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domingo, 18 de junho de 2006

As palmeiras


Também o deserto vem
do mar. Não sei em que navio,
mas foi desses lugares
que chegaram ao meu jardim
as palmeiras.
Com o sol das areias
em cada folha,
na coroa o sopro
ainda húmido das estrelas.

Eugénio de Andrade, Ofício de paciência (1994)

1 comentário:

sandra costa disse...

[outras árvores do mesmo livro, uma página antes na antologia]


Uma pedra,
outra pedra - assim começa
a casa, o pátio onde o lume
dos gerânios morde a cal,
os degraus subindo ao feno
desatado, a marca
dos dentes nas maçãs e na cintura,
a porta estreita
do corpo, o nó de sombra mais secreto,
os cães correndo entre as primeiras
sílabas da noite, por fim
o inaudível rumor das tílias.

Eugénio de Andrade, Ofício de paciência