Quando era miúdo da escola, pensava eu pelo que via, rico era quem punha gravata, um ou outro proprietário, como na altura se designava um lavrador com boa "casa", um ou outro comerciante de loja aberta, e geralmente os funcionários públicos. Daí, eu perguntar por que é que o Estado não dava dinheiro a toda a gente, como fazia aos empregados da Câmara e das Finanças, para toda a gente deixar de ser pobre.
Passadas uma dezenas de anos, não há bem pensante que não reclame da Srª Merkel mais e mais dinheiro, para todos também deixarem de ser pobres.
A mim, respondiam-me que me calasse, que isso era uma patetice.
Agora, é um sinal de suprema inteligência, só própria de um pensamento progressista e distintivo da mais fina esquerda. Que, à míngua do próprio, sempre gostou muito do trabalho alheio.
8 comentários:
E pensava muitíssimo bem o caro Dr. Pinho Cardão... enquanto criança.
É precisamente uma das funções do Estado, a de gerir e distribuir a riquesa de tal modo, que nesse Estado, não haja a possíbilidade de haver pobres. Porque a riquesa de um Estado, não nasce debaixo das pedras; ela é fruto do labor dos cidadãos desse Estado, que contribuem pela forma do pagamento de impostos, para o cúmulo dessa riquesa.
Agora; se esse Estado gastar o dinheiro que os cidadãos lhe entregam, pagando pensões milionárias a fulanos que não fazem "nenhum", a manter fundações sem qualquer interesse prático para os cidadãos, a comprar submarinos e helicópetros e a pagar por eles em duplicado, a pagar falências de bancos e de empresas públicas, a manter os luxos ministeriais, etc. então, pobre do menino Pinho Cardão, nunca irá entender que os ricos poderão ser ricos do mesmo modo, sem se sentirem pagadores da pobreza dos pobres...
Caro Bartolomeu:
Fala da função resdistribuidora do Estado; como outras, é mais uma das que não é capaz de fazer. E o meu amigo deu vários exemplos. As Fundações têm sido uma importante forma de redistribuição do dinheiro dos impostos. Sem qualquer interesse prático, diz o meu amigo. E eu concordo, no que respeita a muitas. Deviam acabar já e assim acabar essa forma de redistribuição.
Acontece que não é o Estado que redistribui, mas os Governos; e os Governos gostam sobretudo de redistribuir em função dos seus objectivos próprios, eleitorais, não em função do bem geral. O mesmo se passa com muitos Observatórios. Muitos beneficiam com a redistribuição que, por essa via, os contempla. Mas que ganha a população em geral?
Fala o Bartolomeu numa redistribuição que elimine os pobres. Mas essa é completamente impossível. Redistribua o Estado todo o rendimento nacional e, à míngua de capital para investimento, terá em breve 10 milhões de pobres. Como já redistribui mais de um terço, para lá caminhamos.
O problema não é pois de redistribuição, é de produção. Os políticos, nomeadamente os de esquerda, gostam de redistribuir o que não há; por isso, Sócrates redistribuiu dinheiro alheio e duplicou a dívida pública. Ninguém ficou melhor, apenas uns tantos felizes contemplados. Os restantes ficaram, mesmo, pior. Como não carece de demonstração.
Caro Dr. Pinho Cardão, sei perfeitamente bem o que é Estado e o que é governo e que governo é uma estructura de apoio ao Estado, uma estructura que é eleita pelo Estado, para governar o Estado.
Sei também que não havendo produção, é impossível que haja redistribuição.
Sei também que as políticas de governo do antigo primeiro ministro José Socrates, foram desastrosas para o Estado, mas mesmo assim, foi tarde e a más horas que o presidente da república, outro orgão do governo eleito pelo Estado, para garantir ao Estado que o governo governe bem, o demitiu. Ou seja, o Estado tinha um governo de esquerda e de direita e ambos o governaram mal.
Agora, que o Estado tem governos de direita e de centro-direita, continua a ser mal governado e aquela parte do Estado que nunca é contemplada, continua a ser esquecida por um governo que se afirma defensor da democracia e escrupuloso observador dos textos dos artigos que compõem a Constituição.
A mim, cheira-me a patranhice no meio de todas as boas intenções que se ouvem jurar aos governos, assim como deve ter cheirado ao menino Pinho Cardão, quando a sua visão inocente detectou que havia algo de errado na distribuição da riqueza produzida pelo Estado, para o Estado.
;)
Caro Pinho Cardão, os funcionários públicos nunca foram vistos como pessoas ricas ou mais ricas que os outros. Era até muito habitual serem considerados modestos, mesmo os que desempenhavam cargos da maior importâncias, como os professores, os juízes e os médicos, durante as décadas em que a economia cresceu e apareceram empresas privadas e bancos, o que se dizia era que quem ficava no Estado eram os que não tinham qualidade para "ambicionar mais".Mais dinheiro, claro, porque era essa a grande referência do "sucesso". É muito recente, e lamentável, a meu ver, que se desvalorize quem trabalha no Estado, tantas vezes em funções de responsabilidade - como se vê hoje, na falta deles e no que se pagou a empresas que os substituiram na sua função pagando muito mais - fazendo crer que não merecem o pouco que ganham e que são "ricos". Não é verdade, caro amigo, nem nunca foi. Mas havia a obrigação de se apresentarem bem, com gravata e fato e sapatos de polimento, alguns usavem mangas de alpaca para não andarem com os cotovelos lustrosos, não era sinal de riqueza, mas de decência e de respeito pelas funções que exerciam. Muitos viviam no limiar da pobreza mas tinham que manter as aparências quando chegavam à repartição ou à escola onde eram o "mestre".A autoridade estava associada à forma de se apresentar, do mesmo modo que a isenção e a independência levou o empregador a garantir-lhes pensão de reforma e proteção na saúde e às famílias. Enfim, seria uma longa conversa, mas tenho pena que hoje se reduza tudo a "privilégios" sem que se pense nas consequências.A representação das instituições tem um código, e isso faz sentido, embora esse sentido se vá perdendo com grande dano para as instituições e o modo como são vistas.
Caro A. Pinho Cardão
Estado versus Governo, ora aí temos um bom exemplo de uma espécie de anátema que nos lançamos contra nós próprios.
O papel do Estado na civilização dos povos, e no industrializado (ou desindustrializante...) mundo ocidental deve permanecer um bastião referencial na defesa das desigualdades e da possibilidade equitativa dos cidadãos poderem, através das ferramentas próprias da social-democracia, como eu a vejo, desenvolverem e ocuparem nesse Estado a posição que lograrem, política, social, económica, cultural, etc.
Há, todavia, uma perversidade na forma como os Governos se servem do Estado e dos seus pilares fundamentais, a Escola Pública, a Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde (sejamos agora, para o raciocínio geral deste texto, um bocadinho ortodoxos), bem como de uma intrincada rede de instituições para fazer uma engenharia que beneficia os governos em funções, as redes de influências que os fazem eleger e, de uma forma perfeitamente amblíope, se demitem do cidadão comum, o verdadeiro e último destinatário da acção governativa. Uma visão do geral para o particular, integrada e estratégica, é absolutamente necessária sob pena de ingerência activa, como a que vivemos na última década, mas sem a perda, em tempo algum, da "soberania de acção destinada" que a actividade governativa implica.
Promove-se agora a extinção, antes tarde que nunca, de uma miríade de fundações cujo censo nem está completo e rigoroso, cujos custos reais para o Estado são nebulosos, e cujos benefícios para entidades ou pessoas parciais são, nalguns casos, amplamente conhecidos.
Por princípio geral, não sou da opinião que as fundações privadas devam, à luz de acordos pós-instituição das fundações, ser apoiadas pelo Estado. Isto tanto mais se verifica, no meu entender, quanto mais meios as fundações têm no acto da sua instituição. Se no acto de instituição de uma fundação os estatutos prevêm determinado objectivo específico, de interesse público manifesto, que no futuro a Fundação não venha a poder honrar estatutariamente, não me oponho radicalmente a uma análise objectiva da situação, mas à partida, proponho uma geometria variável de objectivos estatutários fundamentais e de espectro de acção da fundação em causa, que deve ser previsto e regulamentado por legislação própria e adequada.
Os partidos políticos em arco de poder têm uma dose suficiente de culpa neste processo, na administração desse casulo parasitário do Estado que são muitas das fundações, sem desmérito de outras cujo trabalho é inexcedível e de utilidade universal, como a Fundação Calouste Gulbenkian ou a Fundação Champalimaud e ainda tantas outras numa lista considerável. Mas também é em sede dos partidos políticos que se devem perseguir as soluções e desenhar as arquitecturas que podem transformar o Estado central não numa espécie de feudo de que se toma conta de vez em quando tirando dele a sua quinta parte; mas sim criando uma arquitectura inteligente, que enriqueça o Estado e o transforme verdadeiramente num agente de desenvolvimento humano que persiga a felicidade dos Povos.
Abraço grande,
João Monteiro Rodrigues
Cara Suzana:
Como sabe, não tenho qualquewr partis-pris quanto a funcionários públicos. Para mera ilustração, a minha mãe era professora e tenho uma irmã professora.
Mas isso nada tem a ver com o que escrevi. O que escrevi é que, na minha aldeia, nos tempos da minha meninice, um professor, um funcionário da câmara ou um funcionário das finanças eram tidos como ricos. Porque tudo é relativo. Numa terra eminentemente rural, os homens e mulheres trabalhavam de sol a sol, os miúdos intervalavam a ida para a escola com ir com as ovelhas e cabras para o monte, iam para a feira a pé, muitos andavam descalços. Não acontecia isso com os filhos dos funcionários do Estado. Ter um emprego do Estado era o supremo objectivo e realização. Portanto, cara Suzana, era nesse mundo que se situam as minhas lembranças. Não sei se os funcionários eram ricos ou pobres, apenas sabia, e até levando em conta o exemplo da minha casa, que eram vistos como ricos em relação à grande maioria dos demais. Não se trata, pois, de qualquer juízo em termos absolutos, mas de um juízo em termos relativos.
Caro Der Wandere:
Pois concordo geralmente com o que refere, doutas palavras. E destaco as seguintes:
1ª "Há, todavia, uma perversidade na forma como os Governos se servem do Estado e dos seus pilares fundamentais, a Escola Pública, a Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde (sejamos agora, para o raciocínio geral deste texto, um bocadinho ortodoxos), bem como de uma intrincada rede de instituições para fazer uma engenharia que beneficia os governos em funções..."
2ª- "Mas também é em sede dos partidos políticos que se devem perseguir as soluções e desenhar as arquitecturas que podem transformar o Estado central não numa espécie de feudo de que se toma conta de vez em quando tirando dele a sua quinta parte; mas sim criando uma arquitectura inteligente, que enriqueça o Estado e o transforme verdadeiramente num agente de desenvolvimento humano que persiga a felicidade dos Povos".
Como só sou de esquerda às segundas, quartas e sextas quando vejo concidadãos meus aos caixotes de lixo, ou velhos a morrer em casa sem dinheiro para os passes ou medicamentos sendo que, às terças, quintas e sábados, sou liberal, daqueles que acham que o estado deve interferir na economia o menos possível - se esta não for monopólica ou oligopólica - resta-me o domingo: ao domingo, penso que isto não é um problema de direita ou esquerda, mas de bom senso, inteligência, solidariedade, ética no discurso e... na prática (ponto essencial!)
Fui hoje almoçar fora (supremo privilégio hoje para um português, conta = 6€30 prato+bebida)numa zona da baixa lisboeta onde os turistas pululavam (os estrangeiros ou estrangeirados). Muitos restaurantes às moscas; e pensei: não seria mais inteligente o estado não empobrecer o país como um todo com aumentos idiotas de taxas como o IVA para 23%, de forma quase gratuita, sectores como o da restauração que consomem quase exclusivamente produtos portugueses, dinamizam o circuito económico, dão receitas para o estado, dão emprego...
Pois! A questão radicalizou na maior ou menor despesa pública (quem é contra o volume do ajustamento é hoje um perigoso esquerdista, como no passado recente quem era contra os delírios do gasto público sem limite um perigoso imobilista de direita... só que no "intermezzo" há muita inteligência e bom senso a desbastar...
Mas deixem-me só terminar: «Mas para isso é preciso não se fazer dos partidos políticos lealdades futebolísticas, que é o que pior que este país tem (um facciosismo doentio e cego do o és por mim ou contra mim em todas as medidas em vez de as debater racionalmente no espaço público, que não permite descortinar os podres dos partidos).
Caro Pinho Cardão: há uns anos foi desportista de competição (não futebolista). Ao contrário dos futebolistas treinava 4 horas por dia x 6 vezes por semana em duas sessões diárias, e nunca recebi um tostão para treinar (isso deu-me capacidade anímica, capacidade de resistência ao esforço, capacidade de emulação e muito respeito pelos meus adversários momentâneos!); nunca fui assim desportista de bancada, desses que alimentam (e se alimentam das paixões irracionais dos seus associados... pobres carneiros nas mãos de lobos!), quase ao paroxismo, os chefes de fila do dirigismo desportista profissional.
E talvez por ter nascido em Lisboa, na Lapa que CS ainda desconhecia, nesta aldeia grande, nunca me deixei contagiar pelo materialismo delirante que arrebatou muitos numa insaciável sede de materialismo, esquecendo os bens essenciais ao homem e à cidadania: a cultura...
E como foi triste, hoje, ver na Bertrand do Chiado, os cidadãos sem acesso a bens tão essenciais como o livro, ou a ida a espectáculos de teatro, ao próprio cinema, às viagens (que são elas cultura e aprendizagem!)
E que tristeza, eu próprio, ex - funcionário do estado como contratado no ensino e na formação, ex empreendedor varrido pelo sector rentista pseudo privado (do liberalismo do conúbio?), qualificado com formações distintas (e perdoe-se-me a imodéstia!) que envergonharia se tivesse vergonha o MR, a por novamente no lugar um livro de 7,5€ de um grande autor português recente, o João Tordo, por clara insuficiência...
Neste trade off que tive de fazer entre uma refeição a 6€30 e um livro a 7€50, ficou a perder a economia portuguesa sob a forma do autor, da editora portuguesa, da distribuição portuguesa... e, eu próprio, que perdi o acesso ao conhecimento propiciado pela literatura (e portuguesa!)
Resta-me a biblioteca, já que me resta tempo...mas garanto-lhe que um país que desperdiça os recursos que tem, da maneira como hoje se está a fazer, para quem não quer vender a alma (morrerei muito mais impoluto e feliz), não têm grande futuro!
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