O princípio da seleção natural ensina-nos que os membros mais aptos de uma espécie têm mais hipóteses de sobreviver. Em termos biológicos trata-se de uma regra universal e que explica a evolução e a biodiversidade. Aquele conceito de os menos aptos, os mais frágeis, estão condenados à eliminação não é correto, porque o conceito de mais “frágil” poderá modificar-se de acordo com as condições e pressões ambientais. O conceito de eliminação dos menos aptos é, por vezes, utilizado nas esferas social e laboral. Quando tal acontece, as consequências podem ser muito graves e negativas para a própria humanidade. Custa-me imenso ver a aplicação destes princípios à sociedade.
O caso da Enron é paradigmático de uma certa forma de darwinismo social que importa evitar. O diretor executivo de então, Jeffrey Skilling, confessou que o sistema que pôs em execução na empresa, “rank and yank”, foi elaborado em ideias darwinistas, no “desejo dos genes” em se propagar. Este modelo, perverso, baseia-se em hierarquizar os trabalhadores numa determinada escala. De tempos a tempos, no caso da Enron, de seis em seis meses, os 5% melhores classificados eram compensados financeiramente e os últimos 15% eram “eliminados”, despedidos. A atmosfera laboral causada por este sistema é fácil de imaginar; um modelo perfeito para os trabalhadores se destruírem uns aos outros.
Trata-se de um sistema não compatível com a empatia e a solidariedade humanas, que, curiosamente, foram os principais motores de desenvolvimento e de sobrevivência dos grupos. Mesmo em outros primatas é comum verificar-se comportamentos altruístas, sem os quais não pode haver harmonia nem garantias de sobrevivência. O altruísmo de grupo sobrepôs-se na nossa espécie, e sobrepõe-se em muitas outras, ao egoísmo individual, o qual reflete, de algum modo, um certo desejo de domínio e de poder. O grande problema surge quando o egoísmo se impõe como norma e se dissemina como uma epidemia. Se analisarmos bem o que está a acontecer na nossa sociedade, podemos verificar uma tendência expansionista do modelo “rank and yank”, a outros setores, tendência perniciosa a todos os níveis, colocando os cidadãos uns contra os outros, numa tentativa feroz de sobrevivência e de obter as máximas compensações e mordomias possíveis.
O sistema democrático, por definição, deveria garantir as liberdades e garantias a qualquer cidadão, mas também permite que se constituam grupos cujas finalidades darwinistas sociais e políticas são uma triste realidade ao não respeitarem princípios éticos.
A empatia e a solidariedade humanas continuam a existir, sem sombra de dúvida, mas só aparecem esporadicamente em casos extremos, ou seja, catástrofes naturais, acidentes graves ou quaisquer outros capazes de despertar esse resquício evolutivo de entreajuda e de altruísmo. No dia-a-dia começa a ser cada vez mais rara a força altruísta do grupo ou grupos e começa a prevalecer o “egoísmo grupal”. Os próprios partidos políticos, e diversos agrupamentos ideológicos e económicos, têm dado algumas provas, inquietantes, deste tipo de comportamento. Usando as prerrogativas da democracia, alimentam os seus membros em detrimento da maioria trabalhadora, simples e detentora de um idealismo violado constantemente por muitos em que depositaram o seu voto e a sua confiança.
Apesar de toda a evolução e crescimento civilizacional, os cidadãos crentes na humanidade serão as vítimas preferidas de um sistema que faz lembrar o modelo “rank and yank”, acabando por ser desterrados, humilhados, empobrecidos, esquecidos e até eliminados. Os que andam a definir as “regras da vida”, sabem que poderão ocupar os tais 5 ou 10% do topo. Acontece que essa escala é criada com base em interesses não coincidentes com o que esteve em tempos na base da evolução da nossa espécie: altruísmo, empatia e solidariedade de grupo. Resta a esperança de que, tal como já aconteceu por diversas vezes noutros tempos, certas convulsões sociais consigam criar a ideia de que é possível construir uma sociedade mais justa.
Trata-se de um sistema não compatível com a empatia e a solidariedade humanas, que, curiosamente, foram os principais motores de desenvolvimento e de sobrevivência dos grupos. Mesmo em outros primatas é comum verificar-se comportamentos altruístas, sem os quais não pode haver harmonia nem garantias de sobrevivência. O altruísmo de grupo sobrepôs-se na nossa espécie, e sobrepõe-se em muitas outras, ao egoísmo individual, o qual reflete, de algum modo, um certo desejo de domínio e de poder. O grande problema surge quando o egoísmo se impõe como norma e se dissemina como uma epidemia. Se analisarmos bem o que está a acontecer na nossa sociedade, podemos verificar uma tendência expansionista do modelo “rank and yank”, a outros setores, tendência perniciosa a todos os níveis, colocando os cidadãos uns contra os outros, numa tentativa feroz de sobrevivência e de obter as máximas compensações e mordomias possíveis.
O sistema democrático, por definição, deveria garantir as liberdades e garantias a qualquer cidadão, mas também permite que se constituam grupos cujas finalidades darwinistas sociais e políticas são uma triste realidade ao não respeitarem princípios éticos.
A empatia e a solidariedade humanas continuam a existir, sem sombra de dúvida, mas só aparecem esporadicamente em casos extremos, ou seja, catástrofes naturais, acidentes graves ou quaisquer outros capazes de despertar esse resquício evolutivo de entreajuda e de altruísmo. No dia-a-dia começa a ser cada vez mais rara a força altruísta do grupo ou grupos e começa a prevalecer o “egoísmo grupal”. Os próprios partidos políticos, e diversos agrupamentos ideológicos e económicos, têm dado algumas provas, inquietantes, deste tipo de comportamento. Usando as prerrogativas da democracia, alimentam os seus membros em detrimento da maioria trabalhadora, simples e detentora de um idealismo violado constantemente por muitos em que depositaram o seu voto e a sua confiança.
Apesar de toda a evolução e crescimento civilizacional, os cidadãos crentes na humanidade serão as vítimas preferidas de um sistema que faz lembrar o modelo “rank and yank”, acabando por ser desterrados, humilhados, empobrecidos, esquecidos e até eliminados. Os que andam a definir as “regras da vida”, sabem que poderão ocupar os tais 5 ou 10% do topo. Acontece que essa escala é criada com base em interesses não coincidentes com o que esteve em tempos na base da evolução da nossa espécie: altruísmo, empatia e solidariedade de grupo. Resta a esperança de que, tal como já aconteceu por diversas vezes noutros tempos, certas convulsões sociais consigam criar a ideia de que é possível construir uma sociedade mais justa.
3 comentários:
Prezado Sr. Salvador Massano Cardoso,
Continuo a admirar a vossa capacidade de traduzir em palavras um conjunto complexo de acções e interacções entre os seres humanos ao longo dos tempos, neste caso centrada no altruísmo, egoísmo. Já há vários anos venho sentindo um aumento do egoísmo nas pessoas. Não me vou debruçar muito porque como já é timbre aqui no blog do Quarta, em brves minutos e horas teremos excelentes comentários e réplicas. No entanto gostava de chamar a atenção para um episódio menos relevante. Está a decorrer mais uma volta a França em Bicicleta, o Mundialmente Famoso "Tour de France" que me traz sempre à memória as participações de Ciclitas como o malogrado Joaquim Agostinho e outros que se seguiram como Marco Chagas e Acácio da Silva entre outros. Também me recordo do Tour de France de outros tempos pelas deliciosas reportagens dos Jornalistas do desportivo "A Bola" com páginas enormes e a deixar a tinta nas nossas mãos. Mas o que queria dizer sobre o Tour de France que acaba este domingo, é sobre o episódio de há 2 dias atrás. O Ciclista que ia em 1 Lugar Andy Schleck, resolveu atacar ou seja, resolveu partir mais rápido para ganhar mais distancia ao 2º Classificado, o já por 2 vezes Vencedor do Tour de France, Alberto Contador. Mas quando Andy Schleck "atacou, saltou a corrente da sua Bicicleta e ele foi forçado a parar. Eu que até pedalo mal, no lugar de Contador, teria feito um "compasso de espera de alguns segundos, esperando que o meu adversário se refizesse e pudesse dar luta igual. Mas Contador não fez isso, assim que viu o adversário em temporário mau momento e parado, resolveu atacar e partir rápido para ganhar os preciosos segundos que fizeram com que passasse para o 1º lugar e seja provavelmente o vencedor da competição deste ano. Ok, podem dizer-me que a vida é mesmo assim, mas para um Ciclista que já ganhou 2 vezes o Tour de France, não ter o Fair Play de não atacar no momento em que o adversário cambaleou, não demonstra para mim um verdadeiro espírito de campeão. Enfim, será sempre ditada a lei do mais forte e eu ( Sonhador ) lá tenho uma esperança que Andy Schleck dê amanhã uma grande lição a Contador.
Caro Prof.Massano Cardoso
Se calhar a Humanidade em termos sociais está a atingir o ponto de não retorno!
Procuro respostas (plausíveis) em Rudolf Steiner e Allan Kardec.
Grandioso texto e, grandioso discernimento, Senhor Professor.
Por mim, declaro desde já o Naturalista Charles Darwin, inocente neste processo.
Substitu-o pelo Ditador Nazi Adolf Hitler que ficou na história, tambem pela sua ideologia de apuramento da raça ariana, que ele considerava uma raça superior... o que levou ao extermínio de elevado número de pessoas... um genocídio.
Estranho o facto tendencial, de a história se repetir e de, o cúmulo de exemplos negativos, conhecidos e documentados, não ter o peso devido na opinião e comportamento sociais.
Revejo-me convícto, na sua reverberante alocução, estimado Professor!
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