A Catalunha sufragou por uma esmagadora maioria dos votos expressos - quase 74% - o seu novo estatuto autonómico.
Aproveitando a pausa para almoço, passei os olhos pelo novo texto. Trata-se, de facto, de um novo quadro estatutário que aprofunda o princípio da descentralização a níveis dificilmente comparáveis no contexto europeu, se descontarmos as experiências federais.
As reacções aos resultados comprovam a fraqueza da actual liderança da direita espanhola. Mariano Rajoy, confrontado com os resultados do referendo e esquecendo que sob o domínio do PP, no princípio da década de 80 do século passado, a Galiza viu o seu estatuto sufragado por menos de 30% (salvo erro) dos galegos, veio dizer que os resultados foram um fracasso para os defensores do sim ao reforço da autonomia catalã, pelo facto de 50% dos catalães se terem alheado do plebiscito e 20% ter votado contra! Para Rajoy só um em cada três dos eleitores da Catalunha se teria pronunciado a favor do novo estatuto, pretendendo que a larga maioria o teria, afinal, rejeitado.
Esta falta de inteligência política faz recordar a dificuldade de alguns em compreender e, logo, em aceitar as regras da democracia.
Quem não tem a memória curta lembra-se que algo de semelhante se passou em Portugal a propósito dos referendos sobre a regionalização e a IVG. Também por aqui houve quem, perante a elevada abstenção, viesse ler os resultados ao contrário. Com a diferença de que, por cá, essas contas foram feitas por uma certa esquerda.
2 comentários:
Pelos comentários julgo perceber que a análise dos resultados é mais importante que aquilo que está em causa: o desmembramento de Espanha. Lento, passo a passo, mas irreversível.
Quanto mais rica ficar a Catalunha, maiores serão as pressões para a independência.
E quanto mais fraco for o Poder Central em Espanha, mais depressa essa independência irá acontecer.
Será isso mau para os espanhóis?
E para os portugueses?
Penso que o desmembramento da Espanha - que se está a iniciar pela Catalunha e irá continuar por outras regiões na medida das suas riquezas - não é boa para os povos ibéricos.
Cá estaremos para ver...
Tens inteira razão meu caro Vitor.
Também eu penso que este facto não vai deixar de ter repercursões em primeiro lugar em Espanha, mas também na Peninsula e na Europa.
Faltam ainda as análises sobre o impacto deste passo dado pelos catalães ao nível de qualquer destes espaços.
Como está mal estudado esta dialéctica, cada vez mais acentuada, entre as pulsões nacionalistas não só em Espanha mas noutras paragens e as proposições no sentido da unificação política da Europa.
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