1. Durante mais de 1 semana os mercados financeiros estiveram (pela positiva) expectantes quanto a saber qual seria o “segredo” por trás da seguinte declaração que o Presidente do BCE, Mario Draghi, proferiu na semana passada em Londres: “ Within our mandate, the ECB is ready to do whatever it takes to preserve the Euro. And believe me, it will be enough”.
2. Esta declaração aconteceu num momento em que as pressões sobre a dívida espanhola se tinham intensificado extraordinariamente, face às incertezas causadas pelas fragilidades financeiras das Autonomias e ao seu potencial impacto sobre as finanças do Estado Central, tendo a taxa de juro implícita na dívida a 2 anos (yield) ultrapassado 7% e na dívida a 10 anos 7,7%.
3. A declaração de Draghi teve o condão de acalmar (bastante) os mercados, fazendo baixar as yields da dívida pública espanhola (e, por tabela, as yields das dívidas públicas dos demais periféricos), ficando os investidores na expectativa de saber que trunfos Draghi guardaria “na manga” para agir em defesa dos países cuja dívida pública se encontra sob maior pressão...
4. Ainda esta manhã a Espanha conseguiu colocar € 3,13 mil milhões de dívida a 2, 4 e 10 anos a taxas que, estando um bocado acima das taxas dos leilões anteriores para os mesmos prazos, ficaram todavia bastante abaixo dos níveis indicados pelo mercado secundário antes da declaração de Draghi...
5. As atenções ficaram pois concentradas na reunião de hoje do Conselho do BCE, última antes de umas merecidas férias, na qual se esperava que Draghi desvendasse o mistério que se encontrava por detrás da sua declaração e revelasse que instrumento (“bazooka” no calão do mercado) o BCE iria usar para garantir a preservação do Euro...
6. Ninguém se lembrou da primeira parte da declaração de Draghi “Within our mandate” e o que isso representa na linguagem de um banqueiro central, confiando que o BCE iria desta vez fazer uma demonstração de força, colocando os mercados em sentido...
7. ...mas tal não aconteceu, o BCE nada decidiu de especial nesta reunião a não ser manter a taxa das suas operações principais de financiamento em 0,75% e em 0% a taxa de remuneração dos depósitos dos bancos, e Draghi, na conferência de imprensa que se seguiu, não acrescentou muito quanto ao que o BCE poderia fazer para preservar o Euro...
8. ...tendo-se limitado a informar que o BCE estaria a preparar formas de intervenção no mercado da dívida pública mas que isso só aconteceria depois de os fundos de apoio da zona Euro – o EFSF e o seu sucessor, o ESM – activarem as suas próprias operações de intervenção na compra de dívida pública, a pedido dos países necessitados de tal intervenção o que, sendo possível no futuro não está todavia garantido e, em qq caso, demorará ainda um tempo considerável...”Pólvora seca”!
9. Tanto bastou para que os mercados reagissem com enorme desânimo, tendo a Bolsa de Madrid encerrado com uma perda superior a 5% e mesmo Wall Street tenha iniciado as operações com tendência bastante negativa.
10. E agora que fazer, BCE? Ir para férias? É capaz de ser bem melhor, pode ser que isso ajude a refrescar ideias...mas o problema está em saber o que fazer até ao fim das férias, vão ser tempos apertados, suspeito...
4 comentários:
Meu caro Tavares Moreira,
concordo com tudo o que escreveu. Aliás, amanhã, na minha coluna no Sol (que tive que fechar ontem, por razões editoriais) elogiava a postura de Draghi e o que ele tinha dito. E deixava a interrogação: "Finalmente, BCE?" Amanhã publicarei esse texto no nosso blog, mas, para já, o que parece é que o "finalmente" ficou, uma vez mais adiado... com que consequências financeiras e económicas?... Já hoje as começámos a sentir...
Caro Miguel Frasquilho,
Apraz-me registar a sua concordância quanto a este tema, embora deva acrescentar que o BCE até avançou alguma coisa em relação a futuras compras de dívida (em mercado secundário): em 1º lugar, anunciando que o Banco em futuras aquisições renunciaria ao estatuto de credor preferencial que, como se sabe, assumiu nas negociações que conduziram à solução PSI da dívida grega, não tendo nesse caso assumido assim qq prejuízo e atirando os prejuízos para cima dos credores privados, e, em 2º lugar, anunciando que o Banco não iria esterilizar, necessariamente, a liquidez criada em futuras compras de dívida, ao contrário do que tinha acontecido até aqui com a implementação do SMP.
Todavia, isto, que até se pode considerar positivo, ficou imensamente aquém das expectativas que as declarações de Draghi tinham gerado, daí a decepção que se abateu sobre os mercados no imediato.
Esta imagem da "polvora seca" é do mais denotativo que já vi aplicado à situação!
Caro F. Almeida,
Denotativo ou detonativo, se me permite o alvitre...
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