No II República, as corporações eram representados na Câmara Corporativa.
Na III República, as corporações são representadas na câmara televisiva. Mais precisamente, nas câmaras televisivas, todos os dias e a toda a hora.
Patrocinando interesses particulares, arrogam-se a representação dos interesses gerais. Proclamam normas de governação, regras de conduta, subida ou baixa de impostos, criticam as opções orçamentais e toda e cada decisão ministerial, têm na manga a solução mágica de saída da crise, com mais subsídios e mais despesa pública. Para as corporações, o governo só bom se lhes prestar vassalagem, deixando de o ser no momento seguinte. Anunciando continuamente crises e desastres, aparecem sempre de mão estendida à espera de benefícios públicos. Não olham o futuro, só querem reproduzir o passado. Não motivam os seus membros para a produção de riqueza, mas para a contestação primária.
E nesta tarefa conseguiram o alto patrocínio das televisões, ávidas de produto, por mais tóxico que apareça. Porque é preciso encher chouriços de horas de emissão. A expressão do voto popular e democrático já pouco vale perante o poder corporativo.
Decretou solenemente a III República a extinção das corporações. Por ironia, e passo a passo, vem promovendo o seu apogeu.
6 comentários:
As televisões são o paradigma dessas corporações, não só tentam impedir o surgimento de outro concorrente como ainda têm a lata de dizer "pois, há investimentos feitos..." como eu ouvi de um antigo presidente do CDS habitualmente associado a tudo o que dê fiasco.
O triunfo das corporações durante a 3ª República, é contemporâneo com a criação de uma especial corporação.
Aquilo a que chamo a novíssima corporação:
a corporação político partidária.
Um conjunto de associações, peritas em criar 'clientelas'.
Clientelas que abarcam de coladores de cartazes a futuros empresários de topo das EP.
Um desporto interessante será ir à procura de qual o banco que estava mais agarrado ao estado? Aquele que pede mais "economia". Qual a televisão que tinha mais anúncios e subsídios? A que pede mais "economia". Que firmas de advogados tinham mais negócios com o estado?...
... e assim sucessivamente. Não é um desporto animado, mas é mesmo muito divertido!
Belo naco de prosa, Pinho Cradão...e a denúncia clara e oportuna, as corporações aí estão cheias de energia, procurando "rapar o fundo do tacho" de um Estado claramente insolvente!
Levaram o Estado à mais completa penúria mas não desarmam, querem ainda apropriar-se do quase nada que resta...
Eram bem menos indecentes e mais transparentes as corporações do extinto "Estado Novo"!
Eu cá sempre pensei que a 3a república era o resultado de uma corporação. As revoluções devoram sempre os seus criadores... mero corolário do Tempo devorar os seus filhos independentemente do seu Valor.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, devemos concluir que não sucederá uma "Quarta República" a esta III República?!
E ainda, que a sucessão terá de seguir outro rumo político que não o republicano?!
Ou... esperar que ocorra um super-mega-hiper milagre, que acabe de vez com o corporativismo político-informativo?!
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