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terça-feira, 27 de junho de 2006

Peludos!

O infanticídio, hoje felizmente banido e proibido em todas as sociedades, constituiu uma prática bastante comum nas diferentes comunidades, nalgumas até há muito pouco tempo. A principal razão desta prática tinha a ver com a sobrevivência do irmão mais velho. Se este não atingisse um determinado grau de desenvolvimento, compatível com a sobrevivência, a mãe matava o recém-nascido, porque iria entrar em competição com o irmão. A atitude era previamente definida ou tomada na hora. Não o abraçava nem o alimentava, porque se o fizesse era sinal de aceitação. À causa já descrita associavam-se outras, tais como, o sexo, a ausência de sinais de robustez e as malformações. No entanto, a decisão de matar poderia ser interrompida face a uma criança forte ou à beleza da mesma. Quanto a este último aspecto, beleza do recém-nascido, deverá ter tido um papel muito importante na evolução da espécie, sobretudo, no que toca à fraca pilosidade dos seres humanos. A ausência de pelos seria um factor muito importante susceptível de modificar atitudes infanticidas. A este propósito, Chuko, uma mulher !Kung, afirmou para a antropologista: - Não quero matá-la. Esta criança é muito bela. Veja como é amorosa e como a sua pele é lisa sem pelos?
Tudo aponta para a existência de um gene ou genes responsáveis pela ausência de pelos. Tanto é assim que uma doença muito rara, denominada sindroma de Ambras, caracterizada por cobertura completa de todo o corpo de pelos, ocorre de vez em quando, facto que pode ser explicado através de uma mutação ocasional de um gene. Atendendo ao facto de outros hominídeos se caracterizarem por farta pilosidade, deverá ter levado os nossos antepassados a fazer distinção entre “nós”, os pelados e os “outros”, os peludos.
A beleza de uma criança recém-nascida desprovida de pelugem deverá ter estimulado a selecção, contribuindo para o nosso aspecto actual.
Claro que é tudo muito bonito, mas, naquelas alturas, teriam de proteger o corpo face às condições climáticas que, embora fossem agradáveis em África, seriam muito impróprias na fria Europa. Para ultrapassar este pormenor nada melhor do que uma agulha, instrumento que permitiu, há mais de 50.000 anos, a produção dos primeiros vestuários e, consequentemente o aparecimento dos primeiros estilistas. Como seriam as passagens de modelos naquela época? Divertidas sem dúvida.
Ora aqui está, a par de outras explicações, uma boa solução para compreender a falta de pelos na maioria dos seres humanos, não contando com alguns que, embora não sofrendo, felizmente, da tal hipertricose congénita universal, parecem-se mais com divertidos parentes próximos.
A beleza inerente à nudez da pele, sendo muito antiga, continua a ser cultivada nos nossos dias de forma muito marcada. O sexo feminino pratica a depilação com frequência, à excepção de algumas que levam demasiado longe o conceito “ecológico”! E digamos, em abono da verdade, são muito mais atraentes sem pelos. Quanto ao sexo masculino, ainda há pouco tempo orgulhoso em mostrar os pelos, como sinal de masculinidade, começa a rapá-los com mais frequência, sinal da crescente metrosexualidade, em que o conceito de beleza conquistou o sexo forte.
Afinal a evolução da “depilação” natural continua a reforçar-se nos nossos dias, contribuindo para o efeito o comportamento de muitos artistas e desportistas que, ao mostrarem os seus corpos desprovidos de pelos, “obrigam” os mais novos (e alguns mais velhos!) a raparem-se. Se perguntarmos quais as razões de tais atitudes, acabam sempre por dar uma justificação óbvia. A que ouvi de uma colega, num saboroso domingo â tarde, é deliciosa e tem até alguma justificação: - Como precisam de ser massajados intensamente após os jogos, a presença dos pelos constituiria um verdadeiro tormento. Acredito, claro! O que teria acontecido se, no nosso trajecto evolutivo, as mães não tivessem tido aquela atitude de privilegiar a beleza de um corpo desprovido de pelos? Teríamos hoje as equipas de futebol do mundial atrapalhadas e muito incomodadas, quer pelas faltas – ao arrancarem os pelos uns aos outros – quer pelos castigos inquisitoriais inerentes às massagens pós jogo…

1 comentário:

Anthrax disse...

Clap, clap, clap, clap, clap!

Adorei a diferença entre pelados e peludos. :)