1.Achei particularmente interessante uma frase, a seguir citada, inserta em artigo da edição do F. Times deste fim-de-semana, intitulado “Political turmoil in the eurozone – Enter the technocrats”.
2.A frase em questão, na versão original, é “Eurozone policy makers have decided to suspend politics as normal in two countries because they judge it to be a mortal threat to Europe’s monetary union”…
3.Os responsáveis europeus terão percebido (não era difícil...) que a continuação das soluções políticas vigentes tanto na Grécia como na Itália – soluções político-partidárias, decorrentes de escolhas livremente feitas pelos cidadãos nacionais em actos eleitorais – estavam a colocar gravemente em risco a continuidade do projecto do Euro...
4....e não hesitaram em forçar mudanças de governo com a nomeação de personalidades de prestígio técnico mas fora da vida política activa para chefiar governos de “salvação nacional”.
5.É muito curioso notar que, em ambos os casos, essa pressão dos lideres europeus (com relevo para a Alemanha e a França mas não só estes…) encontrou eco dentro dos próprios países visados, cujos “establishments” também terão percebido que além da sobrevivência do Euro estaria também a sua…
6.Estamos pois a entrar numa nova fase da vida política na Europa, em que as questões de natureza económica e financeira mostram uma tal importância que chegam ao ponto de se sobrepor às regras do jogo democrático a nível nacional, forçando um INTERMEZZO na aplicação das regras habituais desse jogo.
7.Estaremos quiçá a assistir aos primeiros passos de uma União Política Europeia? Passos dados aos sobressaltos e com inevitável dramatismo, mas em qq caso passos muito concretos e que traduzem uma clara afirmação da prevalência das questões económicas, financeiras e monetárias sobre as regras da política nacional?
8.Noutro registo, estes episódios trazem-me à memória a declaração de M.F. Leite, há cerca de dois anos e meio, sugerindo a necessidade de um intervalo democrático em Portugal – a suspensão das regras de jogo democrático - para resolver problemas mais urgentes do País, nomeadamente o excesso de endividamento…
9.Como seria de esperar num País de “opinion-makers” altamente “clarividentes” e de grande “visão” – ontem ou hoje sempre os mesmos – a sugestão de MFL foi satirizada e ridicularizada pela esmagadora generalidade dos comentadores…o paupérrimo "establishment" não os podia suportar…
10.Como agora se constata, MFL estava cheia de razão (antes do tempo): se a sua sugestão tivesse sido escutada provavelmente não teríamos chegado à triste situação em que hoje nos encontramos…
11.Vai ser muito interessante acompanhar este INTERMEZZO político em Itália e na Grécia e ver se e como é que os prestigiados tecnocratas, escolhidos a dedo, vão ser capazes de fazer o que os políticos eleitos não souberam ou não tiveram coragem de fazer…
15 comentários:
Caro Tavares Moreira,
Não está a querer dizer que os deputados não servem para nada? Afinal os governos vão ser suportados pelas câmaras eleitas por sufrágio livre, directo, secreto e universal com representatividade superior às dos primeiros-ministros. Há, no entanto, uma enorme perda para a democracia no que a igualdade de género no acesso à política diz respeito. Com a saída de Berlusconi, a descriminação positiva que gozavam as jovens do sexo feminino, muitas vezes estigmatizadas pelo facto de terem muito bom aspecto, vai sofrer um grande revés, voltando-se ao estado cinzentão do advogado velho. E aqui, não há como o esconder, a democracia perde e muito.
Quanto a MFL estar cheia de razão antes de tempo, depois de alegadamente se ter juntado ao partido da "equidade fiscal" (como diz o Buffett, é quando a maré está vazia que se vê quem anda a nadar nu), se calhar não era isso que ela queira dizer, caro Tavares Moreira.
Caro Tonibler,
O comentário que faz acerca da saída de Berlusconi é perfeitamente justo...neste novo arranjo político a Itália vai perder em dimensão estética, sem ter a certeza de vir a ganhar em estabilidade financeira e económica!
Resta-nos a esperança de um regresso menos turbulento da estética à vida política italiana, depois deste forçado Intermezzo...
Quanto à junção de MFL ao partido da "equidade fiscal", muito me surpreende essa sua afirmação, não tinha dado por isso, muito sinceramente...
Será mesmo verdade ou é apenas maldade sua?
Dr. Tavares Moreira
E vai ser, igualmente, muito importante ver como a vaga de “prestigiados tecnocratas” vai ser capaz de mostrar aos políticos que têm de mudar, que o caminho que tem sido seguido é muito perigoso.
Caro Tavares Moreira,
Por isso disse "alegadamente". Parece que saiu nos jornais e, como dizia Sir Humphrey Apleby, tudo deve ser tomado como falso até haver o desmentido oficial.
Caro Tavares Moreira
Desde que se aceite que, as sociedades dos países da OCDE são, de facto, oligarquias (ver por todos Emmanuel Todd: Aprés la Democratie)os fenómenos na Grécia e em Itália são fáceis de explicar.
As oligarquias europeias concordam que as oligarquias gregas e italianas não são capazes (como o é, por exemplo, a francesa) de se auto reestruturar. Para isso encontrarm a fórmula correcta: contratam um terceiro (ou terceiros tanto dá), para realizar o odioso; assim que terminarem as tarefas voltamos ao antigamente. ( O célebre Leopardo é, realmente, O romance de uma oligarquia).
E as eleições? Ah isso é um ritual importante que permite(às oligarquias)realizar a regular avaliação do desempenho e reforçar os laços com os clientes.
Caro Tavares Moreira, vê que assim tudo se torna mais claro? e evita ter que "torçer" os conceitos e princípios!!!
A Dra MFLeite estava, realmente a dizer uma graça e, apenas isso.
Cumprimentos
joão
Cara Margarida,
Bem observado, este Intermezzo será crucial para que os políticos profissionais aprendam com os tecnocratas o que têm a fazer em circunstâncias tão difíceis como as que obrigaram à sua suspensão temporária...
O que supõe, em 1º lugar, que os tecnocratas façam aquilo que lhes cumpre fazer e o façam de uma forma que os políticos profissionais saibam apreender devidamente...
A ver vamos, a "procissão ainda vai no adro"...
Caro Tonibler,
Esse alegadamente absolve-o da prática de maldade que quase cheguei a imputar-lhe...
Só falta verificar que foi apenas e só uma alegação, sem fundamento, até porque não julgo MFL capaz de tal desatino...embora, às vezes, no melhor pano caia a nódoa...
Caro João Jardine,
É uma explicação muito curiosa a que nos apresenta...e admito mesmo que, com algum romance à mistura, não esteja muito distante da realidade actual das políticas europeias...
Ha questões sobre as quais passamos muitas vezes, sem lhes darmos a devida importância, sem sequer reflectirmos minimamente acerca delas e acerca da sua origem e do seu possível, ou possíveis desenvolvimentos.
Numa outra época Benito Mussolini, auto intitulado Il Duce, criou o Fascismo, lierando o Partido Nacional.
A História hoje, desígna aquele fundador do Império como fascista, ditador, mas o abjectivo que o guiava, era o da prosperidade social, o do socialismo. Combateu o comunismo, reformou, projectou obras que visavam o desenvolvimento das sociedades.
Hoje, a Europa confronta-se com problemas semelhantes aos que os políticos do tempo de Mussoulini e de Hitler, Franklin Roosevelt, Winston Churchill, etc.
A guerra nunca é somente de um pais, de um general, de um povo.
Assim como os ideais...
Caro Tavares Moreira
Itália e Grécia, escolheram dois homens que reuniam duas características importantes, são oriundos de fora do sistema e reunem a confiança dos credores, (são avalizados pela Comissão).
O nosso actual PM, foi eleito porque tinha um projecto e não tinha nada a ver com os últimos 10/15 anos da política em Portugal.
Os eleitorados de Portugal, Itália e Grécia não desejam eleições apenas que os políticos de "entendam". Na Grécia ninguêm se rebelou contra a "ingerência" estrangeira na decisão de não realizar o referendo.
Em França, a quando do affaire DSK, algumas sondagens indicavam (cerca de 60%) que os françeses consideravam que este estava a ser vítima de um complot.
Em França, como aqui no nosso burgo, a ideia geral, expressa em várias sondagens, é que os poderosos nunca são perseguidos...
Todos peroram contra a falta de participação nas urnas e o fenómeno dos "indignados" é viral nas sociedades dos países da OCDE.
Se este episódios não revelam comportamentos de sociedades oligárquicas, então deve ser outra coisa qualquer que me escapa.
Esta sociedade europeia caracteriza-se por ser de meia idade, pela aversão ao risco, por querer assegurar a pensão de reforma e pela busca da garantia de que, um rendimento futuro no médio a longo prazo, está garantido.
Por isso, enquanto verificarem que os seus políticos estão a fazer tudo para garantir esse modicum, revolução é algo que não está nos planos imediatos e, quando se desiludirem, já não terão a idade necessária para assumir riscos.
Cumprimentos
joão
Caro Bartolomeu,
Não creio que se possa facilmente comparar a actual crise financeira da Europa - ou de alguns países da zona Euro, para ser mais preciso - ao quadro social e político que antecedeu a 2ª conflagração mundial...
As sociedades actuais, apesar das suas muitas fragilidades e sobretudo da perda de qualidade das suas elites dirigentes, são infinitamente mais abertas do que as sociedades em que esse conflito deflagrou, o que lhes permite encontrar soluções doutro tipo antes de desatar aos tiros...
Seria preciso uma crise muito, mas mesmo mais violenta do que aquela que afecta a Grécia (sobretudo), Portugal e a Itália (já quase ninguém dá pela IRLANDA, reparou?), para que a situação económica e social da Europa pudesse aproximar-se desse benchmark histórico...
A nossa grande desgraça foi andarmos iludidos mais de 10 anos, a engolir políticas idiotas, sem que os responsáveis pela política monetária e financeira tivessem mexido um dedo (salvaguardo sempre MFL, por elementar justiça) para inverter a situação, antes agravando-a sempre até meados de 2011...
Agora temos de aceitar, humilde e realisticamente, que a correcção dos excessos cometidos só pode resolver-se com uma dieta dura e de alguns anos...mas isso não se aproxima de uma conflagração global, nem interna tampouco, a menos que vamos atrás dos sábios conselhos de Otelo & Cª..
Caro João Jardine,
Bem pensado, sim senhor, em especial os 2 últimos parágrafos da sua interessante prosa de análise político-social...
Concordo, caro Dr. Tavares Moreira, que os tempos são outros, as sociedades são efectivamente mais abertas que as de então, mas também mais informadas e tanto ou mais frágeis que as desses tempos.
Repare Caro Dr. Tavares Moreira em 2 ou 3 simples exemplos; naquele tempo desconhecia-se o uso do telemóvel. Hoje, não ha um cidadão que prescinda do seu, ou de 2 ou 3 que utiliza intensivamente, diáriamente. Naqueles tempos, só uma minoria possuía automóvel, que utilisava com parcimónia; hoje cada família possui vários veículos, dos quais não abdicam para se deslocar ao fim da rua. Naquela época, fazia-se um fato por ano, ou até, de 2 em 2 anos. Hoje compra-se uma colecção. no início de cada época.
Como estes, inúmeros outros exemplos poderão levar-nos a concluir que a situação que vivemos hoje de longe, mais frágil socialmente que aquela dos anos "30". Por conseguinte, mais propícia a que possa haver lugar a revoltas sociais.
Esperemos que não, mas, não conheço melhor remédio que a prevenção.
Caros Tavares Moreira e Bartolomeu
Desculpem a intromissão mas, guerra é um fenómeno de sociedades com taxa de natalidade positiva, em todos os outros casos arriscamos que, ao cabo das segunda vaga de escaramuças, termos exércitos que seriam uma mistura de lar da terceira idade e jardim infantil.
A via escolhida para sairmos da "enrascada" em que nos encontramos é muito penosa e, acarreta, necessariamente (é a história que nos diz), convulsões sociais.
Aqui há um par de meses, considerava que o limiar da dor (na Grécia) seria atingido por esta altura, confesso que me enganei. A manutenção da pensão e as mazelas da meia idade "falam" mais alto e, por isso, tudo o que se pensava sobre quase todos os assuntos, vai ser posto em causa.
Não vejo possível que se consiga mais do que surtos esparços de violência quando, a maioria da população tem mais de 40 anos. A consulta de rotina ao nosso médico não pode esperar..e, como iríamos "gozar" a nossa reforma no meio dos escombros?
Cumprimentos
joão
-> As famílias não são independentes/autónomas... todavia, devem as famílias abdicar da sua Identidade?... Resposta: Nâo!
-> As Nações não são independentes/autónomas... todavia, devem as Nacões abdicar da sua Identidade?... Resposta: Não!
--->>> Apesar de os portugueses não serem a nação mais antiga da História... será que os portugueses devem abdicar da existência duma Pátria sua?
RESPOSTA: NÃO!!!
-> Muito muito mais importante do que a crise... é o DIREITO À SOBREVIVÊNCIA!!!
Resumindo e concluindo: Não vamos ser uns 'parvinhos-à-Sérvia'.... antes que seja tarde demais, há que mobilizar aquela minoria de europeus que possui disponibilidade emocional para se envolver num projecto de luta pela sobrevivência... e SEPARATISMO!...
ANEXO:
1.
-> Quando se fala em SEPARATISMO-50-50... não se está a falar em apartheid, mas sim, em LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA, ou seja, separatismo puro e duro: uma Nação, uma Pátria, um Estado.
2.
-> Uma NAÇÃO é uma comunidade de indivíduos de uma mesma matriz racial que partilham laços de sangue, com um património etno-cultural comum.
-> Uma PÁTRIA é a realização e autodeterminação de uma Nação num determinado espaço.
-> Ora, existindo não-nativos JÁ NATURALIZADOS com uma demografia imparável em relação aos nativos... como seria de esperar, abunda por aí muita conversa para 'parvinhos-à-Sérvia'.
3.
-> Como é óbvio, a Nação mais antiga da História - os Judeus - não abdica duma Pátria sua.
-> Ao contrário dos Judeus que fizeram uma TRANSIÇÃO BRUSCA... eu penso que a transição para o separatismo-50-50 deveria ser uma TRANSIÇÃO GRADUAL (de algumas décadas).
4.
-> Sem dúvida que o objectivo final de tudo isto [Biliões para os banqueiros = Dívidas para as populações] é a implosão das soberanias!
-> A superclasse (alta finança internacional - capital global, e suas corporações) não só pretende conduzir os países à IMPLOSÃO da sua Identidade (dividir/dissolver identidades para reinar)... como também... pretende conduzir os países à IMPLOSÃO económica/financeira.
-> Só não vê quem não quer: está na forja um caos organizado por alguns - a superclasse: uma nova ordem a seguir ao caos... a superclasse ambiciona um neo-feudalismo.
5.
-> Nazis na desmultiplicação: o que caracteriza o Nazismo não é o ser 'alto e louro'... mas sim a busca de pretextos (adoram evocar/inventar pretextos) com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros!...
-> Manobrados pela superclasse, andam por aí muitos nazis na desmultiplicação: quer na forma falada quer na forma escrita, eles desmultiplicam-se na busca de pretextos... com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros... nomeadamente, as Identidades Étnicas Autóctones.
--->>> Já ninguém dúvida que os capitalistas selvagens são uns nazis muito activos:
- promoveram a exploração de escravos... para benefício do desenvolvimento económico...
- promoveram holocaustos massivos sobre povos economicamente pouco rentáveis (ex: alguns povos nativos da América)... para benefício do desenvolvimento económico...
- hoje em dia já andam por aí a ameaçar países que tenham políticas proteccionistas... pois isso é considerado um entrave ao desenvolvimento económico global....
Caro Bartolomeu,
As sociedades consumistas dos nossos tempos, anafadas por uma política económica e social que privilegiou uma sociedade de SOFÁ/TV, AUTOMÓVEL e de CARRO de COMPRAS, não mostram apetência para soluções violentas que arrisquem a destruição do SOFÁ/TV, do AUTOMÓVEL ou do CARRO de COMPRAS...
Estarão disponíveis, com grande relutância é certo, para suportar o estreitamento do SOFÁ/TV, uma subutilização do AUTOMÓVEL e o definhamento da carga no CARRO de COMPRAS... desde que possam manter, ainda que a meia haste, essas três bandeiras...
Mas concordo com a sua prudente sugestão de que mais vale prevenir...
Caro João Jardine,
Muito bem visto, o seu comentário tb proporciona, na minha óptica, uma boa sugestão de resposta às dúvidas do Bartolomeu!
Caro pvnam,
Ora aqui temos um grande panfleto revolucionário, de um notável revivalismo nacional-patriótico, para expor às massas insatisfeitas e indignadas, tentando cativa-las para a subscrição desse grande ideário!
Oxalá tenha sucesso nesse imenso trabalho de captação de adesões de norte a sul do País, incluindo as Regiões...endividadas mas Autónomas!
O que a Dra Manuela FL disse foi que o que era difícil era governar bem ( combatendo o defice e o endividamento com medidas impopulares) e cumprir ao mesmo tempo as regras democráticas e que "se se suspendese a democracia por seis meses" qualquer um conseguia tomar as medidas necessárias.Teve razão antes de tempo, como se está a ver pelo que corre. Não creio que "tecnocracia" seja o remédio, mas que a democracia é muito exigente e difícil, isso é, embora, como todos sabem que Churchil dizia, ainda não se tenha encontrado nada melhor...
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