1. Por razões ideológicas, muitos ainda se
recusam a reconhecer que a causa da crise da dívida soberana portuguesa foi uma excessiva despesa
pública continuada que levou a um endividamento público incontrolado. Dizem que
se trata de um argumento neoliberal e contra argumentam, apontando a culpa à especulação
financeira. No nosso Blog tem defendido esta tese, entre outros, o nosso
comentador Carlos Sério, que procura argumentar com os casos espanhol, japonês
ou americano. No que respeita a Espanha, vem referindo que “quando a crise começou
em Espanha, o Estado espanhol não tinha défice…". No que respeita ao Japão, EUA ou Canadá, refere que, “com uma dívida soberana de mais de 200%
do PIB continua com juros da dívida a 0,78%; ou os USA com uma dívida de mais
de 100% do PIB e um défice orçamental de 9% (2011) ter juros de 1,51% ou o
Canadá com uma dívida de 84% ter juros de 1,72%”.
2. O argumento parte de uma generalização errada. Com efeito, ninguém de bom senso diz que o endividamento público foi a causa de todas as crises das dívidas soberanas. Cada caso é um caso. Por exemplo, a causa da crise da dívida soberana irlandesa não foi a dívida pública. Não. Foi a dívida bancária. Ao contrário de Portugal e Grécia.
2. O argumento parte de uma generalização errada. Com efeito, ninguém de bom senso diz que o endividamento público foi a causa de todas as crises das dívidas soberanas. Cada caso é um caso. Por exemplo, a causa da crise da dívida soberana irlandesa não foi a dívida pública. Não. Foi a dívida bancária. Ao contrário de Portugal e Grécia.
3. Também ninguém afirmou, pelo menos até tempos
muito recentes, que a causa da crise da dívida espanhola era a dívida pública. Desconfiava-se apenas
que o boom imobiliário poderia ter consequências na Banca. Acontece que os “mercados”
normalmente sabem mais do que o “vulgar people” e conhecem aquilo que
desconhecemos. Os Departamentos de Research estudam os países e as empresas e
os bancos, lêem os sinais e indicadores, tiram conclusões. Verifica-se agora
que o mercado interpretava bem esses sinais. Inopinadamente para muitos, surgiu
a crise do Bankia e de pequenos Bancos regionais; depois, a crise das Regiões
Autonómicas, Valência, Múrcia, Catalunha. E se o endividamento público do
estado de Espanha estava controlado, se lhe juntarmos as dívidas daa
Autonomias, o caso muda de figura. Acontece que o mercado viu e percebeu tudo
isso. E reage em consequência. Por isso, a argumentação da especulação quanto a Espanha
cai pela base. Em relação a Espanha, o que há é uma actuação racional face ao
risco, devido aos factores apontados.
4.
Quanto ao Japão,
há três ou quatro coisas importantes e específicas que seria preciso analisar.
A primeira, a força da economia japonesa; a segunda, os detentores da dívida,
nacionais ou estrangeiros; a terceira, em que moeda está predominantemente
denominada, ou se é interna ou externa; e a quarta, o poder soberano japonês de
emitir moeda que, só por si, resolve o problema da dívida interna, demais a
mais porque nem inflação existe no país. A situação estende-se aos EUA e ao
Canadá.
5. Portanto, cada macaco no seu galho, cada coisa
no seu lugar. Partir de pressupostos errados para fazer uma tese nunca dá bom
resultado. Explique-se cada caso de per si. Se se quer remediar mal que ficou
feito e a todos atinge.
20 comentários:
"a causa da crise da dívida soberana portuguesa foi uma excessiva despesa pública continuada que levou a um endividamento público incontrolado"
E não só. A dívida privada é superior à dívida pública.
Quem é que sabia que níveis de endividamento externo tinham sido atingidos se não os bancos e o banco central?
Quem é continuou a importar endividamento quando os níveis atingidos já eram insuportáveis?
Quem é que canalizou para o investimento não reprodutivo a fatia mais grossa do crédito importado?
Caro António,
Tens referido várias vezes que a falência das empresas não é um desastre mas um modo de saneamento das menos úteis.
Sabes, contudo, que os bancos não podem falir. Ben Bernanke, o presidente da Reserva Federal Americana, dizia no final de 2009 à Time que um dos maiores problemas dos EUA é o "too big to fail", o "moral hazard", o benefício do infractor.
Aos bancos tudo lhes é consentido. Até o de se afundarem com o país e depois pedirem dinheiro ao país para a compra de bóias.
Perguntar-me-ás o que perguntas repetidas vezes: Se o Estado pagasse aos bancos ...
Pois é. O Estado não pode pagar aos bancos mas pode pedir emprestado para emprestar aos bancos.
Os banqueiros inventam cada uma.
Caro Pinho Cardão,
Folgo por constatar que os meus comentários darem azo a um tal confronto de ideias. Creio que, o que mais o terá inquietado o Pinho Cardão terá sido este comentário, que transcrevo:
“A chamada, erradamente, crise das dívidas públicas, não resulta do endividamento dos países como se pretende fazer crer, ainda que tal constitua um problema, mas da especulação financeira dos mercados financeiros. Os especuladores passaram a encarar o mercado da dívida pública como um outro qualquer mercado de commodies. E, começaram a especular nos países do euro, porque a própria estrutura da UE tal como se encontra lho permite. Isto é, os países da UE estão prisioneiros e à mercê dos mercados, ao não possuírem moeda própria e capacidade de emitir moeda, ao não terem meios de controlo da sua política monetária. E, não há estrutura comunitária que possa substituir ou compensar aquele controlo monetário nacional. Tornou-se assim fácil aos mercados especularem com as dívidas públicas dos países do euro”.
Vem agora o Pinho Cardão justificar o caso do Japão dos juros baixos e dívida elevada, entre outras situações, utilizar o mesmo argumento que eu apresentara, como se lê no comentário transcrito. Eis as suas palavras “e a quarta (razão), o poder soberano japonês de emitir moeda que, só por si, resolve o problema da dívida interna, demais a mais porque nem inflação existe no país. A situação estende-se aos EUA e ao Canadá”. Claro que invoca outras três razões que quanto a mim não são as fundamentais. Fundamental sim, a capacidade do controlo monetário. Tivesse a Espanha possibilidades de emitir moeda e desvalorizar a peseta, e não se encontraria nas condições em que se encontra com os juros da sua dívida altíssimos.
E com isto, falta apenas o Pinho Cardão dar mais um passo, e constatar a evidência de que, ao não possuírem os países do euro o controlo monetário sobre a sua moeda e não existir nas estruturas da UE nada que em alternativa possa substituir uma tal capacidade, todos eles se encontram fragilizados e à mercê da especulação dos mercados financeiros. Na verdade os mercados, (como diz o Pinho Cardão e bem “o mercado viu e percebeu tudo isso. E reage em consequência”) não são parvos nem deixam de obter as maiores ganancias sempre que lhes surge uma oportunidade e as debilidades inerentes ao euro constituem na verdade uma óptima oportunidade.
Num outro ponto do seu Post afirma o Pinho Cardão, “a causa da crise da dívida soberana irlandesa não foi a dívida pública. Não. Foi a dívida bancária. Ao contrário de Portugal e Grécia”. Na verdade, uma afirmação destas, como esta outra de sua autoria num recente comentário “A crise de alguns países, como Portugal, tem a ver, só e só, com o excesso da dívida pública” não coincidem com a realidade. Desde logo, uma das principais causas da crise portuguesa deve-se à escassez de crédito bancário que arrasta para a falência muitas empresas e espartilha a nossa economia. Isso deve-se ao endividamento privado, da Banca e grandes empresas, (num montante que é o dobro da dívida pública) e que de um momento para o outro viram cortado pelos bancos alemães e franceses sobretudo (a braços com os activos tóxicos), os seus refinanciamentos. A banca portuguesa deixou de dar crédito porque lhe faltava capital para resgatar as suas dívidas e amortizações vendo-se obrigada a recorrer ao BCE e ao Estado português. Não com a mesma intensidade, numa outra escala, o problema da economia da escassez de crédito é semelhante ao grego ou ao irlandês, ao espanhol,…ao contrário do que afirma o Pinho Cardão.
Em resumo, o Pinho Cardão não apresenta uma argumentação capaz de rebater as duas teses que enunciei.
O Buffet tem uma frase fabulosa para aquilo que foi dito. "É quando a maré está vazia que se vê quem é que anda a nadar nú".
A economia é um sistema crítico, o que significa que terá sempre crescimentos "absurdos" e crises "profundas". E quando as crises profundas aparecem, invariavelmente porque os crescimentos ocorreram (é esse o instinto do homo) as maiores alavancagens são as que sofrem, seguidas das maiores alavancagens directamente relacionadas com as primeiras, seguidas das maiores alavancagens que com esta se relaccionam e por aí fora.
Não haja a menor dúvida de que o estado português estava sobrealavancado (até porque foi vítima de uma fraude contabilística de várias dezenas de milhar de milhões de euros de dívida que foram postos fora dos perímetros de consolidação) e, quando foi apanhado a nadar nú, levou os bancos e assim sucessivamente. Noutros países a sequência pode ser diferente.
Portanto, o caro Pinho Cardão tem razão, é procurar o grão que provocou a avalanche. O resto, ajudado pela absurda regulação bancária, vem naturalmente.
Querem encontrar culpados comuns - a absurda e intensiva regulação bancária.
CONTINUAÇÂO
Em resumo, o Pinho Cardão não apresenta uma argumentação capaz de rebater as duas teses que enunciei.
- A causa primeira da “crise das dívidas públicas dos países europeus” é a especulação dos mercados financeiros que se aproveitam das debilidades da moeda única.
- Há um aproveitamento político da crise das dívidas públicas por parte dos governos neoliberais europeus, fazendo crer que as culpas da crise recaem sobre os cidadãos por “gastarem acima das suas possibilidades”. É cómodo e vantajoso porque lhes permite, com tal falso argumento, fazer o chamado ajustamento (leia-se empobrecimento), isto é, aumentar as desigualdades sociais e reduzir ou aniquilar o estado social. Satisfazer os anseios com que sempre sonharam - diminuir salários, reduzir apoios sociais, reduzir ou eliminar direitos laborais, enfraquecer os sindicatos, privatizar o património do Estado, reduzir ao mínimo as tarefas do Estado e transferi-las para a actividade privada.
Suponhamos que A se endividou ao ponto de estar nas mãos dos credores. Os credores podem aproveitar-se da situação de A para maximizarem a sua vantagem. Para simplificar vamos supor que não existe risco para o credor, i.e. que A conseguirá sempre pagar a sua dívida.
Perante esta situação podemos criticar a atitude pouco ética do credor que tenta maximizar o lucro dada o estado de fragilidade de A.
Outra postura é criticar a irresponsabilidade de A que de livre vontade se colocou na situação de desvantagem.
Ambas as abordagens são limitadas, mas a segunda é para mim mais grave. A sociedade portuguesa é essencialmente irresponsável, independentemente do grau de educação. É irresponsável porque não respira a noção de bem comum. Perante um país assim, defender a posição de que a culpa é do credor em nada permite aumentar a responsabilidade e a cidadania. É em última análise uma postura não democrática porque afasta o centro de atenção do país para o seu exterior.
Compreendo que a conversa dos mercados seja alimentada pelo PS e pelos banqueiros. Mas que um cidadão pagante de impostos a defenda é de todo estranha. O cidadão que é chamado a pagar a conta deve defender a prisão dos responsáveis nacionais. Apenas isto. Porque o resto é conversa fiada.
Caro Rui:
1. Claro que há dívida pública e há dívida privsada ao exterior, esta predominantemente intermediada pelos Bancos. Mas havia uma diferença total entre elas. É que o estado já não conseguia receitas para pagar sequer os juros, pois o saldo primário era negativo, enquanto o problema do pagamento dos juros ao exterior, bem como dos reembolsos foi matéria que não se colocava aos Bancos. Tanto é assim que as baixas do rating dos Bancos se deram sempre como consequência da baixa do rating da República. Nunca houve uma descida autónoma do rating dos Bancos. Por outro lado, os Bancos portugueses sempre passaram os stress tests, como sabes. Por isso, as dificuldades de financiamento dos Bancos tiveram como causa imediata, mediata, anterior, como quiseres, a impossibilidade de acesso ao crédito por parte da república. De modo que não se pode colocar tudo no mesmo saco. E sabes bem disso.
2. Dizes ainda que "o Estado não pode pagar aos bancos mas pode pedir emprestado para emprestar aos bancos.Os banqueiros inventam cada uma..". Oh Rui, isso é cinismo puro e duro. Achas que alguma vez os Bancos tomariam fundos do estado a 8,5%, quando os créditos às empresas do estado, muitos deles vencidos, têm uma taxa de juro bem menor? Mil outros argumentos te poderia dar, mas creio que basta este.
Caro António,
Se não foram banqueiros que inventaram esse estranho esquema, quem terá sido?
Caro Carlos Sério:
1. Sempre gostei de boas polémicas. Acho que esta, consigo e com o Rui Fonseca, é uma delas.
2. Creia que nada me inquieta nos seus comentários. Mas fico perplexo quando o meu amigo não aceita coisas óbvias e se refugia sempre no slogan de que " a crise das dívidas públicas, não resulta do endividamento dos países...mas da especulação financeira dos mercados financeiros". O meu amigo recusa o óbvio, nada há a fazer.
3. A desvalorização, remédio a que o meu amigo recorre, resulta apenas em determinadas circunstâncias. E, quando resulta, há que medir o saldo custo e benefício. E nem sempre o saldo é positivo. Num livro recente, o insuspeito Francisco Louçã adverte quanto aos custos de uma saída do euro e consequente desvalorização da nova moeda em Portugal.
Todavia, o argumento a que recorre não é válido. No euro, não há desvalorização à medida de cada país. A Grécia, Portugal, etc, sabiam isso. Logo, deviam travar as políticas demagógicas de gastar, gastar que os estrangeiros pagavam.
4. quanto às dificuldades de financiamento dos Bancos, remeto para o comentário anterior, de resposta ao Rui Fonseca. Até à crise da dívida soberana portuguesa não havia dificuldades significativas de os Bancos se financiarem no exterior. Depois, as dificuldades da República arrastaram as dificuldades dos Bancos.
5. Não entro em processos de intenções sobre o que pretendem ou não os governos liberais. Mas posso dizer-lhe que o liberalismo ou neoliberalismo ou como quiser chamar-lhe não é nada disso que o meu amigo diz. Aliás, não fossem esses governos, e os portugueses estariam a sofrer bem mais.
6. E por aqui me fico, que não gosto de andar no circuito fechado em que o meu amigo se compraz.
7. Mas cá estou sempre neste espaço aberto e plural do 4R.
Caro tonibler:
Excelente síntese, com, aliás, é costume.
Caro ilustre Mandatário do Réu:
Ora aí está uma matéria em que, em quase tudo, estamos de acordo!
Caro rui:
Quem terá sido? A tecnocracia de Bruxelas, a tecnocracia de Basileia, a tecnocracia da EBA.
Até inventaram super rácios de solvabilidade para justificarem os "apoios" do Estado. E por aqui me fico.
Claro que muito contentes muitos ficariam se esse fosse o caminho apontado paras novas nacionalizações da Banca...
Caro Pinho Cardão,
Não corresponde à realidade afirmar-se como o faz o Pinho Cardão “Até à crise da dívida soberana portuguesa não havia dificuldades significativas de os Bancos se financiarem no exterior”.
Não é assim, como creio ter afirmado antes, foi a crise nascida nos USA que intoxicou de activos tóxicos os bancos da Alemanha e França e na generalidade os bancos europeus, criando-lhes fortíssimas dificuldades que resultaram na quebra do refinanciamento dos bancos nacionais. Os rankings da república apenas agravaram o problema. Repare, em 2007 a dívida pública portuguesa não ultrapassava os sessenta e poucos por cento do PIB. O que despoletou os aumentos brutais da dívida, nos anos que se seguiram, foram ocasionados directa e indirectamente pelas dificuldades da banca e do sector financeiro. Não foi a dívida que dificultou a “vida” aos bancos, como quer fazer crer, mas precisamente o contrário, foram os bancos os principais responsáveis, directa e indirectamente pela aumento vertiginoso da dívida.
Por lapso, faltou o final do comentário anterior
- Ao exigirem apoios directos do Estado, pelo estancamento de crédito à economia o que provocou uma carga adicional de despesas do Estado, mais desemprego, mais despesa social, economia em declínio traduzindo-se em menos receita.
Caro Pinho Cardão
Muito interessante o seu post. Tem um problema que é, em parte contribuir para um exercício de dança da chuva em retrospetiva; contribuindo decisivamente para alimentar o segundo andamento de um episódio “Costa Concordia”. (Recordo-lhe que o momento “Costa Concórdia” carateriza-se por, no primeiro andamento, os responsáveis cometerem uma borrada completa, no segundo andamento, tentarem esconder o fato e fugir das responsabilidades; e, um terceiro andamento, quando, finalmente, começaram a fazer o que tinha de ser feito, já não conseguiram manter o navio intato nem, salvar todos os passageiros. Mal do menos que, como sucede com estes momentos meridionais, nos congratulamos com o “podia ser pior”).
Admitindo que, dívida soberana é imposto futuro e dívida privada rendimento, igualmente futuro, a taxa de juro representa a avaliação que, o investidor faz da nossa capacidade de pagar (esqueça a outras variáveis, porque, no fim, o que o credor quer é o pagamento do crédito). Torna-se mais fácil perceber porque uns se financiam a quase zero e outros não. Aparentemente, como demonstra o seu post e comentários, os nossos compatriotas consideram o segundo andamento do episódio, ainda pouco claro, pelo que é importante debruçar sobre o mesmo.
O ponto a que quero chegar é que, o segundo andamento do momento “Costa Concórdia” é muito interessante mas, infelizmente, o fato de o realizarmos e até realizarmos “benzinho” não nos livra de um naufrágio. Isto porque, identificar causas de condutas é interessante mas, por si só não ajuda a mudá-las. Ora o credor, como afirmo acima quer o crédito satisfeito e, no nosso caso (e de outros) não empresta enquanto não mudarmos de vida e, consigamos assegurar, aos que nos emprestam, que não voltamos a repetir os erros; devíamos pois, decisivamente passar à terceira fase, porque, como com o sucedido ao navio mencionado, arriscamos a encalhar na praia e sofrermos alguns mortos. É que, pelas minhas contas, o que sobra de dinheiro no mundo, falta na confiança, o que deveria levar a concentramos em voltar ao mercado e não em perorar se, era o rochedo que estava no caminho do navio ou o seu contrário…
Não sei se, as gerações futuras que tiverem de pagar a nossa reforma, vão considerar que “podia ser pior”…..
Cumprimentos
joão
Já agora uma achega sobre o Japão, país que visitei muito recentemente. O endividamento do Japão não é o principal problema, ao contrário do que acontece com a Europa. O problema de importantes países da zona euro é o excessivo endividamento do Estado - incapaz que é de suprir a sua despesa, apesar da pesada carga fiscal que aplica - para o qual não há outro remédio senão pagar (serão impensáveis as consequências de um default, bastando olhar para o caso sinistro da Argentina). E é excessivo o endividamento das empresas e das famílias, que no caso de Portugal ultrapassa o endividamento público.
Não é possível dinamizar a economia através dos impostos. A economia é, por excelência, liberal. Quem faz crescimento é a iniciativa privada, que cria emprego mas que é, naturalmente, incompatível com uma carga fiscal excessiva.
Apesar do elevado endividamento do Japão, esta variável não é responsável pelo fraco crescimento da economia. Com efeito, o Japão tem singularidades que desafiam o modelo europeu:
- A economia japonesa assenta fundamentalmente no mercado interno. As exportações representam, salvo estatística mais actualizada, 13,5% do PIB japonês. Verifica-se um aumento do consumo interno, em termos absolutos. O desemprego (considerado alto) mantém-se nos 4,3/4,4%. Há espaço de manobra no mercado interno. O Japão sacrifica, por opção, ganhos económicos para não ter elevadas taxas de desemprego. Tem uma sociedade relativamente coesa e a responsabilidade social é praticada activamente pelas empresas, constituindo um segundo nível de redistribuição de riqueza.
- A dívida pública ultrapassa os 200% do PIB, mas é manejável porque é quase na totalidade interna. É verdade que o princípio não é saudável; mas com isso (e com taxas de juro quase zero) pode o Japão viver sem grandes problemas durante muitos anos. De qualquer modo, o Japão já iniciou uma política de redução, sem prejudicar a economia com impostos excessivos. Bastaria o comportamento de extrema confiança do mercado internacional no Japão, que goza da maior credibilidade, para se perceber que o problema é resolúvel - sem afectar a economia japonesa e as outras economias.
- Os activos financeiros do Japão no estrangeiro são os maiores do mundo, por exemplo, as reservas em moeda estrangeira são as segundas maiores do mundo. Com um iene apreciado os bancos e as companhias japonesas estão a adquirir posições no estrangeiro, preferencialmente onde há confiança e futuro. A interdependência internacional é evidente. Se o mercado japonês encolher, a retracção económica terá consequências em numerosos países industrializados. Mas o Japão é procurado por muitos euros e dólares que encontram no iene uma zona de refúgio. Um movimeto que contribui para a apreciação do iene, em ambiente de deflação.
Só um reparo Maria Correia Aguiar relativamente ao seu comentário “bastando olhar para o caso sinistro da Argentina”.
Na verdade, após o default, e ter-se visto livre de vez do FMI, o que aconteceu à Argentina foi simplesmente isto: A economia da Argentina cresceu a una taxa média de 7,7% de 2004 a 2010, quase o dobro do crescimento anual médio de 4,3% do Chile, um país frequentemente citado como modelo de políticas económicas, durante o mesmo período.
Produziu níveis records de emprego e uma redução de dois terços da pobreza.
É este o exemplo “sinistro” de que fala?
Caro Carlos Serio, Jjardine, Margarida: não querendo correr o risco de meter muita areia da praia Np comentário,
(já basta a do Carlos Serio...), logo comentarei as doutas opiniões dos meus amigos. Talvez mesmo num novo post.
"Quem terá sido? A tecnocracia de Bruxelas, a tecnocracia de Basileia, a tecnocracia da EBA."
Mas na Autoridade Bancária Europeia, em Basileia, em Bruxelas, não são os banqueiros que pontificam?
Não, caro Rui. Sao tecnocratas e burocratas. Achas que o Parlamento europeu ia nomear banqueiros para a ÉBA?
Caro Carlos Sério, aceito de bom grado o seu comentário. É uma questão de prisma e de preferências. Enquanto o Chile goza de credibilidade, que apenas favorece a sua riqueza - sobretudo nos tempos que correm - a Argentina intrujou o FMI e os investidores particulares, por exemplo compradores de obrigações. Refiro-me também a repetidas chamadas de atenção na utilização de estatísticas falseadas ou erróneas, entre elas a taxa de crescimento no período que mencionou. O problema é de tal modo grave que ninguém estrangeiro com dois dedos de testa investe nesse país no longo prazo, i.e., na actividade económica produtiva e, como tal, geradora de emprego. Se fosse investidor, aplicaria o seu dinheiro na Argentina? Eu não. No entanto, nada tenho contra a Argentina como país e população.
1.- Segundo dados da UNCTAD, em 2008, Argentina, foi classificado como o quinto mais rápido crescimento do destino de IDE no seio do conjunto de países emergentes em todo o mundo, após a África do Sul, Índia, Malásia e Peru".
2.- De acordo com a IDF Inteligência publicação, o Financial Times, a Argentina foi posicionado em terceiro lugar no ranking de investimento estrangeiro na expansão da produção existentes e de novos projectos de investimento na América Latina durante 2008.
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