodou. Estava a jantar com uma colega de trabalho e o casalinho estava na mesa ao lado. Mesmo que não quisesse ouvir, tive que ouvir! Falavam tão alto! : )
E quando as pessoas estão a atender ou fazer chamadas nos seus telemóveis? Bem, aí, e se for num combóio, por exemplo, todos na carruagem tomam conhecimento do teor da conversa. Já tenho ouvido estórias muito engraçadas também.
Bem, mas focando no tema do post. A globalização de famílias, como lhe chama, não é boa nem para a família alargada nem para o país onde nasceram e viveram. Mas esta é a realidade. E ainda bem que os que não encontram emprego em Portugal (o que é o caso), tenham a oportunidade de realizar o seu sonho num outro país. O skype é um meio de comunicação indispensável nestas circunstâncias e que tanto alivia as saudades.
Abraço, cara Margarida! : )
Posso contar umas histórias mais antigas? A avó de um homem notável que conheço soube, quando o marido chegou a casa, vindo do porto, que o filho, de sete anos, estava num barco a caminho do Brasil. Chorou tempos infindos nem se ter despedido do rapaz e penso que nunca mais o viu.
Mas posso usar o exemplo da minha família.
Um dia destes estive a jantar, pela terceira vez na vida (a segunda tinha sido uns dias antes) com um filho de um primo direito meu que passou outra vez por portugal na sua volta de mais de um ano pelo mundo. O pai, meu primo direito, vi-o uma vez que veio passar uns dias a Portugal pela primeira vez. Ao meu tio nunca o vi, tal como o meu pai, o seu irmão mais próximo, nunca mais o viu desde a adolescência, um a caminho do Brasil, outro a caminho de África. Dos treze filhos da minha avó paterna é preciso descontar alguns que morreram muito novos (há nomes repetidos que os herdavam dos irmãos que tinham morrido recentemente) mas na aldeia dela ficou apenas a mais velha, a mais nova que, como é tradicional, ficou na casa materna a tratar dos pais, com o marido no Brasil, e penso que mais nenhum, uns para o Brasil, não sei se algum para a América, vários para África e vários para os cidades maiores, com visitas muito irregulares e espaçadas à aldeia e aos pais.
A diferença fundamental é que a minha avó não tinha skype, não viajava e não conhecia de todo os netos. E nunca mais viu vários dos filhos, na mlehor das hipóteses viu-os duas ou três vezes mais na vida, desde que saíram de casa. Quando a conheci, aos seis anos, e me viu a beber água perguntou-me se eu estava doente, de tal forma era distante o seu mundo do meu.
Tenho exactamente o skype ligado para o caso da minha filha mais velha aparecer por aqui.
A diferença é abissal, para muito melhor do que já foi a dureza da vida das pessoas comuns.
henrique pereira dos santos
É verdade, caro Henrique Pereira dos Santos: tudo diferente...mas tudo igual. Ou vice-versa.
D.Margarida Aguiar:
No post que acaba de nserir,o que me trouxe mais "comoção" e "lágrimas" foi quando L afirma: "mantenho muitas casas em várias partes do mundo...."
Coitados destes "SENHORES" emigrantes!
E que tristeza e raiva ao ler queixumes de tais "betinhos" que nunca souberam o que são as agruras da vida!
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