Ontem à noite fomos a Sintra para assistir à exibição da Ópera “= Elixir do Amor”, de Donozetti, apresentada pela OP, Companhia Portuguesa de Ópera, no Largo Rainha D. Amélia, em frente ao Palácio Nacional.
Deixámos o carro logo à entrada de Sintra, perto do apeadeiro, e fomos a pé pela vila, a noite estava ótima e aproveitámos para ir vendo com vagar as ruas por onde passávamos. Apesar da enorme beleza da vila de Sintra e do esforço de modernidade que se encontra em muitas lojas e edifícios, novos ou recuperados com esmero, impressionou-me a quantidade imensa de casas em ruínas, umas a seguir às outras, escondidas nas ruas sossegadas onde as famílias de classe média de há poucas décadas passavam as férias ou aí viviam. São casas pequenas mas muito elegantes, com os seus telhados com arrebiques, a fachada romântica com arcadas e azulejo de Nossa Sra., e pequenos jardins onde ainda crescem a eito, no meio do matagal, os antigos grupos de hortênsias cor de rosa. Muitas ainda resistem com alguma dignidade ao abandono, à falta de dinheiro para as obras urgentes ou às desavenças entre herdeiros que se arrastam nos tribunais mais tempo do que pode resistir uma obra de pedra e cal. Mas as portadas ressequidas, expostas ao vento e ao sol, os vidros partidos e as ervas a crescer nos telhados dão-lhes um ar ainda mais triste, uma espécie de resignação humilhada, do que as que cederam por completo, sem telhado, as cantarias mal suspensas, e as varandas de ferro forjado a deixar adivinhar os monogramas dos antigos donos. As ruas mais escondidas da vila de Sintra mostram bem a decadência de uma classe média sóbria e discreta que não resistiu aos atropelos da história.
Contornámos a Volta do Duche, pontuada de estátuas aqui e ali, chegámos ao Largo da Rainha, com escala obrigatória na Piriquita, a recuperar fôlego com um delicioso travesseiro e uma bica, enquanto não começava o espectáculo.
Já se acentuava a neblina no cume da serra mas a plateia estava quase cheia e o espectáculo começou, com a orquestra a dar as primeiras notas da melodia e os cantores a encetar os amores desencontrados de Nemorino e Adina. E estava tudo a correr muito bem, não fosse a névoa cerrada ter começado a deslizar teimosamente pela encosta, até cobrir tudo de uma malha fininha de gotículas que em breve escorriam pelos violinos e embaciavam as figuras no palco. Foi com pena de todos que se suspendeu o espectáculo no fim do I acto, com promessa de se poder voltar hoje, que é dia de gala, pode ser que o S. Pedro guarde a névoa para outros dias.
Apesar da nostalgia que senti ao ver a decadência de uma época que conheci bem, quando em criança ali passava férias, é sempre um passeio encantador, a Câmara está de parabéns pelo seu esforço de animação cultural naquela belíssima e sempre deslumbrante vila de Sintra.
Deixámos o carro logo à entrada de Sintra, perto do apeadeiro, e fomos a pé pela vila, a noite estava ótima e aproveitámos para ir vendo com vagar as ruas por onde passávamos. Apesar da enorme beleza da vila de Sintra e do esforço de modernidade que se encontra em muitas lojas e edifícios, novos ou recuperados com esmero, impressionou-me a quantidade imensa de casas em ruínas, umas a seguir às outras, escondidas nas ruas sossegadas onde as famílias de classe média de há poucas décadas passavam as férias ou aí viviam. São casas pequenas mas muito elegantes, com os seus telhados com arrebiques, a fachada romântica com arcadas e azulejo de Nossa Sra., e pequenos jardins onde ainda crescem a eito, no meio do matagal, os antigos grupos de hortênsias cor de rosa. Muitas ainda resistem com alguma dignidade ao abandono, à falta de dinheiro para as obras urgentes ou às desavenças entre herdeiros que se arrastam nos tribunais mais tempo do que pode resistir uma obra de pedra e cal. Mas as portadas ressequidas, expostas ao vento e ao sol, os vidros partidos e as ervas a crescer nos telhados dão-lhes um ar ainda mais triste, uma espécie de resignação humilhada, do que as que cederam por completo, sem telhado, as cantarias mal suspensas, e as varandas de ferro forjado a deixar adivinhar os monogramas dos antigos donos. As ruas mais escondidas da vila de Sintra mostram bem a decadência de uma classe média sóbria e discreta que não resistiu aos atropelos da história.
Contornámos a Volta do Duche, pontuada de estátuas aqui e ali, chegámos ao Largo da Rainha, com escala obrigatória na Piriquita, a recuperar fôlego com um delicioso travesseiro e uma bica, enquanto não começava o espectáculo.
Já se acentuava a neblina no cume da serra mas a plateia estava quase cheia e o espectáculo começou, com a orquestra a dar as primeiras notas da melodia e os cantores a encetar os amores desencontrados de Nemorino e Adina. E estava tudo a correr muito bem, não fosse a névoa cerrada ter começado a deslizar teimosamente pela encosta, até cobrir tudo de uma malha fininha de gotículas que em breve escorriam pelos violinos e embaciavam as figuras no palco. Foi com pena de todos que se suspendeu o espectáculo no fim do I acto, com promessa de se poder voltar hoje, que é dia de gala, pode ser que o S. Pedro guarde a névoa para outros dias.
Apesar da nostalgia que senti ao ver a decadência de uma época que conheci bem, quando em criança ali passava férias, é sempre um passeio encantador, a Câmara está de parabéns pelo seu esforço de animação cultural naquela belíssima e sempre deslumbrante vila de Sintra.
9 comentários:
Na "Piriquita", tinha por habito perder-me com a Nóz. Nunca me bastava uma, por vezes eram três. Tempos em que o metabolismo, queimava tudo e mais alguma coisa.
Por vezes também, parava no "Preto", em S. Pedro de Sintra que entre outros doces, tinha umas broínhas que eram uma delícia e, num outro à entrada de Sintra, que agora não me recordo o nome, onde não conseguia para de comer uns scone's que... Hmmmmm. Bom, é melhor nem lembrar.
Suzana
Quando era pequenita vivi em Sintra, mas não tenho memória. Foi justamente por causa da elevada humidade que os meus Pais decidiram vir viver para Lisboa.
Sintra tem um charme muito especial e uma atmosfera encantadora. Tem piada que sempre que passo por Sintra prometo sempre a mim própria que tenho que fazer uma visita mais prolongada, sem pressas.
Muita coisa melhorou, mas há ainda muito para reconstruir e alindar. É preciso vontade, bom gosto e muito dinheiro...
Também gosto de Sintra, e muito em particular da estrada até à praia das maçãs, pois quando era mais jovem tive aí encontros imediatos de terceiro grau, que recordo com muita saudade...
E agora, o encontro imediato já a seguir é a rainha, melhor dizendo a praia da rainha que eu sou plebeu!
:)))
Tem razão a Drª. Margarida, quando observa que muito ha que ser feito em Sintra e zonas envolventes, para que seja devolvido a Sintra aquele ambiente mágico, profano, místico, religioso, misterioso, astrológico, astronómico, esotérico e histórico que a caracteriza.
Ha uns 25 anos, talvez, adquiri ali um terreno onde pretendia construír uma casa para férias. A zona era paradisíaca, de tal forma que se encontrava classificada no PDM, como "Zona de Paisagem Protegida". Apresentei para licenciamento, um projecto de construção idealizado por mim, que respeitava integralmente a arquitectura tradicional e se enquadrava inteiramente na paisagem. Foi indeferido. Esta petição obrigou-me a visitar bastantes vezes os serviços da câmara, nomeadamente o gabinete de urbanismo. Falei com diversos técnicos, engenheiros, etc. tomei conhecimento de alguns dos problemas com que o Concelho se debate.
Talvez Sintra, seja o único Concelho de Portugal que reune na sua área, características tão díspares e tão difíceis de conciliar. Sintra é composto geográficamente por uma vasta área de litoral, de serra e de interior, todas elas protegidas. Pelo meio, encontramos zonas históricas, culturais, agrículas, residenciais e industriais.
Não é fácil conciliar características e interesses tão diferentes e opostos entre si.
Pois caro Bartolomeu, ainda lá pode ir comer uma noz dourada,claro que comi uma e estava uma delícia! Mas as melhores eram as da Casa das Nozes Douradas, em Galamares, era paragem obrigatória quando íamos à Praia Grande.
Caro jotac, isso é que são memórias!, pode sempre aproveitar o eléctrico encarnado, que já a funcionar no Verão, e dar um saltinho à Praia das Maçãs, é muito divertido.
Margarida, vale bem apena um passeio a Sintra e, se for para andar a pé, melhor ainda!
Ai as lembranças que a Drª. Suzana Toscano me faz reviver, Galamares e a esplanada do Alcino, fim de tarde de praia, pôr-do-sol, uns búzios divinais, uma imperial de beber e chorar por mais... Praia Grande, restaurante do Hotel Arriba... uma cozinha como poucas, que se foi degradando. Lembra-se de umas vieiras que eram servidas no restaurante do hotel, cara Drª.?
De frente para o mar, em dias de invernia, que excelentes almoços ali desfrutei...
Caro Bartolomeu, quando passava férias em Sintra e ia à Praia Grande nos três meses de Verão ainda não sabia apreciar essas iguarias. Mas lembro-me muito bem de irmos explorar as rochas para encontrar anémonas e deitar-lhes migalhinhas de bolacha para ver se elas as apanhavam...As nozes douradas comprava sempre o meu pai quando íamos para a praia, comiam-se logo no carro para grande zanga dele por causa das lambuzadelas.
;)))
Estou capaz de dar um "salto" a Sintra, àpiriquita, oa fim do dia, só para atestar se as nozes douradas ainda me sabem como sabiam.
Deixei de la ir, por não ter paciência para estar na fila.
Ou então, dou um saltinho à Ericeira, às broínhas e às areias...
;)
Na Ericeira recomendo as marés, no café Central ou então os ouriços...uma delícia!
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