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domingo, 13 de novembro de 2011

A crise das negações

Esta é a crise das negações. Começou com a negação da própria crise, que inicialmente era só a nuvem negra e longínqua do subprime ao abrigo da qual, felizmente, estaria a maioria dos bancos europeus. Dotada do milagroso tratado de Lisboa, do qual dependia o definitivo reforço das instituições europeias, a Europa não tinha fraquezas, estava mais forte que nunca. Negou-se que a falência da Islândia pudesse ser um sinal de alarme, era evidente que se tratava de um caso de desvario dos bancos e deslumbramento do então Primeiro Ministro; depois a Irlanda, nem pensar em comparações, a dívida astronómica era por causa da intervenção nos bancos, nada mais claro e que nada tinha que ver com os outros europeus; depois a Grécia, esses mentirosos, tinham enganado os ingénuos europeus, a culpa era só deles, quem é que se lembrava de apresentar contas erradas anos a fio, tão espertos que ninguém deu por isso?, pois agora vão ver se entram na ordem e nem piam; depois Portugal, gastadores, muito gastadores mesmo, quem é que os mandou sonhar em deixar de ser pobres, acabou-se aqui a brincadeira, nem mais um bail out para amostra, chega! disse a então ministra das finanças francesa, agora Presidente do FMI, agora a temer o colapso da Europa, então era “Portugal será a porta corta fogo da crise”, por cá negava-se todos os dias a necessidade de pedir ajuda e quem duvidasse era antipatriota. Negou-se o domínio das agências financeira, negou-se a fragilidade dos Governos, negaram-se as crises políticas, negou-se a crise de financiamento, negou-se a impotência das instituições europeias, negou-se o resvalar da Itália, a Itália, esse colosso, não, o problema é Berlusconi, os mercados querem Berlusconi fora dali, a Itália não, por favor, a Itália não. Os bancos não precisavam de ajuda, vejam lá o êxito dos testes de stress que tanto nos stressaram, os bancos não vão ser nacionalizados, a Europa não está a esboroar-se, não, a Alemanha e a França nunca falaram em duas Europas, nem pensar, Barroso nega a pés juntos e garante que a Europa tem mesmo é que se unir cada vez mais. Todas as cimeiras são um êxito, o problema são os políticos que não conseguem que os povos abracem a austeridade, mudem os Governos, quanto mais depressa melhor, depois é só esperar o renascimento, o BCE não vai ser o emprestador de último recurso e não haverá nunca mais países mal comportados numa Europa finalmente unida, próspera e feliz, cheia de banqueiros a Governar. Não há nenhuma crise do euro. Uma agência negou que estivesse a ponderar descer o rating de França, e é completamente falso que haja rumores sobre a Áustria. Neguemos, pois.

6 comentários:

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

...e mais isto... GARANTIR DÍVIDA SOBERANA É CONVERSA FÁCIL?!
«O primeiro-ministro discorda das ideias de Cavaco Silva sobre o Banco Central Europeu (BCE) e diz mesmo que pôr o BCE a garantir dívida soberana dos países do euro é uma “conversa fácil”. »

Bartolomeu disse...

Passada a fase de negação, é já tempo de se iniciar a fase da afirmação. Começando por afirmar a vontade de negar a negação.
Basta de tanta negação, dê-se espaço para a afirmação poder confirmar e confirmar-se.
Passámos já demasiado tempo em movimento de marcar passo e recuar. Está mais que na altura de começarmos a aventurar-nos no combate ao negativismo, porque já se compreendeu o que causa dano às economias dos países, já sabemos que determinados procedimentos são nefastos, sabemos com exactidão o que devemos evitar fazer e sabemos com exactidão também, em que devemos investir todo o potencial humano de que dispomos.
Ha que começar a caminhar no sentido correcto, no sentido que todos sabemos ser aquele que nos pode conduzir à recuperação, ao restabelecimento de melhores condições de vida, o caminho capaz de nos afastar da berma do precipício onde temos andado "tem-te não caias Maria".

PS: No próximo dia 26, sábado, irá realizar-se no Palácio do Morgado em Arruda dos Vinhos, entre as 16 e as 19 horas, a apresentação de um vinho com o rótulo "Espíritus"
do qual serei o "padrinho", agradecendo desde já a presença e a companhia de todos quantos estiverem dispostos a provar um vinho, de que não irão esquecer-se.
A entrada para o local da apresentação é feita pelo portão do jardim do palácio localizado nas traseiras do xafariz de Arruda, existe estacionamento mesmo à porta.
Até sábado!
Para esclarecimento de qualquer dúvida, poderão contactar-me pelo mail m.frederico.52@gmail.com.

Bartolomeu disse...

Em aditamento ao "PS" faltou-me referir que faz parte do mesmo complexo onde decorrerá a apresentação do "Espiritus", um restaurante de muita qualidade e optimo ambiente, onde quem quiser, poderá ficar para jantar.

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

A crise das negações foi amputada da negação dos comentários, da censura de um social democrata que não é acefalamente alinhado.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Muito bem apontado.
A política da negação não pode durar sempre. Está muito associada a uma Europa das proclamações e da mediatização.
E assim se foi construindo um cada vez maior fosso entre as instituições europeias que negam a sua própria incapacidade e os seus “líderes” que querem fazer valer aos mercados e à opinião pública que controlam as crises sem quererem ao mesmo tempo assumir que existem e as populações que não se alimentam de discursos e que rejeitam a crise da austeridade.
É o resultado da falta de confiança nos políticos que de negação em negação mostraram não estar à altura das soluções dos problemas para os quais muito contribuíram.

Suzana Toscano disse...

Peço desculpa da demora nas respostas, mas não foi possível chegar em tempo. Caro P.A.S.é realmente de espantar e nao deve ser o facto de se pertencer a um partido que deve inibir de expressar as suas opiniões, bem pelo contrário, a política so ganha com isso.
caro bartolomeu, é um apelo cheio de fundamento, mas duvido que seja fácil segui-lo, talvez porque a realidade seja tão dura que o melhor é tentar desmenti-la até se tornar incontornável, apesar de todos os riscos que isso traz.Quanto ao seu amável convite, farei por estar presente, até porque falhei a última tertúlia lá para esses lados! Até sábado, possivelmente, e obrigada.
Margarida, de facto é impossível que surja confiança, com todos a atirar em todas as direcções e a substituir uns argumentos pelos seus contrários à velocidade da luz, será mesmo incapacidade?