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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Para rir ou para chorar?

É para rir ou para chorar? Está instalada a polémica, toda a gente dá opinião e faz contra opinião sobre o acontecimento. Um exagero, a parecer que o fim do mundo estava para chegar. Para uns a campanha foi genial, para outros foi fazer dos portugueses cobaias. E também não se fizeram esperar os pedidos de intervenção da ASAE para fiscalizar a legalidade. A comunicação social aproveitou em grande, foi um "jackpot". Será que para o ano há mais?

Em dia feriado gerou-se o pandemónio nos supermercados de maior dimensão, que foram varridos por multidões de compradores. Conflitos entre clientes a tentar passar à frente de outros nas filas para pagar obrigaram em Almada e na Quinta do Mocho, em Loures, mas também na Rua Carlos Mardel, em Lisboa, à intervenção da polícia.


Famílias inteiras enfiaram-se dentro dos estabelecimentos a encher os carrinhos. Quando foi anunciado o encerramento do supermercado de Telheiras, ao final do dia, um funcionário temia o pior, perante algumas dezenas de pessoas que ainda tentavam entrar: "Em Odivelas, Benfica e na Belavista (Chelas) houve pancada e até facadas. Foi preciso chamar a polícia de choque", contava. As autoridades não confirmaram a informação, mas foram vários os casos de vandalismo com laivos de saque e pilhagem, como no Monte Abraão. Em Sintra o IC19 teve de ser temporariamente fechado, porque as pessoas para o centro comercial Forum eram tantas que o trânsito não escoava. Em Queluz houve pessoas que foram para a porta do Pingo Doce logo às 4h da madrugada, para apanhar vez.


"Isto é desumano. Isto é fazer pouco das pessoas", queixava-se uma porteira de 70 anos, Alzira Gama, os tornozelos num trambolho depois de sete horas em pé na fila do supermercado de Telheiras para pagar. Acabou por se sentar numa das muitas cadeiras espalhadas pelo recinto, que parecia ter sido saqueado em tempo de guerra, muitas das prateleiras já vazias e mantimentos espalhados pelo chão.


"F... agora só a gamar!", dizia um rapaz de muletas perante a escassez de mantimentos nas prateleiras à medida que as horas avançavam. Uma assistente operacional da Câmara de Lisboa explicava que quando chegou a Telheiras, ainda de manhã, já se havia esgotado o açúcar. "Primeiro tentei ir ao Pingo Doce de Chelas, onde moro, mas a confusão era tal que não consegui lá entrar. Depois vim para aqui, estou há cinco horas na fila com o meu marido. Fomos tirando uns iogurtes da prateleira e comendo. Pagá-los? O que custam não paga as horas de espera".


Muitos foram perdendo a vergonha e agarrando o que encontraram nas prateleiras para entreter o estômago, apesar de o estabelecimento ter zona de refeições, contribuindo para o acumular de detritos nos corredores. Entre os boiões pagos e os comidos no momento, a devastação na zona dos iogurtes foi total. Na zona dos champôs a acumulação de nabos, presuntos e leite tornava impossível uma orientação lógica dentro da loja. "Parece o fim do mundo!", comentava um desempregado, perante as dezenas de pessoas a vasculhar em caixotes de mercadorias como se fossem sem-abrigo. As zonas de bebidas foram das mais afectadas pelo tumulto, por via das garrafas partidas, que iam sendo paulatinamente levadas pelos funcionários da limpeza.


Supermercados houve que encerraram temporariamente a meio do dia, numa tentativa de retomar a normalidade e repor os produtos levados em barda. Uma cliente da loja da Penha, em Faro, Otávia Brito, contou à Lusa que estava à espera que as portas reabrissem para ir fazer mais compras, depois de já ter gasto perto de 700 euros, valor que, sem o desconto, se cifraria em 1400."A mim não me apanham cá noutra. Por amor de Deus!", dizia uma desempregada em Telheiras, os congelados há muito derretidos dentro do carrinho de compras roubado no vizinho Continente. Quem não conseguiu carrinho improvisou. Alguns arrastaram pelo chão enormes pedaços de cartão com os produtos em cima.


O caos foi tal forma que a Jerónimo Martins se viu obrigada a antecipar a hora de fecho dos estabelecimentos, das 20h para as 18h, de forma a poder escoar "em segurança" os clientes."Para, até à hora de fecho da loja, as pessoas poderem fazer os seus pagamento e poderem sair", referiu à agência Lusa fonte do grupo de distribuição.

14 comentários:

Rui Fonseca disse...

"Para rir ou para chorar?"

Para rir!

Só não percebo por que é que os criativos do Pingo Doce não se lembraram de vender bilhetes para o espectáculo ao vivo.

E ainda menos percebo por que não venderam os direitos de transmissão em directo à TVi, à Sic ou à RTP.

São uns nabos.

Assim temos apenas um youtube sem qualidade de qualquer espécie. A imagem é má, não se vêem as caras dos clientes sequer, é tudo de um amadorismo confrangedor.

Mas mesmo assim vale a pena ver o youtube. Até porque o bilhete tem cem por cento de desconto.

Vou ver outra vez.
E ganho mais cem por cento!

Tavares Moreira disse...

Cara Margarida,

É para as duas coisas, se me permite, ou seja para chorar a rir!

jotaC disse...

Corre o boato que no dia 18 a festa vai continuar!...

Pinho Cardão disse...

aqui em nova York todo o pessoal trabalhava. Também eu não pude tirar o dia de folga.ALias a EUropa vista de cá não tem qualquer futuro. PErde-se em discussões estereisvenquanto o mundo pula e avança.

Vera Lib disse...

Para rir e para chorar. Sintoma da "crise" e do vazio da vida de cada um. Uma oportunidade de, além de se encher a despensa, ter uma aventura para contar. As linhas que já se escreveram sobre o assunto... suponho que em termos de publicidade o Pingo Doce já venceu :)
Concordo com o comentário de Pinhão Cardão, continuamos perdidos na demagogia.

Margarida disse...

Se o Pingo doce consegue vender com 50% de desconto sem que esteja a vender a baixo do preço de custo, tendo ainda assim lucro, estamos a pagar caro aquilo que comemos... A campanha é por isso uma fraude.

Estamos perdidos no meio da demagogia nos benfeitores sem escrupulos que gozam com a miséria do povo e se prestam a espectáculos desta natureza.

Deviamos era boicotar as compras no PIngo Doce de Janeiro a Janeiro.

Tonibler disse...

Se há coisa que devemos agradecer ao PD foi a forma como soube tirar cá para fora os piores de nós. A furiosos da borla, o ridículos da esquerda caviar, o liberais falsos, os parasitas sindicais, etc. É tão fácil, não é? Basta ter dinheiro.

Pedro disse...

Há para ai muito blogueiro que considere isto "uma excelente campanha" ou "uma jogada de mestre".

Lendo o seu relato, vem me á memoria Saramago e os relatos do "Ensaio dobre a Cegueira"...onde não só final os supermercados acabam assim...mas principalmente no inicio, onde os iluminados achavam que "os outros" eram apenas "os outros"...quando afinal somos apenas todos "Nós" !

eu tive vontade de chorar.

Rui Fonseca disse...

"Pinho Cardão disse...
aqui em nova York todo o pessoal trabalhava"

E por que não, António?
Estados Unidos da América e Canadá, celebram o Labour Day na primeira segunda-feira de Setembro.

Não sei quantos não trabalham nesse dia.

Bartolomeu disse...

Não se devido à proximidade com o oceano e pelo efeito dos seus ventos, somos defacto um povo... aparvalhado. Rimos daquilo que deveria ser motivo para nos fazer chorar e, vice-versa.
Passei estes dias em Sevilha, ha bastante tempo que lá não ía e, estas chuvas malucas, tanto a da meteorologia, como a da (des)informação, fizeram com quenum momento de determinismo pegasse um saco (não, não foi um saco de compras do PD, foi um saco de viagem) lhe enfiasse dentro 2 pares de peúgos e outros 2 de boxer´s e, ala, até à terra de nuestro hermanos, para confirmar se realmente o nível de desemprego os esá a fazer atrofiar, ou se estão a conseguir dar a volta ao assunto.
Parei em Mourão para almoçar, o restaurante achava-se vazio de clientes. O dono, fulano na casa dos 40's encontrava-se com mais 3 amigos a almoçar numa mesa a um canto, por baixo do omnipresente plasma que apresentava o telejornal da uma e, para além do badalado caso PD, martelaram ainda a alta taxa de desemprego. Foi então que da dita mesa, sobressaindo no tom de vóz, um dos comensais sentenciou; esta coisa do desemprego, é lá pó norte; esses gajos é candão à rasca.
Pensei; ora aí está uma opinião que demonstra a capacidade de inteligência, da cabeça que a fabricou. Será que no país do lado, os Sevilhanos pensam do mesmo modo?
Acabando a refeição retomei a estrada em direcção a Sevilha, não me esquecendo de ao passar ao largo de Villanueva del Fresno resingar entre-dentes um certo número de impropérios dirigidos tanto aos assassinos do General sem medo, como aos da terra, que deixaram o crime acontecer.
Adiante.
Chegado a Sevilha, epois de me hospedar no Zenith e de guardar o xanato na garagem, dispus-me a passear calmamente pela cidade, ainda estive para alugar uma bicla, mas depois optei pelos calcantes, impondo-lhes a missão de mevarem onde achassem melhor. Levaram-me pela ponte de Isabel II, ou dos arcos, com os seus característicos cadeados presos aos ferros do varandim, depois a praça de toros de La Maestranza, seguidamente a Torre do Ouro, o El Postigo e o deslumbre da Catedral de Sevilha encostada à Giralda, à porta da qual se encontrava uma homem aparentando uns 40 anos de idade, apresentávelmente vestido e que de pé, com copo de plástico verde na mão agradecia às pessoas que ao passar, liam num pedaço de cartão um pedido de ajuda, por estar desempregado e ter 3 filhos e lhe ofereciam uma moeda.

Bartolomeu disse...

Depois da imperativa visita aos monumentos, entretive-me a cheiretar os cantos, as lojas os bancos de jardim, de olhos e ouvidos bem apurados, em busca de sinais da crise e do tão badalado desemprego. Nada. Nem um sinal, nem uma conversa, nem mais um pedinte. As bodegas, os cafés, as lojas de souvenirs, o comercio em geral encontrava-se a laborar, nas ruas, inúmeras pessoas passavam, ususfruíam os espaços, conversavam, etc. Mas crise, desemprego... não vi. Comecei então a achar que tal como em Mourão, em Sevilha também se deve achar que a crise e o desemprego, afectam somente o pessoal do norte, talvez os galegos...?!
Andei mais um pouco e, vislumbro por entre as pernas dos e das transeuntes (e devo referir que considero as sevilhanas embaixadoras das belas pernas)um homem sentado no degrau de uma montra, cabelo e barba brancos e compridos, uns quantos sacos sujos ao lado e exposto no degrau uma quantidade de cinzeiros feitos de latas de refrigerantes, cortadas e moldadas de forma artística; ao lado, escrito num quadrado de papel branco, o seguinte pedido: ajudem-me, quero comprar um chalet em Marbella e um ferrari.
Antes de chegar perto do homem preparei duas moedas de 1 euro e quando me aproximei perguntei-lhe: olha lá, chamas-te Cristiano Ronaldo? Olhou para mim, sem grande expressão e respondeu somente: Non.
Então coloquei um euro na caixinha e disse-lhe: este é para comprares o chalet, depois coloquei o outro euro e disse: este é para comprares o ferrari. Olhou para as moedas e respondeu somente: Bale!
E pronto, segui o meu caminho, convencido que aquele homem não era o Cristiano Ronaldo, portanto precisava mesmo de dinheiro para comprar um chalet e um ferrari e de que o desemprego e a crise, são cenas que não assistem ao pessoal do sul... são tretas que os gajos do norte inventaram, talvez para marcarem a diferença, sabe-se lá?!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caros Comentadores
No rescaldo da loucura do Pingo Doce já se ouviu de tudo, os que estão a favor, os que estão contra, os que estão nem uma coisa nem outra, os que elogiam o génio do marketing, os que consideram que foi um espectáculo decadente, que o país está num estado miserável, que a campanha atentou ao valor da dignidade, outros estão mais preocupados com a legalidade e as questões da concorrência, e outros ainda há, aliás desde o primeiro minuto, insurgiram-se contra o dia escolhido para a campanha e proclamaram os direitos dos trabalhadores e logo gritaram em sua defesa, enfim há de tudo.
E depois há o Pingo Doce que vive, assim parece, um momento de sucesso empresarial e há os clientes/consumidores, ainda que por apenas cinco ou seis horas, que ficaram alegres e contentes com as compras 50% e aguardam por uma nova surpresa.
Também aqui no 4R tivemos abordagens diversas, a manifestarem perplexidade e admiração e, também, um pouco de ironia. Vivemos um tempo em que tudo é possível, como se tem visto nos mais numerosos domínios.
Os avisos já foram feitos, vai haver mais campanhas de derradeiros descontos, vamos certamente ser surpreendidos com acções que na nossa modesta ingenuidade ou incompetência técnica não nos passam pela cabeça. Mas podem ser outras acções, de outro tipo envolvendo massas de pessoas. De facto a necessidade e o desespero podem levar a uma criatividade quase sem limites. Pode ser perigoso numa sociedade que vive uma crise de fragilidade e vulnerabilidade não apenas económica e financeira, mas também de valores.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Se há coisa boa na vida é viajar. Portanto, só o posso felicitar por ter feito a trouxa e ter rumado para fora.
Entre a história do restaurante alentejano e da taxa de desemprego e a história do homem que pedia ajuda para comprar o chalet em Marbella e o ferrari, a minha preferência vai para esta última. Sendo um pobre ou um louco, a criatividade neste caso despertou a atenção de quem passava. Pode ser que o Cristiano Ronaldo ande por aquelas ruas e satisfaça o pedido do homem. Quem pode manda!

Bartolomeu disse...

Cara Drª Margarida
Não sei se a Irina permitiria ao Ronaldo exibir-se no ferrari, perante as belas Andaluzes, no entanto, dado que o homem possui o nome de Cristo e seria por uma causa humanista, prefiro acreditar que sim.
Mas, entre a visão míope do alentejano e o desejo de ver ao longe, do mendigo sevilhano, penso que o mais sensato é acreditarmos na possibilidade de concebermos um esquema evolutivo, aplicado ao futuro da humanidade. Talvez quando cada um de nós conseguir, começara a ver-se e depois começar a ver que afinal, todos os outros são iguais a si...