Esta é a crise das negações. Começou com a negação da própria crise, que inicialmente era só a nuvem negra e longínqua do subprime ao abrigo da qual, felizmente, estaria a maioria dos bancos europeus. Dotada do milagroso tratado de Lisboa, do qual dependia o definitivo reforço das instituições europeias, a Europa não tinha fraquezas, estava mais forte que nunca. Negou-se que a falência da Islândia pudesse ser um sinal de alarme, era evidente que se tratava de um caso de desvario dos bancos e deslumbramento do então Primeiro Ministro; depois a Irlanda, nem pensar em comparações, a dívida astronómica era por causa da intervenção nos bancos, nada mais claro e que nada tinha que ver com os outros europeus; depois a Grécia, esses mentirosos, tinham enganado os ingénuos europeus, a culpa era só deles, quem é que se lembrava de apresentar contas erradas anos a fio, tão espertos que ninguém deu por isso?, pois agora vão ver se entram na ordem e nem piam; depois Portugal, gastadores, muito gastadores mesmo, quem é que os mandou sonhar em deixar de ser pobres, acabou-se aqui a brincadeira, nem mais um bail out para amostra, chega! disse a então ministra das finanças francesa, agora Presidente do FMI, agora a temer o colapso da Europa, então era “Portugal será a porta corta fogo da crise”, por cá negava-se todos os dias a necessidade de pedir ajuda e quem duvidasse era antipatriota. Negou-se o domínio das agências financeira, negou-se a fragilidade dos Governos, negaram-se as crises políticas, negou-se a crise de financiamento, negou-se a impotência das instituições europeias, negou-se o resvalar da Itália, a Itália, esse colosso, não, o problema é Berlusconi, os mercados querem Berlusconi fora dali, a Itália não, por favor, a Itália não. Os bancos não precisavam de ajuda, vejam lá o êxito dos testes de stress que tanto nos stressaram, os bancos não vão ser nacionalizados, a Europa não está a esboroar-se, não, a Alemanha e a França nunca falaram em duas Europas, nem pensar, Barroso nega a pés juntos e garante que a Europa tem mesmo é que se unir cada vez mais. Todas as cimeiras são um êxito, o problema são os políticos que não conseguem que os povos abracem a austeridade, mudem os Governos, quanto mais depressa melhor, depois é só esperar o renascimento, o BCE não vai ser o emprestador de último recurso e não haverá nunca mais países mal comportados numa Europa finalmente unida, próspera e feliz, cheia de banqueiros a Governar. Não há nenhuma crise do euro. Uma agência negou que estivesse a ponderar descer o rating de França, e é completamente falso que haja rumores sobre a Áustria. Neguemos, pois.
6 comentários:
...e mais isto... GARANTIR DÍVIDA SOBERANA É CONVERSA FÁCIL?!
«O primeiro-ministro discorda das ideias de Cavaco Silva sobre o Banco Central Europeu (BCE) e diz mesmo que pôr o BCE a garantir dívida soberana dos países do euro é uma “conversa fácil”. »
Passada a fase de negação, é já tempo de se iniciar a fase da afirmação. Começando por afirmar a vontade de negar a negação.
Basta de tanta negação, dê-se espaço para a afirmação poder confirmar e confirmar-se.
Passámos já demasiado tempo em movimento de marcar passo e recuar. Está mais que na altura de começarmos a aventurar-nos no combate ao negativismo, porque já se compreendeu o que causa dano às economias dos países, já sabemos que determinados procedimentos são nefastos, sabemos com exactidão o que devemos evitar fazer e sabemos com exactidão também, em que devemos investir todo o potencial humano de que dispomos.
Ha que começar a caminhar no sentido correcto, no sentido que todos sabemos ser aquele que nos pode conduzir à recuperação, ao restabelecimento de melhores condições de vida, o caminho capaz de nos afastar da berma do precipício onde temos andado "tem-te não caias Maria".
PS: No próximo dia 26, sábado, irá realizar-se no Palácio do Morgado em Arruda dos Vinhos, entre as 16 e as 19 horas, a apresentação de um vinho com o rótulo "Espíritus"
do qual serei o "padrinho", agradecendo desde já a presença e a companhia de todos quantos estiverem dispostos a provar um vinho, de que não irão esquecer-se.
A entrada para o local da apresentação é feita pelo portão do jardim do palácio localizado nas traseiras do xafariz de Arruda, existe estacionamento mesmo à porta.
Até sábado!
Para esclarecimento de qualquer dúvida, poderão contactar-me pelo mail m.frederico.52@gmail.com.
Em aditamento ao "PS" faltou-me referir que faz parte do mesmo complexo onde decorrerá a apresentação do "Espiritus", um restaurante de muita qualidade e optimo ambiente, onde quem quiser, poderá ficar para jantar.
A crise das negações foi amputada da negação dos comentários, da censura de um social democrata que não é acefalamente alinhado.
Suzana
Muito bem apontado.
A política da negação não pode durar sempre. Está muito associada a uma Europa das proclamações e da mediatização.
E assim se foi construindo um cada vez maior fosso entre as instituições europeias que negam a sua própria incapacidade e os seus “líderes” que querem fazer valer aos mercados e à opinião pública que controlam as crises sem quererem ao mesmo tempo assumir que existem e as populações que não se alimentam de discursos e que rejeitam a crise da austeridade.
É o resultado da falta de confiança nos políticos que de negação em negação mostraram não estar à altura das soluções dos problemas para os quais muito contribuíram.
Peço desculpa da demora nas respostas, mas não foi possível chegar em tempo. Caro P.A.S.é realmente de espantar e nao deve ser o facto de se pertencer a um partido que deve inibir de expressar as suas opiniões, bem pelo contrário, a política so ganha com isso.
caro bartolomeu, é um apelo cheio de fundamento, mas duvido que seja fácil segui-lo, talvez porque a realidade seja tão dura que o melhor é tentar desmenti-la até se tornar incontornável, apesar de todos os riscos que isso traz.Quanto ao seu amável convite, farei por estar presente, até porque falhei a última tertúlia lá para esses lados! Até sábado, possivelmente, e obrigada.
Margarida, de facto é impossível que surja confiança, com todos a atirar em todas as direcções e a substituir uns argumentos pelos seus contrários à velocidade da luz, será mesmo incapacidade?
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