Reacção de um porta-voz da Associação de Estudantes da Escola Gil Vicente em Lisboa ao novo Estatuto do Aluno, ontem aprovado na Assembleia da República:
“Quer um exemplo? O novo estatuto prevê que os alunos tenham de pagar o material que estragaram. Isso é pedagógico? Não é. Se um aluno partir um vidro e for obrigado a pagá-lo, no dia seguinte parte outro e dois dias depois outro ainda. Porque a obrigação da escola não é castigá-lo, mas explicar-lhe porque é que não deve andar a partir vidros."
É este o estudante tipo que fomos criando ao longo dos últimos anos, fruto de um clima de indisciplina, desresponsabilização e facilitismo e consequência da falta de autoridade das escolas. Temos pela frente um trabalho muito duro de transformação…
“Quer um exemplo? O novo estatuto prevê que os alunos tenham de pagar o material que estragaram. Isso é pedagógico? Não é. Se um aluno partir um vidro e for obrigado a pagá-lo, no dia seguinte parte outro e dois dias depois outro ainda. Porque a obrigação da escola não é castigá-lo, mas explicar-lhe porque é que não deve andar a partir vidros."
É este o estudante tipo que fomos criando ao longo dos últimos anos, fruto de um clima de indisciplina, desresponsabilização e facilitismo e consequência da falta de autoridade das escolas. Temos pela frente um trabalho muito duro de transformação…
15 comentários:
Penso que podem ser estraídos, assim à "priori" três conclusões-reflexões:
1- se o miúdo partir um vidro e for obrigado a paga-lo, é pedagógico! Pode não estar a beneficiar da forma excelente de pedagogia, da melhor adequada ao acto, mas não deixa (a menos que seja portador de uma limitação mental) de perceber que o acto praticado, é reprovável e que, para os actos reprováveis, a sociedade detirminou que, existe castigo, neste caso, reparação.
2- A menos que exista realmente uma atrofia mental, se o mesmo miúdo, no dia seguinte, determinar que vai partir outro vidro, como forma de se vingar, ou de se exibir, ou coisa que o valha, vai ter de usar de mais inteligência, por forma a poder partir o vidro, sem que alguem possa provar que foi ele o autor fa façanha, mas, ao mesmo tempo, conseguir que os colegas saibem quem é o heroi. Esta dinâmica, comporta tambem uma dose interessante de desenvolvimento intelectual.
3- A obrigação da escola, está limitada ao ensino das matérias aprovadas para o ano lectivo, conforme as disciplinas. Se quisermos estender o programa a outros ensinamentos, será necessário criar um novo sistema de ensino, onde participem, em simultâneo, ou em separado, os papás e as mamãs dos meninos que demonstram aptidão para a quebra de vidros.
Haverá dinheiro suficiente no orçamento do ministério da educação, ou das câmaras municipais, para implementar esse novo programa e pagar aos formadores?
Talvez seja uma questão de sonoridade, eu... não aprecio especialmente o som do vidro a quebrar-se, dou muito mais atenção ao som tilintante do dinheiro... moeda... de troca.
http://www.youtube.com/watch?v=Xl6NfQyNLto
;))))
Adorei aquele estraídos!
Confesso... acho que confere um certo charme à frase...
Secalhar tinha aproveitado mais, quando andei na escola, se tivesse quebrado uns vidros. Dia sim, dia não um vidro, até porque o orçamento, ou seja, a semanada não dava para mais.
;))
E mais à frente, aparece um saibem... mas este não é erro ortográfico, não, aquele saibem, é a forma concentrada de sai bem, ou seja... é o Bartolomeu a dizer ao Bartolomeu: pá, tu sai daqui, mas sai bem, sem muito ruído, para não incomodares...
;))
Adorei aquele "Secalhar", também gosto muito de sacanear.
Telhados de vidro ...
http://fiel-inimigo.blogspot.com/2010/07/da-escola-local-de-pasto.html
"Recomendar cuidado no uso das roupas nas escolas, é uma atitude 'castradora'.
De uma luminária 'Presidenta' de uma Associação de pais ligada ás escolas.
PS: poderá produzir 'castratis'?
Ou talvez 'Frustratis'.
Não há pachorra.
Bmonteiro
Caro Bartolomeu
Admiro o seu espírito brincalhão. Realmente com tanta parvoeira o melhor, é mesmo, juntarmos o útil ao agradável.
Parece-me elementar que actos praticados pelos alunos que lesam um bem colectivo tenham que ser reparados. Tenho pena que não tenha sido conferida às escolas autonomia para decidir sobre o tipo de reparação. O trabalho cívico em benefício da comunidade escolar pode em determinados casos ser uma reparação bem mais adequada e, porventura, mais exequível do que uma contrapartida em dinheiro.
Este é um exemplo da falta de elasticidade e flexibilidade conferida às escolas para, em função dos casos concretos, aplicar as respostas que se afigurem mais adequadas.
Um Estatuto do Aluno deveria, a meu ver, consagrar princípios que seriam depois executados pelas escolas conferindo-lhes a necessária autonomia.
Sem esta descentralização de "poder", em que o conhecimento e a vivência de proximidade são fundamentais, é difícil conferir às escolas maior responsabilidade e responsabilização.
Ainda assim, o novo Estatuto do Aluno recuperou um conjunto de práticas que não são novas e veio mostrar que durante anos (ou décadas) andámos por caminhos muito errados.
Caro RioD'oiro
Grata pela preferência.
Caro bravomike
Não há pachorra, pois não. O pior é que essas vozes têm feito caminho.
É certíssima a observação que a Drª. Margarida faz acerca do meu "espírito". Sou de facto um brincalhão. Por vezes a pender para o cáustico, outras vezes a resvalar para o inconveniente... algumas vezes (raras) acertivo.
No entanto, parece-me que o meu "espírito" brincalhão, se enquadra na onda "espíritual" que conquistou o país, sobretudo a nossa classe política e dirigente em geral. Quanto a mim, existem actualmente três clategorias distintas de políticos: Aqueles que já foram, ou querem ser e vivem "atracados" àqueles que são na tentativa desesperada de conseguir ser. Os que são e sem ter vontade de fazer nada do que se esperaria que fisessem, fingem fazer, sem deixar que outros façam. E por último, aqueles que tentam desesperadamente fazer alguma coisa, porque mantêm vivo o "espírito" do idealismo, de sociedade e de estado mas porque a corrente que os trava é fortíssima, socumbem e tornam-se vítimas desta monumental e hilariante brincadeira.
E que nome dá o brincalhão Bartolomeu à tal brincadeira?
Amona!
Não sei se a Drª. Margarida alguma vez teve contacto com a brincadeira a que me refiro. Se não, eu explico muito sucintamente: era uma brincadeira de miúdos, que decorria frequentemente em piscinas e consistia em nadar por trás de um dos colegas e, colocanmdo-lhe a mão sobre a cabeça e fazê-lo submergir.
Esta brincadeira, em minha opinião, pratica-se em política cada vez com mais frequência, estando a ganhar todos os dias, novos adeptos. Não me espanto nada, se um dia destes vier a tornar-se modalidade e quem sabe, em 2012, seja já considerada olímpica. Se assim vier a ser, profetizo sem dificuldade nenhuma que Portugal vai arrecadar as 3 medalhas da competição.
Para finalizar, quero deixar uma pequena reflexão/sugestão para todos aqueles que desejam readquirir a juventude, e regressar àquele períudo entre a infância e a adolescência... tentem a política!
Mas tomem cuidado, e antes da decisão, façam um curso de mergulho em apneia.
;)
No meu tempo e mesmo sem estatuto do aluno("era a longa noite") às crianças desaustinadas nem lhes passava pela cabeça partir fosse o que fosse, nem na escola nem noutro lado qualquer.
Sabíamos que se o fizessemos tinhamos em casa quem nos "explicasse" com argumentos de peso que não se partem as coisas dos outros.
Não há estatuto que substitua a boa educação.
Ora aí está!
O Ricardo disse, de uma forma simples e concreta a maior verdade e a maior coerência que se pode querer.
Em casa, estávamos "tramados" se saíamos do eixos.
Foi isso que se perdeu, foi esse respeito e essa diligência que as mal entendidas liberdades, permitiram que se tornassem abusos.
Cada um passou a interpretar o conceito de liberdade e de democracia da forma que melhor lhe conviu.
E hoje?
Hoje, temos nas escolas miúdos que fazem aquilo que lhes dá na veneta, temos pais que ameaçam professores porque simplesmente lhes quiseram educar os filhinhos. Temos professores que, já completamente "passados do carretos" têm atitudes que ninguem consegue entender o sentido.
em suma, temos um completo desajuste entre aquilo que se entende desejável, numa perspectiva de futuro e de organização sicial.
O que nos espera?
O que espera esta sociedade?
O que desejam fazer os políticos que emergem e declaram a intenção firme de segurar as redeas a este desaustinado corcel?
Caro Bartolomeu
Já reparou que vivemos numa sociedade em que toda a gente reclama direitos mas se "esquece" dos deveres?
Este clima influencia a educação das crianças e dos jovens, seja no seio da família seja na escola.
O comentário do Caro Ricardo que me fez recuar aos meus tempos de estudante no liceu é muitíssimo pertinente. Naquela época havia disciplina e respeito em relação aos pais e aos professores. Sabíamos bem quais eram os nossos deveres e não fazíamos má cara por causa disso!
Exactamente, cara Drª. Margarida, não "fazíamos má cara"! Pelo contrário, entendíamos a admosteações, nos primeiros instantes com um sentimento misto de vergonha e de alguma revolta, ao qual se sobrepunha de imediato o reconhecimento de que na acção repreensiva dos pais, se incluía uma imensa dose de amor.
É este sentimento que nos nossos dias me parece ser uma imensa lacuna nas relações entre pais e filhos.
Não me refiro a um amor paternal, mas a um amor diferente, um amor com o olho posto na evolução, na integração social e ao fim e ao cabo, um amor por si mesmo, aquilo que se entende na generalidade por auto-estima.
;)
Cara Margarida,
Infelizmente, era este o discurso que ouvia no pouco tempo que passei a leccionar num Centro de Entretenimento e Guarda de Crianças e Jovens (quero dizer, escola publica).
Ainda hoje, uma parte muito substancial dos meus amigos e conhecidos tem como expressões chave as seguintes:
- "Onde deixo os meus filhos?";
- "Já não sei o que fazer mais, a (...) está insuportável, ainda bem que amanhã é segunda feira!";
- "Já estão de férias outra vez? Os professores não fazem mesmo nada!";
- "O professor de (...) passa a vida a mandar trabalhos de casa para o meu filho. Que tenha santa paciência, mas eu não tenho tempo para isso...";
- "A professora de (...) mandou-me um recado a dar conta que a minha filha se portou mal na sala! Esta agora! E que tenho eu a ver com isso? Ela é que entendeu ser professora, que resolva o problema!"
- "Achas normal as aulas terminarem às 19 horas? Os professores devem julgar que não tenho mais nada para fazer! Como é que vou buscar os miúdos?"
- "O professor de (...) expulsou o meu filho da sala de aula! Será isto pedagógico?"
Raramente, encontro alguém a perguntar porque o filho sabe tão pouco de matemática, português, biologia, etc..!
Desengane-se quem julga que basta um estatuto do aluno. Desengane-se quem julga que basta privatizar o ensino.
A situação é de tal forma grave que é necessário fazer uma reforma com cabeça tronco e membros e essa reforma demorará, seguramente, mais de dez anos a tomar forma.
Caro Fartinho da Silva
Precisamos, concordo plenamente consigo, de uma reforma com cabeça, tronco e membros, para usar as suas palavras. O problema é que os decisores e executantes dessa reforma fazem parte da sociedade que temos e nela também cresceram. Tenho, no entanto, a esperança de que há pessoas com a lucidez necessária para descortinar o que é necessário mudar. Mas a mudança teria que ter uma grande liderança, ser mobilizadora e trazer para a sua realização a sociedade como um todo.
Costumo dar este exemplo para ilustrar a dificuldade de uma reforma. Tenho para mim que seria excelente introduzir nos currículos escolares o tema da "educação para a cidadania". Mas depois questiono-me quem seriam as pessoas em condições para ministrar esta disciplina e não encontro resposta.
É que o mal de que fala o Caro Fartinho da Silva está impregnado na mentalidade portuguesa.
Mas estou convencida que só através da educação podemos fazer a mudança - é o que está a acontecer em países que estão a fazer grandes apostas na educação. As crianças são os melhores "veículos" de contaminação de comportamentos e atitudes. É por isso que que as crianças são o futuro...
Cara Margarida,
Desejo imenso que apareçam essas pessoas. Desejo imenso que nos livremos do populismo e do eleitoralismo e enfrentemos os verdadeiros problemas deste sector e de todos os outros com seriedade, know-how, pragmatismo e muita coragem.
Vamos ver, estou muito céptico.
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