Ainda hoje me fartei de rir quando vi na televisão a notinha que dizia algo como: "O governo vai disponibilizar endereços electrónicos gratuitos..."
Não tenho a certeza que seriam exactamente estas palavras, mas a ideia era definitivamente esta. Só não me rebolei no chão a rir porque não me queria sujar.
Vou telefonar ao senhor António (que trata lá do jardim da casa em Vila Viçosa), para ver se ele já viu o seu e-mail hoje... tenho é de falar um pouco alto que ele é um bocado mouco... também não sei se ele tem computador, mas isso não é importante.
Não meu caro Pinho Cardão. Grande momento de humor foi ontem a reportagem transmitida já não sei por qual dos canais, sobre o evento que levou o PM a uma aldeia alentejana. Hilariante!
Na verdade, o Sr. António é um velhinho de 70 e muitos anos, surdo que nem uma porta, que tem uma bicicleta ferrugenta (e que a pedala monte acima, monte a baixo faça chuva, ou faça sol), e que vai lá a casa tratar da relva e das plantas. Tem uma reforma miserável que é complementada com o dinheiro que lhe damos para nos fazer o favor de tomar conta do jardim.
Não me parece que o sr. António tenha um computador em casa, quanto mais um que esteja ligado à internet em banda larga. E não sei porquê, também não me parece que ele sinta uma necessidade avassaladora de ter um endereço de e-mail, mas mesmo que sentisse essa necessidade, mesmo que tivesse um computador e mesmo que estivesse ligado à internet através de modem, o que não falta por aí são webmails gratuitos.
«Portantos», caro cmonteiro, o que menos importa nisto tudo, é o facto de ele ser um jardineiro.
Claro que é o que e-menos importa! O que importa não é dar oportunidades ao Sr.António, mas sim o que o meu e-estimado Anthrax e-acha que o Sr. e-António e-precisa!
Porque o Sr.e-António é um homem limitado, e deixemos estas e-coisas para os mais iluminados...
Existe uma grande diferença entre o que eu acho e o que é.
Uma coisa é; aquilo que é. Outra coisa é; aquilo que deve ser. E outra coisa ainda é; aquilo que seria desejável que fosse.
Em 1º lugar, eu não acho nada porque não perdi nada.
Em 2º lugar, eu não presumo saber o que os outros precisam ou deixam de precisar. Cada um sabe de si e eu não tenho nada a ver com isso.
E em 3º lugar, um macaco vestido com um fato Armani contínua a ser um macaco. A única diferença em relação aos outros macacos é que se trata de um macaco bem vestido, nada mais.
Aquilo a que você chama de oportunidades, não é nada. É apenas fogo de artíficio fora de horas porque o S. João já foi, já era, para o ano há mais.
Querem ter pessoas a fazer tudo online. Sou 100% a favor por muito mais motivos do que eventualmente possa imaginar. Mas para isso, em primeiro lugar têm de disponibilizar computadores, em segundo lugar têm de baixar os preços do acesso à internet e em terceiro lugar têm de ensinar as pessoas a usar, minimamente, o computador.
Estas são as 3 premissas principais. Sem elas, bem podem disponibilizar serviços todos XPTO (que ainda por cima nem sequer são inovadores), porque os srs. Antónios deste país vão continuar sem ver um "boi" à frente.
Isso é outra conversa! Também concordo que os acessos devam ser mais baratos, não entanto não os coloco como premissas, até porque existindo vontade de aceder à net, os preços baixam.
No entanto, ainda a propósito do Sr. António e do macaco, relembro-lhe que quando se veste um fato Armani, é porque se quer vestir um fato Armani, e não para "ser outra coisa". Ainda que seja um macaco a fazê-lo...
É aqui que reside a fragilidade do seu discurso, se é que me estou a fazer entender...
Eu não me queria meter nesta saudável picardia entre cmonteiro e Antrax de que a banda, pelos vistos, foi o pretexto. Mas não resisto e lá terá de ser. Os comentários - sobretudo os provocatórios do cmonteiro (mas também de Antrax...)- são quase sempre estimulantes, ainda que aqui e ali indisfarçavelmente marcados pelas suas simpatias. No que aliás não há mal nenhum, pelo menos para mim que não tenho complexo em confessar que nas minhas opiniões também pesam esses factores, por muito esforço que faça para afastar tudo quanto contribua para ser menos objectivo. Mas indo à questão implícita no estória do jardineiro que Antrax introduziu, julgo que a ideia que o cmonteiro quer fazer passar comunga da mesma demagogia (salvo o muito e devido respeito) que a medida do governo. Como Antrax já deu a entender, esta aparente democratização do acesso aos meios informáticos de comunicação entre as pessoas, é como a "rede": inteiramente virtual. Num País em que as taxas de iliteracia não têm paralelo na Europa; em que os índices de motivação para novas aprendizagens é muito baixo mesmo nas camadas activas da população, pretender que vem aí a info-revolução que atirará o País para a vanguarda, é pura fantasia propagandística que, devo dizer, já atingiu os seus objectivos mediáticos com a prestimosa colaboração de alguns fieis gestores públicos. Poderia explicar mais desenvolvidamente porquê, mas o cmonteiro, inteligente como demonstra ser, já conhece por que razões assim é... Mas há, a meu ver, um efeito muito mais preverso destas medidas, sobretudo anunciadas como o foram. Esse efeito é, exactamente, o contrário do que se pretende fazer passar para a opinião pública. Em vez de democratização do acesso aos novos recursos de comunicação o que se está a criar é discriminação por via de uma não provocada, se quiserem, ontolológica info-exclusão. Facilmente se percebe como se sentirão os milhões de cidadãos - como o jardineiro referido por Antrax - que nunca se aproximaram de um computador, que com dificuldade conseguem dizer internet ou e-mail, que não atribuem a essas palavras qualquer significado, quando ouvem um PM e um Ministro dizerem que todos terão uma caixa de correio electrónico, dando-se a entender que daqui para a frente será este o meio a utilizar nas comunicações mediadas pelos CTT. Num dos noticiários da manhã, e por causa da entrada em vigor do novo regime de arrendamento urbano, apareceu uma senhora adjunta de um secretário de estado a dizer que a informação aos arrendatários era suficiente porque o ministério tinha em linha um sitio na internet onde se poderia colher toda a informação sobre as alterações em vigor a partir de hoje. Interrogaram na zona de Setúbal umas pessoas idosas que vivem em casas arrendadas, arruinadas, e em risco de verem as suas rendas aumentadas. Perguntaram-lhes se sabiam que existia um "site" na "Internet" para as esclarecer sobre a nova lei das rendas. Imaginam a resposta, não imaginam? Interrogo-me por isso se não está o Governo e algumas elites a contribuirem para a criação de uma sociedade mais desigual, em que o factor de desigualdade já não é somente a diferença de estatuto social ou de rendimento, mas de conhecimento para fugir à info-exclusão - sem aqui discutir as boas intenções para além da propaganda, reconhecendo facilmente que as há.
Não, não se está a fazer entender caro cmonteiro, até porque quem colocou a tónica na condição social dos indíviduos foi você e não eu e a partir desse momento, entendeu o meu discurso como o quis entender e não tal como ele o é. Por isso, distorça-o a seu belo prazer porque independentemente do que disser, os factos não alteram.
Os srs. Antónios deste país, não vão passar a ter computador, nem passar a ter acesso à internet (e por consequência não poderão aceder o serviço disponibilizado), não porque se não trate de uma oportunidade, mas porque simplesmente não podem. E aquilo que o amigo entende por "oportunidade", não é nenhuma oportunidade, é oferta. Oferta de um serviço online.
É assim, eu «curtia buézes» ter um Jaguar, os tipos do stand têm tantos que até vendem, só que - infelizmente - não posso. A "oportunidade", está lá. Eu é que não posso chegar até ela.
Fantástica análise, feita com a mesma ponderação inteligente de sempre. Mas discordo!
De facto, tem havido a tendência de analisar criticamente estas medidas pelo prisma de quem as toma (o governo), em vez de avaliar as consequências junto dos destinatários das mesmas (nós). Isso é na maioria das vezes, aquilo que chamamos «politiquice» e que é em minha opinião, mais do que qualquer outra coisa, factor de atraso deste país.
Em relação ás medidas deste governo, nomeadamente no campo da inovação tecnológica, e por culpas da excessiva publicitação do próprio, admito, a crítica é quase sempre a mesma: de que vale tanta inovação se existe uma taxa tão grande de analfabetismo, info-exclusão, etc?
Respondo: Valem o que valem! No caso desta, nem a acho grande coisa, mas pergunto-me se deveremos estar à espera 40 anos por uma uma taxa de alfabetização decente para implementá-las, sabendo que neste tipo de teconologias o que sabíamos há dois anos está ultrapassado?
E é isto que importa, dada a velocidade a que as coisas andam; O darmos a possibilidade ás pessoas, ainda que só uma (cada vez mais imensa) minoria possa de facto aceder a estas inovações. Impedi-lo, seria excluir todos: os que têm e os que não têm possibilidades disso.
Daí a minha critica à postura do camarada Anthrax: Estas teconologias são de facto a forma mais democrática de participação no progresso. Ter alguém que avalie previamente se nós, O POVO, tem capacidade de aceder ou não a elas é info-excluir toda a gente, sob precisamente o argumento contrário!
Os mesmos argumentos foram utilizados há anos atrás para as declarações de impostos electrónicas. Experimente agora acabar com elas!...
Mais: Uma das vantagens da comunicação a nível global como é a internet, tem a vantagem de fazer evoluir os cidadãos, no conhecimento e no saber, à margem das iniciativas do Poder! Verdadeiramente podemos evoluir por nós próprios!
De facto, a Internet á a forma mais igualitária e democrática de debater, de descobrir, de APRENDER! E isso prova-se por exemplo, com o fenómeno da blogosfera, em que o cidadão comum tem a possibilidade de aceder ás elites pensantes, constatando assim que somos realmente todos iguais, que podemos aprender DIRECTAMENTE com elas, ou constatar que não havia razão para elas serem consideradas elites (mas isso é outra assunto hehehehe).
VAMOS FICAR À MARGEM DISTO TUDO?
Porque no fim a pergunta é só uma, nesta matéria: Implementa-se ou não?
Tudo o resto é conversa desviante, haja ou não razão nas crticas feitas
Perfeitamente de acordo, não tenho nada a acrescentar.
Caro cmonteiro,
Realmente, pior do que não aceder à internet, é ela não existir.
Só que ela já existe.
E depois há outra coisa. Há críticas e há críticas. Ainda ninguém, aqui, fez uma crítica destrutiva à medida do governo. Ainda ninguém disse, se é boa, ou se é má. Basicamente aquilo que andamos a dizer é que não havia necessidade de propagandear a oferta de um serviço de uma maneira tão absurda, até porque não é nada de especial.
Onde é que está a inovação de uma coisa que já se fazia antes?
- Pagar contas via internet (Ooooooh grande novidade! Já faço isso desde que os bancos têm serviços online).
- Ter um endereço de correio electrónico (Uau! Fantástico! Já tive tantos - à borla - que já lhes perdi a conta).
Assim, a única novidade que existe é ser um serviço disponibilizado pelos CTT. So what?
Bom... também há outra coisa que, por acaso, considero bastante importante e que é a cobertura de banda larga, mas isso, não só já devia ter sido implementado há mais tempo, como há cada vez mais pessoas a aderirem ao modelo "wireless".
Amiguinho, eu faço avaliações e dou pareceres sobre projectos no âmbito das Novas Tecnologias à Comissão Europeia, há 5 anos. Por isso, sei bem o que é Inovação Tecnológica e o que não é. Conheço o discurso dos info-excluídos, dos info-incluídos, da literacia digital e coisas afins, de trás para a frente e da frente para trás. Conheço a "teoria" da "democratização" das TIC e de todos os princípios a ela subjacentes. Mas, neste caso concreto, nada disto é chamado ao barulho porque, simplesmente, não tem nada a ver.
Muito basicamente, aquilo que tenho estado a dizer desde o principio é: Quem quer, quem pode e quem sabe, já tem e já faz. Quem não quer, quem não pode e quem não sabe, não tem e não faz. Mas a oportunidade para, sempre lá esteve. Não foi a partir do momento em que o governo abriu a boca que passou a estar.
Estamos apenas a falar da oferta de um serviço. Mais nada.
Pois fico completamente pasmado! Plagiando Anthrax, Imsp e outros, ou usando os seus argumentos, na verdade ou eu estou "tolo" ou o mundo está às avessas! O sr 1º M anunciou que agora vai ser uma maravilha- pagar na internet, (ele ou outro membro do Gov.realçou como ex: os impostos), enviar ou receber facturas, ter um e-mail ( eu tb tive já, pelos menos, um "balúrdio" deles, que até se me varreram da memória), uma quantidade de coisas que já se fazem, eu faço, e muitos outros fazem! Infelizmente que o país não faz, por razões diversas, já por ai avançadas! Pois é: "... não nos disponibilizam novos serviços...tentam mostrar serviço!" E quantos computadores há na aldeia dos meus avós, ou na aldeia transmontana dos ascendentes de Clara Carneiro, onde caminhavam km para ir apanhar o correio! Agora vai por E-MAIL, para o computador! A primeira reacção é que até o nome não lhes cheira a grande coisa, principalmente lá para os lados de Bragança! Por fim, depois de esclarecidos que não é o que pensam, lá perguntam: e onde se vai buscar? a Vila Real? ao Porto, a Evora? ou temos de ir a Lisboa? E a gente nem conhece o novo carteiro? Pois: e depois os desgraçados desertificam o interior! Ou será que vão imigrar do litoral para as suas aldeias para verem e terem um novo e-mail?
Só mais uma: se, ao dia 15, a maioria já não tem euros nem para comer como deve, quando teremos, os 10 milhões que vão ter um e-mail, um computador em casa? De qq forma fique claro: são medidas necessárias e avanços indispensáveis!Uso e abuso, defendo e empurro para o gosto, conhecimento e utilização das novas tecnologias, onde e quando me é possível! Mas há aqui qualquer coisa que não bate bem!!!???
16 comentários:
eheheh!
Está lindo sim senhor!! :)))
Ainda hoje me fartei de rir quando vi na televisão a notinha que dizia algo como: "O governo vai disponibilizar endereços electrónicos gratuitos..."
Não tenho a certeza que seriam exactamente estas palavras, mas a ideia era definitivamente esta. Só não me rebolei no chão a rir porque não me queria sujar.
Vou telefonar ao senhor António (que trata lá do jardim da casa em Vila Viçosa), para ver se ele já viu o seu e-mail hoje... tenho é de falar um pouco alto que ele é um bocado mouco... também não sei se ele tem computador, mas isso não é importante.
Não meu caro Pinho Cardão. Grande momento de humor foi ontem a reportagem transmitida já não sei por qual dos canais, sobre o evento que levou o PM a uma aldeia alentejana. Hilariante!
Caro Anthrax,
Concerteza que por essa óptica o seu jardineiro nunca teria endereço electrónico. Também, para quê, se não passa de um jardineiro?...
Ahahahahahaah!
Apetece-me roubar e levar para a minha Praça alentejana.
Caro cmonteiro!
Sabe, já sentia saudades das suas provocações. :)
Na verdade, o Sr. António é um velhinho de 70 e muitos anos, surdo que nem uma porta, que tem uma bicicleta ferrugenta (e que a pedala monte acima, monte a baixo faça chuva, ou faça sol), e que vai lá a casa tratar da relva e das plantas. Tem uma reforma miserável que é complementada com o dinheiro que lhe damos para nos fazer o favor de tomar conta do jardim.
Não me parece que o sr. António tenha um computador em casa, quanto mais um que esteja ligado à internet em banda larga. E não sei porquê, também não me parece que ele sinta uma necessidade avassaladora de ter um endereço de e-mail, mas mesmo que sentisse essa necessidade, mesmo que tivesse um computador e mesmo que estivesse ligado à internet através de modem, o que não falta por aí são webmails gratuitos.
«Portantos», caro cmonteiro, o que menos importa nisto tudo, é o facto de ele ser um jardineiro.
Claro que é o que e-menos importa! O que importa não é dar oportunidades ao Sr.António, mas sim o que o meu e-estimado Anthrax e-acha que o Sr. e-António e-precisa!
Porque o Sr.e-António é um homem limitado, e deixemos estas e-coisas para os mais iluminados...
Ai, monteirito monteirito!
Já estamos a "descumbersar".
Existe uma grande diferença entre o que eu acho e o que é.
Uma coisa é; aquilo que é. Outra coisa é; aquilo que deve ser. E outra coisa ainda é; aquilo que seria desejável que fosse.
Em 1º lugar, eu não acho nada porque não perdi nada.
Em 2º lugar, eu não presumo saber o que os outros precisam ou deixam de precisar. Cada um sabe de si e eu não tenho nada a ver com isso.
E em 3º lugar, um macaco vestido com um fato Armani contínua a ser um macaco. A única diferença em relação aos outros macacos é que se trata de um macaco bem vestido, nada mais.
Aquilo a que você chama de oportunidades, não é nada. É apenas fogo de artíficio fora de horas porque o S. João já foi, já era, para o ano há mais.
Querem ter pessoas a fazer tudo online. Sou 100% a favor por muito mais motivos do que eventualmente possa imaginar. Mas para isso, em primeiro lugar têm de disponibilizar computadores, em segundo lugar têm de baixar os preços do acesso à internet e em terceiro lugar têm de ensinar as pessoas a usar, minimamente, o computador.
Estas são as 3 premissas principais. Sem elas, bem podem disponibilizar serviços todos XPTO (que ainda por cima nem sequer são inovadores), porque os srs. Antónios deste país vão continuar sem ver um "boi" à frente.
Meu caro Anthrax,
Isso é outra conversa! Também concordo que os acessos devam ser mais baratos, não entanto não os coloco como premissas, até porque existindo vontade de aceder à net, os preços baixam.
No entanto, ainda a propósito do Sr. António e do macaco, relembro-lhe que quando se veste um fato Armani, é porque se quer vestir um fato Armani, e não para "ser outra coisa". Ainda que seja um macaco a fazê-lo...
É aqui que reside a fragilidade do seu discurso, se é que me estou a fazer entender...
Eu não me queria meter nesta saudável picardia entre cmonteiro e Antrax de que a banda, pelos vistos, foi o pretexto. Mas não resisto e lá terá de ser.
Os comentários - sobretudo os provocatórios do cmonteiro (mas também de Antrax...)- são quase sempre estimulantes, ainda que aqui e ali indisfarçavelmente marcados pelas suas simpatias. No que aliás não há mal nenhum, pelo menos para mim que não tenho complexo em confessar que nas minhas opiniões também pesam esses factores, por muito esforço que faça para afastar tudo quanto contribua para ser menos objectivo.
Mas indo à questão implícita no estória do jardineiro que Antrax introduziu, julgo que a ideia que o cmonteiro quer fazer passar comunga da mesma demagogia (salvo o muito e devido respeito) que a medida do governo. Como Antrax já deu a entender, esta aparente democratização do acesso aos meios informáticos de comunicação entre as pessoas, é como a "rede": inteiramente virtual. Num País em que as taxas de iliteracia não têm paralelo na Europa; em que os índices de motivação para novas aprendizagens é muito baixo mesmo nas camadas activas da população, pretender que vem aí a info-revolução que atirará o País para a vanguarda, é pura fantasia propagandística que, devo dizer, já atingiu os seus objectivos mediáticos com a prestimosa colaboração de alguns fieis gestores públicos.
Poderia explicar mais desenvolvidamente porquê, mas o cmonteiro, inteligente como demonstra ser, já conhece por que razões assim é...
Mas há, a meu ver, um efeito muito mais preverso destas medidas, sobretudo anunciadas como o foram. Esse efeito é, exactamente, o contrário do que se pretende fazer passar para a opinião pública. Em vez de democratização do acesso aos novos recursos de comunicação o que se está a criar é discriminação por via de uma não provocada, se quiserem, ontolológica info-exclusão.
Facilmente se percebe como se sentirão os milhões de cidadãos - como o jardineiro referido por Antrax - que nunca se aproximaram de um computador, que com dificuldade conseguem dizer internet ou e-mail, que não atribuem a essas palavras qualquer significado, quando ouvem um PM e um Ministro dizerem que todos terão uma caixa de correio electrónico, dando-se a entender que daqui para a frente será este o meio a utilizar nas comunicações mediadas pelos CTT.
Num dos noticiários da manhã, e por causa da entrada em vigor do novo regime de arrendamento urbano, apareceu uma senhora adjunta de um secretário de estado a dizer que a informação aos arrendatários era suficiente porque o ministério tinha em linha um sitio na internet onde se poderia colher toda a informação sobre as alterações em vigor a partir de hoje. Interrogaram na zona de Setúbal umas pessoas idosas que vivem em casas arrendadas, arruinadas, e em risco de verem as suas rendas aumentadas. Perguntaram-lhes se sabiam que existia um "site" na "Internet" para as esclarecer sobre a nova lei das rendas. Imaginam a resposta, não imaginam?
Interrogo-me por isso se não está o Governo e algumas elites a contribuirem para a criação de uma sociedade mais desigual, em que o factor de desigualdade já não é somente a diferença de estatuto social ou de rendimento, mas de conhecimento para fugir à info-exclusão - sem aqui discutir as boas intenções para além da propaganda, reconhecendo facilmente que as há.
Não, não se está a fazer entender caro cmonteiro, até porque quem colocou a tónica na condição social dos indíviduos foi você e não eu e a partir desse momento, entendeu o meu discurso como o quis entender e não tal como ele o é. Por isso, distorça-o a seu belo prazer porque independentemente do que disser, os factos não alteram.
Os srs. Antónios deste país, não vão passar a ter computador, nem passar a ter acesso à internet (e por consequência não poderão aceder o serviço disponibilizado), não porque se não trate de uma oportunidade, mas porque simplesmente não podem. E aquilo que o amigo entende por "oportunidade", não é nenhuma oportunidade, é oferta. Oferta de um serviço online.
É assim, eu «curtia buézes» ter um Jaguar, os tipos do stand têm tantos que até vendem, só que - infelizmente - não posso. A "oportunidade", está lá. Eu é que não posso chegar até ela.
Caro Ferreira de Almeida,
Fantástica análise, feita com a mesma ponderação inteligente de sempre. Mas discordo!
De facto, tem havido a tendência de analisar criticamente estas medidas pelo prisma de quem as toma (o governo), em vez de avaliar as consequências junto dos destinatários das mesmas (nós). Isso é na maioria das vezes, aquilo que chamamos «politiquice» e que é em minha opinião, mais do que qualquer outra coisa, factor de atraso deste país.
Em relação ás medidas deste governo, nomeadamente no campo da inovação tecnológica, e por culpas da excessiva publicitação do próprio, admito, a crítica é quase sempre a mesma: de que vale tanta inovação se existe uma taxa tão grande de analfabetismo, info-exclusão, etc?
Respondo: Valem o que valem! No caso desta, nem a acho grande coisa, mas pergunto-me se deveremos estar à espera 40 anos por uma uma taxa de alfabetização decente para implementá-las, sabendo que neste tipo de teconologias o que sabíamos há dois anos está ultrapassado?
E é isto que importa, dada a velocidade a que as coisas andam; O darmos a possibilidade ás pessoas, ainda que só uma (cada vez mais imensa) minoria possa de facto aceder a estas inovações. Impedi-lo, seria excluir todos: os que têm e os que não têm possibilidades disso.
Daí a minha critica à postura do camarada Anthrax: Estas teconologias são de facto a forma mais democrática de participação no progresso. Ter alguém que avalie previamente se nós, O POVO, tem capacidade de aceder ou não a elas é info-excluir toda a gente, sob precisamente o argumento contrário!
Os mesmos argumentos foram utilizados há anos atrás para as declarações de impostos electrónicas. Experimente agora acabar com elas!...
Mais: Uma das vantagens da comunicação a nível global como é a internet, tem a vantagem de fazer evoluir os cidadãos, no conhecimento e no saber, à margem das iniciativas do Poder! Verdadeiramente podemos evoluir por nós próprios!
De facto, a Internet á a forma mais igualitária e democrática de debater, de descobrir, de APRENDER! E isso prova-se por exemplo, com o fenómeno da blogosfera, em que o cidadão comum tem a possibilidade de aceder ás elites pensantes, constatando assim que somos realmente todos iguais, que podemos aprender DIRECTAMENTE com elas, ou constatar que não havia razão para elas serem consideradas elites (mas isso é outra assunto hehehehe).
VAMOS FICAR À MARGEM DISTO TUDO?
Porque no fim a pergunta é só uma, nesta matéria: Implementa-se ou não?
Tudo o resto é conversa desviante, haja ou não razão nas crticas feitas
Caro Anthtrax,
Pior que o meu caro não poder comprar Jaguares, é eles não existirem para venda...
A minha explicação está dada no comentário anterior.
Caro JMFA,
Perfeitamente de acordo, não tenho nada a acrescentar.
Caro cmonteiro,
Realmente, pior do que não aceder à internet, é ela não existir.
Só que ela já existe.
E depois há outra coisa. Há críticas e há críticas. Ainda ninguém, aqui, fez uma crítica destrutiva à medida do governo. Ainda ninguém disse, se é boa, ou se é má. Basicamente aquilo que andamos a dizer é que não havia necessidade de propagandear a oferta de um serviço de uma maneira tão absurda, até porque não é nada de especial.
Onde é que está a inovação de uma coisa que já se fazia antes?
- Pagar contas via internet (Ooooooh grande novidade! Já faço isso desde que os bancos têm serviços online).
- Ter um endereço de correio electrónico (Uau! Fantástico! Já tive tantos - à borla - que já lhes perdi a conta).
Assim, a única novidade que existe é ser um serviço disponibilizado pelos CTT. So what?
Bom... também há outra coisa que, por acaso, considero bastante importante e que é a cobertura de banda larga, mas isso, não só já devia ter sido implementado há mais tempo, como há cada vez mais pessoas a aderirem ao modelo "wireless".
Amiguinho, eu faço avaliações e dou pareceres sobre projectos no âmbito das Novas Tecnologias à Comissão Europeia, há 5 anos. Por isso, sei bem o que é Inovação Tecnológica e o que não é. Conheço o discurso dos info-excluídos, dos info-incluídos, da literacia digital e coisas afins, de trás para a frente e da frente para trás. Conheço a "teoria" da "democratização" das TIC e de todos os princípios a ela subjacentes. Mas, neste caso concreto, nada disto é chamado ao barulho porque, simplesmente, não tem nada a ver.
Muito basicamente, aquilo que tenho estado a dizer desde o principio é: Quem quer, quem pode e quem sabe, já tem e já faz. Quem não quer, quem não pode e quem não sabe, não tem e não faz. Mas a oportunidade para, sempre lá esteve. Não foi a partir do momento em que o governo abriu a boca que passou a estar.
Estamos apenas a falar da oferta de um serviço. Mais nada.
Hum... Ok, está bem!
Pois fico completamente pasmado!
Plagiando Anthrax, Imsp e outros, ou usando os seus argumentos, na verdade ou eu estou "tolo" ou o mundo está às avessas! O sr 1º M anunciou que agora vai ser uma maravilha- pagar na internet, (ele ou outro membro do Gov.realçou como ex: os impostos), enviar ou receber facturas, ter um e-mail ( eu tb tive já, pelos menos, um "balúrdio" deles, que até se me varreram da memória), uma quantidade de coisas que já se fazem, eu faço, e muitos outros fazem! Infelizmente que o país não faz, por razões diversas, já por ai avançadas!
Pois é: "... não nos disponibilizam novos serviços...tentam mostrar serviço!"
E quantos computadores há na aldeia dos meus avós, ou na aldeia transmontana dos ascendentes de Clara Carneiro, onde caminhavam km para ir apanhar o correio! Agora vai por E-MAIL, para o computador! A primeira reacção é que até o nome não lhes cheira a grande coisa, principalmente lá para os lados de Bragança! Por fim, depois de esclarecidos que não é o que pensam, lá perguntam: e onde se vai buscar? a Vila Real? ao Porto, a Evora? ou temos de ir a Lisboa? E a gente nem conhece o novo carteiro?
Pois: e depois os desgraçados desertificam o interior!
Ou será que vão imigrar do litoral para as suas aldeias para verem e terem um novo e-mail?
Só mais uma: se, ao dia 15, a maioria já não tem euros nem para comer como deve, quando teremos, os 10 milhões que vão ter um e-mail, um computador em casa?
De qq forma fique claro: são medidas necessárias e avanços indispensáveis!Uso e abuso, defendo e empurro para o gosto, conhecimento e utilização das novas tecnologias, onde e quando me é possível!
Mas há aqui qualquer coisa que não bate bem!!!???
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