Ontem, não
gostei do triunfalismo de Seguro perante a vitória retumbante, como também não gostei do conformismo de Passos Coelho,
perante a derrota evidente. E as
conclusões de Seguro, quanto à penalização do desgoverno ou a ausência de golpe de asa de Coelho para insuflar
ânimo nos companheiros, transformaram
os discursos em comentários de politólogo de terceira apanha, dizendo o
óbvio, mas não falando no essencial.
De facto, o
PS ganhou: ganhou em votos e no número da câmaras. Mas não de forma retumbante, pois quer a percentagem,
quer o número de votantes foram inferiores aos valores de 2009. Mais relevante, não parece que o desgoverno tenha influenciado a transferência de
votos para o PS. Nomeadamente, o eleitorado central do PSD decidiu-se
maioritariamente ou pela abstenção ou pelo voto nas listas independentes próximas ou mesmo de militantes no partido, mas que foram preteridos pela
liderança do PSD. Aliás, as coligações do PSD com o CDS ou com partidos minúsculos em termos
de simpatizantes quase antigiram os 36% obtidos pelo PS. O voto
de protesto em listas de independentes por parte do eleitorado social democrata em municípios tão importantes como o Porto, Oeiras e Portalegre não foi
um voto que se juntou ao do PS contra o Governo, mas, sim, um voto contra a nomenklatura do PSD. Exemplo
claro de rejeição de candidatos mal escolhidos.
Em Lisboa, por exemplo, a
taxa de abstenção de 55,5% só é compreensível pelo “boicote” activo dos
militantes social-democratas ao candidato que lhes foi imposto. O voto social-democrata ficou recolhido e não engrossou o resultado de António Costa.
Já em Gaia e
em Sintra, o voto social-democrata dividiu-se pelos maus candidatos do partido e pelos candidatos independentes da área
social-democrata, com uma votação conjunta nos dois superior à votação no PS. De facto, o amiguismo descarado (com
excepção do Porto onde não seria fácil vetar Luís Filipe Meneses) constituiu o
pior critério de escolha dos candidatos.
Ao
contrário, em Braga e na Guarda, com candidatos bem aceites, a vitória do PSD
ter-se-á devido a uma afluência significativa às urnas dos simpatizantes do
PSD, já que a votação nestes distritos foi das mais elevadas do país.
Ganhando nos
concelhos apontados, como podia ter ganho, com a escolha inteligente e óbvia
para a liderança das suas listas dos nomes que vieram a formar as candidaturas
independentes, e tendo conquistado capitais de distrito como Braga e Guarda, substancialmente
diversa seria a imagem ontem dada pelo PSD.
Os
militantes e simpatizantes cumpriram. Os dirigentes, preferindo o amiguismo,
deitaram tudo a perder.
O PSD foi assim penalizado por culpa própria. Mas, por isso mesmo, apesar da vitória, o resultado não foi brilhante para o PS. Por isso, se eu fosse do PS, não embandeirava em arco. E, se fosse adepto do Seguro, segurava-me com toda a força.
O PSD foi assim penalizado por culpa própria. Mas, por isso mesmo, apesar da vitória, o resultado não foi brilhante para o PS. Por isso, se eu fosse do PS, não embandeirava em arco. E, se fosse adepto do Seguro, segurava-me com toda a força.
Com a crise
que atingiu os portugueses, o não ter o maior partido da
oposição concitado uma viragem essencial no eleitorado e ficar até com uma
percentagem inferior à que teve em 2009 constitui motivo para alguma apreensão. E nunca para qualquer festejo. Apesar de ter ganho, como é óbvio.