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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Uma recomendável decisão

Jorge Jesus já assinou por mais dois anos.
Vamos manter o rumo.
Uff! Também nós. O tetra ao virar da esquina!...

Espanto e mais espanto!

Isto há coisas verdadeiramente espantosas para justificar a existência!...
Então não é que o Secretário de Estado da Energia informa a nação que está a iniciar "uma reflexão ao nível do planeamento energético que irá partilhar com mais membros do Governo", de forma a retirar taxa audiovisual da factura da luz?
Mas o energético Secretário de Estado não se fica pela reflexão, quer um debate sobre o magno tema. Aliás, já tem "um estudo interno sobre essa matéria, que vai dar início a um debate".
De qualquer forma, mesmo antes do início da reflexão e do debate, está em vias de chegar a uma conclusão: "estamos a chegar à conclusão de que (a taxa de televisão) se trata de um subsídio cruzado dos consumidores de electricidade para os de telecomunicações". O que "não é equitativo, não é coerente e não é eficiente", realçou Artur Trindade.  
Muito bem!
Um verdadeiro governante: reflecte, estuda, debate e conclui, logo no início da reflexão. E que conclusão! Um subsídio cruzado, imagine-se!...E, pelo singelo facto de ser cruzado, não é equitativo, nem coerente, nem eficiente.
Estou de acordo quanto a esta última qualificação. Se não é eficiente, acabe-se com ele e com o serviço a que se destina!... 
Mas isso já não quer o energético governante. Ele até gosta do subsídio, quere-o é cruzado nas telecomunicações!...
Cruzado ou descruzado, no fim ficamos com a mesma cruz. E ainda tendo que aguentar com as saloias reflexões do governante. 


"Choque eléctrico"...

Afinal a proposta do SE Energia para retirar a taxa do audiovisual da factura da electricidade não está na agenda política. Leio agora que o gabinete do MADR declarou que o governo não tem prevista nem em discussão qualquer proposta em relação à taxa do audiovisual. Mais uma descoordenação e desautorização, para variar...

Não saber estar, não saber ser

O senhor Provedor de Justiça goza de um conjunto de privilégios, entre eles a inamovilidade, como contrapartidas da sua independência. Independência que naquele específico cargo criado para a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, significa antes de tudo neutralidade no campo das disputas politico-partidárias.
O senhor Dr. Alfredo de Sousa, eleito pela AR após o PSD achar que o Professor Doutor Jorge Miranda não reunia condições para exercer o cargo, veio em entrevista à Antena 1 opiniar que deveriam ser convocadas eleições legislativas a par das autárquicas. "É a única hipótese que vejo, senão só depois de junho de 2014", entende o senhor Provedor. Mas vai mais longe na opinião: gostava de ver o que acontecia se o líder do CDS batesse com a porta, mas acredita que Paulo Portas aguenta até junho de 2014.
Na mesma entrevista o senhor Provedor de Justiça diz que o último Conselho de Estado onde tem assento “não foi importante”, porque “apenas serviu para conhecer diversas perspetivas pós-‘troika’ em termos de União Europeia". Coisa pouca, o futuro de Portugal no quadro da União na perspetiva de um conselheiro de Estado...
 
Repito o que sinto profundamente. À crise económica e financeira e à crise política latente soma-se, de mais grave, uma muito preocupante crise institucional, pois são poucos, muito poucos, os que nas principais instituições do Estado sabem estar e sabem ser. Declaro-me assim de acordo com a opinião mais certeira que ouvi de António José Seguro: o regime está em causa. Se tal como aconteceu com muitas outras no passado esta crise de regime tiver um caráter saneador e regenerador, pelo minha parte saudo-a. Viva a IV República!

quinta-feira, 30 de maio de 2013

RTP e Soares, a mesma luta!...

Vi anunciado que a RTP, serviço público, iria entrevistar, hoje à noite, Mário Soares.
Se a RTP convenceu Mário Soares de que as suas palavras eram importantes para o serviço público, explorou mais uma vez (o que não difícil...) a credibilidade e o ego de Mário Soares. Não é bonito.
Se a RTP está convencida de que as palavras de Mário Soares são importantes para o serviço público, explorou mais uma vez o público que paga o serviço e recebe ladaínha fermentada e repetida à exaustão. 
Aliás, não há dia televisivo que não a repita. 
Para além de não ser bonito, começa a ser ridículo. 

A factura da electricidade e a taxa do audiovisual...

Ora aqui está uma iniciativa positiva: acabar com o financiamento pelos consumidores de eletricidade da taxa do audiovisual que ascende este ano a 140 milhões de euros.
Uma medida que deveria ir ainda mais longe: acabar com esta taxa, que constitui  uma fonte de receita da RTP. Em que medida o Estado, ou seja, os contribuintes devem financiar o serviço público de televisão é assunto que está em aberto e que deveria merecer uma discussão séria.
Para já, o SE da Energia compromete-se a retirar a taxa do audiovisual da factura da electricidade e “deslocá-la” para outros sectores que têm relação directa ou indirecta com o audiovisual. Pois que assim seja, o facto de este assunto estar na agenda política já é positivo.
Actualmente os consumidores de electricidade não podem pagar a factura sem pagarem a taxa, são indissociáveis, não têm opção. A factura da electricidade está cheia de custos que nada têm que ver com o consumo (energia e redes). São os chamados CIEG – custos de interesse económico geral, também conhecidos por custos políticos. Pesam na factura 50%. Durante muitos anos, os governos fizeram da factura da electricidade um instrumento de desorçamentação e um saco sem fundo para aí financiar os custos das suas políticas públicas. O resultado está à vista. Um défice tarifário gigante, de que pouco se fala, que está a crescer todos os anos, que ascenderá no final deste ano a 3,7 mil milhões de euros. Uma trajectória insustentável que não vai acabar bem. Retirar 140 milhões é pouco, mas faz todo o sentido...

Acabou!

Pronto. Acabou. Desisti. Nada a fazer. Já não resta nem fé, nem esperança.
Pior ainda, nem sei se caridade.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Distraídos...

... deixámos passar sem assinalar no momento próprio os
3.000.000 de visitas ao 4R.
Aqui fica.

Apostados em que a Grécia nos deixe para trás? Parece que sim...

1. As indicações dos resultados da execução orçamental para os primeiros 4 meses do ano nos 3 países do Euro que se encontram sujeitos a programas de ajustamento mostram evoluções muito mais positivas na Grécia e na Irlanda do que em Portugal.
2. Começando pela Grécia, o défice da Administração Central foi de € 2,4 mil milhões, muito inferior ao do período homólogo de 2012 (€ 9,1 mil milhões) e bastante inferior ao esperado (€ 5,7 mil milhões).
Excluindo encargos com a dívida (défice primário) o défice cai para apenas € 300 milhões.
Este resultado fica a dever-se tanto a aumentos de receita como a reduções de despesa.
3. No caso da Irlanda, o défice global foi no mesmo período de € 6,1 milhões, inferior ao do período homólogo de 2012 (€ 7,1 mil milhões) e em linha com o projectado. Não tão positivo é o facto de as receitas fiscais terem cumprido o objectivo sobretudo à custa dos impostos pagos pelas empresas, uma vez que tanto o IVA como o IRS ficaram aquém do previsto.
4. A Irlanda prepara-se, de resto, para terminar o Programa de Ajustamento dentro de 6 meses (já cumpriu 10 avaliações, faltando duas) e prepara-se igualmente para o regresso ao mercado da dívida, apresentando nesta altura uma yield da dívida a 10 anos em trono de 3,7%.
5. E em Portugal? Aqui o cenário parece ser bem menos positivo, senão vejamos.
6. Em 1º lugar, e em grande medida graças à benemerente jurisprudência do TC, que continua fielmente ancorada á perspectiva, muito patriótica mas inteiramente fictícia, de que subsiste uma perfeita autonomia da política monetária nacional – não importa esta ter desaparecido há quase 15 anos – a despesa corrente da Administração Central voltou a subir significativamente em 2013, +5,1% nos 4 meses já corridos (+4,5% as despesas com pessoal).
7. Em 2º lugar, as receitas sobem, na sequência do forte e lamentável agravamento de impostos introduzido no OE de 2013, mas sobem apenas 2,5%, ou seja menos de metade do crescimento da despesa...
8. Em 3º lugar, a despesa primária (excluindo juros e outros encargos da dívida), em vez de crescer menos do que a despesa global como seria desejável, cresceu mais, concretamente 5,3%.
9. Em 4º lugar e como se sabe, a dívida pública ascendia no final de Abril a 127,3% do PIB, subindo fortemente em relação ao final de 2012 (123,5%); bem sei que há o equivalente a mais de 5pp do PIB em depósito no BdeP, mas no final do ano não haveria muito menos...
10. Apesar deste cenário que deveria preocupar-nos muito, o único discurso que se (já não) se consegue ouvir nos media, por parte de comentadores encartados, políticos profissionais, candidatos a autarcas, etc - com pouquíssimas excepções - subordina-se invariavelmente aos seguintes parâmetros: (i) precisamos de ais tempo para “cumprir” as metas do défice; (ii) há que ajustar para cima os objectivos do défice, quanto mais melhor; (iii) urge renegociar a dívida para pagar mais tarde e com juros mais baixos (se necessário “impondo” essas condições aos credores, é óbvio)...
11. ...e já nem falo nas propostas “meio-loucas”, como por exemplo a do muito afável Crescimentista-Mor, no sentido de reduzir o rácio de solvabilidade dos bancos nacionais (ia ser bonito, se o fizéssemos...) ou a dos Blocos variados, no sentido de abandonar o Euro, como se esta decisão tivesse um grau de dificuldade equivalente ao de tomar uma bica...parece que estamos, claramente, apostados em ficar para trás da Grécia!

Opacidades

Um mundo pouco conhecido o das personagens que aparecem sistematicamente na televisão liderando grupos de outros que formam atrás das suas costas, anos a fio com a mesma linguagem, contrários a qualquer mudança, a qualquer reforma, mesmo aquelas que a razão dita serem a garantia da subsistência dos postos de trabalho de quem as criaturas dizem representar.
Sempre me fez muita espécie que numa sociedade tão mediatizada como a nossa, na qual se passou a exigir como decorrência intocável de um menos intocável direito (dever) de informar que todo o bicho careto renuncie à sua intimidade e tudo revele ou se sujeite sem oposição admissível ao escrutínio sobre quem é, quais as habilitações e competências, o que tem e de onde lhe vem, existam duas "classes" de quem se sabe pouco dos seus membros mais influentes: a classe dos profissionais da comunicação social e a dos dirigentes sindicais. Não vale a pena falar da opacidade dos jornalistas, a explicação é óbvia. Já assume foros de enigma a falta de informação sobre quem são os omnipresentes dirigentes sindicais, o que fazem, como chegaram aqui, que filiações partidárias, a que interesses económicos estão ligados, apesar de muitos se manterem anos e anos a fio nessa qualidade de lideres sem que ninguém questione legitimidades.
Esta nota foi motivada pela leitura do oportuno "Quem é Ana Aviola?" um texto assinado por Henrique Monteiro sobre este assunto, texto que vale a pena ler. Constitui uma exceção num panorama em que a opacidade é agravada pelo desinteresse dos media em escrutinar quem, através da ação sindical, exerce um poder desproporcionado se olhado da singela perspetiva da representatividade efetiva.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Uma palavra...


Ouço o vento zangado a soprar nas minhas costas. Não o entendo, não sei o que pretende, talvez queira assustar-me. Incomoda-me aqueles longos gemidos de dor a adivinhar outras dores. O sol dança, o sol esconde-se, também não deve gostar muito daquela agitação e as árvores rodopiam num bailado sem sentido, como almas possuídas pelo demónio.
Invade-me uma sensação de enjoo, deve ser cansaço do corpo e tormenta na alma. Refugio-me em pensamentos mas não os encontro. Leio e não vejo nada. Assusto-me com as pessoas que não temem o vento. Ouço-as a semear ventos. Nunca colhem nada, nem as tempestades. Sopram ventos da desconfiança, ventos da discórdia, ventos de dores, ventos desnorteados. Eu ouço-os e sinto medo. O sono invade-me lentamente como querendo roubar-me à realidade. Alicia-me com uma breve ida ao paraíso, onde não há vento, gritos de dor e ameaças de sofrimento. Sinto um suave peso nas pálpebras. Uma agradável sensação penetra no corpo paralisando os músculos e as ideias. O vento continua a soprar. Parece-me que estou a deixar de o ouvir. Entretanto, o crepúsculo do sonho deixa-se invadir por curtas lembranças. A jovem, tímida, vem atrás de mim, e pergunta-me, posso dar-lhe uma palavra. Olho para o seu semblante e reconheço-a das aulas, uma aluna atenta, sempre atenta. Uma das poucas que resistiram até ao último dia. Faz favor. É só para lhe agradecer as suas aulas. Gostei muito. Sorri e, meio atabalhoado, perguntei-lhe, como é que se chama. Rita. Posso dar-lhe um beijinho? Sorriu, encostou a sua face e cumprimentei-a, dizendo-lhe, obrigado, foi a melhor prenda que recebi até hoje. Ao rememorar este episódio os músculos adquiriram o tónus, o cérebro despertou com alegria e o vento desapareceu como que por encanto e com ele levou as minhas mágoas e medos, ficando a saborear tão belo episódio...

Haja paciência!

"O telemóvel pode ser o instrumento ideal para dar os parabéns à família pela vinda de um novo membro. Mas em vez de ligar...o melhor é enviar uma mensagem..." 
"Cabe ao pai ser uma espécie de segurança da mãe e da criança quando começarem a chegar as visitas..."
"Nunca ir a casa ou ao hospital visitar o bébé, se estiver doente..."
Pois é, estas e outras regras são ensinadas em Cursos de Preparação para visitas a bébés, que o DN de hoje publicita logo na 1ª página, sob o título "Guia Prático para visitar bébés recém-nascidos!.
Muito bem. Não tardarão mestres bolonheses em visitas a bébés e, depois, doutorados no tema. Claro que os pós-docs virão a seguir. 
Ah! Conselho prioritário: marquem com antecedência a visita ao rebento. Pedir audiência logo de início!... 
Não, não pensem que as normas da visital cerimónia são matéria para estranhos e amigos. Não! Abrange avós, tios e tias.
Fica o bébé liofilizado. Os laços o que é que interessam, se a família nada interessa ao bébé?
    

Todos ganham...

Há ainda pouca informação sobre esta iniciativa do governo italiano que se apresenta à partida inovadora, que pretende atacar o problema do desemprego jovem, conciliando interesses dos mais velhos e dos mais novos, entre eles. Lá como cá os números do desemprego são assustadores e o desemprego jovem atinge níveis insustentáveis. Segundo a notícia o plano terá capacidade para integrar 500 mil jovens.
A ideia é criar uma “transferência geracional” que permite abrir novas oportunidades para os mais jovens e, ao mesmo tempo, acautelar a reforma gradual dos trabalhadores mais velhos. Uma iniciativa que reconhece as mais-valias dos trabalhadores das gerações “grisalhas” – a experiência e o conhecimento acumulados – e a necessidade de as aproveitar e de as combinar com a formação e a frescura e energia das gerações jovens.
As empresas poderão refrescar os seus quadros de pessoal, melhorar a produtividade, sem prescindir do conhecimento e cultura transportados pelos trabalhadores mais velhos. Abrem-se oportunidades aos jovens de entrarem ou regressarem ao mercado de trabalho. A sociedade e a economia agradecem, ganha-se em coesão social, ganha-se em geração de riqueza e no retorno do investimento realizado na qualificação dos jovens. A introdução da reforma gradual corrige também o “efeito de guilhotina” que acompanha a passagem à reforma.
A “transferência geracional” aprovada pelo governo italiano demonstra que há espaço para políticas amigas da economia que favorecem a solidariedade geracional. Custam muito dinheiro, mas não as ter é ainda mais dispendioso. Os resultados não serão imediatos, mas sem investir no presente não é possível ter um futuro diferente...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Um caso real estudado no IESE

Um dos casos de estudo da Harvard Kennedy School apresentado no IESE Business School, no programa Driving Government Performance pelo prof. Bob Behn foi o da Homestead Air Force Base e da organização da 31st Tactical Fighter Wing (TFW), uma unidade de uma base militar destinada a treinar pilotos da Força Aérea americana. Quando o coronel Gordon foi dirigir a TFW, esta tinha sido objecto de uma reorganização destinada a reduzir custos através da concentração de competências, ficando os aviões em "pool" e os serviços de manutenção e fornecimento de peças como serviços centralizados. O coronel encontrou uma total desmotivação e um nível decrescente de produtividade. Reorganizou a unidade em equipas, que ficaram associadas a um ambicioso objectivo de qualidade na formação de pilotos e a metas exigentes para cumprir o objectivo. As metas anuais, medidas em número de descolagens e aterragens de cada avião e do respectivo piloto (sorties), foram divididas em metas mensais e a equipa que as cumprisse teria um dia de folga extra.Todos concordaram com as metas e tudo parecia correr bem, os pilotos voavam, os aviões estavam todos operacionais, com as equipas de manutenção envolvidas no objectivo do "seu"avião mas, ao fim de uns meses, as metas começaram a ficar aquém do estabelecido por razões que não tinham sido previstas na fixação do número de voos mensais, como o estado do tempo ou as alterações de circunstâncias nas escalas. Para recuperar o atraso e alcançar as prometidas folgas, as equipas começaram a facilitar nas regras de segurança, a encurtar os tempos de treino e em breve o comandante percebeu que algo estava a correr mal. Atingiam-se os valores estipulados mas era visível que a missão essencial - o treino de qualidade - não era cumprida e, o que era pior, corria-se o risco de haver um desastre grave. Em breve o comandante teve que tomar uma de duas decisões: ou revia as metas fixadas, ficando mal visto perante os superiores com quem se tinha comprometido, ou se deixava descansar pelos números das "sorties" apresentadas nos relatórios, que iludiam o deficiente cumprimento do essencial. 
Que lhes parece que fez o comandante Gordon?

Mais importante notícia económica...nem foi notícia, o estado a que chegamos...

1. Soube-se, na última 5ª Feira (Boletim Estatístico do BdeP, Maio), que a Balança Corrente com o exterior no 1º trimestre de 2013 fechou virtualmente em equilíbrio (défice de € 22 milhões), que compara a um défice de € 1.780 milhões no período homólogo de 2012 e a défices muitíssimos mais elevados que este último no 1º trimestre de 2011 ou de 2010.
2. Trata-se da confirmação da mais importante viragem estrutural no desempenho da economia portuguesa, que em pouco mais de 2 anos consegue passar de défices correntes anuais superiores a 10% do PIB para uma situação de mais do que provável superavit em 2013.
3. E uma viragem cujo ritmo ultrapassa mesmo as previsões oficiais: basta recordar que no Documento de Estratégia Orçamental, recentemente divulgado, era ainda assumido um défice corrente de 0,3% do PIB (qualquer coisa como € 500 milhões) para 2013 quando, pelo valor registado no 1º trimestre, em 2013 se deverá registar já um superavit apreciável...
4. Adicionalmente, este dado reforça a probabilidade de acerto da última previsão do BdeP que apontava para superavits de 2,8% e de 3,6% do PIB, respectivamente, para as Balanças de Bens + Serviços e para as Balanças Corrente+Capital, em 2013.
5. Uma análise da reputada empresa de informação económica Capital Economics, divulgada na semana passada, mostrava que o ajustamento das contas externas nos três países do Euro sujeitos a programas de resgate financeiro, tinha a seguinte explicação (dados até final de 2012): caso da Irlanda, 100% em resultado do aumento das exportações; Portugal, 50% em resultado do aumento das exportações e 50% da queda das importações;  Grécia, 100% pela queda das importações.
6. Como já aqui tenho referido, esta mudança radical de desempenho da economia portuguesa tem de ser levada fundamentalmente a crédito de um extraordinário esforço de reconversão do sector empresarial privado – empresários e trabalhadores – que não têm poupado esforços e sacrifícios para conseguir sobreviver e ultrapassar as imensas dificuldades para  que o País foi arrastado fruto, não exclusivamente mas em 1º lugar, do horrível "trabalho" de uma classe política irresponsável e incompetente...
7. ...e deveria constituir um formidável exemplo para o imenso exército de comentadores encartados que, com pouquíssimas excepções, não fazem outra coisa que não seja entregar-se a jogos florais deletérios, intoxicando a opinião pública e lançando a mais completa confusão um País à beira de um ataque de nervos...
8. E deveria ser também um enorme exemplo para uma grande parte da classe política que continua obstinadamente empenhada num exercício de baixa política, contribuindo para a infecção da opinião pública e para dificultar a vida aos que continuam a apostar no trabalho...e para os profissionais da greve que, em atitude diametralmente oposta, acaham que a melhor forma de enfrentar as dificuldades consiste em baixar, deliberadamente, os braços...
9. ...e até, como o devido respeito, para os senhores juízes do TC, que ainda não conseguiram entender o que verdadeiramente se passa na economia portuguesa, aplicando princípios constitucionais com base numa avaliação inteiramente fictícia da economia do País (a começar na subsistência do Escudo)...
10. Resta dizer, para terminar, que esta importante notícia...nem foi notícia, não tendo merecido a mais leve atenção dos esplendorosos media...sem qq surpresa, claro, no estado a que chegamos!

Indignidade e hipocrisia!...

Mais uma versão nos cortes das pensões do Estado: agora, é a partir de 600 euros por mês. 
É indigno o que o Governo anda a fazer.
Nuns dias, a CES é para manter; noutros dias, é para acabar. No intervalo, é para acumular com uma TSU dos reformados. Logo a seguir, nem uma, nem outra. Para depois ambas serem substituídas por cortes, agora sem nome. Cortes, simplesmente.
O Governo joga com palavras. Umas acabam com o imposto, outras fazem-no renascer sob denominação diferente. 
Compreendemos a inevitabilidade dos sacrifícios.  Mas, em nome da dignidade, já não do Governo, mas dos súbditos, deixem-se hipocrisias e expliquem-se de vez.
Ninguém aguenta viver sempre na dúvida. Nem a democracia e, muito menos, a economia. Haja alguma vergonha e também um mínimo de senso.    

Paraíso ganho...paraíso perdido

"...Não tendo alcançado salvação nos estádios da terra, ergueram a mente aos céus e contrataram Jesus como treinador.
Mas Jesus sempre lidou com os humildes, os pobres e os deserdados, que nunca frequentaram as primeiras páginas dos jornais nem as catedrais dos grandes espectáculos. Mas que sonhavam com um futuro mais garantido, porfiando no trabalho para alcançar o sonho desejado.
Jesus, ele próprio pobre e humilde, nunca lidou com os poderosos, os ricos e os repousados na sorte e nos louros dos triunfos passados.
Tendo prometido o paraíso, o que tem mais certo é ter que conviver com o inferno".
Quarta República, 30 de Junho de 2009

domingo, 26 de maio de 2013

Insultar...


Incomodam-me mas não me surpreendem os insultos que se lançam por aí. Insultar é o equivalente verbal da agressão física. Insultar revela o nível da agressividade humana. Insultar é a forma mais hedionda e miserável de destruir quem quer que seja. Insultar chega por vezes a ser equivalente a um homicídio moral. Insultar é um passatempo para muitos. Insultar diverte os fracos de espírito. Insultar é transformar a palavra num punhal sujo. 
Incomodam-me mas não me surpreendem os insultos. Incomodam-me os insultos seletivos provenientes de mentes que se atrevem a pensar e a parir pensamentos, recordando que são, também, seres criativos, surpreendendo-me com as suas máximas moralistas, máximas que escondem alguma inquietude. 
Cedo aprendi as palavras e as frases da vida, tradutoras de raiva, de ódio, de mesquinhez e de desprezo, frases e palavras para ofender, para destruir, para apunhalar, para desprezar e para derrotar. Muito cedo as ouvi da varanda da casa da minha avó, quando as mulheres nos Aldogrãos, onde iam lavar a roupa, se punham a insultar umas às outras. Sua puta, seu coirão, cabra, o teu homem é um cabrão, só para dizer as mais corriqueiras. Quase sempre acabavam aos gritos e, até, em lutas violentas, em que as palavras e os corpos se fundiam na pureza do insulto e do palavrão. Mas não era só ali, na estação de caminhos-de-ferro, os carregadores, muitas vezes já tocados pelo vinho, e não era preciso esperar pela tarde, faziam uso acelerado de outras palavras, mais masculinas, mas nem por isso menos ofensivas. Foi fácil e rápido o enriquecimento do meu léxico. Fácil de mais. Claro que a sua aplicação prática valeu-me sensações de calor e dor nos respetivos sítios, sobretudo a nível das pobres nádegas, mas, de quando em vez, também ficava com dores de dentes de origem exógena, ou com a sensação de estar com frieiras nas orelhas no pico do verão. Isto para falar na parte física, porque a auditiva não ficava atrás, o pobre do bichinho do ouvido ouviu das boas, quase que ia ficando surdo! Respeito, meu rapaz, respeito, se não tiveres respeito pelos outros não prestas para nada, acabas por ser um borra-botas, um cretino, um imbecil. Meu deus, o que ouvi e o que sofri!
Incomodam-me os insultos que se fazem a certas pessoas, mas não me surpreendem. Tudo aponta para que o insulto se institucionalize como uma manifestação do direito à liberdade. Porra! Eu nunca tive direito à liberdade para dizer asneiras e insultar quem quer que fosse. Porra! Claro que era o tempo do fascismo. O tempo em que não havia liberdade, o tempo em que o insulto era punido e a asneira reprimida, não nos tribunais, não nos jornais, não chegavam lá, mas em casa e na escola. Agora não. Vive-se em liberdade, logo, podemos insultar, não com as palavras que aprendi nos Aldogrãos ou na estação, mas com as aprendidas nos salões, as provenientes da elegância intelectual e da criatividade dos eruditos. Mesmo assim incomodam-me os insultos, mas não me surpreendem. 
Puta de sorte a minha...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Os professores da greve

Os professores das greves anunciam mais uma greve dos professores. Vários dias, e por atacado. Nada de estranho. Em vez de profissionais do ensino, começamos a ter profissionais da greve. Claro que em defesa do ensino e dos alunos. 
Se estes não tiverem exames, tanto melhor. Folgam alunos e professores.
Dever cumprido, na defesa da sagrada escola pública, que tanto proclamam.  

Cada vez mais "burros"...

Os investigadores procuram conhecer e interpretar os fenómenos, mas não ficam por aqui, por vezes também gostam de criar novos “fenómenos”, talvez para contestar ou para provocar certas ideias ou princípios. Mesmo que não correspondam à verdade, pelo menos são gratificantes em termos de imaginação e de distração, o que já não é mau.
Como andamos a fazer tantas asneiras, sobretudo no último século e meio, não me admira que tenham despertado o interesse em saber se estamos ou não mais burros. Não sei se foi esta a ideia base do estudo que pretendo analisar, mas se não foi, podia ter sido!
Ler que a inteligência humana está a diminuir desde a época vitoriana chama a atenção. Como? Estamos a ficar mais “burros”? Os autores explicam que através do tempo de reação visual é possível chegar a essa conclusão. Na parte final do século XIX o tempo médio era da ordem dos 194 milissegundos, agora passou para os 275. Sem entrar em profundidade nos aspetos técnicos, os autores afirmam que as causas têm a ver com o facto das mulheres inteligentes terem menos filhos, vivermos em sociedades muito fortes, em termos de suporte social, haver maior disponibilidade alimentar e diminuição ou ausência da seleção genética. Feitos os cálculos concluíram que o quociente de inteligência diminuiu 14 pontos em média, o que pode transformar um “normal” num “débil mental”. Mas a par deste estudo, existem outros que apontam o oposto. Desde os anos trinta do século XX o quociente de inteligência tem vindo a aumentar, aumento esse explicado pelo “efeito Flynn”, em que entram em jogo vários fatores, melhor educação, melhor higiene, diminuição da endogamia e melhor nutrição, ou seja, graças aos fatores ambientais. Afinal como podemos interpretar esta aparente contradição, está a aumentar ou está a diminuir? A diminuição da inteligência joga neste estudo com os fatores genéticos, intrínsecos, enquanto o aumento tem a ver com aspetos ambientais. Dizem os autores que estes últimos podem mascarar a diminuição genética da inteligência, pelo que se poderá concluir que o fenómeno seria muito mais grave.
Não vou ligar muito ao estudo. De qualquer modo, não deixa de provocar algumas reações. A mais contundente tem a ver com as mulheres mais inteligentes terem menos filhos e as “menos” terem mais. Se isto tem impacto no fenómeno em causa terá de ser muito bem estudado no futuro. Mas por que carga de água as mulheres “mais inteligentes” têm menos filhos? Presumo que a carreira académica está em primeiro lugar, depois dão prioridade à carreira profissional e quando se “lembram” de terem filhos já estão um pouco “velhotas”, não conseguindo engravidar ou ficando apenas por um. Quem sabe se a “superior inteligência” não as leva, também, a não terem filhos face à crueldade do mundo com todas as suas vicissitudes e incongruências, poupando-os ao sofrimento? Não esquecer que existem correntes femininas por essa Europa que defendem não ter filhos, o que contraria uma das mais poderosas forças da nossa espécie, o instinto da maternidade. Por este andar ainda acabo por acreditar que estamos mesmo a ficar mais “burros”...

Escritos sobre Segurança Social - II

Uma recomendação que não é nova. Há já muitos anos que instituições como a OCDE têm vindo a chamar a atenção dos governos para a necessidade de tomarem medidas para diversificar os sistemas de pensões, seja através de pilares múltiplos de financiamento, seja complementando os regimes públicos com regimes privados, de iniciativa empresarial e iniciativa individual. Uma recomendação que também chama a atenção para a prioridade de os sistemas públicos de pensões salvaguardarem pensões dignas, que garantam níveis de vida decentes.
Por cá, teimámos em “colocar todos os ovos na mesma cesta”, colocando as pensões na dependência excessiva do Estado, com os resultados que estão à vista: agravamento dos riscos de injustiças sociais, especialmente em relação à classe média e às gerações mais novas - as quais estão e irão continuar a pagar uma elevada factura perante a inevitável ruptura financeira do sistema de pensões – mas também aumento das dificuldades de reduzir desigualdades sociais e a pobreza perante a reforma. Aspectos aos quais a Segurança Social deve dar prioridade.
O Estado não adequou o seu papel à nova realidade demográfica e económica e à herança do sistema de pensões existente. Essencialmente, o Estado não introduziu a partilha de responsabilidades e riscos na formação das pensões e não limitou as suas obrigações, continuando a prometer o que não pode dar, viciando-se num ciclo doentio de criar e frustrar expectativas, originando iniquidade na repartição do esforço financeiro e na repartição dos direitos entre gerações.
É necessário quebrar este ciclo vicioso, o que passa por o Estado deixar de prometer o que não pode dar e incentivar as pessoas a participarem mais e por mais tempo na força de trabalho e encorajar as pessoas (e as empresas) a pouparem para a reforma. Ou seja, as pessoas devem participar activamente na construção da sua reforma, as pensões a receber por cada um serão função do capital acumulado das suas contribuições sociais e da sua poupança, ou seja, estarão dependentes do seu esforço e do desempenho da economia e reflectirão a evolução demográfica.
Esta mudança de paradigma implica um quadro de estabilidade e previsibilidade das políticas sociais e fiscais. Ora, há muito que estes valores se perderam nas políticas fiscais e regulatórias. A instabilidade destas políticas é um problema crónico do nosso País, que mina a confiança dos agentes. Esta actuação sinaliza, também, uma falta de visão estratégica por parte do Estado, quando dele se espera a capacidade de, juntamente com a sociedade civil, criar um quadro favorável à poupança para a reforma. Já não se trata de uma opção, mas sim de um imperativo.
O Estado não deve atrapalhar e dar sinais contraditórios sobre a necessidade de poupança para a reforma. A actuação do Estado tem sido, neste particular, tudo menos coerente. São muitos os exemplos, desde a “nacionalização” de fundos de pensões (que acrescenta mais responsabilidades públicas com pensões que os contribuintes vão ter que financiar no futuro), as políticas fiscais avulso e ziguezagueantes ditadas pelas conjunturas orçamentais e a intervenção monopolista do Estado que promete pensões, ao mesmo tempo que lhes vai ditando a redução porque não tem como as pagar. A este propósito veja-se o caso da recente “contribuição extraordinária de solidariedade” estendida às pensões e rendas vitalícias provenientes de fundos de pensões e seguros resultantes de património acumulado de poupança privada para a reforma efectuada pelos seus beneficiários. Como passar do plano das recomendações para o plano das acções?

As Presidentas carentas!...

Depois da distintíssima Pilar del Rio, que insiste ser Presidenta, a inefável Roseta, Helena, também aderiu à moda.
É chiquíssimo e muito de esquerda feminista emancipada. Presidenta é o que está a dar!...
E não tardará o português politicamente correcto.
"A candidata a presidenta comporta-se como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta".
(texto que circula na blogosfera)
E, assim contentas, deixam de estar carentas. 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Uma notável posta de prosa

Da Helena Matos, no Blasfémias. A não perder.

Taxas de juro da dívida continuam a cair...comentadores desesperam...

1. Continuam a baixar as taxas de juro implícitas na cotação da dívida pública portuguesa (yields) nos diferentes prazos:

- Para os 5 anos, a taxa está já próxima de 3,9% (compara aos 4,891% da emissão de dívida neste prazo realizada em Janeiro último);

- Para os 10 anos, cota em torno de 5,2%, comparando aos 5,669% da dívida de € 3 mil milhões colocada há poucas semanas e que assinalou o regresso da República ao mercado das emissões de longo prazo depois de mais de 2 anos de ausência forçada.

2. Trata-se de níveis mínimos de juros de há quase 4 anos (ouseja dois anos antes do ruidoso colapso do delirium socrático), confirmando a ideia que aqui deixei já vincado em diversos Posts: a percepção de um menor risco por parte dos investidores - ou mercados, numa versão mais liberal - fruto de circunstâncias externas, em especial a forte redução do chamado “tail-risk” da zona Euro e de circunstâncias internas, nomeadamente a impressionante eliminação do défice das contas com o exterior.
3. Parecem assim estes investidores/mercados estranhamente indiferentes à paranóia política em que o País se acha mergulhado em grande parte graças (i) aos exercícios delirantes, reiterados e insistentes de uma multidão de comentadores encartados, em desesperada necessidade de audiência, que profetizam desgraças a todo o minuto, bem como (ii) ao dedicado esforço de uma vasta elite de vendedores das ilusões de crescimento e de emprego, que anatematizam a dita política de Austeridade (Austerismo para os mais cultivados)...
4. É caso para dizer que tanto comentadores como vendedores de ilusões têm bons motivos para desesperar...não lhes dão ouvidos, não há direito! 

terça-feira, 21 de maio de 2013

Banco vazio...



Um dia como qualquer outro, um dia que quer obrigar-me a descansar à força, um dia sem calor, um dia a convidar à tristeza, um dia como qualquer outro ou talvez não. Um passeio curto, outra vez o mesmo passeio. Passo inúmeros vezes pelo mesmo sítio e não vejo o que queria ver. Vi agora. Um impulso de momento. Adoro os impulsos de momento, habitualmente levam-me à descoberta de algo, ou, então, é esse algo que me quer descobrir. Eu sei que é uma estranha forma de entendimento, talvez um diálogo de sentimentos ou o meu perene desejo de encontrar novas emoções, antes que me gaste, antes que me fujam, antes que desapareça.
Nesse dia andaram à solta vários santos. Também têm direito a um passeio, mesmo que curto, é a sua forma de descansar e de divertir.
A capela estava fechada, mas através das vigias foi possível visualizar alguns santos, pequenos, a ladear um mais alto e aparentemente mais atraente, um São Sebastião. Coitados, andam os "irmãos" a passear aos ombros do pessoal e estes aqui enclausurados. Porquê é que não os vieram buscar? Os outros não estão longe. Isolados, tristes, porque decerto ouviram o repicar dos sinos, os trovões dos foguetes, as harmonias musicais da banda e o barulho das fanfarras, amplificados pelo eco e pela altura do pequeno morro, mereciam ter ido à festa. Pode ser que também tenham a sua festinha e, neste caso, não convidam os seus vizinhos. Não sei. Não me parece. Mas tricas de santos é matéria em que não me vou meter. Olhei para o lado e o banco, vazio de momento e vazio no tempo, contemplava o espaço abrangente e os céus em redor. Falava numa voz silenciosa, braços esticados, pernas dobradas, cabeça ligeiramente inclinada para o dorso, narinas ofegantes e boca semiaberta de algum espanto perante aquele pormenor que nunca tinha sido observado. Apercebeu-se da minha presença e, esperançado em oferecer os seus préstimos, convidou-me, reiteradamente, a sentar, como se fosse uma velha solitária desejosa de meter conversa com alguém que pudesse ouvir e partilhar as dores, as emoções e as alegrias de uma estranha existência. Ainda me aproximei, as flores silvestres cresciam em seu redor como gatos a roçarem as pernas da dona. Soltas e livres. Ouvi o banco a perguntar-me, com um sorriso simpático de velha solitária, não te sentas? Não, respondi silenciosamente. Porquê? Um porquê arrastado e meio triste. Porque não quero pisar as tuas flores. Olhou-as e replicou de costas voltadas para mim, são lindas, não são? São.
Ele não sabe, mas um dia destes vou-lhe fazer uma surpresa. Depois podemos continuar a nossa conversa silenciosa. Apenas o abelhudo do São Sebastião e os seus comparsas poderão ouvir, mas esses são discretos.
Nunca dizem nada, apenas ouvem...

O Conselho de bruços analisa e entende

O Conselho debruçou-se sobre os desafios…
O Conselho analisou a instituição dos mecanismos de supervisão... 
O Conselho debruçou-se igualmente sobre a perspetiva do reforço da coordenação das políticas económicas…
O Conselho entende que o programa de aprofundamento da União Económica e Monetária deve criar condições…
Todos de bruços, mas bem entendidos, pois! Assim é bonito. 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Bíblico


«Então os chefes dos sacerdotes e os fariseus convocaram uma reunião do Sinédrio.
  - “O que estamos fazendo?”, perguntaram eles.
  - “Aí está esse homem realizando muitos sinais milagrosos"».

João 11:47

"Crise de regime"

Muito oportuno e esclarecedor este post do Margens de Erro de Pedro Magalhães.
Independentemente da perceção que nos é dada pelos estudos, já não é só o sistema de governo, enquanto componente do regime, que vem sendo posto em causa. Menos pelas opiniões e mais pelos resultados do seu objetivo funcionamento e pela falta de confiança nas instituições da Democracia, sente-se no ar, e desde há muito, uma inequívoca insatisfação em relação a quase todas as componentes do regime, na sua essência constituído em 1976.  É também o sistema de partidos que afasta os cidadãos de níveis mínimos de confiança atenta a continuada geração de criptoclientelas, situação que nada nem ninguém parece ter a capacidade de alterar. É também o sistema eleitoral posto em causa pela interpretação conveniente de leis que o Parlamento se recusa a clarificar, remetendo para a função jurisdicional o que pertence à função política fazendo perigar o basilar princípio da separação de poderes; ou que não facilita a tradução em mandatos de uma realidade política que está longe de se esgotar nas alternativas que os atuais partidos políticos oferecem. É, finalmente, uma crise institucional. E grave. Nunca no passado se assistiu a tanto desgaste da imagem das principais instituições do Estado. Não falo só do Governo, refém dos calculismos partidários que o desgastam e o descredibilizam. Refiro-me, por exemplo - e para não por mais na carta - ao espetáculo dos últimos dias protagonizado por alguns membros do Conselho de Estado, afinal o órgão de consulta daquele que tem o papel constitucional de assegurar o regular funcionamento das instituições...
Crise de regime, sim senhor.

Um País das Arábias!...

1. Um velho amigo, habitualmente bem informado, fez-me chegar, no fim-de-semana, um e-mail com informação muito curiosa: os efectivos da C.M. Lisboa em diversas categorias técnicas.
2. Com a ressalva de não me ter sido possível confirmar, por fonte oficial, a veracidade e rigor desta informação, mas tendendo a crer que a mesma não enferme de vícios graves, aqui deixo o respectivo conteúdo:
- Arquitectos: 330
- Assistentes Sociais: 101
- Psicólogos: 73
- Sociólogos: 104
- Licenciados em marketing: 146
- Eng. Civis: 260
- Historiadores: 156
- Juristas: 303

3. Atenta-se nestes números e PASMA-SE: para que são necessários 330 arquitectos, 146 licenciados em marketing, 156 historiadores e 303 juristas ao serviço da C.M. Lisboa? O que poderá justificar um empolamento tão irracional dos quadros de pessoal de uma entidade pública, em qq altura mas sobretudo em tempos de tanta dificuldade como aqueles que vivemos?
4 Quadros que, para além dos vencimentos religiosamente pagos todos os meses - ao contrário das empresas privadas que tantas vezes não conseguem assegurar esse pagamento - ocupam espaços, utilizam equipamentos, fazem gastos em consumíveis, em comunicações, em energia, cafés, jornais, revistas, etc?
5. Ocorre perguntar o que não se passará por esse País fora, em matéria de excesso dos quadros de pessoal, de sub-actividade ou mesmo inactividade dos respectivos serviços – nas Câmaras Municipais e não só – nomeadamente os famosos gabinetes de urbanismo, numa época em que as obras de construção se encontram reduzidas a quase nada?
6. Esta situação, aberrante e alarmante, justifica pelo menos mais 5 interrogações:
- Porque motivo os comentadores, catastrofistas de um modo geral, sempre prontos a zurzir o Governo e os credores externos por causa da famosa Austeridade, silenciam totalmente este tipo de situações, aceitando-as como boas e oferecendo-lhes a sua cumplicidade?
- Quem paga isto (pergunta ingénua)? Alguém se preocupa com o facto de as actividades verdadeiramente produtivas do País e que ainda o mantêm a flutuar – e nós, os “legionários” do IRC, que trabalhamos no dia-a-dia de empresas que não podem dar-se a estes luxos sob pena de desaparecerem – estarem sobrecarregadas de impostos para financiar estas irracionalidades?
- Como entender que todo um cortejo de comentadores políticos, Crescimentistas bandeirantes e outros, continuem incessantemente o seu clamor contra a austeridade e as suas terríveis consequências, exigindo que a Alemanha e outros credores se prontifiquem a financiar, até ao infinito, estas irracionalidades? Porque ocultam sempre a verdade sobre a raiz dos problemas financeiros e económicos que afligem o País?
- Como avaliar a jurisprudência do TC, quando invoca os princípios da igualdade e da proporcinalidade na avaliação do tratamento remuneratório entre sectores público e privado? 

7. Este é, realmente, um País das Arábias!
 

domingo, 19 de maio de 2013

Mais uma réstea de azul!

Uma bela réstea de azul!...
Parabéns aos vencedores. E aos vencidos. Não há jogo sem uns e outros.

Locais sagrados...


Tudo tem uma explicação, tudo tem um nome. Conhecer a origem das coisas ou o porquê do nome seduz qualquer um. Às vezes é fácil, existe documentação ou elementos que expliquem os factos ou as designações, outras vezes não é possível o que leva a investigar a origem. Mesmo que a investigação não corresponda à realidade pode ser sempre fonte de um novo mito. Os próprios mitos ou lendas são, por vezes, usados para lá chegar. É uma área das mais adoráveis, misturar lendas e investigação, criando e recriando novas verdades e interpretações.
Diz o investigador que as aberturas de todos os dólmenes do vale do Mondego estão viradas em direção à serra da Estrela. Quando foram construídos, há seis mil anos, a estrela Adelbaran, grande, tremelicando como só um coração do universo sabe fazer, enviando uma luz avermelhada, nascia por detrás do maciço rochoso convidando os homens e animais a beberem a vida que brotava naquele majestoso altar. O sentido religioso do homem compreendeu que o sagrado se deve pagar com o sagrado, o que fez com que construíssem os seus monumentos em locais tão belos e suaves.
Conheço alguns desses locais, próximos e remotos, autênticos portais do tempo, estranhos altares que nos ensinam a agradecer a vida e a beleza, uma simbiótica relação que devem ter descoberto há muito. O silêncio aquece a alma, o ar é o mesmo, os espaços circundantes não devem ser muito diferentes aos nossos olhos, os deles e os meus, e as pedras aquecidas pelo sol do verão devolvem o mesmo calor provocando sensações idênticas. Tudo em redor se move num silêncio adorável, as cores são as mesmas, sentaram-se nos mesmos locais, falaram, comeram e amaram naqueles templos naturais. Não os ouço, mas não é difícil adivinhar as suas presenças. Busco-os sempre que posso, e quando não posso tenho a solução, para isso basta-me recordar as sensações que têm produzido ao longo do tempo. 
É o que estou a fazer neste momento, viajar no tempo próximo e no tempo remoto, o meu tempo e o tempo deles, nos mesmos locais, sagrados, templos, onde consigo compreender o sentido da vida acasalado com a beleza. 
Locais sagrados, com nomes, com significados, convidando à criação de novas lendas que permitam perpetuar a vida e a beleza. É isso, o único sacrifício que pedem é um nome e que os perpetuemos em lendas, afinal, o seu equivalente a vida e beleza...

sábado, 18 de maio de 2013

Um céu azul e branco

Com as mãos, com os pés e mesmo com patins, o fogo do dragão mostra um enorme apetite pelo vermelho. 
Mas, vencedor ou vencido, merece os parabéns quem chega ao último combate.
O céu tem sido azul e branco. E o inferno bem vermelho.  

Confiança e Economia- Investidores e Consumidores II

Desde 2011 houve 65 mudanças que subiram os impostos, IRS, IRC, Impostos indirectos, Taxas, Taxas extraordinárias, etc, agravando a carga fiscal das famílias e das empresas do País.
Se se pode compreender que havia que minorar, também pela via fiscal, a pesada herança do défice público estrutural deixado por Sócrates, já a contínua e imparável escalada dos impostos e a incerteza que daí resulta para os agentes económicos constituem dos mais poderosos factores da crise em que mergulhámos. E as declarações dúbias e os desmentidos permanentes do que se disse ou não disse e sobre o que se quis ou não quis dizer mais agravam a situação. 
É que ninguém investe na incerteza de haver consumidores e ninguém consome na dúvida do que vai receber nos meses seguintes. 
Mas é assim que vamos vivendo. Mal!     

Pão...


Por vezes, ao ler certas coisas sou obrigado a associá-las a experiências já vividas e até tentar encontrar justificações para certos comportamentos. Coisas simples, mas a simplicidade é a mãe da descoberta e da inovação.
Quem diria que viver na vizinhança de restaurantes de "fast food" constitui um fator de risco para ter um índice de massa corporal elevado. Foi o que os investigadores "descobriram" em negros norte-americanos com baixo poder de compra. É evidente, pensa o leitor. Pois, pode ser evidente, mas é preciso estudar o fenómeno que, neste caso, está em relação com o raio da distância onde ficam estes restaurantes. Então, os que estão num raio de meia milha estão "tramados". Só os que vivem para lá de um raio de cinco milhas estão a salvo! As explicações são interessantes. Maior acessibilidade, alimentos mais baratos, menos tempo no intervalo do almoço e dificuldade em usar transportes são as mais importantes. Aqui está mais um "fator de risco" de obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e de cancro. Enfim, nada que surpreenda, poderão pensar.
Sendo assim que tal começarmos a fazer estudos semelhantes, analisando a proximidade e o nível económico, que está a descer abruptamente, entre certos estabelecimentos e patologias? Igrejas, tabernas, sedes de partidos políticos, bombeiros, estádios de futebol, mercearias, retretes públicas, quartéis da GNR, tribunais, hospitais, ministérios, parlamento, apenas para dar algumas sugestões. Às tantas éramos capazes de encontrar interessantes associações. E depois? Depois, dávamos trabalho a novos especialistas em ordenamento urbano. Faziam-se cálculos e os responsáveis acabariam por colocar a uma distância bastante razoável muitas dessas unidades de forma a não fazerem mal ao pobre cidadão, que está cada vez mais pobre e, por isso, mais sujeito a certas influências.
Voltando aos negros norte-americanos pobres, que ficam mais gordos por viverem nas cercanias de restaurantes "fast-food", recordo o que é viver na proximidade de uma padaria. O cheiro do estabelecimento, o calor do forno, a brancura da farinha a tentar esconder-se na alvura das batas, os odores fortes e estimulantes das ripas de madeira a transpirarem resina e a permanente salivação face ao estalar do pão sorridente e provocador, levou-me à perdição. Uma perdição que hoje me penaliza, não poder fazer o que mais adorava, comer pão, pão de todos os tipos, formas e sabores, a toda a hora, pão com qualquer coisa ou pão com nada. Nada me sabia melhor do que o pão. Anos a fio a passar em frente e dentro da padaria. Retenho todos os odores possíveis, sabores inimagináveis e deliciosas ondas de calor que, sobretudo no inverno, convidavam-me a entrar para ver o forno a ser aquecido, participando no ritual do fabrico do pão, à espera da primeira fornada e do meu pão. Cuidado. Está muito quente. Não o comas muito quente porque vai fazer-te mal. Caía-me nas mãos praticamente a arder o que me obrigava a saltitá-lo de mão para mão soprando para que arrefecesse o suficiente. Quando via que tal, com três ou quatro mandibuladas, a boca era ainda pequenita, mamava-o num ápice. Oh maravilha das maravilhas. Venha lá outro. Pois é, viver na proximidade de uma padaria constitui um "fator de risco" para certas patologias. Eu que o diga. Vá lá, na altura não havia restaurantes de "fast-food", nem eu sabia o que era isso...

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Bíblico

«Estando Josué já perto de Jericó, olhou para cima e viu um homem em pé, empunhando uma espada. Aproximou-se dele e perguntou-lhe: "Você é por nós, ou por nossos inimigos?" » - Josué 5:13
 

Confiança e Economia-Os Reformados I

Não há economia sem confiança e por vezes parece que o Governo nem quer uma, nem outra.
Os reformados, mais de 3 milhões, são agentes económicos. Que confiança podem eles ter e que opções podem tomar, quando nunca sabem ao certo o que irão receber, este ano e no futuro?
Creio que nenhum reformado, com pensão acima de determinado limite, se importaria de pagar um imposto único e razoável sobre o valor da reforma. Pelo menos, ficava a saber com o que contava.
Acontece que o conjunto irracional de impostos e taxas que se abateu sobre os reformados torna esse conhecimento inacessível, mesmo aos mais conhecedores das questões fiscais. Já pagam IRS, mais uma sobretaxa de IRS, mais a CES (Contribuição Extraordinária de Solidariedade), alguns sofreram a subtracção de subsídios de férias e de Natal (inviabilizada pelo TC).
Como não bastasse, anuncia-se agora a prevista e controversa Taxa de Sustentabilidade, que não se sabe se substitui ou não a CES, nem se mantém as taxas ou as altera.
Pior, tudo isto tem dias, ou até horas, com os diversos protagonistas politicos a dizerem e a desdizerem-se, num espectáculo, no mínimo, degradante.
Sem respeito pela economia, que não pode prescindir das opções racionais de um terço dos seus agents internos.
Mas também num total desprezo pelos cidadãos, mais velhos, mas cidadãos, que ainda têm que sofrer a “sacanice” deste jogo de cabra-cega, onde tudo se lhes se esconde, até o poderem fazer as contas daquilo que podem contar.

Desenganados

A desconfiança não surge, muitas vezes, do facto de termos sido enganados, mas sim do facto de sermos desenganados. Vou tentar explicar. Uma coisa é mentirem-nos, iludirem-nos, levar-nos propositadamente a fazer uma escolha que nos prejudica a favor de quem nos enganou. Um logro, portanto. Outra, muito diferente, é acreditarmos que quem aparece a oferecer-nos uma solução sabe o que está a fazer, é sabedor do nosso problema e tem a resposta que nos convém, e virmos a descobrir que afinal não devíamos ter confiado, que a sabedoria não era assim tanta ou que o que nos ofereciam só remotamente poderia ser o que procurávamos. Este último tipo de desconfiança é demolidor, porque não se reporta a um aldrabão pouco escrupuloso mas a um conjunto indeterminado que passa a abranger todos aqueles que, com as mesmas conversas e sabedoria, nos poderiam ajudar efectivamente mas em quem já não acreditamos. Não confiamos, é a palavra certa, não nos descansam. Vem isto a propósito desta novidade de ser perfeitamente “óbvio” e "desejável" que se “esclareça” agora, preto no branco, que os depositantes de contas nos bancos são afinal “credores” e não “clientes” e que, como tal, fiquem sabendo que as vossas continhas são empréstimos incertos e não entregas com uma volta na ponta. Posta a questão assim, sentimo-nos todos um bocado estúpidos por não termos tido antes tal dúvida, os banqueiros, a actividade bancária e toda essa magnífica construção que sustenta hoje uma orgulhosa economia global assentava numa base de equívocos, chamemos-lhe assim, nós não perguntámos, eles não explicaram bem, confiámos que eles sabiam que nós não sabíamos e eles agora muito admirados por nós só agora percebermos.
O que seria talvez de perguntar, já desenganados, era se teria alguma vez sido possível ver crescer e afirmar-se tão grande e vasta rede de instituições, base de economias sofisticadas e a crescer nos países a afirmar-se, se nos tivessem remetido cartas em nos chamavam “caro credor” em vez de caro cliente, e a enunciar à cabeça qual a situação do banco, os riscos de falência ou o risco das operações que não entendíamos nem entenderemos nunca, antes de nos convidar a pôr lá o nosso dinheiro. Caro credor, perguntam agora eles, nas letras que não escrevem mas que eu agora leio, pelos vistos deveria ter lido sempre assim, quer emprestar-nos mais do seu dinheiro? Caro empresário, isto é uma roleta russa, se o seu banco falir paciência, andou a pedir-lhes emprestado e agora paga com juros, é credor do seu credor e devedor de quem lhe deve.
Pode ser tudo muito claro e evidente, por isso mesmo nos sentimos desenganados.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Escritos sobre Segurança Social - I


A equidade entre gerações e a sustentabilidade financeira dos sistemas públicos de pensões são questões que, mais ou menos, desde Setembro do ano passado foram incorporadas no discurso do governo a propósito da reforma do Estado e do corte de 4,3 mil milhões de euros.
Já aqui escrevi por várias vezes que cortar não é equivalente a reformar, pode-se reformar sem cortar, pode-se cortar sem reformar. Mas o que deve ser feito primeiro é definir o que se pretende com uma reforma: que resultados se pretendem obter, as consequências de o fazer, reformar o quê, como e quando fazê-lo, impactos de curto, médio e longo prazos, custos e benefícios e poupanças e investimentos da reforma, sustentabilidade. Podem as restrições financeiras e outras condicionantes determinar a necessidade de reduzir despesa e obter ganhos de eficiência e, como tantas vezes acontece, exigir despesa de investimento para obter tais resultados. Cortar ou “reformar” com uma perspectiva unicamente orçamental ou de tesouraria imediata, como lhe queiramos chamar, não é um bom caminho para mudar e mudar com qualidade e de forma sustentável.
Mesmo quando o exercício de reformar é feito percorrendo todas as etapas, o facto de se trabalhar com variáveis sobre as quais é necessário assumir pressupostos de evolução introduz riscos nas projecções e  permite, inclusive, trabalhar os resultados 
Veja-se o que aconteceu com a “reforma” da Segurança Social de 2007. Foram introduzidas alterações de natureza paramétrica nos sistemas públicos de pensões, sem no entanto alterar o seu modelo de financiamento- repartição, isto é, as contribuições dos activos financiam em cada momento as pensões em pagamento - e a natureza dos planos de pensões – planos de benefício definido, isto é, estabelecem-se as regras de acesso e cálculo das pensões criando nas gerações contribuintes a expectativa de que no futuro irão beneficiar das mesmas pensões.
Com a “reforma” de 2007 – que, no essencial, alterou a fórmula de cálculo das pensões do Regime Geral de Segurança Social (sem, no entanto, cuidar de fazer o mesmo na Caixa Geral de Aposentações) e integrou no cálculo das pensões os ganhos de esperança de vida aos 65 anos, através da aplicação de um "factor de sustentabilidade" que mais não faz que reduzir as pensões de modo a obter neutralidade financeira (mais anos de vida, mais anos de pensões para pagar) – as pensões sofreram reduções significativas, a tesouraria do Estado melhorou de imediato e melhoraram as perspectivas de sustentabilidade. Os estudos à data realizados projectavam os primeiros saldos negativos do sistema previdencial em 2040. Foi assumida uma taxa de desemprego de 5,5% e um acrescimento do PIB de 2%. De lá para cá os sucessivos "relatórios sobre a sustentabilidade financeira da segurança social" falharam sucessivamente nas projecções, foram sucessivamente revistos os pressupostos demográficos e económicos. O relatório de 2013 antecipou o saldo negativo para 2020, voltando a falhar.
O governo na carta que escreveu à Troika, no âmbito da 7ª avaliação, assume uma reforma do sistema de pensões que inclui um conjunto de medidas para promover a equidade entre os diferentes sistemas de pensões e assegurar a sustentabilidade: 1. A convergência das regras da CGA com as de Segurança Social. 2. Aumento da idade de reforma dos 65 anos para pelo menos 66 anos de idade. 3. Contribuição de Sustentabilidade de forma a complementar o conjunto de medidas necessárias para assegurar a sustentabilidade do sistema de pensões e assegurar o objectivo global de poupança nesta área.
Foram apresentadas as poupanças de 1.446 milhões em 2014 e 1.458 milhões em 2015. O facto de a Contribuição de Sustentabilidade – conhecida por TSU sobre as pensões - poder ser ajustada se outras poupanças forem obtidas em outras rubricas da despesa pública, deixa a interrogação sobre a dimensão da insustentabilidade e da eficácia das medidas anunciadas sobre os sistemas públicos de pensões. Mas não foram apresentados os estudos que mostrem o impacto das medidas em termos de sustentabilidade, no sentido de avaliar se é possível assegurar às actuais gerações no activo e às novas gerações entrantes os direitos de acesso e as regras de cálculo das pensões em vigor, se é viável manter o actual modelo de financiamento e respectivas regras (TSU, base contributiva), tendo em conta projecções demográficas e económicas realistas ou, pelo menos, conservadoras. Os estudos feitos devem ser publicados pelo governo e a reforma do sistema de pensões apresentada na carta deve ser explicada. Que novo contrato social é que está a ser construído?

O mercado da dívida pública e o mercado da opinião catastrofista...

1. É hoje notícia, mais uma vez, a queda das taxas de juro da dívida pública na zona Euro, que estão atingindo níveis não vistos desde há cerca de 3 anos.
2. No que respeita à divida pública portuguesa, as yields da dívida a 5 anos estão hoje muito próximas de 4% e para os 10 anos andam a “namorar” os 5,3%, níveis que não se viam desde meados de 2010 (um ano antes do ruidoso colapso do delirium socrático).
3. Ontem, a emissão de € 1.750 milhões em BT’s, a 6 e a 12 meses, foi colocada com taxas de juro anuais de 0,811% nos 6 meses (anterior de 2,169% em Nov/2012) e de 1,232% nos 12 meses (anterior de 1,394% em Abril).
4. Evolução semelhante ou ainda mais favorável é visível nos mercados das dívidas de Espanha e de Itália, neste último caso atingindo mesmo níveis historicamente baixos em alguns prazos.
5. Saliente-se a emissão de dívida ao prazo de 30 anos (de € 7,7 mil milhões) pelo Tesouro italiano, ontem realizada, com uma taxa de juro pouco superior a 5%, prazo em que a Itália não emitia dívida desde 2009...
6. Esta evolução será pelo menos de PASMAR para quem esteja atento ao fervilhar de comentários catastrofistas que diariamente inundam a comunicação social portuguesa, escrita e falada, que já sentenciou pelo menos 1.000 vezes o fracasso definitivo e irrevogável do projecto Euro, e o consequente abandono do mesmo como solução mais recomendável – tema aliás tratado como se revestisse a mesma complexidade do consumo de um expresso no café de rua mais próximo...
7. Como é que os mercados podem estar tão cegos e ser tão ignorantes, não entendendo esta mensagem apocalíptica da elite pensante de um nobre Povo? Como podem arriscar-se desta maneira, investindo tão afoitamente numa moeda e em emitentes soberanos se estes estão de facto à beira do colapso, arrastando consigo todo um arraial de desgraças económicas e sociais?
8. Ou será que os mercados financeiros terão já percebido que o mercado da opinião político-económica em Portugal, um oligopólio controlado por uma elite pensante fixa e inamovível,  tem como driver  dominante a perda progressiva de qualidade da Mesa do Orçamento, com uma carta de serviço “downgraded” e menos opções na lista de vinhos?
9. É realmente extraordinário este contraste entre por um lado uma opinião supostamente dominante, que diariamente nos "chateia" até à mais completa exaustão, desejando mais Estado e revelando pouquíssimo respeito pelos impostos que pagamos, e, por outro lado, o comportamento confiante e tranquilo dos mercados financeiros, mostrando que a fase mais aguda do Euro foi superada.
10. É capaz de ser muito difícil encontrar outro movimento de opinião tão alargado, tão intrusivo e tão maçador e, ao mesmo tempo, com tão escasso impacto nas decisões de quem tem por função gerir o risco financeiro...

Sal...



Esta coisa da hipertensão arterial é uma chatice. Aliás, a velhice só traz aborrecimentos, bom, nem sempre, mas é muito mais atreita a tal, é dependente de coisas que souberam e continuam a saber bem, por vezes até bem de mais. 
Convencê-los de que devem tratar-se é complicado e se lhe reduzirmos o sal então é uma tragédia. Ai isso não, isso é mesmo que matar-me! Não consigo comer sem sal, o senhor doutor o que quer é matar-me. Não quero nada, quero apenas ajudá-lo. Mas como? Comer sem sal? Não consigo, é impossível. Convencê-las, sim, falo no feminino, porque "elas" são mais complicadas, é muito difícil, para não dizer que é quase impossível.
Sempre tive enorme apetência para o sal. Lembro-me de levar pequenas pedras de sal escondidas para as saborear no recreio da escola. Roubar pequenas lascas de bacalhau salgado, pendurado do teto na petroleira lá do sítio, era um desafio fascinante, claro que a dona devia fechar os olhos a este atrevimento, mas chupá-las e comê-las em seguida provocava-me um prazer estimulante que me ajudava a emborcar o almoço ou o jantar com mais vontade. Lembro-me de um tio que, num ritual muito próprio, exigia sal em frente dos pratos. Com a faca ia-o alinhando a partir do montinho. Em seguida, com uma pequenina colher de café, metia-o, a pequenos trechos, na boca entre as colheradas de sopa e as garfadas do segundo. Fazia-o com tanta distinção e categoria que ainda hoje me fascina este quadro. Claro que deveria saber-lhe bem, mas eu, mesmo assim, preferia as lascas de bacalhau salgado. Ele primava pela elegância e eu pela boçalidade.
O sal é indispensável à vida, mas comemos em demasia, quantidades que acabam por encurtar a nossa existência. O que o sal provoca é uma pura adição, tão forte que os bebés adoram mamar em tetas ricas em leite com sal. A loucura pelo sal ocorre em todas as idades. O conhecimento deste facto leva muitos industriais a enriquecer os seus produtos com sódio, não porque necessitem do mesmo para os conservar, mas apenas para atrair os dependentes levando-os a consumir mais os seus produtos. Tal como uma droga, quanto mais sal comermos mais sal queremos ingerir. 
Aqui está a razão de ser da ingestão excessiva do sal, quando se ultrapassa o limiar das nossas necessidades passamos para o campo da adição, a qual é muito bem aproveitada pelos industriais que vivem através da boca do próximo.
Pois não! Negócio garantido, mais sal nos alimentos, mais consumo e mais lucro. Quem não lucrava muito com isso era a petroleira lá do sítio, ficava com os bacalhaus um pouco ratados, mas nunca se importou com isso. Pelo menos nunca se queixou, até, porque, andava sempre com lascas de bacalhau salgado nos bolsos da velha e suja bata a cheirar a petróleo...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Porque sou orgulhosamente português...

... hoje à noite o leão ganhará asas e serei benfiquista por umas horas.

Corro...


Corro, mas não fujo, corro para poder encontrar, o quê, não sei, mas corro com uma vontade crescente de achar ou ser achado por alguém. Preciso de alguns minutos, não muitos, apenas os suficientes para sentir que vale a pena andar à cata de qualquer coisa que eu não sei muito bem o que é. Pode ser que seja apenas a vontade de procurar, mesmo que não encontre nada ou ninguém. Mas é bom, é muito apetitoso andar à procura, ou sentir essa sensação, como que a querer premiar a minha vontade. Vale a pena ter vontade? Claro que vale, é inebriante e estimula mais a alma do que beber o melhor néctar do mundo, deve ser o vinho dos deuses que me desperta a vontade de o beber. Os sentidos ficam soltos, o corpo elanguesce de prazer e o futuro desaparece sem doer. Que bom sentir a vontade, só a vontade, a vontade de encontrar mesmo que não ache nem seja achado. Não faz mal, o que interessa é experimentar essa sensação, uma, duas, muitas, muitas vezes, vezes sem conta, sem futuro, sem passado, parando eternamente no momento presente inebriando-me conscientemente como se o meu destino fosse apenas viver a infinitésima fração da existência, a minha ou de alguém perdido neste imenso universo onde futuro e passado existem sem conhecer o efeito inebriante do presente. Um presente que só alguns sabem ou conseguem saborear, mas para isso é preciso procurar, não no passado, não no futuro, mas no presente, correndo, correndo sem sair do sítio. Eu estou num dos meus sítios onde o presente para, porque eu quero que pare. Eu consigo parar o tempo. É isso, corro, corro apenas com uma vontade, poder parar o tempo, e ele, curiosamente, deixa.
O tempo entregou-se-me hoje de manhã, num bela caixa de mármore rosa. Apaixonei-me pelo relógio que há muito não deve trabalhar, nem precisa. Vejo que encerra afetos, dores, esperanças, lágrimas e sorrisos de doces e desconhecidas almas que passaram a fazer parte do futuro e eu do seu passado. É meu. Um relógio do passado que não quer o futuro para nada, nem mesmo o passado, apenas lhe interessa o presente. Eu também me interesso pelo presente, mas para isso tenho de parar o tempo. Olho para o velho relógio e o tempo não passa. Ele corre como eu, corre com vontade de encontrar algo ou alguém, mas não quer andar e eu também não. 
Damo-nos bem. 
Pois damos!