"Senti-me numa zona cinzenta, entre a inteligência e a consciência de meses a negar uma postura inversa e as circunstâncias descritas levaram-se a votar de acordo com o que foi o meu verbo durante meses", justificou-se, em jeito de pedido de desculpas ao secretário-geral Seguro, a ainda deputada socialista Isabel Moreira que votou ontem ao lado do PCP e do BE contra disposições do Orçamento de Estado e contra a abstenção do PS.
A senhora deputada, a quem os media alçaram à condição de grande constitucionalista, sofre assim de confessada doença, de resto muito comum entre os gurus novos da política que rapidamente passam a estrelas cadentes: dividida entre a inteligência e a consciência cedeu ao verbo a mais. Se não fosse o seu "verbo durante meses" poderia, com inteligência e sem violentar a sua consciência, votar ao lado da sua bancada na mais pura claridade e coerência, a favor do orçamento como prometia o seu secretário-geral, ou abstendo-se de o aprovar como reclamou a maioria da sua bancada.
A ida ao "Perdoa-me!" protagonizada pela deputada poupou-nos, todavia, àquela tão costumeira quanto hipócrita ladainha de que o partido é plural, que a sua força é a diversidade de opiniões ou que faz parte do seu património genético existirem posições políticas diferentes e união no essencial. É que desta vez seria necessário explicar o que nunca foi preciso fazer perante a rebeldia de Alegre ou de Cravinho: que a votação de disposições do Orçamento do Estado que foram o cavalo de batalha do secretário-geral do partido é pouca coisa para efeitos de disciplina de voto...
5 comentários:
A ilustre deputada bem que podia explicar de forma mais simples o que parece ser óbvio!, ou será que não!?...
Isto faz-me lembrar um pouco a frase de Einstein:
"Se não consegues escrever sobre um assunto de forma simples é porque na verdade não o compreendes" .
José Mário
Pelos vistos, não se aguentou muito tempo, é de constituição frágil. Acontece a alguns distintos deputados...
Meu caro JotaC, é isso mesmo. A senhora deputada tem todavia a atenuante de se ter sentido..."numa zona cinzenta". Desorienta qualquer mortal, a zona cinzenta!
Margarida, está bem visto. A senhora é constitucionalista mas da "constituição frágil". Está tudo explicado!
Ora aí temos uma Deputada dotada de enorme verbo. Um verbo e peras, daqueles que, brotando fortes e persuasivos, dão prazer aos sentidos, neste caso aos ouvidos...
Ora um verbo destes tem que se manifestar. O que não aconteceria, concordando, mas acontece, discordando.
Eu até gostei do verbo da Srª Deputada; não pelo verbo em si, mas pela verborreia da frase. Que, em si, ilustra de forma suprema, a cantilena parlamentar: muita parra, nenhuma uva...
A Isabel Mugeira nunca me enganou.
Isabel mugiu, não muja Isabel.
Isabel mugirá, quando Isabel mugir.
Por mugir Isabel, Isabel moge.
Que Isabel muja, muja Isabel.
Isabel mugia.
Se Isabel mugisse, Isabel mugiria.
Se não mugisse Isabel, Isabel mugiria.
Mugir é um grande verbo!
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