Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O DRA(C)MA da Grécia...

1.O Presidente francês declarou na semana passada que a Grécia nunca deveria ter aderido ao Euro, que a adesão foi um erro do próprio País e dos demais países participantes...
2.Convém recordar que a Grécia não fez parte do 1º pelotão do Euro, de Junho de 1999, só entrou um ano mais tarde, pelo facto de na altura da fundação da zona Euro não cumprir integralmente os critérios de admissão (inflação, taxas de juro, taxa de câmbio)...já então havia sinais de que nem tudo estava bem...
3.À luz do que hoje se sabe, a declaração de Sarkozy constitui uma daquelas verdades “lapalissianas” em que os políticos são férteis, pese embora o facto de tal declaração não ser 100% enquadrável no conceito do politicamente correcto...
4.Acrescentarei que o equívoco não foi apenas a adesão foram também e sobretudo as opções de política económica que acompanharam e se seguiram à instituição do Euro, em tudo contrárias ao que seria exigido pela participação numa zona monetária de moeda forte...
5.Essas erradíssimas opções de política, durante uma longa década, foram responsabilidade em 1ª mão dos políticos nacionais que as assumiram e promoveram, mas também são imputáveis aos líderes dos demais países participantes e europeus (Romano Prodi em especial, neste caso), à data da adesão e nos anos subsequentes,os quais fecharam os olhos à situação e fiaram-se na sorte, num domínio onde esse tipo de confiança é absolutamente vedado...
6.Pior ainda, foram aceitando, de forma tranquila e complacente, toda a sorte de informações falsificadas sobre as contas públicas, ignorando os claríssimos sinais que os desequilíbrios externos de economias como a grega e portuguesa transmitiam no sentido de que a situação/evolução económica e financeira desses países era insustentável...
7.Agora estamos como estamos, os gregos não sabem o que hão-de fazer, voltam-se para um referendo como se de uma “varinha mágica” se tratasse, para ver se encontram uma saída política que lhes permita sobreviver na zona monetária em que escolheram participar numa hora de escassíssima inspiração...
8.Afinal, como diz Monsieur Sarkozy, os gregos nunca deveriam ter abandonado o DRACMA, se o tivessem feito não estariam a viver o DRA(C)MA em que estão mergulhados...
9.Entre nós as coisas não se passaram de forma muito diferente, apesar de não termos conseguido errar tanto como os gregos – sem prejuízo de se reconhecer a excepcional boa vontade da generalidade dos governantes do período em análise em nos conduzir para o precipício, nomeadamente nos últimos 6 anos - por isso também estamos a precisar de um bom ESCUDO que nos proteja da crise...

13 comentários:

José Carvalho disse...

Há fiascos que começam por ser projectos supostamente bondosos. E os que começam pelo telhado, como foi o caso do Euro, fatalmente irão acabar mais tarde ou mais cedo na gaveta dos estrondosos falhanços. Se os "líderes visionários" da altura tivessem iniciado todo o processo como democraticamente deveria ter acontecido, referendado e legitimado pelos respectivos povos, tinham-nos poupado a este espectáculo deprimente pela simples razão de que não tinha passado de um processo de boas intenções.

Anónimo disse...

Caro Tavares Moreira,

Pelo menos ele colocou o dedo na ferida. Preocupo-me mais com um certo tipo de políticos como um que há dias era entrevistado e confrontado com perguntas de cidadãos da UE, um deles da Galiza, que o questionava sobre a resolução do caso da Grécia. O entrevistador apertou com o entrevistado, que se esquivava derivando para soluçõs tipo "criar um clima de diálogo". Depois de enrolar para evitar dizer "não sabemos o que fazer", comutou para um preocupante "criar uma atmosfera que permita..."! Não sei se devo rir ou chorar com estas soluções meteorológicas que vão aparencedo.

Tavares Moreira disse...

Caro José Carvalho,

Devo confessar-lhe que não estou nada convencido de que a realização de um referendo sobre a entrada no Euro - que algumas poucas opiniões na altura sustentaram - tivesse evitado o que está agora a acontecer.
Iríamos mais democraticamente para o fundo, certamente, mas será que isso faria alguma diferença?
Recordo-me bem do clima de euforia inconsciente que rodeou essa decisão, com os poderes públicos no papel de tamborileiros - com a promessa de felicidade permanente que aí vinha, a "rapaziada" aprovava tudo o que lhes colocassem à frente!

Caro Flash Gordo,

Essa é mesmo de rir à gargalhada!
Devo dizer-lhe que não raro ouço (alguns segundos, não é possível aguentar mais) certos comentadores (RESIDENTES!) de assuntos económicos, em estações de TV de grande audiência, que induzem reacção muito similar...

JotaC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JotaC disse...

Parece que não restam dúvidas de que a União Europeia se esgota, quando muito, na livre circulação de pessoas e bens... O sonho utópico da europa a uma velocidade, com uma única moeda, transformou-se num pesadelo que só muito poucos saberão como irá acabar...

Wegie disse...

No meio desta história que nos assusta, há outras, fora do euro. Mas são histórias com outros desenlaces, por agora. Trata-se da Hungria. Lembram-se daquelas lições que nos diziam que já não haveria fronteiras e que a concorrência ia mudar tudo? Já não era preciso fazer contas apenas aos bancos nacionais e que poderíamos fazer o que quiséssemos. Pois, foi o que um milhão de húngaros fez. os bancos austríacos (e porventura também húngaros) fartaram-se de emprestar a taxas baixas às famílias húngaras - mas em francos suíços. Veio a crise, veio a desvalorização, e as taxas de juro suíças em coroas húngaras escalaram. Não foi preciso o euro. Foi apenas preciso um mercado alargado - e o aproveitamento dos bancos que chutaram para os consumidores o risco, que estes não souberam, claro, avaliar. Rings a bell? Isso é interessante, pois dá lições de como as pessoas agem perante a informação que têm e retira toda a razão aos moralistas. Ali houve solução: o governo húngaro decretou que os devedores podiam pagar os juros a uma taxa de câmbio inferior à do mercado, sendo que os bancos arcam com os custos da diferença. Será uma reminiscência do comunismo, ou apenas uma boa medida? No entretanto, podemos concluir que há medidas para ultrapassar estas crises.

Pinho Cardão disse...

Caro Tavares Moreira:
A entrada da Grécia no euro terá sido o primeiro pecado. Mas, com euro, ou sem euro, com as mesmas políticas, os resultados seriam idênticos. Com uma diferença, a meu ver: é que as dificuldades teriam começado antes. Mas o buraco seria o mesmo.
Pelo que a grande culpa não está no euro, mas nas demagógicas e "criminosas" políticas públicas levadas a cabo pelas duas famílias políticas (e famílias, no sentido literal da palavra) que vêm dominando a Grécia de há muitos anos a esta parte.

Tavares Moreira disse...

Caro Jota C,

A conclusão a extrair de toda esta "bagunçada", na linha do seu raciocínio, que tem um fundo de verdade, será de que o projecto do Euro até nem foi mal pensado, mas foi pessimamente executado...
E, como tal, mostra imensa dificuldade em ultrapassar a primeira dificuldade de tomo com que é defrontado...
Não vai ser fácil sair disto, apesar das soluções miraculosas,"globais", de cátedra vazia, que os nossos "teólogos" da Europa andam por aí a proclamar a cada esquina!

Caro Wegie,

Muito interessante esse episódio que relata da Hungria e dos empréstimos denominados em francos suíços...a taxas muito baixas mas com um risco de câmbio que se revelaria fatal para os kmutuários não fora a corajosa decisão do governo húngaro...curiosamente de centro-direita se não erro!

Caro Pinho Cardão,

Mas de acordo, certamente, com essa visão do problema!

Tonibler disse...

Mas, caro Pinho Cardão, fora do euro o buraco era o mesmo, mas não era meu.... Esta jogada do referendo foi a melhor que poderia ter sido feita, pena que não tenha sido feita há 10 anos.

Joao Jardine disse...

Caro Tavares Moreira

Muita bondade sua em considerar como equívoco o que mais não é do que uma série de erros ou de erros em série.
Equívoco é acidental e incidental, o erro não, é voluntário.
Muitos alertaram, como é o seu caso; os estudos abundam e, por isso, não é por falta de informação ou por não terem sido "brifados" que os erros ocorreram.
Ao cabo de dez anos os yields da dívida grega a 10 anos estão, como estavam, antes da adesão e o PIB de 2010, corrigido, está como estava em 2003.
Não vejo nada de novo apenas um regresso ao passado, a diferença é que, neste caso não se trata de um filme
Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro João Jardine,

Se quiser ter a bondade de reler, verificará que o Post que editei está bem presente a expressão ERRO, são referidas as "erradíssimas opções de política"...e não é utilizada a expressão equívoco...
Como vê partilho por inteiro o seu entendimento que se tratou de opções voluntariamente erradas, sabiam que estavam a fazer mal mas quiseram mesmo assim fazer...
O que levanta a questão da elevada propabilidade de se ter verificado gestão danosa e dolosa da economia e das finanças do País.
Por absurdo que pareça, todavia, o sistema de justiça em Portugal trata de forma muito mais benevolente essa gestão danosa do que a gestão danosa de uma qq PME!!!
Assim não vamos lá, há-de concordar!

Wegie disse...

Dear TM,

Se o paradigma esquerda-direita/à frente e atrás lhe serve de consolo...pois seja.

Tavares Moreira disse...

Caro Wegie,

Nem consolo nem desconsolo, confeso-lhe...tão somente a anotação do facto, que contraria a "verdade" instituída segundo a qual esse tipo de governos não decide, por regra, a favor do comum dos cidadãos...