Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Dívida pública: resumindo e concluindo III

Resumindo e concluindo:
A crise portuguesa deve-se aos especuladores internacionais. Nem no mercado financeiro há outros agentes que não andem à procura de especulação. Acabaram os agentes que buscam apenas optimizar segurança e rendabilidade, não correndo riscos. Porque, repentinamente, sabe-se lá porquê, os cidadãos americanos, ingleses ou alemães deixaram de colocar poupanças nos grandes Fundos de Investimento ou de Pensões que lhes garantam uma renda ou uma reforma segura.
Só fico admirado como é que aflui dinheiro para comprar dívida alemã ou holandesa. Não havendo outros, só podem ser especuladores internacionais que se contentam com rentabilidades próxima do zero. Especuladores de baixa cotação, claro está. Vergonha de especuladores!... 

8 comentários:

Carlos Sério disse...

Os derivados financeiros, num total de 600 bilhões de dólares, equivalem a 12 vezes o PIB mundial, ou a mais de 40 vezes o PIB de Estados Unidos
A que chamamos “mercados”? A esse conjunto de bancos de investimento, companhias de seguros, fundos de pensões e fundos especulativos (hedge funds) que compram e vendem essencialmente quatro tipos de activos: divisas, acções, bonos dos Estados e produtos derivados.
Para ter una ideia da sua colossal força basta comparar duas cifras: Cada ano, a economia real (empresas de bens e de serviços) cria, em todo o mundo, uma riqueza (PIB) estimada em unos 45 bilhões de euros. Enquanto, no mesmo tempo, à escala planetária, na esfera financeira, os “mercados” movem capitais por um valor de 3.450 bilhões de euros. Ou seja, setenta e cinco vezes o que produz a economia real...

Rui Fonseca disse...

"A crise portuguesa deve-se aos especuladores internacionais"

Quem é que disse isso?

Pinho Cardão disse...

Caro Carlos Sério:
Mais milhão, menos milhão, mais bilião, menos bilião. Claro que sei isso. E também sei que quando a especulação ataca á sério determinada moeda pode ser um caos. Já aconteceu e lembro-me de algumas. Acontece que a situação em causa é muito diferente e nada tem de parecido. A crise de alguns países, como Portugal, tem a ver, só e só, com o excesso da dívida pública.
Fico satisfeito por admitir que nem todos os agentes de mercado são especulativos (ou especuladores). Então, por que razão não ocorreram eles a financiar a Grécia e Portugal?
Claro que por razão do risco em que incorreriam. E qual a razão do risco? As más políticas públicas que provocaram o endividamento excessivo.

Caro Rui:
Pelos vistos, andas completamente distraído. Mário Soares, o Bloco, o PCP, até socialistas, nomeadamente os apoiantes de Sócrates, todos os dias atacam os especuladores internacionais que fizeram a nossa desgraça!...

Carlos Sério disse...

Lá como cá.

A grande debilidade do argumento neoliberal, que assume que o maior problema da economia espanhola é o défice e a dívida pública do Estado espanhol, é que os dados, facilmente acessíveis, mostram a sua insustentabilidade. Quando a crise começou em Espanha, o Estado espanhol não tinha défice. Antes pelo contrário, tinha um superávit, maior certamente que o que tinha o Estado alemão. Em 2007, o superavit do Estado espanhol era equivalente a 1,9% do PIB, mais de seis vezes superior ao alemão, 0,3% do PIB. E algo semelhante acontecia com a dívida pública, que representava em Espanha cerca de 27% do PIB, quase metade da dívida pública alemã, 50% do PIB. Na realidade, a Espanha era um “modelo” e exemplo de referência do pensamento neoliberal dado como exemplo de “ortodoxia” económica pelos economistas neoliberais.

Ter um superávit muito superior e uma dívida pública muito inferior à da Alemanha não nos serviu de nada. Não nos protegeu da crise. Como pode, então, dizer-se agora que a maior causa da crise é o elevado défice e a dívida excessiva, quando ter défice zero e dívida pública baixa não evitou que tenhamos a crise que temos, com mais de 23% da força laboral no desemprego? E porque é que esta explicação da crise continua a ser dada quando a evidência existente é tão avassaladora, mostrando o seu erro?
Vicenç Navarro

Rui Fonseca disse...

" Mário Soares, o Bloco, o PCP, até socialistas, nomeadamente os apoiantes de Sócrates,..."

Realmente não costumo validar o que dizem algumas personalidades na praça.
Mas suponho que eles se referem às dificuldades actuais, não às origens da crise.
Quando os juros começaram a subir
já a crise se tinha instalado há muito tempo.

Agora não se pode negar que a situação actual é insustentável para alguns, que pagam juros com língua de palmo e de outros que se regalam com juros negativos. E, neste caso, evidentemente, não há especulação mas fuga de capitais há procura de segurança.

E porquê?

Porque os bancos (gregos, portugueses, italianos, espanhóis), se desacreditaram.

Voltamos sempre ao mesmo, caro António, por mais voltas que lhes dês.

Carlos Sério disse...

Como explica o Carlos Pinhão então o facto do Japão com uma dívida soberana de mais de 200% do PIB continuar com juros da dívida a 0,78%; ou os USA com uma dívida de mais de 100% do PIB e um défice orçamental de 9% (2011) ter juros de 1,51% ou o Canadá com uma dívida de 84% ter juros de 1,72%.

Pinho Cardão disse...

Caro Carlos Sério:
1. Vamos progredindo. O meu amigo já não discute que a crise em Portugal e na Grécia se deveu ao excesso de despesa pública e de endividamento. E também já reconhece que no mercado nem todos são especuladores. Muito bem. Vira-se agora para Espanha e para o Japão como argumentos para demonstrar que a tese do endividamento público não é causa da crise da dívida soberana.
2. Acontece que ninguém de bom senso diz que o endividamento público foi a causa de todas as crises das dívidas soberanas. Cada caso é um caso. Por exemplo, a causa da crise da dívida soberana irlandesa não foi a dívida pública. Não. Foi a dívida bancária. Ao contrário de Portugal e Grécia.
3. Também ninguém afirmou, pelo menos até tempos muito recentes, que a causa da crise da dívida espanhola era a dívida pública. Desconfiava-se que seria a magnitude da dívida de alguns Bancos, que não os maiores. No entanto, os mercados andavam agitados, sem explicação aparente para a generalidade das pessoas. Acontece que os “mercados” normalmente sabem mais do que nós e conhecem aquilo que desconhecemos. As casas de investimento, as sociedades gestoras e entidades do mercado estudam os países e as empresas e os Bancos, lêem os sinais e indicadores, tiram conclusões. Verifica-se agora que o mercado interpretava bem esses sinais. Inopinadamente para muitos, surgiu a crise do Bankia e de pequenos Bancos regionais; depois, a crise das regiões Autonómicas, Valência, Múrcia, Catalunha. E se o endividamento público do estado de Espanha estava controlado, se lhe juntarmos as dívidas daa Autonomias, não sei. Sei apenas que o mercado viu e percebeu tudo isso. E reage em consequência. Por isso, a sua argumentação quanto a Espanha cai pela base. Em relação a Espanha não há especulação; o que há é uma actuação racional face ao risco, devido aos factores apontados.
4. Fala também do Japão. Mas não refere três ou quatro coisas importantes. A primeira, a força da economia japonesa; a segunda, não refere os detentores da dívida, nacionais ou estrangeiros; a terceira, não refere em que moeda está predominantemente denominada, ou se é interna ou externa; e a quarta, também não refere o poder soberano japonês de emitir moeda que, só por si, resolve o problema da dívida interna, demais a mais porque nem inflação existe no país.
Idem, no essencial, quanto aos EUA e ao Canadá.
5. Portanto, cada macaco no seu galho, cada coisa no seu lugar. Partir de pressupostos errados para fazer uma tese nunca dá bom resultado.
6. Não sei o que entende por neoliberalismo, mas isso não é seguramente coisa que cada qual defina à sua maneira. Para muitos, o critério de gostarem ou não define o que não é ou é neoliberal. Pelo que tenho lido, acho que é isso que acontece com o meu amigo. E digo-lhe que gostava de estar errado.
7. De qualquer forma, é com todo o gosto que o vou lendo e ripostando. O meu amigo tem muita e boa informação. Mas creio que a interpreta mal. Muito mal.

Caro Rui Fonseca:

Pois é, voltas sempre à mesma. E, para deixares de andar em círculo, deves distinguir bem entre causa e efeito. Abraço amigo

Rui Fonseca disse...

"deves distinguir bem entre causa e efeito"

Mas é precisamente essa distinção que eu fiz desde o primeiro comentário.

A crise não foi causada pelos especuladores mas pela conivência perversa entre políticos e banqueiros. Quando os especuladores começaram a debicar a carcaça já o animal estava meio morto.

Quem se agarrou à afirmação de que foram os especuladores os culpados da crise foi o meu amigo, não eu.

Basta rever o que atrás ficou escrito.