1.Recordo aqui um número que já citei em anterior Post: as Necessidades Brutas de Financiamento do Estado em 2012, equivalentes ao défice previsto + dívidas financeiras que se vencem ao longo do ano (o chamado “roll-over da dívida), totalizando perto de € 50 mil milhões, terão de ser cobertas em 61,5% pelos empréstimos concedidos pela Troika pois o estado não tem fontes alternativas de financiamento, estão todas cortadas...
2.A concessão desses empréstimos requer que as 4 avaliações do cumprimento do PAF agendadas para 2012 – Fevereiro, Maio, Agosto e Novembro – tenham um resultado positivo, se tal não acontecer o Estado português poderá entrar em incumprimento do serviço da dívida, arrastando consigo todo o sector público empresarial que depende dos seus apoios e tb o sector bancário...
3.Para que essa avaliação tenha um resultado positivo é indispensável que as medidas de contenção orçamental inscritas no EO/2012 sejam escrupulosamente cumpridas e tb que a realização das medidas de natureza estrutural prometidas no mesmo PAF sejam realizadas em grau satisfatório...
4.Pois bem, é contra o cumprimento das medidas previstas no PAF – tanto medidas de contenção orçamental como de natureza estrutural (privatizações em especial) - que a greve geral agendada para amanhã é justificada e promovida...
5.Não deixa de ser irónico e trágico ao mesmo tempo que os principais agentes da greve sejam os assalariados das empresas públicas cujo desmantelamento e agonia, em caso de incumprimento do condicionalismo a que o PAF nos obriga, estariam traçados...
6. Pois, impossibilitado de acudir financeiramente a todas as necessidades, ao Estado não caberia outra opção que não fosse suspender todos os apoios financeiros à CP, aos METROS de Lisboa e do Porto, à CARRIS, aos STCP, à SOFLUSA, à REFER, aos Hospitais Públicos etc,etc...
7.Privadas desses apoios, as empresas e Hospitais em causa entrariam em colapso total, deixando de pagar os salários, de assegurar a manutenção dos seus equipamentos, de pagar a fornecedores e aos bancos credores - sendo por consequência forçadas a uma paralisia da sua actividade por tempo indeterminado...até irem a leilão por qualquer preço...
8.Analisada por este prisma, esta greve geral não tem outro móbil que não seja satisfazer as premissas ideológicas dos dirigentes sindicais que enquadram os assalariados do sector público, permitindo a estes alimentar um sonho falso de que existem “políticas alternativas” (cuidado para não ter de as especificar) radicalmente distintas das que estão em curso, políticas que “apontem ao crescimento e não à recessão”, como tão bem sabem enunciar sem saber como fazer...
9.Há dias perguntei por curiosidade a um jovem empregado do El Corte Ingles em Lisboa como é que iria ser no dia da greve geral; a resposta não poderia ser mais esclarecedora: “no dia da greve vimos todos trabalhar, só não virão aqueles que ficarem privados de meio de transporte, mas não serão muitos...a greve é só para quem não precisa de trabalhar!”...
10.Do Dr. M. Soares que apoia moralmente e dos dirigentes sindicais que comandam a operação grevista, bem se pode dizer que andaram a dormir durante pelo menos 6 anos (mais, seguramente) - acordando agora estremunhados, lançando-se “à la recherche du temps perdu”...mas agora é tarde! Deveriam ter acordado há muito mais tempo e não ter embarcado nas fantasias que nos conduziram a esta situação...
11 comentários:
Caro Tavares Moreira.
Talvez eu, não economista e sem biblioteca (foi para a biblioteca de uma autarquia), tenha sido o primeiro a concluir "agora é tarde".
Estivesse eu com outra disposição, já teria ido ter com os 'Indignados' à frente de S. Bento:
Voluntário para a ocupação da Fundação MS, com um comunicado a condizer e até à suspensão dos fundos públicos a Sexa a Vaidade.
De parte da AR, onde é seguro (sem Seguro),que não andam tão ocupados como no governo/Finanças, até quando?
Eu acho que será preciso um povo ser completamente imbecil para poder pensar que o povo trabalhador está debaixo da palavra "greve" e não da palavra "voto". E tão imbecil, nem este... Azar de Mário Soares e restantes personagens cujo emprego goza de uma admirável estabilidade, contrariamente ao que acontece com quem lhes paga a festa.
Caro Toni
"Clientelas", é o termo lido hoje num livrinho sobre uma época do Império Romano, depois de terem descoberto o uso do voto popular.
Clientelas,uma forma de comprar eleitores.
"As lutas sociais no IR" - Marc Bloch.
Caro Tavares Moreira
Sabe, como diz um amigo meu, há uma parte do pessoal em Portugal que encara o dinheiro como se tratasse de uma senha de racionamento e, adopta o comportamento congruente: há que gastar depressa porque o artigo pode acabar e todo o valor, porque o produto esgota-se.
Assim, não vale de nada andar a perorar sobre endividamento. É um conceito que não têm qualquer noção do que seja.
Cumprimentos
joão
teoricamente a malta não vai receber salário no dia de greve. por isso devemos estar todos agradecidos por mais esta contribuição para a redução do deficit.
quanto ao Mário Chulares, coitado, estando reformado e não pode fazer greve. Fica para a próxima reencarnação.
Caros Tonibler, BMonteiro e João Jardine,
O que mais me impressiona, nesta iniciativa patriótica da greve geral, é a arte requintada que os dirigentes sindicais exibem para cavar a sepultura daqueles cujos interesses proclamam defender...
Quanto a Mário Soares suspeito que, como aprecia imenso a rapaziada da CGTP - que há uns anos lhe fizeram a vida negra - incita-os a enterrarem-se o mais possível...
Quanto à UGT simplesmente nem lhes dá importância, tb suspeito...
caro e Ilustre Mnadatário do Reu,
Até posso concordar, pelo menos em parte, com a sua formulação, mas não podemos esquecer aqueles que, desejando mesmo trabalhar, são impedidos de o fazer por estes patriotas...
Caro Tavares Moreira:
A greve é a prova de vida dos dirigentes sindicais velhos e caducos que vão persistindo por aí, para mal dos trabalhadores portugueses. Sindicatos fortes e actuantes, defensores dos trabalhadores, só com outros dirigentes sindicais. Os actuais ainda lêem pela cartilha marxista-leninista, embora queiram aparentar que não. São uma desgraça para os trabalhadores.
Quanto a Mário Soares, pois o homem fica doente se não aparece. E deve estar a temer pelo financiamento da sua Fundação.
Quanto às ideias...bom...nem se deve falar...
Claro que os dirigentes sindicais vão dizer que a adesão foi enorme, mais de 100%, e que foi uma grande jornada de luta. Mas a minha pequena amostra familiar é a seguinte: Não tive qualquer dificuldade em marcar para o dia de greve uma consulta... num hospital privado. O meu neto, que anda numa escola pública, não vai ter aulas amanhã, mas a minha neta, que anda numa privada, tem aulas como habitualmente.
Caro Freire de Andrade,
Creio ser esse o retrato mais rigoroso desta greve "geral": uma greve quase restringida ao velho sector público, empobrecido e à beira do colapso...
No sector privado, duma forma geral, a greve é ignorada...claro, não existe a mesma garantia de emprego, é preciso trabalhar!
Que País mais cómico-trágico, este!
Concordo com o que o caro Dr. Tavares Moreira escreve no ponto 8 «esta greve geral não tem outro móbil que não seja satisfazer as premissas ideológicas dos dirigentes sindicais».
Discordo, quando quase termina o mesmo ponto, afirmando não existirem políticas alternativas que “apontem ao crescimento e não à recessão”.
De facto, nem os sindicalistas, nem os economistas, nem os empresários, nem os comentadores, nem os técnicos de bancada, sabem como fazer mas, todos sabem que só o governo sabe que não ha alternativas às medidas duríssimas que estão a ser aplicadas, sem a certeza de que serão a solução, seja para o que for, excepto para permitir aos empresários contratar a custo de malga de arroz, a mão-de-obra que os sindicatos, perderam toda a capacidade para negociar contratos colectivos de trabalho.
No entanto, a dívida soberana irá manter-se e a despesa do Estado também, juntamente com as mordomias.
Concordo também com o que o caro Dr. escreve no ponto 10.
O PS esbraceja por manter-se à tona. Assemelha-se a um actor que esquece as deixas, perdeu a capacidade de improviso, mas anseia pelo aplauso esfusiante que noutros tempos conheceu.
A política, como palco de espectáculo que é, está sujeita às mesmas vicissitudes.
Um dia os actores encontram-se no estrelato, comem kaviar, bebem champanhe, no outro dia, percorrem as vielas espreitando para dentro dos contentores do lixo, na esperança de encontrar o resto de uma peça de fruta, já meia apodrecida...
C'est la vie...
Caro Bartolomeu,
Não podendo concordar com tudo o que diz, tenho no entanto de confessar-lhe o que me ocorreu, espontâneamente, depois de ler este seu comentário: "Um belo naco de prosa, sem dúvida"!
Muito bem arrancado, meu Caro!
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