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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Chavela Vargas, inesquecível


Quisiera amarte menos                                                   
(Chavela Vargas)

"Primavera de mis veinte años,
Relicario de mi juventud,
Un cariño feliz yo soñaba
Y estoy sola con mi esclavitud.

Quisiera amarte menos,
No verte más quisiera,
Salvarme de esta hoguera,
Que no puedo resistir.
Es cruel este cariño
Que no me da descanso,
Sin ti la paz no alcanzo
Y lejos no se vivir.
Quisiera amarte menos,
Porque esta vida ya no es vida,
Mi vida está perdida
De tanto quererte.
No se si necesito
Tenerte o perderte.
Yo se que te he querido
Más de lo que he podido.
Quisiera amarte menos
Buscando el olvido,
Y en vez de amarte menos,
te quiero mucho más!

Entre dos que se quieren deveras
El cariño distinto ha de ser.
Mientras uno da entera su vida,
Otro sólo se deja querer.
Es verdad, y sin embargo no puedo
Conformarme con quererte yo.
Pido al cielo que pronto termine
Esta dura condena de amor."



Chavela Vargas aos 90 anos, "así me voy a morir, sin yugos" 
(...) sinto-me muito contente. Cumpri uma missão. Com muito gosto. Sem ser forçada. Com amargura às vezes. Com dor mais que tudo. Mas isso passou. Não deixou cicatrizes na minha vida. Não tenho más recordações. Foi tudo belissimo."
(...) Há que inventar as coisas e, quando se inventam, doem. Doem muito. Há que conter a mentira. Há que conter tudo isso, e dói muito. Dói cada dia. Tens medo de que se descubra a verdade. Parecemos muito valentes, mas por dentro...só Deus sabe"
(...) saudade é liberdade. Ser livre é o mais belo. Eu não tenho jugos. Não me agacho perante nada. Jamais. (...) A alma vale mais que os milhões. Encanta-me ser assim e é assim que vou morrer, livre, porque já não me falta muito. Estou consciente de que estou a terminar a minha caminhada.Não há que ter tristezas. Digo-o tranquila, sem amargura". (Em entrevista ao El País Semanal, Maio de 2009)

Há uns anos, não muitos, um amigo ofereceu-me um disco de Chavela Vargas, eu nunca a tinha ouvido. Fiquei fascinada, aquela voz rouca, aquele cantar encantatório, as belíssimas letras das músicas, o seu espanhol mexicano, tudo, absolutamente tudo na música de Chavela Vargas me encantou. Ouvia o disco vezes sem conta, depois comprei outros, primeiro escolhia as músicas que ia querer repetir mas depois voltava atrás e ouvia cada uma outra vez. Sendo difícil escolher, se há uma que continua a hipnotizar-me sempre que a ouço é Paloma Negra, numa interpretação de que não conheço paralelo, e já ouvi várias interpretações. Esta é uma canção impossível de ouvir sem ficar absorta a ouvi-la, tantas vezes seguidas quanto o tempo permitir, às vezes a paciência da família também, quantas vezes é que vais ouvir a mesma música, mas acontece o mesmo com Piensa en Mi ou ainda Volver, Volver, do filme com o mesmo nome de Pedro Almodôvar, ou Llorona, dedicada a Frida Khalo e de que há uma gravação com Lila Douwns, enfim, em todas se tropeça e fica preso, no puro prazer de escutar, de se deixar envolver, Chavela Vargas tinha um dom, uma força qualquer que atraía e a tornava irresistível, incrivelmente forte e comovente ao mesmo tempo. Morreu ontem, aos 92 anos, fica este grande silêncio que a sua voz enchia com tanto amor e tanta arte. 

4 comentários:

Massano Cardoso disse...

Belo!

Anónimo disse...

Ouvi a versão de Llorona tantas vezes! Nunca dei muita atenção a quem a cantava, embora naquela voz existisse algo de especial. Obrigado, Suzana, por ma dar a conhecer.

Bartolomeu disse...

Conheci esta grande cantora e mulher, através de um programa radiofónico de Júlio Isidro.
Uma voz melancólica, contudo, um carácter que, apesar de forte, não a impediu de conhecer o sucesso e a derrota mas que a conduziu de novo ao sucesso, pela mão de Almodôver... porque aquilo que a Mulher era na sua essência, mantinha-se vivo.
http://www.youtube.com/watch?v=xvUwn7may5Q

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Obrigada, Suzana, por me fazer conhecer melhor Chavela Vargas. E que bonita entrevista!