Nem tento esconder a alegria que sinto por detrás de qualquer discurso pretensamente isento e independente. É uma vitória histórica. Pela primeira vez na história da democracia portuguesa é eleito um presidente que não se assume de esquerda.
Foi também Cavaco Silva que rompeu com o grilhão que parecia tolher o sistema político português, incapaz de gerar maiorias absolutas.
Vale a pena perguntar como ACS construiu esta vitória. Deixo algumas hipóteses explicativas:
- Convém não esquecer os 46%, correspondentes a 2,6 milhões de votos, que CS obteve nas eleições de 1996 contra o candidato único da esquerda, Jorge Sampaio. O PSD nas legislativas imediatamente anteriores não tinha ido além dos 34%.
- Relativamente a 1996, CS passou de 2,6 milhões de votos para 2,8 milhões. Onde os foi buscar? Ao centro-esquerda, precisamente aos votantes que deram a maioria a José Sócrates.
- Mais tarde ou mais cedo, iremos reconhecer que esse ganho só foi possível porque CS se demarcou de Pedro Santana Lopes, há cerca de uma ano. Esse sinal foi decisivo para uma parte do eleitorado do centro esquerda perceber que se tratava de duas culturas políticas não só diferentes, mas também antagónicas.
- Uma estratégia eleitoral construída e cumprida ao milímetro, dando um outro sinal: quem quer ser Presidente da República tem de se comportar como tal e não entrar na “politiquice” e na “retórica”, cumprir a sua agenda e não andar atrás da agenda dos outros, defender as suas ideias e não entrar em concursos de “misses” ou de saber quem é o “dono da pátria”.
1 comentário:
Será, antes de tudo, uma questão de carácter. É uma personalidade que age por convicção, que tem princípios bem firmes, e que reflecte nas suas atitudes e nas estratégias essa mesma convicção e essa conduta. Antes de ser de esquerda ou de direita, Cavaco Silva é em si mesmo uma pessoa em quem se confia, simpatize-se ou não com o estilo e com o quadrante político, e isso exlica em boa parte este trajecto e estas vitórias absolutas.
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