Conheço-a há vinte e cinco anos. É uma mulher modesta. Tem hoje 78 anos e continua a trabalhar com o gosto com que fez toda a vida. Perdeu o marido há doze anos. Era taxista e o salário que trazia para casa era aconchegado com o rendimento do trabalho de modista da mulher. Desde muito jovem aprendeu o ofício de alfaiate e rapidamente percebeu o jeito que tinha para ambicionar ser modista. E assim foi, reservou duas divisões da sua modesta casa para costurar e receber as clientes.
A Antonieta vive sozinha, não tem filhos e tem a família longe. Hoje com a sua avançada idade continua a trabalhar com vigor, porque as mãos, apesar da artrose, não a deixam parar, e porque a pequena pensão que recebe da segurança social não lhe deixa outra hipóteses que não seja continuar. Não lhe ocorre a possibilidade de parar, de regressar à sua terra e aí aguardar a passagem do tempo. Costuma dizer que parar é morrer.
Claro que com o passar dos anos algumas maleitas físicas foram surgindo, queda de cabelo, perda de audição, reumático, artrose e perda de visão.
Da última vez que estive com ela, estava entristecida e preocupada. Dirigiu-se ao centro de saúde, como sempre fez, para marcar uma consulta de oftalmologia. Qual não é o seu espanto, a dita consulta foi-lhe marcada para Junho de 2012. Sim, para daqui a cerca de seis meses. Aflita, insistiu na necessidade de ser vista devido a um agravamento de perda de visão. A resposta foi categórica, o serviço estava a cumprir orientações superiores, o caso dela não era urgente, a lista de espera era grande.
O medo e a solidão apoderaram-se dela. Sem vista não pode continuar a trabalhar para as suas clientes. Pela primeira vez falou-me da injustiça do país em que vive. Lembrou-se da sua idade, de uma vida que vai para 60 anos de trabalho, afinal já era tempo de descansar e de contar com o apoio social que sempre poupou ao Estado. Afinal, há para aí tanta gente que não quer trabalhar, que vive à custa de subsídios. A Antonieta tem toda a razão. Agora só lhe resta consultar um médico privado e pagar do seu magro bolso a consulta que “quem manda” lhe negou. É o Estado a demitir-se de intervir nos domínios em que a sua intervenção deveria ser obrigatória. Quantas Antonietas são tratadas assim…
A Antonieta vive sozinha, não tem filhos e tem a família longe. Hoje com a sua avançada idade continua a trabalhar com vigor, porque as mãos, apesar da artrose, não a deixam parar, e porque a pequena pensão que recebe da segurança social não lhe deixa outra hipóteses que não seja continuar. Não lhe ocorre a possibilidade de parar, de regressar à sua terra e aí aguardar a passagem do tempo. Costuma dizer que parar é morrer.
Claro que com o passar dos anos algumas maleitas físicas foram surgindo, queda de cabelo, perda de audição, reumático, artrose e perda de visão.
Da última vez que estive com ela, estava entristecida e preocupada. Dirigiu-se ao centro de saúde, como sempre fez, para marcar uma consulta de oftalmologia. Qual não é o seu espanto, a dita consulta foi-lhe marcada para Junho de 2012. Sim, para daqui a cerca de seis meses. Aflita, insistiu na necessidade de ser vista devido a um agravamento de perda de visão. A resposta foi categórica, o serviço estava a cumprir orientações superiores, o caso dela não era urgente, a lista de espera era grande.
O medo e a solidão apoderaram-se dela. Sem vista não pode continuar a trabalhar para as suas clientes. Pela primeira vez falou-me da injustiça do país em que vive. Lembrou-se da sua idade, de uma vida que vai para 60 anos de trabalho, afinal já era tempo de descansar e de contar com o apoio social que sempre poupou ao Estado. Afinal, há para aí tanta gente que não quer trabalhar, que vive à custa de subsídios. A Antonieta tem toda a razão. Agora só lhe resta consultar um médico privado e pagar do seu magro bolso a consulta que “quem manda” lhe negou. É o Estado a demitir-se de intervir nos domínios em que a sua intervenção deveria ser obrigatória. Quantas Antonietas são tratadas assim…
7 comentários:
Se a Antonieta puder ter o problema resolvido com uma consulta, pode contar comigo para a pagar.
Na piscina da autarquia, um funcionário da recepção, moçambicano radicado há muito aqui, para continuar a estudar direito, propôs pagar as propinas com 200 euros por mês. Espera pela decisão.
Velhotes nesta situação, nos anos 60, eram objecto da atenção da Conferência de S. Vicento de Paula, na igreja da minha freguesia.
Como tesoureiro, com Ângelo Correia na colectividade, visitava semanalmente um idoso, um pouco de conversa e umas moedas.
Vale, que ganhámos a democracia e o leque salarial que sabemos. E mais de 400 pensões vitalícias da política.
A Msg anterior não foi sem Id, por não poder entrar como anónimo.
Caro Bmonteiro
Obrigada pela sua generosidade. Encaminhei a Antonieta para um amigo que é oftalmologista e que se prontificou em a ajudar. Vamos ter que construir, cada vez mais, redes de solidairedade. Muitas vezes o que acontece é que as pessoas não estão inseridas nessas redes, vivem à mão da sua sorte e conformam-se, por não saberem como fazer, por medo ou por vergonha.
Cara Margarida,
Episódios da vida que consegue relatar com tanta ternura e realismo ao mesmo tempo, ajudam-nos a perceber que colossais desperdícios de dinheiros públicos, como aqueles a que assistimos ao longo dos (muitos) últimos anos - e com que equidade, agora tão reclamada, terão sido distribuídos...- deveriam manifestamente ser constitucionalmente consagrados como CRIME contra a Sociedade!
Não concorda?
Sim, uma pessoa nem sabe o bem que é poder de dispor de algum dinheiro para se tratar ou para acudir aos seus mais próximos. Quantos idosos há que teriam uma vida melhor e menos dependente dos outros se pudessem tratar a visão ou a audição, às vezes a requerer soluções tão simples, en, no entanto, é tudo tão dificil.
Dr. Tavares Moreira
Diz bem, um crime. Somos um país muito desiquilibrado. Endividámo-nos para construir auto-estradas e rotundas sem cuidar do desenvolvimento humano. Gostava de um dia, tão cedo quanto possível, para que a memória não a leve o tempo, fosse feita uma espécie de "demonstração de resultados" e fosse elaborado um "mapa de origem e aplicação de fundos" - como acontece nas empresas - para percebermos, conta por conta, parcela por parcela, como foi gasto o dinheiro e como se evaporou. É um imperativo fazer estas contas.
fazer contas ? agora? Ah Margarida ..vc ..é umaa dribladora profissional ..por mim vc não passa .
mas é só aldrabice ..enrolação descarada ..contas ? porque não vais brincar com os da tua idade ? vai-te catar ...
isso apaga todos os comentarios que possam contrariar a sua aparencia tosca ..vc é tosca mesmo ..
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