Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Um novo ciclo?

Confesso que é uma das frases do “politiquês” que mais me irrita. É geralmente utilizada para criar a ilusão de que a “a partir de agora” tudo vai ser diferente. Chego mesmo a pensar que se houver qualquer agente político que assuma que não quer mudar nada, deverá fazer uma declaração política a dizer que se vai iniciar um “novo ciclo”.

Contudo tenho de confessar a utilidade da expressão para sintetizar o que espero de 2006. Porquê?

As próximas eleições presidenciais encerram um ciclo eleitoral e a abertura de um novo que permitirá reconfigurar o modelo de funcionamento do sistema político português. No último ano e meio realizaram-se as eleições europeias (Junho de 2004), legislativas (Fevereiro de 2005), autárquicas (Outubro de 2005), restando as presidenciais (Janeiro de 2006).

Tudo leva a crer que até ao segundo semestre de 2009 não se realizarão eleições.

O que é que este novo ciclo traz de novo?

1. Pela primeira vez na história da democracia portuguesa o Partido Socialista conseguiu uma maioria absoluta. Em princípio, parece haver condições para que possa governar durante toda a legislatura.

2. O PSD, consolidou a larga maioria da representação autárquica que havia conquistado em 2001.

3. Cavaco Silva “arrisca-se” a concretizar uma outra inovação: pela primeira vez um candidato não proveniente da esquerda tem condições para ganhar as próximas presidenciais à primeira volta, acrescentando esta inovação a uma outra que era já sua, a primeira maioria absoluta na história da democracia portuguesa.

Esta nova partilha de poderes tem condições para proporcionar à sociedade portuguesa um novo período de estabilidade política favorável à concretização das tão ansiadas reformas estruturais. Haja vontade que ambiente e calendário não faltam.

O problema é mesmo o de saber se há vontade e poder para concretizar essa mudança, não dispensando uma questão prévia: mudar em que sentido, com que objectivos, com que estratégia? Para cada uma destas perguntas, confesso não descortinar resposta clara e inequívoca a que junto a minha crescente desconfiança relativamente à eficácia das políticas macro.

Por isso, ao iniciar este novo ano de 2006 e esse “novo ciclo” que parece configurar-se, continuo dividido entre a descrença e a esperança, entre a razão que me leva a pouco esperar e a emoção de quem tem o optimismo como vício incorrigível.

1 comentário:

AC disse...

Resumindo: as mesmas moscas e a mesma merda! Desde há 30 anos!
http://desgovernos.blogs.sapo.pt/