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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Portugal não cumpriu uma única meta orçamental...

1. Por extraordinário que possa parecer, a declaração em título foi hoje emitida por destacado (e simpático, note-se) porta-voz de bem conhecida agremiação Crescimentista (adiante apenas Agremiação)...

2. Tal declaração, feita poucas horas antes (?) de uma amplamente noticiada reunião entre essa Agremiação e a Troika, adquire especial relevo nomeadamente quando cotejada com o que tem sido o discurso insistentemente repetido – até à exaustão – pelos mais destacados representantes da mesma Agremiação.

3. Com efeito, esse repetido discurso tem assumido sistemática oposição a medidas de controlo ou de redução da despesa, propostas ou anunciadas pelo Governo, classificando tais medidas de espasmos neo-liberais, totalmente opostos à necessidade prioritária de criar condições para o Crescimento da economia (que condições é mistério, mas adiante)...

4. ...e esse discurso não se limita a declarar guerra a medidas de controlo/redução da despesa, pois avança também, afoitamente, propostas de redução da carga fiscal, nomeadamente em sede de IVA.

5. Assim sendo, a declaração que sentencia o incumprimento das metas orçamentais e a retórica fundamental e persistente em matéria orçamental da Agremiação são posturas claramente antitéticas, não se entendendo de todo qual delas reúne a preferência final dos ilustres Crescimentistas – se a mágoa pelo incumprimento das metas se o desejo de aplicação de medidas (e a não aplicação de outras), comprometendo ou agravando, inexoravelmente, esse mesmo incumprimento...

6. É neste ambiente de intenso mistério em relação às posições finais dos Crescimentistas em sede de política orçamental, que deverá decorrer a sua ansiada reunião com a Troika...a coisa promete ser bastante emocionante, o ambiente em redor da mesma ajuda imenso, a posição da Agremiação não podia ser mais clara, à partida...

3 comentários:

Carlos Sério disse...

"ilustres Crescimentistas"

Ao contrário do crescimento impulsionado pelas exportações, as estratégias de procura dirigidas podem ser realizadas por todos os países ao mesmo tempo e sem efeitos de empobrecer o vizinho… se muitos países em desenvolvimento logram coordenadamente ampliar a sua procura interna, as suas economias poderiam converter-se nos mercados da outra e estimular o comércio regional… Por tanto, mudar o enfoque das estratégias de desenvolvimento dos mercados internos não significa minimizar a importância do papel das exportações.
Ao adoptar uma estratégia de crescimento com um papel mais importante para a procura interna, os países devem lograr um equilíbrio adequado entre o aumento do consumo das famílias, o investimento privado e a despesa pública. O fomento da capacidade aquisitiva da população é um elemento chave neste sentido. Isto pode alcançar-se através de uma política de rendimentos, com transferências sociais específicas e planos de empregos do sector público. A criação e redistribuição de rendimentos às famílias é fundamental para esta estratégia de desenvolvimento, já que as famílias tendem a gastar uma maior proporção dos seus rendimentos no consumo, em bens e serviços produzidos na região.
(Relatório UNCTAD 2013)

Nuno disse...

Parece-me é que isto já não vai lá sem um segundo resgate. E aí, a Agremiação e o TC vão ter que assinar por baixo, por muito que lhes custe.

Tavares Moreira disse...

Caro Nuno,

Creio dever dar-lhe razão...a Agremiação e o TC acabarão, cada um à sua maneira, por "cair na real", como dizem os brasileiros...só que os danos na reputação do País e no financiamento da economia serão enormes e duradouros...
Tudo isto é uma lástima, mas que fazer perante tanta falta de responsabilidade?